Violência
Existe uma expressão que as pessoas gostam de usar, segundo a qual, é capaz do sujeito que a profere morrer e não viu tudo. E é justamente nesse sentido que começo meus aforismas críticos deste domingo outonal de abril. Estou cá pensando, tentando entender o que leva uma pessoa a agredir a outra a tijolada e a consequência é a vítima ir a óbito. No Rio de Janeiro, um representante da coletividade na Câmara de Vereadores daquela cidade matou a socos e pontapés o filho de sua namorada. Uma situação foi vivenciada na antiga capital federal e a outra aqui em Penápolis. Se numa delas, a arma foi o próprio corpo do agressor, na outra o ataque foi feito usando um objeto que serve para construir prédios e residências. No caso aqui de Penápolis, a vítima foi parar em sua última morada dentro de um féretro e uma sepultura.
Tijolada
Machado de Assis (1839-1908) em crônica O punhal de Martinha, aborda um ato isolado numa cidade do interior da Bahia nos fins do século XIX e um evento histórico na Roma Antiga. O cronista carioca enfatiza que os motivos que levaram Martinha, a baiana a esfaquear um homem que a tentava violentar se perdeu no tempo, mas o acontecido na longínqua Roma motivado por abuso sexual, entrou para a história. No caso do Rio de Janeiro, traçando um paralelo com a enunciação machadiana, a repercussão foi nacional e não era para menos, o que me fez recordar que em Penápolis tivemos um episódio dantesco semelhante que, na época me motivou a escrever uma série de reflexões sobre os supostos crimes que uma criança de cinco anos tinha cometido que merecesse a pena de morte aplicada pela sua madrasta.
Violência doméstica
Não é de hoje que as autoridades constituídas alertam para os riscos de violência doméstica envolvendo crianças, vítimas de pais que deveriam cuidar-lhe do presente objetivando o futuro, mas que lhe apresentam o féretro ou deixam marcas indeléveis. Desta forma, eu pergunto a vocês meus caros leitores: qual é o sentido dum adulto agredir uma criança até levá-la a óbito? E quando a violência é contra um idoso de 80 anos, que teve como consequência o seu óbito? Foi o que aconteceu aqui em Penápolis recentemente quando Maria Almerita da Silva Costa foi, conforme consta nos autos, reclamar do barulho provocado por uma festa que ocorria na casa vizinha à sua. Detalhe: eram 6h30. De acordo com o Boletim de Ocorrência, a vítima foi agredida a tijoladas e pauladas. Sinceramente, gostaria de entender o motivo para tal truculência, violência contra alguém, que deve ter passado a noite em claro, sem dormir, por conta da algazarra na casa ao lado?
Julgamento
Não tem instrumentos para sentenciar quem quer que seja, contudo, o menino espancado pelo namorado da mãe na capital fluminense é tão chocante quanto a idosa morta a tijoladas como acontecia nos tempos crísticos: Maria Madalena que o diga. Como o contista do Brasil Oitocentista abordaria essas duas vilanias humanas? Machado de Assis faleceu há mais de 100 anos, mas creio que ele poderia até retratar as questões fazendo alusão à alma humana e aqui não tem nada a ver com o espírito no campo religioso, mas no sentido dado pelo pensador grego Platão, isto é, o que anima o ser em si, ou seja, aquilo que faz dele ser o que é. Portanto, se um homem que se coloca como representante da coletividade, assassina uma criança indefesa e com requintes de crueldade com a leniência da própria mãe da vítima, fico cá pensando não no ser abjeto, mas em que o escolheu como seu representante. No casso da idosa penapolense, espero sinceramente que os algozes sejam presos e sentenciados conforme prevê a legislação e o Estatuto do Idoso.
Recordando
Recordo-me que um grupo de pessoas que matou um idoso para surrupiar-lhe um porco. Já outros episódios dantescos na crônica policial penapolense nas últimas duas décadas que deixaram e ainda mantém perplexos muitos de nós. Facadas motivadas por ciúmes; assassinato provocado pelo suposto desaparecimento de uma mortadela; mortes a machadadas; com uso de arma de fogo porque a masculinidade foi questionada. Enfim, há um rol de crimes e violências perpetradas em nosso cotidiano que não se pode deixar que se banalize a vida humana. É preciso evitar o uso da reação em qualquer peleja que esteja se estabelecendo, mas como fazer isso, se o humano, que se quer demasiado humano, não segue os preceitos definidos pelo oráculo de Delfos ao criador da maiêutica e da metafísica, o pensador grego Sócrates. É sempre bom lembrar que o homem precisa se conhecer e esse processo é lento, mas necessário. Portanto, meu caro leitor, sabe-se o quão complexo é “conhecer-te a ti mesmo” ou delegar a outrem a paz do qual se é portador.
Quem é o dono?
E a Santa Casa afinal é de quem? A pergunta que inaugura este aforisma me fez recordar uma banda de punk que eu ouvia muito nos tempos de adolescente: Inocentes. A letra pergunta sobre a quem pertencia o Congresso Nacional. Se era do povo ou dos congressistas que eram constantemente reeleitos. Significativo historiar aqui que o bisneto de José Bonifácio (1763-1838) – o patriarca da Independência, estava no Senado Federal há 40 anos, portanto, cinco mandatos consecutivos, sabendo-se que o ocupante do assento fica lá por oito anos. Se estivéssemos numa monarquia seria possível dizer que o Senado Federal enquadrar-se-ia na definição de Câmara Alta, daí a briga ser grande por um dos postos. O cargo é tão importante que provocou a ruptura entre o escritor José Martiniano de Alencar (1829-1877) e o Imperador D. Pedro II (1825-1891) ainda nos tempos imperais.
Raspadinhas
Mas voltando ao nosso presente. A pergunta no tópico anterior tem fulcro no fato de que o hospital pertence à cidade, a Irmandade ou a prefeitura? Ainda: é uma instituição pública ou privada? Confesso-te meus caros que estou sem entender desde que começou esse imbróglio de intervenção no hospital há mais de 30 anos. Lembro-me que um dos irmãos remidos chegou a explicar que a entidade só aceitaria a instituição de saúde de volta nos moldes pré-intervenção. Quem tiver interesse pode recorrer aos anais da história recente da cidade e saberão que o prédio da Santa Casa chegou a ir a leilão e no dia do pregão ninguém apareceu para arrematar o imóvel. A prefeitura coloca dinheiro público dos contribuintes no hospital que terceirizou sua gestão e acaba de ser retirada do contrato. É isso ou este colunista se equivoca, meus caros? O pronto-socorro é municipal e porta de entrada para a Santa Casa, todavia, houve uma extensão da administração do PS para o hospital. E por que a Santa Casa não é devolvida aos Irmãos Remidos? Como perguntar ainda não ofende, penso que minhas interpelações têm lá suas razões de ser em virtude de estarmos em plena pandemia e o hospital de campanha fechado e onde funcionava deveria ser usado pela OS, que foi retirada da administração municipal, para uma ação voltada às mulheres. É! Como podem ver, a coisa está periclitante para o novo prefeito que tanto quis que chegou ao assento principal da cidade e precisa saber lidar com os abacaxis que vão surgindo antes que virem porcos-espinhos. gilcriticapontual@gmail.com, d.gilberto20@yahoo.com, www.criticapontual.com.br.