Olhar Crítico

Razão

“A razão, ou a ratio, de tudo o que já sabemos, não é a mesma que será quando soubermos mais” [William Blake]. Essa é uma das epigrafes do livro do historiador inglês Edward Palmer Thompson (1924-1993) A miséria da teoria e ouros ensaios [Vozes, 2021] e a utilizo no sentido de vos perguntar, meus caros leitores, qual vida haverá depois que o vendaval pandêmico passar? Interessante notar que quando se caminha pelas paragens penapolenses, é possível encontrar aqueles que agem como se fossem os frondosos jequitibás e outros que se comportam como a taboa. Essa é uma fábula que conheci há algum tempo num livro de Língua Portuguesa e me permite analisar certas coisas em nossa sociedade.

 

Pandemia

De acordo com o último boletim epidemiológico divulgado pela Secretária Municipal de Saúde de Penápolis, a cidade havia registrado nos últimos dias o aumento de mais 24 pessoas contaminadas com o Covid-19. Acresce-se a está observação, a informação de que o munícipio registrou, desde o começo da pandemia, 293 mortes, das quais 167 eram homens. Os dados indicam, nas entrelinhas, que o perigo não passou, principalmente se levarmos em conta o que acontece na China e na Europa. Neste sentido, compreendo que ainda devemos atuar na prevenção: usando máscaras em lugares fechados, quiçá o governo estadual ter liberado geral, creio que a prudência precisa pautar nossas condutas e, neste sentido, é possível encontrarmos muita gente que não abandonou o hábito justamente por considerar temerário deixar narizes e bocas desprotegidos quando estão em ambientes fechados.

 

História

E já que tratei no primeiro aforisma dominical de hoje do historiador E. P. Thompson, acho interessante compartilhar com vocês, meus caros leitores, um pequeno excerto do livro que venho analisando. “Articular o passado historicamente, disse Walter Benjamin [1892-1940], ‘significa se apropriar de uma lembrança quando esta se apresenta em momentos de perigo’. Há várias décadas estamos vivendo em um contínuo ‘momento de perigo’, de modo que nossa história e cultura passada se mostra a uma mente atenta ao perigo, buscando indícios de resistência democrática e recursos de poder e progresso cultural. E parte desse legado cultural não pode deixar de ter caráter ‘nacional’, com suas próprias pressões, resiliência e idiomatismo particulares; ele deve constituir não apenas parte daquilo que pensamos e sentimos sobre as coisas, como também parte do que pensamos e sentimos em conjunto” (p. 17).

 

Articulações

Revistar o pretérito recente da humanidade significa compreender as sementes dos atuais problemas que a sociedade vem enfrentando, inclusive a questão pandêmica provocada pela expansão global do vírus que pode levar a morte, independentemente da etnia, condição social, financeira e religiosa, entretanto, ainda é possível encontrar mentalidades obtusas como aquelas dos tempos medievais em que a Europa foi devastada por uma moléstia transportada nas costas  dos ratos e pelas pulgas, justamente no momento em que os gatos eram massacrados porque algumas pessoas que gozavam de prestígio e poder, achavam que os felinos eram portadores de energias maléficas. Deu no que deu, contudo, pode-se deixar a época medieval e se chegar à Gripe Espanhola que assolou o mundo nas primeiras décadas do século e o Brasil não ficou fora da pandemia, tendo inclusive ceifado a vida de um presidente.

 

Repetição

Se estou cá tratando de fenômenos que se repetem, sendo que alguns podem ser encarados a partir das lentes de Karl Marx (1818-1883) para quem a história se repete uma vez como farsa e outra como tragédia, é possível compreender as mazelas e desgraças sociais que o mundo reproduz de tempos em tempos, principalmente no campo democrático, para não dizer político. Não vou entrar no âmbito de situações especificas, seja aqui no Brasil ou no orbe de um modo geral, mas apenas perguntar: por que o ser humano sempre se compraz com ditadores, governantes totalitários e sanguinários? Não adianta dizer que no presente não é assim, pois os regimes espalhados pelo mundo indicam que a democracia está em risco, principalmente aquela de vertente liberal. Será que isso esteja acontecendo por que o capitalismo não foi capaz de manter o povo o tempo todo iludido e agora as pessoas percebem que viver a partir das faturas e dos códigos de barras têm preços exorbitantes? Ou seja, perceberam que o crédito quando seca fica mais caro!

 

Grita

Se o capitalismo e seu formato de democracia pautada no liberalismo está fracassando, lógico que os homens, principalmente aqueles que se consideram “cidadãos de bem” se veem acuados porque não conseguem manter suas proles alienadas em meio a milhares de penduricalhos e outros predicativos disfuncionais, então escolhem seres que prometem vingar a desgraça que se abateu sobre a vida do trabalhador. Se isso é fato, será que explica, por exemplo, a grita que se tem visto nas redes sociais contra a atual administração, principalmente no que diz respeito ao Pronto-Socorro e a área de saúde penapolense? Achei interessante a fala de um internauta que pedia para as pessoas abandonarem as lamentações nas redes sociais e partirem para a ação, principalmente no que diz respeito à participação, deixando de serem apenas eleitores que delegam para seus representantes atuarem em seus nomes.

 

Conselhos

Mas como se daria essa participação, vos pergunto, meus caros leitores. Creio que não há necessidade alguma de se candidatarem a vereadores nas próximas eleições, já que basta participarem dos mais de trinta conselhos comunitários existentes em Penápolis. Quando se reúnem, por exemplo, os Conselhos de Merenda Escolar, de Segurança, de Educação e de Saúde? Creio que seja interessante os penapolenses procurarem se informar e, mesmo que os órgãos sejam de caráter consultivo, portanto, sem poder de deliberação, é preciso deixar registrada, não somente a insatisfação, mas também e aí creio que seja significativo, apresentar propostas cabíveis e possíveis de serem realizadas. A título de exemplo, pergunto a quem de direito se há um conselho consultivo sobre o Pronto-socorro municipal. Se há, como é franqueada a participação dos usuários e se não há esse órgão, é possível criá-lo? Parece-me que a democracia só pode ser fortalecida se houver participação, consubstanciando assim, uma “democracia participativa” e não apenas “delegativa” como se assiste no momento. Quem quiser saber mais sobre a distinção das duas, recomendo a leitura do significativo artigo do cientista social argentino Guilhermo O’Donnell (1936-2011): Democracia delegativa? [https://uenf.br/cch/lesce/files/2013/08/Texto-2.pdf]. gilcriticapontual@gmail.com, d.gilberto20@yahoo.com,   www.criticapontual.com.br.

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