Olhar Crítico

Futuro

Lembro-me duma frase – solta, porém, com importante significado – que quando uma Nação não se preocupa com suas crianças e seus idosos, está fadada ao fracasso. Por que essas duas pontas das existências duma determinada sociedade são tão vilipendiadas, para não dizer, violentadas, pelos adultos do presente? Importante observar que a criança é o futuro e o idoso a memória que deve ser preservada, justamente para que os meninos de hoje tenham histórias que alicerçarão seus voos num amanhã escudado em um pretérito significativo. A história tribal da humanidade está repleta de bons exemplos dessa prática.

 

Motivo

O aforisma acima se escuda no fato de cada vez mais os leitores deste jornal lerem matérias dando conta de que menores foram apreendidos – recolhidos ao cárcere – por estarem participando do tráfico de entorpecentes. A interpelação de hoje é a mesma das outras vezes: o que está acontecendo com a sociedade humana, mais especificamente a brasileira? Será ausência de perspectiva para um futuro diferente do presente ou consequência dum pretérito desgastado e desvalorizado pela sociedade dita pós-moderna? É comum o discurso normativo apontar o dedo para a falência das instituições, entre elas, a educação e a família. Como a segunda é da esfera privada, há uma licenciosidade para com a questão, entretanto, no âmbito da primeira, é comum os gritos serem mais fortes culpando a escola.

 

Demagogia

Creio que uma sociedade que tem dificuldades em transformar informação em conhecimento, tende a se tornar refém de discursos demagógicos proferidos por líderes populistas que prometem o mundo e os fundos caso cheguem ao principal assento do Poder Executivo, seja ele federal, estadual ou municipal. A consequência disso todos já conhecem: governos enfraquecidos politicamente que acabam se tornando prisioneiros dum Legislativo subserviente à corrupção e a plutocracia. Mas a culpa é de quem? Da escola? Dos professores, como dizem muitos dos propaladores de toscas verborragias?  Ou do próprio sujeito que vota, porém, é incapaz de fazer uma conexão que o possibilite compreender o sentido que está escondido na demagogia palanqueira? Respostas complexas podem ser encontradas, todavia, o problema dos menores envolvidos com o universo criminal e do tráfico de drogas, não está dentro das escolas e nem nas costas dos docentes, e sim consequência duma sociedade desajustada e desigual desde a sua origem, sem que nenhum governante tenha conseguido diminuir a corrupção que enfraquece todo o sistema de proteção à criança e ao adolescente.

 

Cantata

Mas como nem tudo são nuvens escuras – até porque como diz um velho adagio chinês, atrás dessas negras nuvens sempre vem água límpida, indicando que a natureza ainda acredita no homem – não posso deixar enfatizar aqui um evento de significativa importância. Trata-se da Páscoa musical na Jerusalém que acontecerá na Catedral Jerusalém, nos próximos dia 3 e 4 de maio a partir das 19h30. O templo fica na rua José Faustino, 452 em Penápolis. Por que enfoque nesse evento? Porque haverá a participação da orquestra, do coral, corpo cénico e corpo infantil, cujos integrantes frequentam significativo projeto cultural-religioso que aquela unidade executa. Independentemente do credo de quem conduz o programa, o que se deve enfatizar aqui é o trabalho que objetiva dar sentido à vida de muitas crianças, adolescentes e jovens que tem vocação musical, mas às vezes, acaba adormecida por falta de incentivo dos segmentos governamentais.

 

Quixotada

Já que o enfoque está sendo mesmo a massa governamental e o seu universo político, darei espaço para uma questão prevista, porém, ignorada ou tratada como coisa sem muita significância, tamanho o desejo de capitanear politicamente para si a vinda do AME (Ambulatório Médico de Especialidades). Todos sabem que o governo estadual, que assumiu no dia 1.º de janeiro, vetou tal concretização. Os motivos alegados podem ser o famoso orçamento curto, falta de recursos ou até mesmo retaliação pelo fato do prefeito local ter, afoitamente, apoiado o adversário deste que aí está no poder estadual. A coisa ganha fórum de dramaticidade porque o chefe do Executivo penapolense pertencia ao mesmo partido do governador eleito e por conta disso acabou sendo expulso da legenda. Claro! Não é possível torcer para o Corinthians estando no meio da galera palmeirense. Não tem malabarismo discursivo que explique uma quixotada dessas.

 

Consequências

Lembro-me que o meu professor de Teoria Sociológica nos tempos de UNICAMP, o saudoso Octavio Ianni (1926-2004), dizia que, com o fim da cortina de Ferro, o capitalismo voltaria suas flechas para si mesmo, cessando aquela coisa de satanizar os outros. Pois bem, aquela observação serve para o momento, no qual o atual prefeito sobe num palanque dum evento educacional e vocifera que vai votar no adversário do atual governo, eleito naquele pleito, e agora quer culpar os outros pelo desastre de tal consequência da tosca verborragia. É preciso assumir a parcela de culpa no imbróglio que vem causando problemas financeiras à administração, como por exemplo, o aluguel do prédio que abrigaria o Ambulatório Médico e está lá só consumindo recursos públicos, sem contar o valor da multa pela rescisão do contrato. Dever-se observar que naquele espaço funcionava o hospital duma cooperativa médica.

 

Outra face

A outra faceta dessa peleja acaba de ser desfraldada pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. O órgão determinou o bloqueio de R$ 202 mil da Prefeitura de Penápolis, objetivando pagamento de dívidas junto ao Cisa (Consórcio Intermunicipal de Saúde). Quem tem memória que recorde, contudo, vou ajudá-lo meu caro leitor a relembrar as pelejas que levaram à atual situação. O arauto da política penapolense brigou com a direção do consórcio e rompeu com o órgão, porém, sem respeitar as cláusulas constitutivas do Cisa. Talvez tenha feito isso confiando na vinda do AME. Todos sabem que houve aquele bate-boca entre ele e a presidente do Consórcio – a prefeita de Alto Alegre. Até aí tudo bem, entretanto, o passivo que Penápolis tinha que zerar com o Cisa antes de sair, não foi saldado e o órgão entrou na Justiça para que os débitos fossem quitados. Esses são os fatos! Quem será o culpado da vez? E-mail: gildassociais@bol.com.br; gilcriticapontual@gmail.com. www.criticapontual.com.br.

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