Educação: investimento certo para o futuro

Gilberto Barbosa dos Santos

 

Não é de hoje, portanto, nenhuma novidade, para quem quer que seja que o caminho para se arrumar uma casa, ou melhor, uma Nação, como a brasileira, é o da Educação. Contudo, aquele que espera que ela seja ministrada pelas instituições de ensino nacional em seus âmbitos públicos e particulares, está cometendo um erro gravíssimo. Por que tal afirmativa? Eis a pergunta que, creio eu, todos os meus leitores devem estar-se fazendo nesta manhã de quinta-feira! Claro que a resposta pode parecer simples, entretanto, se o seu conteúdo não passar por determinados critérios, conforme aponta o teólogo espanhol Jaime Luciano Balmes em seu livro O critério [já um exemplar na Biblioteca Municipal de Penápolis], ficará capenga ou uma espécie de mão única.

Se isso é fato e, tendo a crer que sim, então a questão passa, antes, pelos pais do que pelos professores, pedagogos e equipes técnicas responsáveis por transformar informações, existentes em abundância em vários locais do mundo e aproximadas aos leitores por ferramentas disponibilizadas pela rede mundial de computadores, em conhecimentos. Ou seja, objetivar o dado instrumentalizando-o para a vida concreta dos sujeitos sociais, mesmo aqueles que se encontram nas fases iniciais de seus processos de socializações, que chamamos de primários. Desta forma, não apenas a Internet aparece como mecanismo de formação desses entes que se tornarão seres sociáveis no transcorrer de suas existências corpóreas, mas os livros também que são portadores de valores significativos, pois, conforme nos retrata Marcel Proust na pequena obra Sobre a leitura, um livro e sua respectiva leitura poderão nos abrir portas de um mundo hermético que até então estaria intransponível ao não leitor. Sendo assim, a assertiva fornecida por Fernando Pessoa em seu romance Livro do Desassossego é alvissareira já que informa “[…] que toda obra tem que ser imperfeita” tornando-se perfeita a partir dos valores dados pelos seus leitores.

Posto isto, parece ser salutar, para não me tornar nessa manhã um tanto quando digressivo, enveredar pela temática que proponho com o título da reflexão de hoje, qual seja, a da educação enquanto investimento seguro para o futuro. Todos sabem disso e em várias gradações da existência humana, contudo, a problemática é: como colocar isso em prática num mundo que transforma tudo em mercadoria, conforme Karl Marx nos apresenta em seu clássico O Capital. Para muitos, educar o filho é penoso, custoso, para não dizer trabalhoso, principalmente quando lhes faltam ferramentas e ideias que possam parecer acertadas na ministração de valores éticos e morais. Nesse caso, é melhor terceirizar o que cabe aos pais fazerem: buscar fora aquilo que falta dentro de casa, ou melhor, comprar o que não se tem condições de oferecer aos filhos.

Até ai nada demais, mesmo porque, segundo Milton Friedman, em seu ensaio Papel do governo na Educação que compõe o livro Capitalismo e liberdade, “uma sociedade democrática e estável é impossível sem um grau mínimo de alfabetização e conhecimento por parte da maioria dos cidadãos e sem a ampla aceitação de algum conjunto de valores. A educação pode contribuir para esses dois objetivos. Em consequência, o ganho com a educação de uma criança não é desfrutado apenas pela criança ou por seus pais, mas também pelos outros membros da sociedade. A educação do meu filho contribui para o seu bem-estar em termos de promoção de uma sociedade estável e democrática”. Sendo assim, todos os cidadãos são responsáveis pela educação de seus filhos e no caso do Brasil, de acordo com o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), ela é um direito da criança e não um dever, como assistimos em vários momentos desse processo. Ao observamos os alunos e estudantes cônscios de que estarem na escola é uma obrigação deles, compreendemos porque há grande insucesso nessa jornada, com resultados pífios e discentes desinteressados nos conteúdos pedagógicos.

Novamente, é posto mais um questionamento, não só para os pais, mas como para o setor pedagógico nacional, pois enquanto uns caminham mais rapidamente ao cume da pirâmide educacional, aquele que pode colocar o estudante nas melhores instituições de ensino superior do país, outros ainda estão que meio trôpegos na caminhada. O que fazer quando nos encontramos no meio desse turbilhão pedagógico marcado por alguns insucessos? Posso tentar responder na tripla condição de pai, cientista social e docente. Começo dizendo que, no âmbito educacional, não existe receita pronta, como no caso do preparo de uma alimentação, mas muito trabalho e investimento, desde os primeiros anos de vida da criança – muitos dizem que o processo tem início desde a concepção do feto passando pelo equilíbrio emocional do casal [há controvérsias sobre isso, portanto, não me enveredarei por esse caminho, porque ele é tortuoso e requer uma série de observações e abordagens que o espaço aqui não me permite, mas, posso afiançar que o investimento emocional do casal tem papel preponderante nos anos iniciais da vida da criança e vários especialistas no assunto trataram da questão].

Posto isto, me parece que os pais podem dar os primeiros passos na direção acertada para o sucesso educacional dos filhos. Isso não significa que o rebento ficará milionário quando se tornar adulto, mas que poderá vir a ser um sujeito seguro das escolhas que fará quando chegar nessa etapa da existência corpórea. Desta forma, o diálogo, sempre de forma a ouvir e dizer, é o grande passo, pois quando o filho perceber que suas observações têm ressonâncias junto aos pais e que pode conversar sem segredos com eles, saberá percorrer a sua jornada terrena de forma mais tranquila e com os sobressaltos comuns da vida material. De qualquer maneira, os pais precisam decidir o que é melhor para os filhos e não achar que exibi-los como troféus ou mercadorias que gerarão significativos valores monetários no futuro, seja o devir mais alvissareiro. A tarefa não é fácil, pois o maior investimento a ser feito nessa jornada, não é a financeira, mas a emocional, a psicológica e a pedagógica.

Enfim, o investimento do presente é vitória certa no futuro. Mas antes de nos ocuparmos do amanhã, observemos o agora que se dissolve no momento seguinte, pois a atualidade é feita de mercadorias que desaparecem assim que são consumidas e, se isso é fato, a educação não pode ser compreendida como uma mercadoria que deve ser adquirida pelos pais e que tenha que dar resultados imediatos. O produto educativo tem suas eficácias, contudo, sem o aporte materno/paterno, terá dificuldades para atingir o objetivo traçado pelos seus consumidores. Nesse ponto, é comum ouvirmos o mesmo mantra: “não tenho tempo, trabalho muito para manter e oferecer aos meus filhos o que há de melhor!”. Mas o que é melhor para eles, senão um quantum significativo de tempo objetivado na amizade que se constrói na interação familiar? Sendo assim, penso não ser possível terceirizar a condição de pais e mães, pois podemos ter ex-amigos, mas ex-filhos não! Desta forma, eu não conseguiria delegar para outrem o meu existir de pai que se consubstancia com a função de educador e cientista social.

 

Gilberto Barbosa dos Santos, sociólogo, professor no ensino superior e médio em Penápolis. Pesquisador do Grupo Pensamento Conservador – UNESP e membro do Conselho Editorial e Científico da revista LEVS-UNESP. Escreve às quintas-feiras neste espaço: www.criticapontual.com.br. E-mail: gilbertobarsantos@bol.com.br, gilcriticapontual@gmail.com, e social@criticapontual.com.br.

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