Literaturas
Enquanto o mundo, ou melhor, o Leste Europeu arde em chamas por conta de desejos atrozes de muitos líderes que se comprazem com a desgraça alheia tendo como apoio uma camarilha que adora um poder através do qual a velha prática romana se perpetua, começo meus olhares deste domingo tratando de uma querela significativa: o lugar da escrita afro-brasileira no universo literário brasileiro. Muitos dos que me leem sabem, por exemplo, que Maria Firmina dos Reis (1822-1917) é a primeira escritora negra do Brasil por intermédio do seu romance Úrsula [SP: Companhia das Letras, 2018], bem como um dos maiores nomes das Letras nacionais, é o preto carioca Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) fundador e primeiro presidente da ABL (Academia Brasileira de Letras) e também que o catarinense João da Cruz e Souza (1861-1898) é um singularíssimo poeta brasileiro e que o baiano Antônio Frederico de Castro Alves (1847-1871) é autor dos versos que compõem o importante livro Navio negreiro. E quem foi Carolina Maria de Jesus (1914-1977)? E Conceição Evaristo?
Escritoras
As duas tem como origem o Estado de Minas Gerais. A última é uma linguista, professora aposentada e escritora que acalenta o sonho de ser a primeira escritora negra a se tornar uma imortal da ABL. Já percorri páginas de alguns de seus romances e contos, mas te confesso, meu caro leitor, que preciso lê-la bem mais. Então é tarefa para os próximos meses. Já Carolina é a celebradíssima autora do clássico Quarto de despejo: diário de uma favelada [São Paulo: Ática, 2020]. A escritora faleceu em 1977 e tem agora resgatada sua obra por pesquisadores e outros literatos interessados em compreender o universo daquela cronista da periferia que tinha como ofício recolher papel e papelões pelas ruas da cidade de São Paulo. Interessante notar que de uns tempos para cá, a sociedade brasileira resolveu olhar com mais acuidade a escrita afro-brasileira, como sempre tem afirmado a filósofa e professora da PUC-SP, Djamila Ribeiro e outras tantas investigadoras do agir literário. Se isso é fato, e tendo a concordar com a colunista do jornal Folha de S. Paulo, por que uma preta ainda não conseguiu um assento na Academia Brasileira de Letras?
Leitores
Ainda no universo das narrativas e outras enunciações breves, como por exemplo, o conto que nos dizeres do escritor Julio Cortázar (1914-1984) – autor do clássico O jogo da amarelinha (São Paulo: Companhia das Letras, 2021) é uma escrita engarrafada, semelhante a uma mensagem colocada dentro de uma garrafa e lançada ao oceano dos leitores e que deve ser breve, porém dizer tudo o que o autor deseja relatar ao indivíduo que encontrar o objeto boiando sobre as águas da consciência leitora. É significativo notar também que o semiólogo Umberto Eco (1932-2016) diz que a enunciação romanesca é uma máquina-ferramenta preguiçosa que não pode dizer tudo, esperando que o leitor complete as lacunas deixadas pelo enredo. Posto isso, fico cá com uma pergunta: por que é tão difícil haver público leitor no Brasil? Muitos dirão que é por conta do preço salgado dos livros. Isso é um fato, mas não de todo verídico, pois há que se fazer sempre análises em que se prioriza isso ou aquilo.
Carestia
Sabemos que o processo inflacionário do presente corrói os ganhos salariais das famílias brasileiras e, em virtude disso devem sempre priorizar a alimentação, todavia, os filhos são encaminhados para as escolas públicas e o trabalho vem sendo feito, isto é, de se formar jovens leitores inculcando nas crianças o hábito da leitura e rodas de conversas sobre o que se leu e o impacto provocado em cada um deles, ajudando a fazer o que Umberto Eco solicita no seu livro Seis passeios pelos bosques da ficção (São Paulo: Companhia das Letras, 2004). Diante do exposto, acho significativo abordar aqui, do ponto de vista semântico, o que significa o termo usado para nomear esse aforisma. “Carestia” leva-nos a dizer que a vida do brasileiro está cara. Essa é a primeira parte da terminologia, mas qual é o significado da segunda: estia? Parece-me que vem da mitologia grega e diz respeito à Héstia, deusa do lar e da vida doméstica.
Futuro
E já que estou tratando de mitologias, creio que seja significativo dar uma passadinha pelo universo da educação, mais especificamente pelo mundo do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), a principal porta de entrada para as universidades federais e estaduais do Brasil. Na última quinta-feira, o MEC (Ministério da Educação) confirmou que a partir de 2024, os candidatos poderão escolher as áreas de conhecimentos em que serão avaliados no segundo dia de prova. É interessante apontar aqui que o Colégio Futuro de nossa cidade iniciou esse ano processo avaliativo no qual seus estudantes secundaristas já são analisados a partir das opções que fizeram entre as três áreas: humanas, exatas e biológicas. As provas são aplicadas nos modelos dissertativos. Embora o ENEM usará essa modalidade a partir de 2024, os discentes desta escola já iniciaram os procedimentos agora em 2022, visando o Futuro.
História
Como abordei uma medida que o Governo Federal, por intermédio do ENEM, adotará num futuro não muito distante, creio, meus caros leitores, que seja significativo recordar aqui um período de significativa importância em minha existência profissional, mais especificamente no final dos anos 80 do século passado, quando me preparava para os “temíveis” vestibulares: USP, UNESP e UNICAMP – três das principais universidades públicas do Estado de São Paulo. Os exames seletivos para ingressar numa das várias faculdades que compunham essas instituições de ensino superior eram divididos em duas fases: a primeira consistia em assinalar as respostas a partir de cinco alternativas, avaliando o conhecimento do candidato em todas as áreas do saber humano: biológicas, exatas e humanas. Na segunda fase, as avaliações eram dissertativas e direcionadas às áreas especificas de cada vestibulando.
Máscaras
No momento em que esses aforismas eram preparados, o governo paulista havia anunciado que revogava o uso obrigatório de máscaras em lugares fechados, restringindo à apenas alguns locais. No mesmo dia, outra informação veiculada pela mídia nacional dava conta de que mais de 400 pessoas haviam falecido por conta do vírus Covid-19 dentro dos limites geográficos do Brasil. Aqui do lado de cá, do meu lugar de fala, digo apenas que a adoção de tal flexibilização é temerária, levando em conta que temos um vírus de alta letalidade circulando e que as autoridades deveriam pensar mais na preservação da vida do que no pleito de outubro. Aliás, foram justamente os cálculos eleitorais para lá de equivocados que lançaram o país nessa problemática toda em que mais de 650 mil pessoas perderam a vida por conta do vírus, além das diversas escaramuças no âmbito da vacinação, principalmente o boicote perpetrado pelas autoridades federais, conforme a mídia apresentou nesses últimos dois anos e meio. Desta forma, espero consciência dos seres que se querem humanos na compreensão de que o uso das máscaras é necessário, mesmo com o decreto governamental desobrigando a sua utilização. gilcriticapontual@gmail.com, d.gilberto20@yahoo.com, www.criticapontual.com.br.