Sobras de um amor… parte II

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         Márcio com a boca borrada pelo batom de Angélica, perguntou por que aquilo. “- Meu amor, me deu vontade. Você é gostoso e está aqui comigo. Eu te amo, será em breve meu namorido e logo meu esposo. O beijo foi para o senhorito se lembrar de minha paixão que não é nada passional, mas tem muito de racional”, sentenciou Angélica.

O repórter fez de conta que entendeu a explicação, mas no fundo sabia que a arquiteta estava fazendo cena para alguém. Num segundo se lembrou do sistema de vigilância do prédio e das imagens do estacionamento que são captadas e enviadas para um equipamento instalado dentro do imóvel. Assim que fez a conexão de sentido, começou a gargalhar, mas sem explicar o motivo para a arquiteta que, desta vez preferiu ignorar.

– Onde o moçoilo quer ir para começar a compor o seu guarda-roupa de executivo de minha empresa?

– Executivo?! De jeito nenhum. Não quero cargo lá, nem fodendo. Já basta você mandando em mim aqui fora. Agora imagina sendo seu funcionário. Nem pensar. Pode tirar essa ideia da cabeça. Tudo menos ser seu empregado. Não quero passar o dia inteiro contigo nas suas empresas e depois vir do seu lado para casa. Prefiro ficar sentindo saudades do seu cheiro o dia todo, assim como tu do meu. Quero ficar de pau duro pensando no lingerie que estás usando do que estar do seu lado onde trabalhas.

– Está bem! Você é um chato de galocha. Depois falamos disso. Então, onde vamos?

– Numa loja que conheço e bem simples.

– Tem vendedor ou só vendedoras?

– Por que a pergunta?

– Se forem apenas vendedoras, esquece. Vamos em outra. Não quero ver nenhuma mulher bisbilhotando meu homem experimentando roupa, pensando que está saindo com ele.

– Amor! Você precisa parar com essa ciumeira toda. Vai ter um colapso. Daqui a pouco desejará que eu use armadura.

– Olha que não uma má ideia não.

– Vamos nessa loja mesmo! O pessoal conhece o meu gosto, assim não perderemos tempo com modelos disso e daquilo.

– Eles conheciam seu gosto e amor por camisas ensebadas, calças de quinta categoria que não precisam ser lavadas. Agora a situação mudou. Quem decidirá sobre o seu gostou sou eu e mais ninguém. Tenho certeza que dona Judith vai concordar comigo.

O caminho entre o prédio em que Angélica morava e a loja foi feito em meia hora. Lá chegando, uma atendente foi toda solicita com o repórter. “- Senhor Márcio! A quanto tempo eu não o vejo por aqui. Achei que tivesse perdido o meu melhor cliente. O que o senhor precisa? Calças, camisas?”

Angélica já entrou falando. “- Ele assumirá o departamento de comunicação e marketing de minhas empresas e cuidarei pessoalmente do visual que quero para os meus funcionários. Depois da morte do meu pai, eu quem vou gerenciar tudo, então a mudança começará pelo marketing e quem vai cuidar dele precisa estar à altura do que eu penso em termos de vestuário”.

– É isso mesmo Fernanda!

– Que maravilha meu amigo. Agora com a promoção, quem sabe podemos sair qualquer dia desses para comemorar o seu sucesso professional.

– Acho muito difícil, minha cara. Ele terá que viajar muito pela Europa, então acho que ficará no Brasil poucos dias da semana e, por conta do trabalho que terá, acho impossível participar de eventos sociais. Agora vamos às compras, temos pressa.

Márcio olhou para Angélica, indicando que não precisava pegar pesado. Poderia ser mais sociável. A arquiteta escolheu cinco calças do gosto do repórter que, ao pensar em ir ao provador, ouviu da empresária ser desnecessário por conta do tempo. “- Na empresa você experimenta. Caso alguma coisa não se ajuste, podemos trocar ou mandar para fazer os devidos reparos”.

O processo foi o mesmo nas camisas, nas meias e nos sapatos. Quando chegou nas cuecas, ele aproveitou a distração de Fernanda e disse baixinho no ouvido da patroa: “- Não sei escolher roupa íntima com mulher me olhando”. Angélica quis rir, mas deu um beliscão nele e disse. “- Se ela chegar perto de você eu quebro essa loja inteira”.

Assim que Fernanda se aproximou, Angélica chamou ela de um lado, lhe dizendo que queria presentear Márcio. Fazer um mimo por ele ter aceito ser o novo diretor de comunicação e marketing. “- Como ele é hein? Quando vocês saiam? Ele é muito mulherengo? Tenho medo de colocar homens assim na minha empresa e depois serem problemas para a equipe”.

– O Márcio é de boa! Discretíssimo. Acho que se ficou com alguém desde que eu o conheço, foi umas duas ou três mulheres. Ele é um trintão desejável. O amigo que toda mulher gostaria de ter marido. Reservado, tímido, gosta de ficar olhando as estrelas quando conversa com a gente. Posso dizer uma coisa para a senhora? A mulher que fisgá-lo, pode colocar a mão para o céu. Encontrou o homem ideal. Só vai precisar saber lidar com esse jeitão distante dele. Vivia desligado e acho que não mudou muito não. Cansei de sair com ele e chegar depois só para observá-lo. É como se não estivesse ali. Se alguém não o chamar é capaz de permanecer no mesmo lugar, feito mosquito na teia”.

– Obrigado, minha cara pela informação. Assim posso ficar tranquila que não terei problemas com as mulheres de minha empresa.

– Se depender do Márcio, não. O problema vai ser as mulheres deixarem um tipão desse em paz. Mas o que a senhora está pensando em dar de presente a ele? Nem pense em roupas sociais. Ele odeia. Fizemos uma festa de aniversário para ele e demos vestimentas chiques. Nunca vimos ele com nenhuma peça. Uma hora ele dizia uma coisa e depois desconversava. Até que num acontecimento fortuito eu vi uma pessoa entrando aqui na loja usando uma das camisas. Perguntei a ele e me respondeu que a roupa tinha sido roubada.

– Meu deus do céu que homem mais complicado.

– Não! Ele é simples. As pessoas que tentam transformá-lo numa coisa que ele não é. Se o deixarem ser do que jeito que é, terá um amigo pelo resto da vida. Só não sei porque ainda não encontrou a mulher idealizada. Quando saímos, nunca vejo ele olhando para nenhuma delas. Ele fixa o olhar na pessoa que está com ele, como se ela fosse a coisa mais importante do mundo.

– Então o que você sugere?

– Como a senhora pretende lhe fazer uma surpresa, aqui não temos nada que pode agradá-lo.

– Eu não o conheço direito, então não sei ao certo o que pode ser.

– Posso dizer uma coisa para a senhora? Márcio é metódico. Faz tudo do mesmo jeito. Então lhe sonde a alma. Talvez o presente não seja para ele, mas para outras pessoas. Por exemplo havia um boato que ele não via a mãe e os irmãos há uns cinco anos, mas ninguém sabia os motivos. Descubra se é isso e proporcione um encontro entre os pais com ele. Ou lhe surpreenda com alguma coisa que o tire da rotina. Eu disse para o Roberto, aquele amigo do jornal, que Márcio tem medo de alguma coisa, pois o cara não muda uma vírgula em sua vida. Ele vinha aqui e comprava sempre as mesmas camisas. Chegamos a fazer pedidos exclusivos para ele.

– Então você não me sugere nada em especial, mas apenas para lhe sondar a alma? Você já fez isso? E qual foi o resultado?

– Sondei. Ele é um homem interessante, mas não é para mim. É um amor de pessoa, um excelente amigo, mas é muito certinho, carola. Eu não tenho pique. Nunca se irrita, está sempre tentando contornar as coisas. Quer sempre ser o seu cobertor. Eu gosto de homem com outro tipo de pegada. Homem que faça eu correr atrás. Veja bem. Essa sou eu, mas de repente tem mulheres que gostam do tipo de homem que o Márcio é. Não sei como é ele na cama. Presumo que deva ser um foguete, mas o vejo apenas como um foguete adormecido. E por entender que não é o meu tipo de macho, não vou estragar a nossa amizade por conta duma transa tonta.

*          Olhando para Márcio, sem que ele pudesse lhe ver, pois estava ali tentando escolher roupas íntimas que pudessem agradar a arquiteta, Angélica ficou mais aliviada por saber que o repórter era esse homem que a deslumbrava e que, apesar de encantador, não fazia o tipo de muitas mulheres, mas era o dela. Então, o que as outras enxergavam era apenas a casca, pois quando mostrava quem ele realmente era, se afastavam. Daí o motivo de ser taciturno e solitário.

– Ah! Eu fiquei sabendo que a vida dele tinha virado uma confusão dos infernos porque tinha se metido com uns bacanas da cidade. Tudo porque queria fazer umas matérias legais e diferentes. Sair do trivial política, polícia e tráfico de drogas. Mas agora vendo ele assim, fico feliz em saber que está bem e vai sair daquele jornal que é muito pequeno pelo tamanho do seu potencial. Como amiga eu agradeço a oportunidade que a senhora está dando ele.

Márcio se aproximou de Angélica e já percebeu que ela estava diferente. Os olhos mais esverdeados e os pelos dos braços eriçados mais do que de costume. “Será que ela se encantou por Fernanda? Bom. Melhor não tirar conclusões precipitadas”. “- Vamos já peguei o suficiente. Não vou precisar de nada para os próximos dias”, disse o repórter se dirigindo a Fernanda. “- Veja quanto deu por favor, querida”.

– Pode deixar que a conta é minha, Fernanda.

Ao dizer isso, Angélica acompanhou a vendedora, pedindo para o jornalista a esperar ali. Chegando ao caixa, a arquiteta solicitou para que fosse acrescentado mais R$ 500. “- No final do dia o senhor repasse esse valor a sua vendedora ou do jeito que ela preferir. Obrigado querida. Gostei do seu atendimento. Com certeza voltarei mais vezes”.

Fernanda acompanhou Angélica que, pegando em seu braço lhe disse baixinho. “- O que conversamos sobre Márcio fica aqui. Não fale para ninguém. E você não me viu aqui. Você sabe que o nosso amigo ali detesta publicidade”.

– Sim senhora e como sei. Ele até parece um eremita.

Quando voltou para a loja e Angélica saiu, o gerente a chamou falando mais sobre a consumidora.

– Você sabe quem é essa mulher que te deu $ 500 de gorjeta? E aquele teu amigo ali, não é o do jornal?

– É sim! É o Márcio. Agora aquela mulher eu nunca vi por aqui e em lugar nenhum.

– Essa é a irmã daquele doido que o Márcio começou a escrever uma matéria e deu a maior confusão. Quem me falou foi um amigo nosso que trabalha para ela. Diz que ela é osso duro de roer e o neguinho ali foi se meter a besta, quase termina morando na rua. O que ela queria?

“- Nada. Só comprar umas roupas e como o irmão tem o mesmo corpo do Márcio, ela quis fazer uma surpresa para ele”, explicou Fernanda que conhecia bem o jornalista e ele ficaria profundamente magoado se alguma daquela história se alastrasse.

Fernanda permaneceu com aquela coisa na cabeça, pois achou estranha aquela conversa de diretoria de comunicação. “Márcio nunca quis posto nenhum. Será que essa bacana caiu de amores pelo neguinho? Tomara que sim e o faça feliz”, pensou a comerciária.

Quando entraram no carro, Marcio já foi perguntando: “- Ficou interessada na minha amiga vendedora?”. Angélica olhou para o carona com os olhos mais verdes e tendo o corpo em brasa, respondeu-lhe:

– Muito melhor, meu amor. Coisa genial. Não devia te contar, mas não vou aguentar segurar esse segredo só comigo. Quando a chamei em separado queria saber qual era o grau de relacionamento dela contigo, pois te tratou muito bem, indicando uma intimidade que não gostei. Mas eu joguei a isca e ela mordeu me dizendo muito mais do que eu esperava. Você realmente é uma joia rara. Espero conseguir te fazer feliz, pois se outra mulher te achar, eu estou perdida.

– Do que você está falando? Não entendi nada!

– Mas não é para entender mesmo, apenas me dar algo lindo que você tem: o seu coração.

– Vamos voltar para casa. Seu irmão pode ter acordado.

– Está louco para ver a enfermeira te comendo pelos olhos, é neguinho? Quero ficar mais um tempinho sozinha contigo. Não se esqueça que estou monitorando tudo dentro de casa. Olha onde minha mãe está. A enfermeira. Quer ver só uma coisa.

Angélica voltou um pouco as imagens e mostrou para Márcio quando a cuidadora perguntou sobre os dois e a resposta que Eleanora deu. “- Devo ou não demitir essa intrometida. E tem mais coisas aqui. Ela entrou no meu quarto, vasculhou minhas coisas. Mas depois eu resolvo isso. Agora quero uns minutinhos a sós com meu neguinho”.

A arquiteta pegou o telefone ligou pedindo o quiosque 58. Ao terminar de fazer a reserva disse ao jornalista que iriam no mesmo clube que foram quando ela descobriu que o queria mais do que como amigo. “Precisamos disso”.

Quando chegaram ao local, estava tudo arrumado. Desta vez dispensou o segurança. Disse que ficaria apenas uma hora no máximo. Já dentro da casa, ficaram um pouco mais à vontade. Angélica só olhando para Márcio, sem falar nada. Até que ele perguntou o que havia. A irmã de Amadeu disse apenas que precisava encontrar algo nele. “- Encontrar o quê? Minha vida é um livro aberto!”

– Estou tentando localizar o homem que sua amiga me disse existir ainda dentro de ti.

– O que a maluca da Fê te disse?

Só foi dizer isso e a arquiteta se transformou. “- Se tu a chama de Fê é porque foram íntimos e você a comeu né, seu filho de uma puta!”

– Que comer o quê. Todos a chamam assim. Eu não faço o tipo dela. Me acha muito certinho, metódico. Não tenho pegada para ela. Nunca transei com ela. Já ficamos horas a fio conversando na mesa de um bar e ela falando dos homens que já namorou e que lhe sacanearam. Um dia completamente bêbada me disse que nunca transaria comigo, porque eu não a decepcionaria. Que eu não ia fazê-la correr atrás de mim. Enfim, ela me chamou de tremendo cuzão e muito chato, mas um excelente amigo.

Assim que Márcio terminou de falar, Angélica correu em sua direção em prantos, dizendo que o amava e que foi justamente a história que Fernanda lhe contou. “- Ela me falou que você é muito certinho. Chamou você de carola. Que chegaram a encomendar camisas só para você e que por isso vocês dois juntos nunca dariam certo. Mas me afirmou que a mulher que se casasse com você seria muito feliz. Por favor, deixe eu ser essa mulher!”

– Não sei não! Com o tamanho do seu ciúme, não vou nem conseguir respirar. Olha só o que fez agora a pouco na loja. Só não partiu para cima dela porque não podia, então inventou um cargo que sabe que eu não vou aceitar nunca. A Fê deve ter achado estranho eu assumir um posto assim. Eu nunca quis porra nenhuma disso.

– Pare de falar e me beije em forma de resposta. Anda, deixa eu ser essa mulher que sei que muitas dizem que você merece? Sei que se conversar com a secretária do jornal é capaz dela dizer a mesma coisa.

– Duvido!

– Por quê?

– Por nada! Esquece.

– Anda! Fale! Do contrário vou lá tirar essa história a limpo.

– Quando vai parar com essa mania de querer resolver tudo com o seu dinheiro. Achar que pode mandar e desmandar nas pessoas?

– Realmente a Fernanda tem razão. Tu és um tremendo pé no saco, um chato de galocha.

– Não sei ser diferente. Agora vamos embora. Pode deixar esse chato aqui no seu trabalho. Tenho que resolver mesmo as minhas questões no jornal e você não precisa de um chato que fica te dizendo coisas que não quer ouvir. Eu não sei bajular ninguém. E tu, com certeza, não será a primeira. Então se quiser, entre para o time da Fê. Não será nem a primeira e nem a última vez que serei chamado de ermitão e rei da masturbação.

– Você ouviu aquela música em que o cantor diz que um beijo nos calava a voz?

– Acho que sim, mas nem me lembro mais. Faz tanto tempo. Agora podemos ir. E pode ficar com as roupas. Aproveite que Amadeu e eu temos corpos semelhantes e deixe com ele.

– Seu filho de uma puta do inferno. Eu não quero te comprar, seu porra, cagão! Você tem o dom de estragar tudo.

– Eu não, minha cara! Você e essa mania de achar que tem que ser tudo do seu jeito. E se não for, ameaça conseguir o que deseja usando o poder do seu dinheiro. Vá lá você mesma e pergunte a Joana. Quem sabe ela te de a resposta sem precisar ser ameaçada de perder o emprego.

– O houve entre vocês?

– Não aconteceu nada. Ela começou a jogar charme e tentou usar o Roberto para me conquistar e o meu amigo disse que ela estava usando as armas erradas. Eu fiquei sabendo e me antecipei, dizendo a ela logo cedo que não tinha intenção alguma de me relacionar com quem quer que seja e se ela quisesse me conquistar a última arma que deveria usar era a sedução e o sexo. Eu não priorizo isso. Não vivo por que uma buceta bateu palmas e me chamou. Falei que não penso com a cabeça de baixo. Ela me respondeu que por isso eu era o primeiro chifrudo da Terra que conseguiu um enfeite antes mesmo de me casar e com uma mulher e um homem ao mesmo tempo. A secretária disse que eu era frouxo porque minha noiva tinha me traído com outra mulher. Me deu um tapa na cara e me chamou de veado, brocha.

– E o que você fez?

– Nada! Entrei na sala do Roberto e disse que não tinha condições de trabalhar naquele dia e voltei para casa. No caminho, comprei um monte de cervejas e uma garrafa de conhaque e passei o dia todo bebendo até apagar de tão bêbado que estava.

– Por que não falou com o diretor, com o proprietário para mandá-la embora.

– Por conta de uma questão pessoal? Não achei justo e continuo não achando. Depois daquela situação, entendemos que o espaço foi delimitado. Ela não fala comigo e eu nem com ela. Os temas são sempre os profissionais. Não falei nem para o Roberto. Não queria incomodá-lo com as minhas querelas individuais. Já tinha me tirado de um puta problema em minha cidade.

Antes que o repórter terminasse de falar, Angélica já foi para cima dele cobrindo-o de beijos, afirmando que precisava parar de reagir a coisas que ela imaginava que eram, quando na verdade a situação era totalmente diferente. “- Agora entendo o que a Fernanda me disse na loja”.

“- E o que foi que ela lhe disse?”, instou Márcio. “-Nada de especial, mas alguma coisa relacionado a encontrar a alma e saberá o que lhe agrada”, respondeu a arquiteta, o pegando pela mão para irem embora. Ela olhou nas imagens do celular e viu que a mãe tinha acordado e observado que Janaina tinha estado no quarto da filha.

– Não estou gostando dessa enfermeira zanzando dentro de casa. Vou ligar para a empresa para trocá-la.

– O que está acontecendo?

– Não gosto de gente que anda procurando coisas onde não devia. Primeiro, ela cresceu o olho em você e agora aumentar esse interesse nos meus pertences. Está na hora de dar um basta.

– Vai despedir a moça?

– Não! Eu já fiz. Avisei a empresa que dentro de duas horas quero ela fora de meus domínios. Vamos que quero ter uma conversinha com essa moça, dizer-lhe para que pode se mudar da cidade. Aqui ela não arruma mais nada.

– Mas por que vai fazer isso, querida?

– Justamente para que eu e você possamos ficar em paz com o nosso amor sem precisar dar explicações a um monte de bisbilhoteiros.

Angélica pisou fundo, chegando no apartamento em coisa de 20 minutos. Ao entrar, falou com a mãe, perguntou por Amadeu e pediu para Márcio ir ficar com ele, e depois levar a mãe para que conversassem. “-Mãe. Posso conversar com a senhora um minutinho só?”

Com o assentimento da mãe, entraram no quarto e fecharam a porta. Quando saíram a mãe pegou o telefone, fez uma ligação e pediu dois seguranças. Enquanto eles chegavam até o apartamento, Angélica chamou a enfermeira para uma conversa particular e mostrou algumas imagens e disse a ela em tom bem formal: “-Você foi contratada para cuidar do meu irmão e iria ganhar muito bem por isso. Não costumamos pagar mal nossos empregados, justamente para mantê-los afastados de nossas vidas particulares. A partir de agora a senhora não trabalha mais para nós. Aqui está o seu dinheiro e passar bem. Lembre-se bem. A senhora nunca esteve aqui neste apartamento”.

Quando as duas chegaram a sala, dois senhores a esperavam. “- Estes homens a acompanhará até a saída do prédio. Passar bem”, lhe disse Eleanora.

Assim que a situação foi resolvida, Márcio foi até a sala chamar a mãe de Amadeu para conversarem. A arquiteta fez menção de ir junto, mas o repórter indicou que não era o melhor momento.

Eleanora entrou e Márcio ficou na porta, escutando quando Angélica comunicou a empresa que Janaina já tinha ido embora e que estavam esperando a próxima enfermeira chegar.

Ao se aproximar do filho, a mãe escutou uma pergunta ríspida de Amadeu.

– O que você quer comigo? Já não me tirou tudo? Me roubou a alma, me deixando só com esse corpo que perdeu o sentido quando Tarsila desapareceu por conta do maldito do seu dinheiro e daquele crápula que se diz meu pai?

A matriarca escutou a pergunta e ficou pensando, pensando e falou tudo de uma vez: “- Seu pai morreu naquele dia que você foi levado ao hospital. Era para você o vê-lo. Ele queria te pedir perdão, como estou fazendo agora”, falou chorando Eleanora.

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