As pedras da cidade

Gilberto Barbosa dos Santos

 

Após eu ficar um mês longe do teclado, os leitores das minhas reflexões publicadas semanalmente aqui no INTERIOR PENÁPOLIS percorrerão as primeiras linhas que componho em 2017. Desde já explico que o título do texto foi retirado do prefácio Psicologia do oprimido, escrito em 1979 por João Alexandre Barbosa como parte inicial do livro Memória e sociedade: lembranças de velhos, da psicóloga e professora da USP, Ecléa Bosi. O conteúdo das cinco páginas tecidas por Barbosa no final da década de 70 do século passado me possibilitou compartilhar aqui um pouco sobre o ontem da sociedade nacional, nas suas três esferas: federal, estadual e municipal. O segundo ponto a ser ressaltado é que o ontem utilizado no momento não é de um passado longínquo, mas apenas aquele registrado no transcorrer de 2016. Portanto, essas minhas enunciações não devem ser longevas, mas apenas uma breve síntese do pretérito para se observar o hoje.

Desta forma, começo pelo sentido mais geral do nosso existir, qual seja: a nau brasileira! O ano passado foi marcado por muitas rusgas entre amigos que professavam credos ideológicos diferentes. De um lado, havia os defensores da inocência da ex-presidente petista Dilma Rousseff, acusada e condenada politicamente pelo crime de responsabilidade – o impeachment está ai e ocorreu pela segunda vez em nossa história. De outro lado, aqueles que compreendiam ter ela praticado tal delito em virtude de ter passado por cima do Congresso Nacional quando deixou de pedir autorização para o Legislativo para aplicar as pedaladas fiscais. Até hoje ainda há consequências do primeiro governo dela e a sua reeleição para o principal assento do país: a economia que o diga, pois está capengando por falta de confiança nos instrumentos políticos que se tem à disposição – leia-se a categoria que representa o povo por meio do voto direto.

Sendo assim, o que esperarmos para 2017? Rumo certo no universo das políticas macroeconômicas e microeconômicas? Pelo andar da carruagem, sem querer ser catastrofista, porém, muito realista, se não houver pressão populacional, sem a demagogia característica de um determinado santuário ideológico, me parece que o Brasil avançará pouco, pois enquanto se mobiliza aqui fora para moralizar os congressistas, estes, desvirtuam o desejo do povo, manipulando as mudanças a seu bel prazer, enquanto a patuleia assiste a tudo, de boca aberta, como se estivesse assistindo uma parada militar ou um jogo de futebol renhido, esperando que um jogador genial tire da cartola de prestidigitador uma jogada fenomenal e a equipe da casa ganhe a partida nos minutos finais para alegria geral da galera!

Embora no mundo da política, do futebol e da religião, as coisas são complexas e de difícil consenso, entendo que no primeiro caso, os brasileiros precisam aprender muito sobre política com P maiúsculo como dizia um antigo professor dos tempos de UNESP. Mas como isso é possível, isto é, o vivenciar duma democracia representativa e participativa em detrimento de uma delegativa, a exemplo do que estamos observando nos últimos tempos, ou seja, desde a reabertura democrática? Lógico que os resultados das urnas no último pleito municipal realizado nas mais de cinco mil cidades brasileiras apontaram que se está longe desse processo e a coisa piora quando ingressamos no plano estadual.

Se se começar pelo estado paulista, os leitores enroscarão nas sobras das merendas superfaturadas por um grupo encastelado na sede do Palácio dos Bandeirantes, conforme o noticiário informou aos cidadãos não tão ligados com o mundo do poder e o que os representantes dos sujeitos sociais fazem para manterem-se encastelados nos principais assentos do poder Executivo. É interessante observar que o governador Geraldo Alckmin, pertencente à mesma legenda do ex-prefeito de Penápolis, pode até não permanecer no PSDB, pois pretende realizar um sonho individual de conseguir sentar no principal assento do Palácio do Planalto. Todos sabem que o momento não é o dele, mas quem sabe, Aécio Neves, entretanto, haverá muitas conversações até o pleito de 2018, mesmo porque não acredito que haverá interrupção do mandato do presidente tampão e ex-vice de Dilma, o peemedebista, Michel Temer. Há quem aposte que Alckmin possa migrar para o PSB e desta forma se cacifar para disputar as eleições presidenciais de logo mais.

Enquanto em Brasília e no âmbito do Estado de São Paulo, todos sabem como a música está tocando, em Penápolis, a dança pelo principal assento da cidade, terminou como todos sabem: no baile que deu posse aos vereadores eleitos pela coletividade, todavia, o grande derrotado duplamente foi o ex-prefeito que viu a lei ser cumprida e o TSE lhe cassando o registro de sua candidatura, pois o considerou inelegível. A questão que levou o presidente da Câmara a tornar-se o prefeito interino de Penápolis me leva a recorrer ao filme O Quatrilho, grande sucesso de bilheteria brasileira em meados da década de 90 do século XX. Sobre essa temática, lhe voltarei atenção no momento oportuno. Por hora, fiquemos imaginando se as pedras – elemento mineral que não tem vontade própria – que estão espalhadas pelas ruas e avenidas da cidade resolvessem relatar suas memórias de 2016 e de como no mundo da política, hoje se está na crista da onde, mesmo passando por cima de acordos firmados, mas amanhã, a coisa se inverte.

 

Gilberto Barbosa dos Santos, sociólogo, professor no ensino superior e médio em Penápolis. Pesquisador do Grupo Pensamento Conservador – UNESP e membro do Conselho Editorial e Científico da revista LEVS-UNESP. Escreve às quintas-feiras neste espaço: www.criticapontual.com.br. E-mail: gilbertobarsantos@bol.com.br, gilcriticapontual@gmail.com, e social@criticapontual.com.br.

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