Olhar Crítico

Semântica

Começo meus aforismas quase críticos neste primeiro domingo de fevereiro – costumeiramente mês do Carnaval, contudo, pela força pandêmica, Rei Momo deixou o pandeiro de lado para, quem sabe, trabalhar na vacinação – abordando uma questão semântica, meu caro leitor, justamente nesse momento em que o eleitor deve estar-se perguntando como e porque continua depositando suas esperanças de um futuro melhor numa malta de políticos corruptos. Pois bem, meu caro leitor que um dia voltará a ser o eleitor esperado, quiçá consciente, em 2022, preste atenção quando for apertar o sim, pois ao contrário dos contos de fadas, não será para sempre benéfico à sociedade, contudo, por 48 meses que serão fatídicos em que o filho do Caos, o Tânatos reinará com o seu irmão, o Caronte semeando discórdias, esperando colher caóticas tempestades. Então será preciso, além dos adequados conhecimentos políticos, saber um quantum de mitologia e o verdadeiro significado do voto de Minerva e porque ele é tão importante em votações nos legislativos nacionais.

 

Cidadão-leitor

Se no tópico anterior tratei da semântica, ou seja, do jogo de palavras a partir de suas formações, de seus signos, significados e sonoridades, é interessante que o cidadão-leitor possa também se tornar um eleitor-cidadão, ou melhor, um cidadão-eleitor, todavia, a passagem de um estágio para outro requer muita coisa, principalmente a compreensão de que o escolhido por aquele que vota é a sua imagem e semelhante e não adianta culpar a categoria política encastelada nas cadeiras nos Executivos e Legislativos nacionais, pois se lá está, não foi por vontade ou graça divina, mas sim pela decisão do sujeito social que, gozando de seus direitos políticos e democráticos, assim o desejou.

 

Constitucionalissimamente

Posto isto, meus caros leitores dominicais, me parece que por força de lei e da Constituição Federal, a Justiça local determinou a manutenção do transporte coletivo nos finais de semana em Penápolis. É preciso entender que é um direito do cidadão que paga seus impostos. Interessante notar também que, na ausência de uma empresa que explore o setor, mediante concessão governamental, a municipalidade tem que assumir o serviço e não adianta alegar isso e aquilo, pois na hora de receber os tributos, taxas e demais impostos, a cobrança é equânime a toda a municipalidade, independentemente se o pagador chega de carro ou de coletivo. Numa sociedade formada por cidadão com cidadania, saúde, educação, saneamento básico, transportes devem ser ofertados de forma equivalente dentro das prerrogativas definidas por lei.

 

Prevenção

Muito se diz, principalmente agora em tempos pandêmicos, que a saúde isso e aquilo e que o setor é prioritário. Creio que sim! Vem em primeiro lugar, pois se ela nos abandonar, nos tornamos improdutivos não só para o próprio sujeito como para o sistema. Sendo assim, lanço-vos meus caros leitores, a seguinte interpelação: por que é prioritário, contudo, quando se trata do campo preventivo, a coisa não funciona a contento? A pergunta está escudada no fato de que, é comum, quando se precisa circular por algumas partes da cidade, o indivíduo cuidadoso, enxergar vários outros penapolenses sem a máscara, conforme determina as prescrições médicas. Sendo assim, me parece que, para muitos a saúde só se torna prioridade quando a doença já se instalou e o trabalho, realizado para evitar que isso acontece, não o é.

 

Super-herói

Se o meu leitor levar em conta o que significa usar as máscaras e outras prevenções em tempos pandêmicos, poderá entender as linhas que se seguem neste aforisma. Em primeiro lugar, elas servem para que o portador não propague o vírus. Neste ponto entendo haver uma questão emblemática: a ideia do super-herói, isto é, aquele que se acha incólume à pandemia e ter certeza de que não foi contaminado. O problema é que ninguém sabe quem está ou não assintomático. Portanto, a prevenção categoriza: uso de máscaras para todos, inclusive quando estiver andando na rua e uso de álcool gel. Por que é tão difícil adotar tais medidas? Se de fato a saúde é importante, então, sejamos mais preventivos e cuidadosos, atuemos mais para que a doença não se instale e se espalhe.

 

Literatura

Sempre recomendo, entre um aforisma e outro, uma obra da literatura brasileira ou universal, seja ela do presente ou do passado. Para hoje eu fico aqui com o romance O fazedor de velhos, de Rodrigo Lacerda. Em determinado ponto do enredo, o narrador diz: “quem aceita frustração, espera, quem espera, pensa. Quem pensa, sente. Quem sente, vive o tempo, e sabe que ele está passando. Portanto, ficando mais velho” [Rodrigo Lacerda. Me fazendo velho. In O fazedor de velhos. SP: Cia das Letras, 2019, p. 108]. Gostei do que li, porque me faz refletir sobre o tempo e seus segredos. Há o tempo marcado pela onomatopeia do “tique-taque” do relógio indicando que o futuro se aproxima e o tempo da memória que nos reporta ao que fomos ontem e o que somos hoje em virtude das escolhas que fizemos, seja na condição de indivíduos individualizados ou coletivizados ao ponto de nos tornarmos uma Nação.

 

Verbo

Fico com o verbo pensar e não o imaginar. Pode-se pensar sobre o amanhã que ainda não é, por exemplo, aqui em Terras de Maria Chica. Também é possível refletir sobre o ontem e as escolhas feitas, segundo as quais, a cidade, para muitos, parou no tempo e entra prefeito e sai chefe do Executivo, e o município parece que estacionou no tempo e no espaço. Outros tantos moradores dirão que projetos não faltam, mas as suas execuções são pífias. A cada quatro anos uma mercadoria-política vocifera aqui e ali que mais isso e mais aquilo e que tudo vai melhorar, como diz a letra de música de uma banda que eu costumava ouvir durante a minha adolescência.

 

Pretéritos

Se pensar no futuro que passa a ser mera especulação, até porque a vida acontece no aqui e no agora, por exemplo, quando vocês, meus caros que chegaram até esse oitavo aforisma – creio que possa vir a ser o último deste primeiro domingo de fevereiro -, então nos resta trabalharmos com a matéria dada, isto é, aquilo que já foi tendo como consequência isso que é no momento. Então volvemos nossos olhares para o pretérito de nossa cidade, não um muito longínquo, mas aquele que alcança as duas últimas décadas. Para ser mais exato, os primeiros 20 anos do presente século. Havia uma expectativa de que a cidade finalmente daria o pulo do gato e viraria a esquina certa em direção à estrada do progresso. Entretanto, fica aqui uma interpelação: onde ocorreu o equívoco? Será que a barra-de-direção do automóvel chamado Penápolis quebrou e o veículo não deu conta de entrar na avenida certa, colidindo com o primeiro poste, restando apenas as carcaças e o rádio que anunciava que o próximo prefeito iria arrumar a casa e o bonde penapolense voltaria a andar nos trilhos? Pelo que vejo a avaria parece ser grande e os mecânicos da Câmara Municipal terão muito trabalho para arrumar a lataria e os motores da que poderiam formar a possante Princesa da Noroeste. E-mail:   gilcriticapontual@gmail.com, d.gilberto20@yahoo.com,   www.criticapontual.com.br.

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