Olhar Crítico

Literatura

Começo meus olhares críticos neste setembrino final de inverno – as temperaturas estão elevadas, mas a estação seria a do frio – tratando de umas temáticas instigantes. Por enquanto não vou abordar questões alusivas ao universo da política e nem da economia da cidade, mesmo tendo aí uma problemática envolvendo a pandemia e o abre-fecha, cores disso e daquilo, bem como uma nova polêmica envolvendo desapropriação de áreas – a prudência faz-me analisar com mais acuidade a peleja. Portanto, meus caros leitores, ainda não vou tecer comentários sobre a questiúncula. Se não vou tratar inicialmente dessas temáticas, então sobre o que confeccionarei os meus próximos aforismas? De uns dois ou três livros, romances e crônicas que andei lendo nos últimos dias e que me provocaram alguns questionamentos.

 

Estamentos

O primeiro deles diz respeito ao racismo brasileiro. O outro aborda o universo dos estamentos que ainda vigoram entre nós e pode ser considerado o mantenedor de uma ausência de mobilidade social fora das categorias que formam o estamento do outrora sistema escravocrata. Se antes de 1888, haviam os escravagistas e escravos e, entre eles, os homens livres, sem muita chance de ascender socialmente, hoje há uma burocratização da vida pública brasileira que pode ser observada pela postura do desembargador que humilha um guarda municipal na orla marítima. Existe aquele funcionário público que cobra um percentual para fazer aquilo que já é pago para fazer. Acrescente-se a isso, o sobrenome que, mesmo sendo carregado por pessoas sem posse alguma, ainda é forte e está dentro do que o antropólogo Roberto DaMatta abordou num de seus trabalhos: “você sabe com quem está falando?”.

 

Candidatos

Outro elemento que se deve abordar aqui diz respeito aos cargos eletivos numa paróquia. No caso Penápolis. Já se sabe que há uma quantidade considerável de pré-candidatos às 13 vagas na Câmara Municipal. Como perguntar não ainda ofende: quantos desse quantum de postulantes está realmente decidido a trabalhar em prol do município ou apenas está de olho nos R$ 4 mil? É interessante notar que, num passado não muito remoto, um político local, ao ser acionado na Justiça pelo Ministério Público de Penápolis, vociferou que o Promotor Público estava pegando no pé dele por conta duma merreca de R$ 4 mil. E é justamente uma merreca dessas que muitos estão a vendo como embrião para tentar uma vaga no legislativo local? Não queria tratar de política. Não ainda, mas é que a coisa foi se desenvolvendo e acabei chegando nela. Peço-te desculpas, meu caro leitor, mas seguirei com a minha escrita dominical.

 

Inquietações

Pois bem! Feitas as devidas ressalvas, o que me inquietou a semana que terminou ontem foi a leitura do capítulo “Narrar o outro” que faz parte do livro A origem dos outros: seis ensaios sobre racismo e literatura, da escritora estadunidense Toni Morrison (1931-2019). Na referida sessão, a autora faz alusão aos seu romance Amada que tem como pano de fundo a vida da escrava estadunidense Margaret Garner (1834-1858). É interessante notar que essa personagem foi a julgamento na primeira metade do século XIX, acusada de ter matado a filha justamente para não a ver passar pelas agruras e sofrimentos provocados pela escravidão. A questão é emblemática por que, a exemplo do que acontecia na América, no Brasil também os africanos padeciam nas mãos de senhores escravagistas. E a coisa era tão pernóstica que é possível tropeçar nos rescaldos dessa violência. O escravo era violentado e depois o seu algoz ia beijar a mão do padre doando muito dinheiro às obras da igreja. Essa observação, meu caro leitor, não é criação deste que vos escreve, mas está registrada nos anais da história deste país. Talvez por isso que os governantes não querem oficializar a profissão de historiador!

 

Opiniões

Claro que muitos costumam dizer que isso de racismo não existe, conforme já aventei aqui, entretanto, basta um descendente de escravo começar a se destacar em diversos setores da sociedade para que o racismo fique escancarado. Aqui em Penápolis mesmo, há várias situações e personagens que podem confirmar o que essas linhas estão grafando. Mas é bem provável que aqueles que sofrerem com o racismo em seu cotidiano ainda recebem adjetivações de que estão vendo coisas, imaginando outras tantas situações, contudo, só quem é vítima do preconceito racial sabe como a coisa funciona. Fica a dica!

 

Socialização

Deixando a questão que Toni Morrison trabalha, claro sem abandonar a hipótese que existe isso também no Brasil e Penápolis não ficaria atrás, e adentrando no campo educacional que, de certa forma, tem um vínculo com essa prática nefasta. Sim. Por que o racista aprendeu a ser e pensar assim dentro da própria casa, no que a Sociologia classifica de socialização primária dentro dos fenômenos sociais que se repetem. Parece-me que agora é oficial: o atual prefeito assinou o decreto em que consta a informação de que as aulas na rede municipal de ensino de Penápolis só voltarão a ser presencial no ano que vem e esse procedimento também pode ser seguido pelas escolas particulares do município. Conforme eu pontuei aqui na última coluna, o chefe do Executivo está correto na medida adotada.

 

Recomendação

E já que estou tratando de educação e política e, sobretudo, do período eleitoral que a sociedade está prestes a entrar, recomendo aos meus leitores que leiam o livro A máquina do ódio: notas de uma repórter sobre Fake News e violência digital. O livro é da jornalista Patrícia Campos Mello e diz respeito aos problemas provocados pelas notícias falsas. Lógico que não é somente esta obra que possibilitará ao leitor se tornar um eleitor consciente, mas ajudará a não cair em propagandas mentirosas, como as famosas “cartas falsas” e outras escaramuças criadas para enganar aquele sujeito que vota escudado pelo “fígado” como se diz no jargão popular.

Questionamentos

Desta forma, outra pergunta que não quer silenciar: com exceção dos vereadores penapolenses que desistiram de permanecer no Legislativo a partir de 2021, quantos não merecerem ser reeleitos? E dos que estão postulando um dos cargos e que já foi vereador, quais não devem retornar por meio do voto ou coisa parecida? Com a palavra o cidadão-eleitor. Eu cá, do meu lado do Córrego Maria Chica, tenho em conta quantos deveriam pegar a mala e seguir em frente e dos que estão fora e já foram vereadores, também tenho em conta aqueles que devem seguir longe dos 13 assentos disponíveis na Câmara. Mas isso sou eu… Portanto, deixo para os meus leitores que votam, fazer a parte que lhes cabem… A minha decisão já está tomada. Por hoje é só pessoal. E-mail: gilcriticapontual@gmail.com. www.criticapontual.com.br.

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