Shakespeare
Começo meus olhares neste domingo eleitoral, parabenizando a direção do Colégio Futuro pela encenação de uma adaptação do clássico de William Shakespeare (1564-1616), Romeu e Julieta. O espetáculo foi apresentado na noite da última sexta-feira no campus da escola como parte da 2ª Feira de Artes. Os trabalhos cênicos, que estiveram sob a direção do professor Rodrigo Santiago, possibilitaram aos estudantes do 9º ano estreitar seus conhecimentos sobre o dramaturgo e poeta inglês, autor de clássicos como Hamlet, Otelo e Muito barulho por nada, que desapareceu há quatro séculos, mas suas obras continuam influenciando gerações, como por exemplo, Machado de Assis e o seu enigmático romance Dom Casmurro.
Literatura
Enquanto os corpos formadores do Colégio Futuro – discentes, docentes, equipes técnicas e dirigentes – se encantam cada vez mais com Shakespeare, este colunista, por questões profissionais se debruça sobre dois importantes nomes da literatura brasileira e universal: o romancista, da escola romântica, José de Alencar e o folhetinista do realismo nacional, Machado de Assis. Sobre esse último não preciso dizer nada, mesmo porque pesquiso sua obra há quase duas décadas e, muitos que me leem aqui sabem do apreço que tenho para com autor de excelentes contos como Pai contra Mãe, O enfermeiro, Entre Santos e romances como Quincas Borba e Helena. Já sobre Alencar, após analisar Senhora, O trono do ipê e Til, três primorosas enunciações oitocentistas, estou percorrendo as páginas e as narrativas que compõem o livro Cartas a favor da escravidão. Quem tiver interesse em saber o que busco nos enredos de José de Alencar basta acessar o endereço http://seer.fclar.unesp.br/semaspas/article/view/8346/5836 e percorrer as linhas que formam meu artigo sobre o sentido do escravismo para o autor de Lucíola.
Filosofia
Deixando o campo literário para me enveredar pelo mundo da política, acredito que se faz necessário uma paradinha na Filosofia, mais especificamente em Aristóteles e de como sua obra Política pode ser útil para entender o ponto de vista que Alencar tinha do sistema escravista na segunda metade do século XIX. Posicionamento que lhe valeu rusgas com o Imperador Dom Pedro II e, quem sabe, a vaga que este pretendia alcançar no Senado Monárquico. Sobre as consequências desse entrevero, sugiro ao leitor que percorra as páginas do livro Cartas de Erasmo ao Imperador. Esta obra está disponível gratuitamente no site da Academia Brasileira de Letras e suas enunciações dão conta de que a burocracia aristocratizada encastelada nas estruturas do Estado Imperial, aliada a uma categoria de plutocratas inviabilizava o correto funcionamento das instituições monárquicas e posteriormente republicanas. Mas antes de Alencar, vamos a um excerto de Aristóteles para pensar o hoje da política nacional.
Política
O pensador grego, Aristóteles, começa o seu livro Política nos convidando a fazer uma reflexão a partir da seguinte abordagem: “A observação nos mostra que cada Estado é uma comunidade estabelecida com alguma boa finalidade, uma vez que todos sempre agem de modo a obter o que acham bom. Mas, se todas as comunidades almejam o bem, o Estado ou comunidade política, que é a forma mais elevada de comunidade e engloba tudo o mais, objetiva o bem nas maiores proporções e excelência possíveis”. Posto isto, me parece que o cidadão com cidadania precisa observar muito bem a sua participação na vida da polis, inclusive que ela não diz respeito apenas à esfera privada, ou seja, aquela restrita ao seu universo particular, mas, sobretudo no âmbito público, espaço em que são decididos os destinos de todo um colegiado.
Costumes
Sendo assim, muitas das questões que são colocadas no dia a dia do brasileiro poderiam ser reformuladas caso houvesse uma alteração nos costumes que são repetidos ad infinitum pelos indivíduos. Portanto, Machado de Assis foi cirúrgico ao dizer que, antes de se mudar as leis, faz-se necessário alterar os costumes. Desta forma, entendo que não adianta querer resultados diferentes se se faz a mesma coisa diariamente. Dito de outra forma, como é possível exigir mudanças na sociedade a partir dos governantes, se o eleitor se comporta como aquela arraia miúda, de que fala Machado em seu romance Memórias póstumas de Brás Cubas, que fica esperando as migalhas caírem do alto do trono. Essa prática pode ser vislumbrada a cada dois anos em períodos eleitorais quando se observa todo tipo de prática nefasta para a democracia escudada no famigerado “favor” e “jeitinho” muito próprios dos brasileiros que, tristemente recebem as migalhas hoje para ficarem dependendo sempre de quem estão ocupando o cargo máximo na estrutura do poder Executivo, num eterno “beija-mão”, esperando que o canto da sereia definitivamente elimine o vir a ser do vácuo estomacal, isto é, que o salve sujeito do social do seu devir famélico.
Eleições
As eleições municipais em Penápolis estão chegando ao fim, quando as seções de votações fecharem hoje às 17h, contudo, o que ficou foi à sensação de que estar-se em pleno Terceiro Milênio, mas com práticas eleitorais semelhantes àquelas do Brasil Oitocentista, tanto apontada nas crônicas machadianas como nos romances de Jorge Amado e analisadas por Victor Nunes Leal na obra Coronelismo, enxada e voto. Independentemente de quem sairá vencedor do pleito, é possível especular sobre o grande derrotado, mais uma vez: o povo que se deixa levar a cada 24 meses pelo canto da sereia que é entoado do alto do poder com promessas de mais isso e aquilo, contudo, discursos pífios sem um debate coerente com os eleitores sobre o que se pretende para a Terra de Maria Chica nos próximos quatro anos. O que se observou, durante o tempo de campanha foi apenas grupos aparelhados na estrutura administrativa defendendo seu quinhão em detrimento dos desejos da coletividade, cuja maioria, anseia por vir uma Penápolis diferente da que ai está, contudo, as urnas dirão o que realmente acalentavam e o que praticaram durante o dia de hoje.
Administração Pública
Concluo os meus aforismas recomendando a leitura de uma obra singular para quem pretende, na condição de cidadão, acompanhar os passos que seus representantes, caso sejam eleitos no final deste domingo, tomarão a partir de 1º de janeiro, quando os vencedores, para o Legislativo e para o Executivo, tomarão posse. O livro, intitulado Controle Social da Administração Pública: cenário, avanços e dilemas no Brasil, apresenta resultados de análises feitas por pesquisadores da UNESP-Araraquara [curso Administração Pública – Oficina Municipal] e da FGV [Faculdade Getúlio Vargas]/SP. A coletânea, lançada pela Editora Cultura Acadêmica, pode ser encontrada no http://www.culturaacademica.com.br/. De acordo com os organizadores, o objetivo “é estimular o debate e a reflexão sobre duas importantes dimensões do controle social: uma sobre possíveis definições conceituais; e outra sobre atores e experiências concretas”. Por hoje é só e boa eleição para os votantes. E-mail: gilbertobarsantos@bol.com.br, gilcriticapontual@gmail.com; social@criticapontual.com.br. www.criticapontual.com.br.