33.
Depois de deixar tudo ajustado para o noivado da irmã no dia seguinte, Ricardo, juntamente com a sua agora esposa, voltou para o apartamento emprestado pelo editor para que o casal residisse até que o imóvel que estavam construindo ficasse pronto. Ao contrário dos dias anteriores, Fernanda sutilmente disse ao esposo que pretendia se higienizar, todavia, queria fazê-lo estando só, caso o marido não se opusesse. Imediatamente, ele recordou a conversa que teve com o pai durante as compras para o almoço dominical e concordou dando um suave beijo em Fê, que agradeceu apenas com um olhar terno e carinhoso.
Enquanto a executiva se banhava, o design da Jardim da Leitura ficou na sala e, entre um pensamento e outro, bebericava uma dose de uísque da mesma marca que Amadeu consumia e depois o restante da família passou a apreciar a bebida. A primeira pessoa que lhe veio à mente foi Márcio. Ainda não entendia direito o comportamento dele para com a sua esposa. “Por que nunca deu em cima de Fernanda”, se perguntou mentalmente emendando a inquirição para Roberto. “Outro que podia estar com ela, mas, no entanto, optou por ficar com Danisa”.
“Realmente nunca vou entender esses três, bem como Márcio se casou com aquela doida da Angélica. Eita mulher pirada”, disse em voz baixa, achando que não era ouvido, mas mesmo a tonalidade sendo baixa, sua observação foi escutada por Fernanda que o olhava silenciosamente vestida com uma pequena camisola que combinava tons de azul claro com um preto estampado com detalhes branco e uma minúscula calcinha.
– Meu amor! A primeira vez que vi minha patroa olhando para o Marzinho, entendi logo o quanto ela era e é doida de amores pelo meu amigo. Márcio vinha sofrendo muito por conta de um noivado frustrado que o obrigou a abandonar a sua cidade, sendo abrigado aqui pelo Roberto que é seu amigo desde os tempos de faculdade. Ambos dividiram o quarto no alojamento da universidade.
“- Que frustração foi essa”, quis saber Ricardo. Todavia, como Fernanda sabia da discrição de Marzinho, apenas disse que a informação era suficiente para que o esposo não ficasse encanado com o patrão. “- A única mulher que conseguiu mudar a aura cinza que ele portava por cinco anos foi Angélica. Eu fiquei com inveja dela, pois foi ela quem conseguiu devolver o brilho aos olhos do Márcio. Uma luz que vi poucas vezes antes daquela manhã na loja em que eu trabalhava”.
“- Inveja por que, posso saber”, disse Ricardo.
– Porque desejava ser amada por alguém como aquele maluco gosta da Angélica e porque mesmo tendo Márcio do meu lado todo esse tempo não fui capaz de atravessar a barreira que ele havia levantado em seu coração. Até outro dia eu me achava incapaz de cativar alguém para além do meu corpo, porém, convivendo contigo e observado o esforço que você fazia para ficar entre eu e Marzinho, pude ver um brilho em seus olhos que foi se avolumando desde que nos conhecemos. E hoje à tarde quando me surpreendeu com o nosso casamento, isso se concretizou. Espero sinceramente poder te fazer feliz como Angélica faz o meu amigo ser.
Assim que a esposa terminou de falar, se sentiu abraçada e sufocada por um profundo beijo dado por Ricardo que, em lágrimas, dizia que sob circunstância alguma a deixaria. “- Enquanto tomava banho pensei na relação daqueles dois e compreendi porque Márcio não deixa Angélica e entendo o ciúme velado dele. Ele parece não ver nada, mas quando dá o bote é certeiro”, desabafou Ricardo querendo rir ao mesmo tempo.
“- Será que posso esperar o mesmo comportamento do meu homem”, quis saber Fernanda.
“- Não! Eu não tenho a destreza dele. Já partirei para a porrada e depois eu perguntarei porque o mané tá te olhando, mas responderá com um olho roxo. Farei isso, não porque és minha, mas porque sou todo seu”, disse Ricardo que pediu logo em seguida para Fernanda o esperar ali enquanto se higienizava. “- Vou lá rapidinho renovar minhas energias para te fazer feliz não somente agora, mas durante o tempo em que durar a eternidade”, falou baixinho no ouvido da esposa que ficou toda serelepe com o que escutou.
Durante o banho de Ricardo, Fernanda se deixou ficar ali na sala pensando em quantas vezes Márcio tinha transado com Angélica naquele sofá, além de imaginar a primeira vez que ela entrou ali para nunca mais deixar o coração do amigo que parecia estar nas nuvens quando estava do lado da esposa. “-Realmente aquele doída soube atingi-lo usando uma flecha certa para abrir aquela armadura que protegia o ser de Marzinho”, pensou consigo mesmo a gerente de finanças das Organizações Oliveira.
“Claro que não poderia ser um artefato feito com o mesmo material da armadura, nem mesmo ódio, mas algo bem mais resistente. O zero não combina com outro zero. Só pode ser o um para conseguir alcançar o objetivo. Acho que compreendi o que une aqueles dois: serem semelhantes, porém diferentes. Os dois são gelo e fogo ao mesmo tempo e não brigam. Márcio é turrão, mas Angélica soube contornar aquela cabeça antiquada dele e ele fez o mesmo”, pensou Fernanda dando risada, sem notar que era analisada pelo marido que lhe perguntou se gostaria de dividir com ele o motivo daquele belo sorriso. Fernanda apenas respondeu que já dividia o seu coração com Ricardo que aceitou a resposta dada pela esposa.
Rapidamente o marido pega a esposa no colo e a carrega até o quarto, mas não aconteceu nada do que ele aguardava, principalmente por se tratar da primeira noite como casados. Já deitados na cama, Fernanda lhe pergunta se aquela aliança na mão esquerda era para valer e se ele não a deixaria como o pai fez, e depois Marzinho e Roberto. Naquele momento, Ricardo teve a noção exata do que seu pai tinha lhe dito naquele começo de noite. “-Não vou prometer, porque não quero que seu coração viva de promessas, mas apenas dizer que desejo viver contigo até o fim da eternidade. Você conseguiu o que mulher nenhuma conseguiu: fazer a minha vida ter sentido, conforme minha mãe vivia me dizendo e eu não enxerga o que ela falava, mas agora vejo perfeitamente bem. Te amo minha princesa”, disse o marido.
Após essas observações de Ricardo, pela primeira vez em sua existência, desde o falecimento da mãe e posterior abandono do pai, Fernanda se sentia protegida por alguém que seria só dela e ninguém lhe tiraria. Enquanto a esposa se abrigava entre os braços do marido, este a observava calmamente, a informando que a ereção e o desejo que sentia por ela naquele momento não advinham do corpo, mas era uma resposta que a alma lhe dava a partir do coração e, desde que a conheceu, sabia que Fernanda lhe completaria, como naquele livro do Platão. Só não sabia como, mas no começo daquela tarde de sábado quando trocaram as alianças de suas mãos direitas para as esquerdas, havia compreendido tudo.
Sentindo-se feliz, Fernanda beijou o marido se recostando em seu peito, se deixou ficar ali por um tempo que lhe pareceu uma enorme eternidade. Quando despertou percebeu que Ricardo dormia do seu lado. Ao olhar para o relógio notou que já se fazia madrugada no quarto do apartamento que lhe fora cedido por Márcio, o amigo que havia cuidado silenciosamente dos seus passos nos últimos seis anos desde aquela tropeçada que deu no pé dele no barzinho.
A gerente financeira das Organizações Oliveira, deixou a cama, indo ao banheiro, ficou se olhando no espelho e à camisola sexy que colocou para aquela noite, só que não aconteceu nada, já que acabou dormindo nos braços de Ricardo. “Meu deus do céu, o que fiz? Por que me deixou adormecer, meu deus”, se perguntou mentalmente Fernanda quando sentiu o marido lhe abraçar pela cintura. “- Vamos voltar para cama, meu amor. Amanhã teremos um dia cheio com o noivado de Débora”, disse o esposo.
– Rick me desculpe. Queria que tivéssemos tido uma noite de amor para celebrar o nosso casamento, mas adormeci.
“- Teremos a eternidade para fazermos amor. Estou muito feliz em saber que posso te fazer feliz também. Garanto que teve um sono sereno e restaurador. Agora venha! Continuemos a dormir e assim permitir que nossas almas se encontrem na eternidade do mundo espiritual”, sussurrou carinhosamente Ricardo, fazendo com que Fernanda se desmanchasse em seus braços, dizendo em seguida que o esposo estava muito poético aquela noite.
A executiva obteve como resposta que qualquer pessoa diante do sentimento mais nobre que a humanidade desenvolveu ao longo dos tempos – o amor – fica poética e por vezes até patética e ele não seria diferente, ainda mais estando casado com um ser tão sublime que, às vezes, parecia ser tão forte. “- Você é linda e inspira em meu ser os mais belos sentimentos que tenho certeza minha alma os aguardará eternamente para ti”, diz Ricardo.
Se Fernanda se derretia de amores por Ricardo, a sua cunhada que ficaria noiva no domingo com o irmão de Marzinho, expulsava Esdras do seu quarto. Ela sabia quais eram suas intenções, sentenciando: “- Não é porque meu pai deixou você dormir aqui e também pelo nosso noivado amanhã que vai pensando em coisas que podem ir além do que já tivemos até agora. Se aguardou até agora, saberá ter paciência até o casamento. Já para o quarto do Ricardo e se tentar alguma coisa, nem precisa pedir desculpas ou desejar ficar noivo amanhã, pois terei a certeza de que pensas e age mais com a cabeça de baixo que com a de cima. Portanto, não me servirá como marido, mas, no máximo como amigo e olha lá que eu tenho como comparação o seu irmão.
– Caralho! Esse porra do meu irmão tem que servir de parâmetro para o nosso amor?
“- Para o nosso amor, não! Mas para o comportamento que desejo ver numa pessoa que pretendo tê-lo como marido sim”, sentenciou a secretária de Angélica.
– O que ele tem de tão especial assim?
“- Nada que nenhum outro homem tenha, entretanto, as mulheres gostam de ser admiradas e não devoradas e eu posso te dizer o que aquela doida da Angélica viu nele: aquele olhar de quem enxerga sem precisar dizer que está vendo. Você acha, meu amor, que se o seu irmão fosse um zé qualquer, aquela ricaça atravessaria o estado atrás dele? Iria terminar um relacionamento de mais de cinco anos para ficar com ele”, inquiriu Débora.
Diante do silêncio de Esdras, Débora crava: “- Márcio sabe observar uma mulher. Se tiveres alguma dúvida sobre isso, pergunte a Angélica amanhã. Talvez ela lhe dê alguma dica e quem sabe você não se torne mais paciente como seu irmão”.
– Nem pensar. Já basta os dois serem sócios do supermercado aqui. Ainda bem quem cuida das coisas é o Roberto. Não quero nenhum dedo de prosa com meu irmão sobre isso.
“- É! Mas terá que conviver pacificamente com ele, já que eu e Angélica seremos sócias no escritório de arquitetura. Por isso, quero manter relações estreitas com ela e se estiveres pensando em ser meu marido, nada de tromba e cara virada com o marido dela que a propósito é o seu irmão”, explicou a futura noiva.
– Está bem! Tchau! Boa noite meu amor. Amanhã daremos o primeiro passo para consolidar nosso relacionamento.
“- Ué! Pensei que já tivéssemos dados”, perguntou a anfitriã.
– Ainda não te experimentei!
“- E vai ficar sem sentir o gosto de meu sexo. Só depois do sim diante do padre e no altar, como manda o figurino”, disse Débora, de maneira bem convincente.
Esdras deixou Débora imediatamente e, com a cara fechada, pois sabia que a namorada era osso duro de roer e tinha todos a favor dela, inclusive o seu próprio pai e, para piorar tudo, os olhos agigantados e silenciosos do irmão sobre o seu relacionamento.
Já dentro do quarto do futuro cunhado, o noivo de Débora ficou deitado pensando nas curvas dela, imaginando como seria na noite de núpcias. Em sua cabeça, tudo não passava de estratégias dela para segurar aquilo que já tinha sido conquistado desde a primeira vez em que a viu na mansão de Angélica. Respirou fundo sentido o falo acordar quando recordou como retirou o biquíni dela apenas com o olhar, sentido toda a maciez da pele e os pelos arrepiando com o contato de sua língua naquele corpo que todas as mulheres desejavam ter, sem, no entanto, conseguir alcançar, mesmo passando horas em clínicas de bronzeamento artificial.
A futura esposa tinha uma pele acobreada que combinavam muito bem com os cabelos rebeldes, indicando que na ancestralidade havia elementos das três matrizes étnicas formadoras do país, a exemplo dele, Esdras e seus irmãos. Mas Débora tinha algo especial, encantador que se agigantava na medida em que ela não perdia a postura: estava sempre em harmonia consigo mesmo, inclusive quando lhe chamava atenção, dizendo que a melhor forma de atrair a atenção de alguém é não chamando atenção.
Durante uma tarde quando almoçavam num restaurante perto do supermercado que acabou virando cliente da loja que Esdras gerenciava, ela lhe contou da brincadeira que fez com Márcio, sem saber que ele já tinha sido fisgado por Angélica. “-Ele entrou no escritório como se fosse uma pessoa normal, isto é, que não tivesse vínculo algum com a Angélica. Ficou esperando e eu brinquei com ele. Assim que foi atendido por ela, falou serenamente que eu o tinha cantado”.
“- A doida da Angélica quis te demitir”, quis saber o namorado.
– Claro que não! Ela também ficou surpresa com a revelação feita por Márcio e aquilo a deixou mais doida por ele.
Recordando aquela conversa, Esdras entendeu porque o irmão tinha aquele jeitão de esquisitão, parecia um seminarista, mas era de fato um homem como o seu pai também e Judith sabia todos as artimanhas dele para olhar um rabo de saia sem que fosse notado: exceto quem recebia o encanto do brilho dos olhos dele.
“Realmente, Marzinho puxou tudo do papai e é por isso que mamãe é encantada por ele”, pensou Esdras já sentindo os primeiros sinais do sono que lhe visitavam, enquanto as imagens de Débora tirando lentamente a roupa íntima lhe preenchia a memória.
Na torre da Rainha Diaba, como Amadeu chamava sua irmã, Angélica e Márcio, saciados um do outro e ainda mais apaixonados, estavam sentados num dos sofás da sala ouviam músicas francesas, enquanto o marido ia traduzindo em forma de sussurros perto do ouvido da esposa, como numa declaração de amor que só interessava aos dois.
Do nada, Márcio mordiscou a ponta da orelha da empresária lhe dizendo que nunca havia entendido direito o significado de eternidade, mas que ela havia lhe mostrado não somente isso, mas também o sentido dos trovões e dos raios. “- E como é isso, meu amor”, perguntou Angélica.
– Primeiro você provocou trovoadas em minha vida, sonoridades que me transformaram e não apenas me modificaram. Depois vieram os raios que iluminaram todo o meu ser. Naquela noite em que me resgatou do banco da praça em que eu estava todo molhado pelo meu pranto e pela água da chuva, entendi que se ficasse sem ti, me sentiria como Prometeu acorrentado. Conheci o amor, mas o desperdicei por estupidez e por isso passaria a eternidade recordando esse amor e ao mesmo tempo sentido a dor da separação.
“- Querido! Sei que não sou fácil e, apesar de todos os problemas que tenho causados pelo Jô, compreendo que poderia ter facilitado um pouco mais a nossa vida, entretanto, me colocando em seu lugar, notei que a maior parte do meu ciúme é fruto de minha infantilidade e a outra provocada por esse seu olhar que desnuda desnorteando qualquer mulher”, explicou a esposa alisando ternamente o rosto do marido.
– Não sei que olhar é esse que você tanto fala.
“- Tua mãe me disse que sofre um bocado com o seu pai, Débora se vê em más lençóis por conta da maneira como seu irmão faz e foi isso que a cativou tanto naquele nosso almoço. Assim que ela passou por Esdras, ela me disse que se sentiu desnudada. Então neguinho não vem não que todos vocês sabem fazer isso e quando bem quer. Minha sogra me disse para ficar de olhos bem abertos contigo e se for o caso partir para cima de ti e da lambisgoia que corresponder a sua cantada silenciosa”, disse Angélica, beliscando suavemente a perna do esposo.
Márcio bem que tentou, mas acabou caindo na gargalhada repetindo os gestos que tanto encantavam Angélica e a deixava completamente excitada e desnorteada. “- Duma coisa tua mãe está certa: você nunca riu assim com Fernanda e nem a olhou do jeito que me fitou naquela manhã na porta do seu prédio”.
– Amor! Coloque uma coisa em sua cabeça de uma vez por toda: quando eu desapareci, inclusive te deixando o celular foi por conta de ter certeza de já te amar e o velho medo de ser rechaçado, fez com que eu quisesse ir para qualquer lugar em que você não estivesse.
Desta vez foi Angélica quem caiu na gargalhada e o marido quis saber o motivo. “- Foi Roberto quem me ajudou a te achar naquele fim de mundo”, disse Angélica entre risos, mesmo sabendo que o esposo poderia se encolerizar.
– Sabia que tinha dedo daquele filho de uma puta. E vocês negando tudo.
“- Ele fez muito a contragosto. Vamos dizer que ele só facilitou as coisas para mim. Tipo assim, deixando eu ver o número do celular que você estava usando e lógico que era o dele”, explicou Angélica, gargalhando.
Márcio fez aquela cara de quem não havia gostado, mas foi surpreendido por outra observação feita pela esposa: “- Se ele não desse um empurrãozinho, talvez eu tivesse te procurando até hoje e você largado numa sarjeta por medo do amor que me nutria”, confessou a empresária.
O editor olhou para a esposa, abraçando-a e a levando para seu colo, lhe beijando dizendo que se isso tivesse acontecido ele seria o sujeito mais imbecil da história da humanidade.
– Amor! Você já me deu mil provas de seu amor. Bebedeira, quase indo a óbito, pensando em cometer suicídio, mas tem duas que eu jamais vou me esquecer: quando socou o médico que te examinava enquanto tentava me paquerar e naquele dia em que esmurrou o meu ex-diretor.
“- Por que não escreve um livro dizendo tudo isso”, perguntou Márcio tentando induzir a esposa a colocar a história deles dois no papel.
– Não tenho jeito para coisa. Prefiro a prancheta e minha mesa de trabalho. Aliás, quero me dedicar mais a arquitetura, mas para isso preciso reduzir o tempo de trabalho nas empresas, mas só poderia fazer isso quando meu irmão estiver pronto e sabe-se lá quando isso ocorrerá.
“- Keka! Para que tudo isso dê certo, vos dois precisam criar uma rotina de trabalho e ainda não vi isso em vocês. Ele cerca Tarsila de mimo e você, quando cisma que estou indo atrás de outra mulher, abandona tudo”, disse Márcio, gargalhando em seguida.
– Bom. Nisso tens razão, porém, você sabe o fantasma que Amadeu arrastou por cinco anos e por mais que a Tarsila diga que o ama, sempre ficará aquela sombra a lhe perseguir e somente ela é quem poderia eliminar tudo isso e em seguida tenho um marido fujão. Se me prometer não fugir mais, mesmo que eu esteja completamente errada, quem sabe possamos todos criar uma rotina de trabalho.
“- Está bem, paixão, mas vamos deixar isso para amanhã. Agora eu e a senhorita vamos para cama que estou exausto. O dia foi doido e ao mesmo tempo delicioso: és a mulher mais deliciosa do mundo”, floreou o marido ensaiando um discurso todo meloso.
“- Por que está dizendo isso? Quantas outras já experimentou”, quis saber Angélica.
– Você foi a primeira.
“- Então não tem parâmetro para comparar”, observou a esposa.
– Ainda bem que não preciso disso, pois o coração e minha alma me dizem todos os dias que és a mais bela entre as belas; que você é a esmeralda mais valiosa do meu reino. Se tudo isso é verídico, então porque eu teria de provar as outras para ter certeza de que tu és tudo isso e mais um pouco?
Antes da reação de Angélica, Márcio se levanta tendo a esposa no colo e caminha com ela em seus braços até o quarto e no pequeno trajeto entre os dois cômodos, a esposa dava gritinhos de felicidades beijando-o por todo o rosto e sugando-lhe o pescoço deixando um grande hematoma.
Colocando a empresária sobre a cama, o editor lhe perguntou por que havia feito aquilo, já que no noivado do irmão todos veriam a mancha. “- É para todo mundo saber que seu coração, seu pau e seu corpo já tem dona e ela está aqui diante de ti, toda molhada querendo comê-lo inteirinho”, disse Angélica, gargalhando abrindo as pernas, esperando que o marido se encaixasse entre elas e sua vulva.
“- Nossa minha adorável empresária e dona, como está quente hoje”, exclamou Marzinho.
– Quero mais um pouco do meu nego esta noite para eu dormir em paz.
Quando Márcio pensou em agir, Angélica já estava sugando a sua boca e procurando seu falo e, ao senti-lo, sorriu mais ainda, por saber a quantidade de prazer que transmita ao seu marido. Desta vez o sexo foi lento, como a chuva que se aproximava da cidade. Assim que o casal saiu do banho, as janelas do quarto recebiam as primeiras saraivadas de pingos que chegavam em abundância.
O domingo amanheceu sendo castigado pela chuva que parecia não ter fim. O editor deixou a cama em silêncio para não despertar a esposa que dormia como se estivesse andando entre nuvens e estrelas. Seguiu até a cozinha, pegou um iogurte desnatado, adicionando aveia e duas pequenas pedras de açúcar mascavo. Em seguida foi para a sala onde ficou olhando a chuva pela vidraça. Gesto que costumava repetir desde o primeiro dia de sua estada naquele imóvel.
Como um raio, as lembranças daquela noite em que Eleanora o expulsou dali por achá-lo futricas de mais, sem chance alguma de ser a pessoa que a filha dela deveria ter ao seu lado. Se viu deitado no banco da mesma praça em que falou com Tarsila, chorava copiosamente, enquanto a chuva lhe castigava o corpo, a alma parecia querer deixar o mundo físico. Aquele momento pareceu a Márcio apropriado para a sua catarse, pois recordou direitinho quando a esposa tirou a blusa para ele se sentasse no banco do carona e este tentou olhar para os seios cobertos pelo sutiã, levando uma reprimenda daquela que seria sua esposa.
Enquanto sorvia o iogurte, o editor deu um leve sorriso ao se recordar da dura que Angélica lhe deu, mas uma bronca repleta de afeto. Nesse momento sentiu o seu coração se avolumar dentro do peito, dando um profundo suspiro do qual foi despertado pela interrogação da empresária.
“- Posso saber o que meu marido está fazendo fora da cama a essa hora da madrugada”, desejou saber a esposa.
Márcio se virou e Angélica pode ver um brilho todo especial em seus olhos a deixando mais encantada ainda. “-Em primeiro lugar não é madrugada, pois os ponteiros indicam que já passa das oito da manhã e em seguida…”, disse o editor sem poder completar, pois a esposa já emendara uma segunda pergunta:
“- Por que esses olhos brilhantes e esse sorriso de bobo estampado no rosto”, interrogou Angélica.
“- Se eu te contar, você não vai acreditar, então melhor guardá-las só para as minhas memórias e meu coração”, respondeu o editor.
“- Eu que as leia estampadas num romance e devotadas a outra mulher. Te faço engolir todas as páginas”, sentenciou a esposa.
“- Não é nada de especial amor, mas apenas lembranças de um tempo em que ainda temia o seu amor, a sua luz e tentava arrumar desculpas para ficar na penumbra com medo do mundo e da iluminação que me propunha com o seu coração”, Márcio tentou justificar o porquê do segredo.
“- Quer ser mais exato. Está muito poético, filosófico e eu prefiro que sejas direto”, cobrou Angélica.
– Estava aqui olhando para a chuva e a memória se encontrou com aquele Márcio que estava deitado no banco da praça, chorando enquanto ficava encharcado de água e de dor por ter sido ignorante, recebendo como prêmio a expulsão ofertada pela sua mãe.
“- E daí”, interpelou Angélica.
– Recordei quando você tirou a blusa para cobrir o banco onde me sentaria e eu, de forma displicente, tentei olhar para os seus seios e levei a maior bronca. Você dizendo que eu não era digno nem de fitá-los. Recuperar aquele momento me iluminou mais do que eu já estava.
“- Te busquei porque também me resgatava ali. Não podia deixar o meu amor, meu melhor amigo, a pessoa que faz meu mundo ter um significado, ir embora sem ter a chance de tentar me fazer feliz”, explicou a esposa.
Márcio ficou estático observando Angélica que lhe pediu para terminar logo o que estava comendo e voltar para a cama. “-Estou te esperando lá e desta vez sem sutiã”, disse a esposa, abrindo o robe para que ele visse os seios dela como maneira de completar a memória do esposo com algo real. O efeito foi imediato e os olhos do editor ficaram mais brilhantes do que a estrela do meio-dia.
Enquanto Márcio se dirigia à cozinha para deixar o copo vazio de iogurte, na casa de Débora, o irmão do editor, Esdras já estava de pé, pois havia despertado com uma forte batida na porta. Era o sogro querendo ajuda dele para arrumar os preparativos do churrasco. Querida deixar tudo pronto, antes que Ricardo e Fernanda chegassem.
Antes mesmo de sair da cama, Esdras escutou o pai de sua noiva gritando com ele, entre risos. “- Vamos, meu rapaz. Se um dia quiser ser meu genro terá que acordar cedinho, antes das seis da manhã. Não criei minha filha para se casar com um dorminhoco. E não me venha com desculpas de que está chovendo”.
O irmão do editor ouviu quando a futura sogra deu uma dura no pai de sua noiva e este riu ainda mais. Como na casa havia três suítes, Esdras usou o banheiro do quarto onde dormiu, se higienizando rapidamente, pois não queria que o futuro sogro lhe chamasse novamente.
Ao deixar o cômodo em direção à cozinha, se esbarrou em Fernanda e não deixou de lhe notar as formas, pois estava com uma roupa que enfatizava o seu corpo. “- Não sei por que o Marzinho não ficou contigo e sim com aquela doida da Angélica”, falou baixinho o noivo de Débora imaginando que a futura cunhada não escutara, mas ficou sem jeito quando ela lhe respondeu: “- É melhor perguntar para ele, mas com certeza, se eu tivesse que escolher entre seu irmão e você, ele ganharia de goleada e talvez por isso Angélica é doida por ele”.
“- Você tem ouvido nas costas”, perguntou Esdras para Fernanda.
– Não, meu caro. Apenas sou atenta a tudo e meus ouvidos estão ligados e conheço bem tipos de homens como você que pensa que pode comer uma mulher com cantadas fajutas.
Quando Esdras ia dizer algo para Fernanda, Débora saiu do quarto querendo saber do que os dois conversavam. “- Teu noivo quis saber por que Marzinho escolheu Angélica e não eu, uma simples amiga”, informou a executiva.
Débora olhou para o namorado, sentenciando: “- Mais uma dessas e nem continuamos nada. A melhor coisa a fazer é perguntar ao seu irmão na frente de todo mundo, inclusive meus pais e os seus”.
Sem dizer absolutamente nada, Esdras se encaminhou para a cozinha enquanto Fernanda seguia Débora até o quarto dela e as duas caindo na gargalhada. “- Você faria isso mesmo, cunhada”, perguntou a gerente de Finanças das Organizações Oliveira.
– E deixar ele para as outras? Nunca! Isso é só para ele entender que não sou uma qualquer e quem tem as rédeas do relacionamento sou eu e não ele. Nunca estarei abaixo e nem atrás de homem nenhum e, se ele se meter a besta em olhar para outra mulher, pode ter certeza que, na próxima, enxergará com um olho só.
As duas caíram na gargalhada, enquanto Débora dizia a Fernanda que deveria fazer a mesma coisa. “ – Teu irmão não é nem besta de fazer algo diferente do que olhar para mim. Embora ele tente dizer que não está nem aí, morre de medo do Marzinho e eu sei que Angélica também tem receios com nós dois”.
“- Fê! Posso te confessar uma coisa e tu não se enervará comigo”, perguntou a cunhada com certo receio.
– Pode!
“- Qual é de fato a sua transa com Marzinho? Tudo bem que são amicíssimos, mas tem algo não resolvido entre os dois. Sei que Roberto sabe, mas não abrirá para ninguém. Vocês três são unha-e-carne”, quis saber Débora.
– Querida. Se havia alguma coisa entre eu e o Marzinho que não foi resolvida, ficou lá atrás. Hoje ele é casado com a doida da Angélica e eu com o seu irmão e acho que isso encerra tudo o que o pretérito poderia dizer aos nossos presentes.
Assim que Fernanda terminou de falar, as duas escutaram a mãe de Débora batendo na porta e perguntando se elas não iam sair. Antes mesmo de ouvir a resposta, Adélia entrou no espaço e pegou a filha e a nora gargalhando. “- Adoro ver as minhas duas meninas felizes. Mas posso saber qual é motivo de tanta gargalhada”, quis saber a matriarca.
Do nada Fernanda ficou séria, o que motivou desconfianças da sogra. Sem pestanejar, ela já soltou outra inquirição, meio que afirmação: “- Já sei! É por conta do seu amigo, o Marzinho”.
Diante do silêncio da nora, Adélia, para deixá-la mais tranquila, mas ao mesmo tempo desejando obter uma resposta ao que ela já desconfiava, sentenciou: “- Minha filha, não precisa ficar cheia de não me toques. Sabemos da impossibilidade de o meu filho substituir de imediato Márcio em seu coração e em sua vida”.
“- Por que está me dizendo isso Adélia”, quis saber Fernanda.
– Por uma razão muito simples: o referencial de homem que você tem é o Marzinho. Daquele jeitão todo de reacionário, caretão, sempre te protegeu e tenho aqui para comigo que durante esses seis anos que vocês se conhecem, o rapaz fez mais por ti do que seu pai. Logo, ele é o ideal de homem e não o meu filho. Compreendo o quanto gostas dele, e sei também que dará a ele o tempo necessário para que Marzinho seja apenas o que diz que é: um excelente amigo.
– Obrigado Adélia. Você é a primeira pessoa a entender o que se passa comigo e não estou com Ricardo para fugir ou esquecer algo que poderia ter acontecido entre eu e o Marzinho. Realmente gosto muito do seu filho, mas é tudo muito novo para mim. Entre ele e Márcio há mais Marzinho em minha vida do que Ricardo, então, por mais que eu não queira fazer comparações, isso acaba acontecendo.
Adélia se antecipou, dando um abraço na nora, pois compreendia bem o que se passava no coração dela, portanto, precisava muito mais de apoio, de carinhos do que críticas e ela sabia o quanto Ricardo poderia ser incompreensível tornando a vida dos dois um inferno.
Ao passar pela porta do quarto, Ricardo viu a cena e tentou entrar, mas foi contido pela própria mãe. “- Quem te chamou aqui? Não está vendo que a conversa é entre mulheres e homens não devem se intrometer. Em algum momento viu sua mãe se intrometendo na conversa entre você, seu pai e Esdras? Então, vai lá ajudá-los a preparar o almoço para o noivado de Débora”, disse Adélia fechando a porta do quarto.
O filho saiu desconfiado e sabia que o assunto dizia respeito a ele, Márcio e Fernanda. “Até quando aquele filho de uma puta ficará entre eu e minha mulher”, pensou Ricardo já chegando perto do pai que notou a mudança de humor. Entre risos, disse ao filho: “- Se deixar, Marzinho vai ficar até o fim da eternidade entre você e Fernanda”.
“- É que…”, tentou dizer Ricardo sendo interrompido por Esdras. “- Cunhado! Pare de se preocupar com o retardado do meu irmão. Todos sabem que aquela dinamite dos olhos esverdeados manda no Marzinho. Ele diz isso e aquilo, mas no fundo basta ela peidar diferente que ele está lá cafungando o gás metano que ela solta”, disse o cunhado rindo e completando: “- Eu ainda não sei o que aquela ricaça viu no Márcio! Um cara todo afetado, foi chifrado pela noiva nas vésperas do casamento e ainda levou uma surra do cara que estava comendo ela”.
“- Como é que é”, perguntou Ricardo.
Esdras percebeu que tinha falado de mais, mas não dava mais para voltar atrás. “- Deixa isso para lá. Não tem nada a ver contigo e nem com Fernanda. Se bem que ela deve saber da história toda, pois andava grudada nele e no Roberto”.
Assim que terminou de falar, Esdras levou a maior bronca da noiva que tinha acabado de chegar no espaço e pegou o final da conversa. “- Por que não cala essa boca, hein Esdras. Ao invés de ficar falando o que não é da sua conta, por que não esclarece de uma vez por toda que tem inveja do seu irmão porque gostaria de ser como ele”, vociferou Débora saindo em seguida para o seu quarto em lágrimas.
O pai e o irmão dela olharam para Esdras e caíram na gargalhada. Foi o sogro quem lhe falou: “- Pelo visto, Marzinho não incomoda só o meu filho, mas sobretudo o irmão dele também. Agora diz aqui para nós, quantas vezes já tocou punheta pensando no Marzinho enrabando a Angélica”.
“- Por que o senhor está me perguntando isso”, quis saber o futuro genro.
– Porque terá um trabalhão danado para convencer Débora a oficializar esse noivado hoje e daqui a pouco teu irmão e a esposa dele chegam e ela ficará de olho na sua benga e no jeito que comes a sua cunhada com os olhos.
Romualdo deu um leve tapa nas costas de Esdras e em seguida chamou o filho para irem ao supermercado comprarem mais carne. “- Acho que a quantidade que temos não é suficiente”, explicou o sogro de Esdras que aproveitou para acompanhar os dois. “- Mas quem disse que é para ir conosco”, quis saber o anfitrião.
Esdras ficou sem saber o que dizer e foi Ricardo quem o salvou: “- Vamos! Tenho certeza se ficar aqui, vai quebrar o pau com a minha irmã por conta do seu irmão. Acho que ele não vale tanta confusão no dia do seu noivado”.
Enquanto o trio deixava a casa, Débora era acalmada pela mãe e pela cunhada. “- Filha! Não vai estragar a sua felicidade por conta do Márcio ou de quem quer que seja. Tu sabes que o seu namorado tem um ciúme enorme do irmão. Então sempre arrumará um pretexto para denegri-lo. Agora o que você precisa observar se isso não passa de ciúme ou faz parte do caráter do Esdras”.
“- Mas o que foi que ele disse, Débora”, quis saber Fernanda.
– Ficou falando em tom de zombaria daquele episódio em que Márcio flagrou a ex-noiva num bacanal na véspera do casamento. Achei a observação do Esdras muito baixa.
“- Querida! Não diga nada a Esdras. Deixe que eu converso com ele, informou Fernanda”, disse a cunhada.
Duas horas depois dessa conversa com a cunhada, Esdras estava ajustando os carvões dentro da churrasqueira quando Fernanda chegou perto dele sem se fazer notar e sentenciou: “- Outra vez que você falar algo do seu irmão, querendo humilhá-lo, pode ter certeza que será a última vez. Começarei por arrancar o seu pau e enquanto berra de dor, o enfiarei na sua boca. Qual é o seu problema com Marzinho? Você gostaria de ser ele, mas não tem culhão suficiente para sê-lo e aí fica lhe sacaneando, principalmente quando ele não está aqui para se defender”, vociferou a futura cunhada.
Com os olhos arregalados, Esdras gaguejando não sabia o que dizer e tentou desconversar, mas foi surpreendido por nova empreitada de Fernanda. “- Acho que ele vai gostar de saber que você bate punheta pensando na mulher dele”.
“- Cruzes Fernanda”, finalmente Esdras conseguiu dizer algo. “- Só fiz um comentário à toa”.
– Então quando for falar qualquer asneira à toa, fale de ti e não de outras pessoas, principalmente do seu irmão. Nunca fale mal do Marzinho perto de mim, pois terás um problema sério. Estamos entendidos ou terei que cumprir a minha promessa de deixá-lo eunuco antes mesmo de experimentar a buceta de sua namorada?
Para não deixar provas do pequeno recado dado a Esdras, Fernanda foi saindo e logo se aproximou Débora notando algo de errado com o futuro noivo. “- O que foi”, quis saber ela. “- Não foi nada”, respondeu o irmão de Marzinho.
– Como nada? Fernanda acaba de sair daqui e a vi conversando contigo. Não vem me dizer que ela te cantou? Se for isso, vou lá quebrar a cara dele nesse instante.
“- Ela não me cantou coisa nenhuma. Ela é mais uma dessas que ficam babando no ovo no saco do meu irmão. Que saco, porra! Será que não vou me livrar da sombra do Marzinho”, disse Esdras irritadíssimo
– Querido! Aprenda uma coisa: enquanto ficavas lá protegido pelos seus pais, seu irmão estava aqui se fodendo sozinho, tendo como amigos Fernanda e Roberto. Então quando for dizer algo dele perto desses dois, tome bastante cuidado. Não sei se percebeu os três se protegem. Por que você acha que Fernanda e Roberto ocupam cargos elevados nas Organizações Oliveira por serem competentes?
“- Não sei! Diga você que é paparicada por aquela doida da Angélica”, disse Esdras em tom de ironia.
– Em primeiro lugar, meu filho! Estou lá por competência e não por ficar puxando o saco dela ou de quem quer que seja. Depois, não sei porque estamos discutindo isso, afinal, não tenho nada com Marzinho. Eu apenas pretendo ou pretendia ser sua cunhada, mas pelo que vejo o irmão dele é um borra-botas, mimadinho pelos pais e invejoso sem culhão nenhum para ser homem que eu mereça.
Assim que Débora terminou de falar, chegou próximo aos dois Judith e Rogério e pelo que sentiram, os ânimos do casal não ia lá muito bem. Como sempre, a mãe já quis tomar as dores do filho sem saber ao certo o que acontecia e recebeu como resposta uma direta da futura nora: “- É esse seu filho que precisa crescer e virar homem. Ele pensa que ser homem é andar com o pau duro atrás de uma buceta. Tá ai todo enciumado com o Marzinho. Acho até que já bateu punheta pensando na esposa do irmão”, vociferou a anfitriã, saindo apressada de perto dos três.
“- O que é que está acontecendo rapazinho. Desembucha logo, anda”, determinou Judith.
– Não é nada não mãe. A coisa começou a pegar porque fui falar daquela história que aconteceu com o Marzinho há seis anos e aí primeiro veio Fernanda com unhas e dentes defender o todo afetado do meu irmão e agora Débora também fica arrastando asas para os lado dele.
Rogério soltou uma imensa gargalhada. “- Deixa de ser retardado moleque! Por que foi tocar nessa história”, quis saber o pai. “- Será que ainda não entendeu que o seu irmão passou tempo suficiente com esse pessoal aqui e todos eles o querem muito bem. Você chegou agora na casa e já quer comer a melhor parte do churrasco e beber a cerveja mais gelada? Aprenda a observar o chão em que está pisando. Vê se coloca alguma coisa dentro dessa sua cabeça oca, ao invés de ficar enchendo a cabeça do pau de sangue, achando que vai comer Débora antes do sim diante do padre”.
– Porra pai! Até o senhor?
“- Filho! Seu irmão é assim mesmo. Se tiver alguma coisa para falar, diga a ele e nunca aos amigos. Agora trate de procurar a sua noiva e terem uma conversa franca feito dois adultos. Ela pretende é se casar contigo e não com o seu irmão. Agora eu entendo porque Marzinho é discreto, fica na dele e com as maluquices daquela doida da mulher dele”, orientou Judith.
Enquanto Esdras saiu em busca da quase futura noiva, Márcio chegou juntamente com Angélica. A mulher estava vestida com uma bata combinando com a tonalidade dos olhos e com pequenos detalhes da cor do sol. Pelo semblante dela e do editor, tudo indicava que a vida dos dois estava bem.
“- Pelo seu rosto, vejo que meu Marzinho está te fazendo muito feliz, hein, minha nora adorável”, exclamou a sogra.
– Teu filho é magico e não é aqueles que tiram coelhos da cartola, mas sim que entrega o Sol à esposa quando tudo parece ser tempestade na vida dela. Obrigado por fazê-lo a pessoa mais encantadora que eu já tive o prazer de conhecer. Se eu soubesse que Marzinho era esse ser, teria pedido ele em casamento bem antes.
Judith ficou toda cheia com as observações feitas pela nora, mas de imediato ordenou que Márcio trouxesse Esdras. Ela queria ter uma conversa a sós com os dois. Enquanto o filho cumpria o determinado, Angélica quis saber o que estava acontecendo. “- O de sempre: Esdras com ciúmes do Márcio e arrumando confusão com a futura noiva”.
– Será que o pessoal ainda não compreendeu que Márcio não tem interesse em ninguém e como somos casados porque nos amamos? Ou todos acham que estamos juntos porque tenho dinheiro?
“- Minha filha se Marzinho não sentisse nada por ti, você poderia aparecer coberta de ouro como Midas que ele não estava nem aí pra ti”, explicou a sogra.
“- Disso eu sei Judith, mas que ele me deixou completamente nua da primeira vez que nos vimos, isso você não pode negar”, informou Angélica com um leve sorriso no rosto.
“- Então! Ali você já sentiu que ele não daria nenhum passo a mais sem ter o seu coração junto do dele. E esses homens não entendem nada de amor e de mulheres. Acham que todas são enormes bucetas com clitóris acesos. Eita machaiada imbecil. Minha filha: eu e tu ficamos com os melhores”, exclamou Judith provocando gargalhadas na nora, indicando que a sincronia entre as duas estava caminhando para uma significativa harmonia.
Márcio chegou com o irmão e Angélica, em silêncio deixou os três à vontade. Antes mesmo que Esdras dissesse alguma coisa, foi logo advertido pela mãe. “- Se tens alguma coisa contra o teu irmão diga a ele agora e pare com essa fofoca toda. Anda. Estou esperando”.
“- Mãe não precisa nada disso”, tentou contemporizar Márcio.
– Precisa sim. Esdras anda rusgando com a namorada e com todas as mulheres em torno de ti. Fica dizendo coisas que deveriam ser ditas a você e na sua frente e não para pessoas que não tem nada a ver com os problemas e entre vocês dois.
Diante do silêncio do filho caçula, Judith foi categórica e todos conheciam esse jeito mandão dela. “- Escute aqui moleque! Márcio saiu de nossa cidade, deixando tudo para trás para não atrapalhar a vida da família e foi muito bem acolhido aqui. Qualquer que seja os motivos que levaram ele a fazer isso, ficaram lá no passado. A vida é feita daqui para a frente e não arrastando bolas de ferro que não contribuem em nada para a construção de um futuro melhor. Portanto, se esse noivado não sair hoje por conta das suas infantilidades, pode ter certeza absoluta que voltarás comigo hoje para casa e pode esquecer tudo, inclusive Débora que é mulher suficiente para arrumar outro homem que esteja à altura dela e não um moleque mimado como tu”, vociferou Judith quase colocando o dedo dentro do nariz de Esdras.
Aquela ameaça, ao invés de amenizar as rusgas entre os dois filhos mais novos, apenas colocou mais pólvora na granada que já estava prestes a explodir. Entretanto, Judith sabia que Márcio faria de tudo para que a espoleta não fosse detonada. Em silêncio, Esdras deixou os dois, indo em direção ao interior da casa em busca de Débora. No trajeto foi pensando em tudo que tinha acontecido desde aquela manhã e entendeu que se continuasse agindo daquela forma, seria o principal prejudicado. O irmão já estava com a vida arranjada, inclusive casado com uma ricaça que poderia fazer chover dinheiro se ele pedisse. Só lhe restava se entender com a futura noiva.
Ao bater na porta do quarto de Débora, ela como quem adivinhando quem seria, já foi dizendo: “- Só entre se tiver algo de positivo para me dizer. Se não, pode fazer o caminho de volta para o apartamento que seus pais alugaram e esquecer noivado, inclusive que eu existi em algum momento em sua vida”.
– Deixe-me entrar, preciso mais do que nunca de ti aqui comigo. Sei o quanto estou sendo infantil, mas me dê uma última chance de me redimir e ser o indivíduo pelo qual seu coração bate descompassadamente. Sei que fiz, ou melhor, falei muita merda hoje, quis agredir meu irmão, por me achar menor do que ele, mas não quero me redimir com o mundo, mas apenas com aquela que faz o meu Sol brilhar à meia-noite.
“- Seu coração precisa de mim ou tudo isso é medo de sua mãe te levar embora”, perguntou Débora de dentro do quarto, sem lhe franquear a entrada.
– Essa cidade não tem nada a ver comigo, mas tem alguém que me fez deixar tudo onde eu morava e me virar do avesso para fazê-lo feliz. Só solicito desta pessoa que me dê a última chance de apanhar uma estrela no céu para presenteá-la.
Antes mesmo que Esdras pudesse dizer alguma coisa, Débora abriu a porta fazendo ele entrar no quarto. Ficaram lá conversando por mais de uma hora, somente saindo quando Adélia bateu à porta cobrando a presença da filha e do futuro genro. A matriarca simplesmente, sem que fosse franqueada a sua entrada abriu a porta surpreendendo a filha sentada no colo de Esdras, entre lágrimas e sorrisos, o beijando avidamente. “- Pensei que ia encontrar algo mais chocante”, disse Adélia rindo.
“- Ainda é muito cedo mãe e aqui não é a minha casa e sim da senhora e do senhor meu pai a quem devo todo respeito e meu noivo também”, explicou a filha.
– Então pelo que vejo se acertaram.
“- Sim mamãe, até a próxima crise de ciúmes dele em relação ao irmão”, disse Débora querendo rir.
A filha saiu de cima do colo do noivo, ordenando que ele fosse se aprontar para o noivado enquanto ela ficaria linda para aquele domingo especial em sua vida.
Próximo da churrasqueira, Márcio conversava com o pai sobre a vida e as expectativas com relação à inauguração da editora no dia seguinte, quando foi puxado pelo braço por Fernanda. “- Marzinho, posso falar contigo”, inquiriu a amiga que o arrastou antes mesmo dele dizer sim ou não. “- Diga Fê. O que aconteceu”, perguntou o editor.
– Quero que me promete que, aconteça o que acontecer você não vai me abandonar. Promete?
“- Espera um pouco! O que está ocorrendo? Você acabou de colocar aliança na mão esquerda e sacramentou seu casamento com Ricardo. Achei que estava tudo resolvido. Então o que foi”, quis saber o amigo.
– Não aconteceu nada, mas preciso saber se não vai me deixar em hipótese alguma.
“- Claro que não! Tu sabes que eu e Roberto sempre estaremos por perto. Nossas casas sempre estarão abertas, mas ainda não entendi o porquê dessa sua apreensão e pedido de promessa”, disse Márcio.
– É que todo mundo vive dizendo que tua mulher manda em ti.
“- E mando mesmo”, disse Angélica que até então acompanhava a conversa de longe.
– Angélica, por favor, quer nos dar um tempinho. A conversa é entre eu e Fernanda.
“- Mas você é meu marido”, cravou a esposa.
– Eu e toda a constelação sabemos disso.
“- Então quando quiser trepar, busque a buceta da próxima estrela”, disse a empresária saindo com a cara fechada.
– Está vendo porque te perguntei. Ela é uma dinamite e não desgruda de ti. Caso eu precise do amigo, será que ele me socorrerá?
“- Pode apostar que sim. Você sabe que eu e Roberto te adoramos e a temos como nossa irmã mais nova”, explicou pacientemente o editor, como se não tivesse acabado de discutir com a esposa.
– Obrigado Marzinho. Me deixou mais serena e me desculpe por provocar mais essa briga entre você e a sua dinamite.
“- Não tem problemas. Depois nos entendemos. Angélica precisa entender que não estou à disposição dela no momento que ela desejar”, tentou justificar Márcio, mesmo sabendo que a empresária era osso duro de roer e tinha ciúme do tamanho do universo.
Assim que Fernanda se afastou, Judith se aproximou do filho para saber porque a mulher dele estava com aquela cara parecendo que chupava limão. “- O mesmo de sempre, minha mãe! Angélica acha que essa aliança no dedo esquerdo lhe dá o direito de mandar em mim”, explicou Márcio, de maneira serena.
“- Então não vá atrás dela. Deixa que ela lhe procure. Dá-lhe um gelo, meu filho”, orientou Judith.
Seguindo o conselho da mãe, Márzinho procurou ficar distante da esposa, somente a observando de longe, enquanto ela conversava ora com a mãe, para depois falar com Danisa querendo saber da gravidez da amiga. Também trocou gargalhadas com o irmão, momento em que o esposo se deixou levar pelas lembranças, recordando a primeira conversa com Amadeu, cujo desfecho o levou a estar ali casado com Angélica.
O editor também dialogou animadamente com o general que estava todo animado diante da possibilidade de ir ter com a irmã no meio da próxima semana. “- Ficarei lá com ela uns oito dias e Eleanora estará comigo. Tentarei trazer minha irmã para morar comigo. Tenho enormes saudades dela”, explicou Alexandre.
– Fico na torcida para que consiga o seu objetivo, meu amigo.
“- Desde que eu os conheci é a primeira vez que não te vejo grudado em sua esposa ou ela em ti”, observou o militar da reserva.
– É meu general! Muitas coisas precisam ser modificadas, do contrário, morremos asfixiado justamente por aquela pessoa que mais queremos estar ao lado dela.
“- Então vocês não andam bem”, perguntou Alexandre.
– Estamos ótimos, meu amigo, mas digamos que Angélica precisa respirar um oxigênio que não se chame Márcio.
O general entendeu que não deveria encompridar o assunto, o editor estava dando a entender que queria um pouco de distância da esposa. O militar se afastou ao atender um aceno de Eleanora, deixando o editor sozinho e pensativo. Marzinho ficou tão introspectivo que não ouvia mais nada ao seu redor, apenas o som das primeiras conversas que teve com Angélica e a cada palavra dela, cada discussão, rispidez, os olhos dele iam ficando mais brilhante feito duas enormes jabuticabas.
A única pessoa que percebeu que o corpo estava na festa, mas o espírito em outro lugar foi Fernanda. Ela conhecia bem o amigo e sabia quando ele dava essas desligadas. Afinal foi numa delas que os dois se conheceram num bar, enquanto ele estava totalmente envolvido pela narrativa que lia. Coisa de gente doida que, ao invés de se divertir, paquerar, estava com a cara enfiada dentro dum livro.
“- Posso saber onde a alma do meu querido amigo está”, quis saber Fernanda.
– Oi Fê! Não te vi chegando.
“- Não enxergaria nem Jesus Cristo. Conheço essas suas escapadelas e foi por conta de uma delas que nos conhecemos. Então vai me dizer ou terei que adivinhar”, disse Fernanda apresentando um leve sorriso de contentamento.
“- Nada de especial. Só umas coisinhas que me encantam, agigantando meu coração, me fazendo entender o tamanho de minha felicidade”, respondeu o amigo.
– Você ama mesmo a doida da Angélica. O que ela tem de tão especial, meu querido. Eu sei que não é o dinheiro porque você nunca ligou para isso. Só queria entender como ela conseguiu te deixar de boca aberta de tanto amor.
“- Ela simplesmente me viu de dentro para fora, sem que eu precisasse dizer absolutamente nada. No começo achava que era um mero capricho de grã-fina, mas uma ação dela mudou tudo. Foi numa noite em que fui atropelado por uma locomotiva e fiquei à deriva, debaixo de chuva, jogado num banco de praça me achando o pior ser do mundo. Mas tem muitas outras coisas que se te contar ficaremos aqui até o fim da eternidade”, explicou Márcio.
Enquanto o editor contava essas coisas pra Fernanda, Angélica chegou por trás o abraçando, pedindo desculpas enquanto o beijava na nuca. “- Eu tenho ciúmes até da sua sombra. Se eu te ver conversando com ela, sou capaz de dar umas porradas nela”, disse sorrindo a esposa.
Fernanda olhou para empresária e com vontade de rir, lhe disse: “- Mulher! Se Ricardo me amar um décimo do que esse homem te ama, serei a mulher mais feliz do mundo. Parabéns! Desde que eu conheço o Marzinho, hoje o percebi completamente em outro universo em que só estavam vocês dois”, sentenciou Fernanda, se afastando do casal indo em direção a Ricardo que estava na churrasqueira cuidando da carne.
“- O que tanto você e o ‘seu’ Marzinho conversavam”, quis saber o esposo de Fernanda que respondeu de forma bem sintética: “- Eu conheço ele a mais tempo do que você, portanto se vai começar com essa pegação no meu pé, é melhor parar, do contrário pedirei a ele para me levar embora e dar bem gostoso a minha buceta a ele”, disse Fê.
– Cruzes Fernanda, não precisava ser tão escrachada assim. Só queria saber o motivo da conversa. Ou não tenho direito?
– Se fosse algo que dissesse respeito à minha pessoa e você, com certeza eu lhe diria. Mas falávamos de outras coisas e não precisa ficar enciumado, pois aquele bobalhão só tem olhos para aquela dinamite. Ela é uma verdadeira granada e assim como você tem ciúmes até da sombra.
Ricardo ouviu tudo isso estando de costas para a esposa e quando se virou, colocou um pedaço de carne na boca dela, a beijando em seguida no que foi correspondido, a abraçando mais forte, sem, no entanto, sufocá-la.
Quando o casal termina o beijo, Ricardo é cobrado pelas carnes que deveriam estar sapecando na churrasqueira. “- Desse jeito, na hora da anunciação vamos servir carvão”, disse Leônidas que havia acabado de chegar do supermercado para celebrar o noivado do irmão.
Enquanto os dois se abraçavam como verdadeiros amigos, Fernanda deixava o ambiente indo em direção à casa em busca de Adélia, sua mãe postiça desde o momento em que disse o “sim” tão desejado pelo inseguro marido. Embora gostasse em demasia de Rick, Fê sabia que bastasse um aceno de Marzinho que ela deixaria tudo para ficar com ele. “Que raio de amor é esse que só apareceu agora. Tive esse homem todo o tempo do meu lado e no momento que desejasse, mas por que somente agora é que o quero para ser meu”, pensou a gerente de finanças das Organizações Oliveira.
– Filha! Não se preocupe! Marzinho e Roberto estarão sempre ao alcance dos seus braços e a um aceno seu. Agora se ocupe em cuidar da felicidade do seu coração. Tenho certeza de que Ricardo saberá cuidar de ti e dos seus sentimentos por ele. Querida, quando olha para os teus amigos, enxergar um passado conhecido e quando tenta vislumbrar o futuro com o meu filho, ainda é tudo muito incerto e por vários motivos. Eu e Romualdo compreendemos bem isso e Débora também e por isso estamos de braços abertos para tê-la como integrante de nossa família.
“- É Adélia! Você me conhece bem mesmo”, disse Fernanda, em tom de desabafo.
– Não querida, apenas o que deixa que eu ver e o que enxergo agora é uma garota com muito medo de construir a sua felicidade com o homem que lhe oferece só o coração que tem e uma disposição enorme de aprender contigo.
“- Obrigado Adélia”, agradeceu Fernanda olhando toda dengosa para a sogra.
– Menina. Você tem um ótimo emprego, uma patroa excepcional, desde que não atravesse o caminho dela com o Marzinho. Dois amigos que te querem como uma verdadeira irmã e agora acabou de se casar com meu filho que está se esforçando muito para fazê-la feliz.
“- E seu não conseguir faze-lo feliz? O que eu faço, Adélia”, perguntou a nora.
– Só tem um jeito de saber: vivendo isso tudo que está diante de ti e sendo colocado à disposição de seu coração. Você conhece Marzinho muito melhor do que muitos aqui e sabe muito bem o medo que ele tem de estar do lado daquela granada atômica de olhos esverdeados.
“- Disso você tem razão! A mulher quase o matou por três vezes e ainda assim, ele está com ela. Entre o medo e o amor, Marzinho optou por ficar com o amor, mesmo sendo grande o risco de ficar sozinho e isso faz dele um homem singular”, externou a executiva à sogra.
– Foi isso que sempre conversamos com Ricardo. O patrão dele é simples e será o primeiro a defender a sua felicidade com o meu filho.
“- Do fundo do meu coração, sou gratíssima pela sua compreensão e de Romualdo. Não desejaria estar vivendo entre vocês com algumas dúvidas aqui dentro, como essa por exemplo”, desabafou Fernanda.
“- Qual dúvida”, perguntou Ricardo que acabava de chegar, pegando a conversa em seu final.
“- Se conseguirei te fazer feliz”, respondeu Fernanda olhando para Adélia lhe dando uma piscada. A sogra deixou o casal sozinho e foi ver como Débora estava se arranjando para o anúncio do noivado. Afinal só aguardavam a chegada do irmão de Esdras que já estava lá, em companhia da esposa, fazia uma meia-hora.
Ao entrar no quarto, Adélia se deparou com a filha ainda aflita conversando com Angélica que, toda solícita, tentava acalmar a amiga e futura sócia em seu escritório de arquitetura. “- Menina! Não tem jeito de sabermos. Já disse sim ao pedido de noivado de Esdras, agora é só mera formalidade. Por que não deixa a coisa acontecer pelo menos uma vez na vida”, perguntou a empresária e amiga.
“- Tenho medo que ele se transforme para pior depois de colocarmos as alianças”, afirmou Débora.
– Querida! Fui casada com Rosângela por sete anos e bastou Marzinho aparecer na minha vida para tudo mudar. Então siga o seu coração e quando perceber que não dá para seguir em frente, é só parar.
“- O quê? Você foi casada com outra mulher”, perguntou Adélia espantada.
– Achei que a senhora já soubesse.
“- Não! Vocês são tão discretíssimos”, disse Adélia querendo se desculpar.
– É por isso que meu marido me chamou a atenção! Detesta aparecer. Me ama com discrição, exceto quando espancou um dos meus diretores pelo fato dele estar me desrespeitando dentro de minha casa e depois quando esmurrou o médico que o examinava enquanto tentava me paquerar.
“- Então a senhora entendeu que foi um grande erro ter se casado com outra mulher”, quis saber a anfitriã.
– Não dona Adélia. Nunca é erro quando fazemos aquilo que o coração determina e estamos em paz com a nossa consciência. Agora, ao saber que também gosto de mulher, se a senhora desejar que eu me afaste de sua filha é só me falar que eu e meu marido vamos embora.
“- Desculpe-me pela minha ignorância. Afinal, não tenho nada a ver com a vida alheia. Apenas desejo que meus filhos sejam felizes”, informou a mãe de Débora.
– A senhora pode ficar tranquila. Fernanda continuará trabalhando conosco por ser extremamente competente e só precisava de uma chance para provar isso e não está nas minhas empresas por que é amiga do Marzinho. Tenho certeza absoluta que ficou tudo esclarecido entre eu, ela, meu marido e seu filho.
“- Desculpe-me novamente. E essa aí que agora está encafifada e com medo de oficializar o noivado com o Esdras”, perguntou Adélia desejando mudar o rumo da conversa.
– É normal ter esse medo, dona Adélia. Eu atravessei o estado para trazer Marzinho de volta. Estávamos perdidamente apaixonados um pelo outro, mas tínhamos medo de tudo e de todos. Minha mãe me ajudou a definir tudo e também contei com o colo de Judith. Ainda temos um longo caminho a percorrer, mas posso te afiançar que estamos bem nesse início de jornada a dois. E sua filha também se acertará com o noivo.
Débora abraçou a empresária e agradeceu todo o carinho que tem por ela. Por considerar um momento importante entre mãe e filha, Angélica deixou o quarto para procurar Márcio que conversava animadamente com Rogério. Ambos riam as gargalhadas e a empresária não pode deixar de notar a semelhança entre os dois, em várias coisas, inclusive o sorriso que ambos davam com os olhos que tanto a enlouquecia.
Para não atrapalhar a sinergia de pai e filho, Angélica que se lembrou que o ajuste entre os dois aconteceu depois dela entrar na vida de Marzinho, apenas passou pelo marido e disse baixinho no ouvido dele: “- Esse seu sorriso me deixa toda molhada, meu amor!” Depois dessa declaração, o editor mudou de cor, ficando gelado e quente ao mesmo tempo, alterações que não passaram despercebidas pelo pai.
– Eita moleque! Essa mulher meche mesmo contigo. Não sei o que ela te falou, mas pela sua reação, percebo que é uma promessa daquelas que poderão te levar para passear entre as estrelas a noite toda. Estou muito feliz por ti, filhão. Achava que nunca iria conseguir encontrar sua tampa.
“- Pai! O amor nos atropela quando estamos virando o quarteirão e nos pega desprevenido. Nunca imaginei que viveria com ela os melhores momentos de minha vida. Ela é dinamite, pavio curto, explosiva, ciumenta, mas é a única que consegue me tirar do eixo, o ar, a razão, enfim, me faz enxergar o mundo com outras cores”, tentou explicar ao pai o que sentia pela esposa usando palavras humanas.
– E o dinheiro dela? Vem me dizer que não lhe apetece nenhum pouco?
“- O senhor bem o disse: o dinheiro dela e como é dela, não me pertence, portanto não quero. Prefiro construir meu patrimônio junto com ela. Agora, não posso negar que muitas dificuldades que eu teria para abrir a editora foram sanadas, principalmente pelo presente que Eleanora me deu e o aporte que fez por conta da Tarsila”, explicou o filho.
– E o nosso supermercado filho? Ela entrou de sócia, o general também, inclusive Roberto tem um percentual. Você tem certeza de que não quer participar dessa empreitada?
“- Pai! Eu não entendo nada disso e se eu me envolver, vou mais atrapalhar do que ajudar. Colocarei uma livraria da editora no prédio que vocês estão construindo. Estarei sempre à disposição, inclusive doando prêmios em formato de livros para serem sorteados dentro do supermercado. Por exemplo, cada cliente que entrar pega um número para concorrer a esses brindes”, informou o editor a Rogério.
– Está certo filhão. Novamente eu peço perdão pelas minhas ignorâncias.
“- Esquece tudo aquilo pai. Ficou no passado e temos um futuro para construir. Estou muito feliz pelo senhor, pela mamãe, pelo Esdras e a família que Léo começa a montar. Tenho certeza de que, depois de tudo isso e a terra se assentar no fundo do rio, todos vamos nos dar muito bem, cada um em seu universo”, disse Márcio abraçando o pai.
– Só mais uma coisa: Esdras está fazendo a coisa certa?
“- Se ele não quiser bancar o moleque com Débora e sair por aí contando vantagem, será feliz com ela. A secretária de Angélica sabe muito bem onde quer chegar e não vai entrar em ônibus de ninguém e se sujeitar as infantilidades e às mesquinharias que de vez em quando Esdras se presta”, opinou o editor.
Rogério, entre lágrimas dá um abraço no filho que alisa o rosto do pai, dizendo que o ama muito e que em breve vai visitá-lo na cidade natal. “- Filhão não se apoquente com isso. Tô pensando em ficar mais tempo por aqui. Quero ficar de olho no seu irmão e ajudá-lo a dar robustez no supermercado e deixar as lojas de lá sob a responsabilidade de Leônidas”.
Judith e Angélica via a cena de longe e do nada a sogra agradeceu a nora pelo que estavam vendo. “- Menina, jamais imaginei que esses dois iriam se entender um dia. São iguais: turrões com belíssimos corações e que só se harmonizaram porque uma granada de olhos esverdeados chegou e, em silêncio, mostrou as simplicidades da vida para o meu filho. Obrigada por tê-la como nora. Agora eu vejo meu filho feliz”.
– Judith! Sei que não tenho sido fácil para o Marzinho, mas ele tem me ajudado muito a entender que o mundo não é o dinheiro que tenho no banco, mas o amor que tenho no coração. Percebi isso quando, apesar de ser constantemente humilhado pela minha família, ele não desistiu de ajudar a trazer meu irmão de volta. Amadeu o ama muito e Tarsila também, pois o reencontro dos dois só foi possível por conta da blindagem que Márcio fez para que o amor dos dois pudesse se concretizar.
Dizendo isso, Angélica abraçou a sogra, caminhando com ela para onde estavam Márcio e Rogério abraçados. Pai e filho ficaram surpresos quando foram abraçados pelas duas mulheres. O movimento dos dois casais não passou despercebido pelas pessoas que estavam na festa. O general Alexandre aproveitou e deu um abraço em Eleanora, lhe agradecendo por proporcionar a ele tanta felicidade.
– Será maior se conseguirmos trazer sua irmã para cá, disse a presidente de honra das Organizações Oliveira.