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– Exato! Ela esteve aqui conversou com o delegado e pelo que está indicando, essa senhora procurava alguém que lhe é muito querido e estava sumido fazia um tempão.
– Quem era? Qual o nome dela e da pessoa que ela procurava?, perguntou Márcio.
– Infelizmente não posso te dizer nada! Ela deixou expressamente aqui que não é para divulgar nada, absolutamente nada e se fizermos isso, nos processará, bem como quem tornar pública essa queixa. Então, nem em nome de Cristo eu vou te dizer mais do que já te disse!
Em seus anos de jornalismo, Márcio aprendeu que nunca deve molestar uma fonte. É preciso cultivá-la para momentos importantes e aquele não seria, já que o interesse pela história era algo demasiado particular. Resolveu dar o assunto por terminado. Tentaria descobrir quem era a mulher misteriosa de outra forma. Saiu do DP e achou que seria interessante flanar pela cidade em busca de algumas respostas, concatenar tudo o que tinha e voltar a escrever algumas linhas sobre as novas, porém, pequenas informações.
Vagando em rumo pelas ruas e avenidas, acabou chegando à praça em que Amadeu dizia ficar esperando todos os dias a sua amada. Andando cabisbaixo, crendo que no calçamento encontraria algumas respostas, reparou que havia um corpo deitado num dos bancos. Parou, olhou, pensou e constatou se tratar de Amadeu, o inveterado bêbado que era perseguido por ele. Optou por não acordar, mas reparou que do bolso de trás da calça, apontava um pedaço de papel.
Ficou curioso em saber o que era aquilo, mas o receio de acordá-lo fê-lo pensar várias vezes, porém, enfim tomou a decisão e, bem devagar, tirou o papel que saiu com facilidade do bolso de dorminhoco do banco da praça. Com as mãos tremulas de medo, pois Amadeu poderia acordar e flagrá-lo lendo algo que lhe pertencia.
Quando o jornalista abriu o papel, observou que se tratava de um bilhete meio longo onde se lia: “É amor quando aquele frio na barriga cede espaço ao calor do coração”. Quando chegou ao final desse período, Márcio tirou os olhos do papel e os colocou sobre o corpo que dormia no banco. “É! O amor derrubou esse homem!”, pensou o repórter. Respirou fundo e continuou a ler o bilhete que mais parecia uma cara. “Amor é tocar o outro, sem ao menos poder tocá-lo. É ter medo do indeterminado, mas não do amor que se sente. É amor quando a vontade de estar perto é maior que qualquer distância”. Chegando nesse ponto, a cabeça de Márcio começou a fazer as devidas conexões.
Não terminou o pensamento, já que desejava continuar a leitura antes de Amadeu acordar e visse que tinha tirado algo do seu bolso. “Quando sentir o coração acelerar em um só compasso e perder o fôlego e as mãos suarem e as borboletas voarem por todo o estômago, saiba que o meu amor está chegando para te abraçar e não deixá-lo ir embora. Você saberá o que é meu amor quando a saudade consumir todo o seu ser e seu peito se sentir apertado sem saber ao certo porque, mas querendo tão somente um abraço meu”.
Amadeu se mexeu no banco e Márcio fechou rapidamente o papel com as mesmas dobras e se apressou em colocar novamente no bolso do amigo alucinado pelo consumo de álcool e sabe-se lá mais o que. Antes de partir, ficou alguns instantes olhando para o bêbado em seu sono, talvez marcado por ondas de sonhos em que o paraíso estaria logo ali na próxima esquina.
O jornalista olhou novamente para o sujeito que dormia sem a menor preocupação com o momento seguinte ou com o anterior e seguiu o seu caminho. O aprendiz de mendigo ficou para trás, mas o conteúdo do bilhete-carta seguiu na memória do repórter. De tudo o que leu, uma coisa chamou mais a atenção do curioso publicista: no lugar em que deveria aparecer o nome da pessoa que enviara o texto, havia um furo feito com marca de cigarro, indicando que a autora assinara apenas com a primeira letra do seu nome e, provavelmente, o próprio Amadeu rasurou o conteúdo para não ficar pensando na pessoa, apenas no conteúdo da missiva.
Entre voltar para casa ou à redação do jornal, Márcio optou por ir direto ao jornal e tentar, de alguma forma, levantar a história hermética que envolvia o alcoolismo de Amadeu e quem era aquela distinta senhora que pagava as suas contas no bar. Mas desta vez não falaria com o redator, mas ia conversar com o patrão. “Acho que vai ser mais fácil abrir aquele arquivo da Polícia e conseguir a informação. Quem sabe se o diretor não conversasse com o delegado, este não passaria a informação, mesmo tendo a promessa de que nada seria revelado pelo jornal ou qualquer outro tipo de mídia”.
Quando chegou à sede do jornal, procurou por Daniel junto à secretária que o conduziu até a sala do chefe que estava falando com alguém ao telefone. Deveria ser importante porque mandou que Márcio saísse e o aguardasse na antessala. A conversa ao telefone durou uns dez minutos, pois logo o funcionário escutou o patrão berrar o seu nome, pedindo que entrasse.
A conversa com Daniel também foi rápida, não mais do que vinte minutos. Tempo suficiente para lhe contar o que vinha fazendo em benefício do jornal e a matéria intrigante que estava produzindo. Contudo, havia esbarrado num ponto e era ali que o diretor podia ajudar com a sua influência. Conseguir as informações que haviam naquele boletim de ocorrência com carimbo de sigiloso.
– Olha Márcio! Não costumo usar a minha empresa para conseguir nada desse tipo, pois posso ficar refém desse pessoal e não existe nada pior para um jornalista do que ficar nas mãos de uma fonte. Mas gostei de sua história e quero vê-la publicada na integra no meu jornal. Então verei o que posso fazer. Você virá a redação amanhã? Então eu te dou um retorno do que me pediu.
Márcio saiu satisfeito da sala, decidido a dar uma passada no bar e esperar a chegada de Amadeu e lhe sondar a origem do bilhete. Mas desta vez faria diferente a abordagem e quem sabe conseguiria alcançar o objetivo de fazer com que Amadeu falasse mais sobre o que lhe importunava o cérebro.