Olhar Crítico

Calouro

Novamente peço licença aos meus leitores dominicais para abrir espaço a um olhar pessoal. Meu filho, Miguel Francisco Minotti dos Santos, acaba de ser aprovado num dos mais concorridos vestibulares do país: FUVEST que seleciona estudantes para a USP (Universidade de São Paulo) – uma das melhores do mundo. Depois de pensar em várias possibilidades profissionais, o novo calouro da USP-São Carlos optou pelo que mais gosta de fazer: trabalhar com o universo da Física Quântica e de Partículas. Ele já até desenvolveu algumas pesquisas durante o Ensino Médio no colégio Futuro/COC, cujos resultados já foram compartilhados com os colegas de escola.

 

Projeto

Novamente, para aqueles que me perguntam quais os caminhos percorridos pelo meu filho para chegar aos bancos desta importante universidade, eu sempre respondo da mesma forma: os pais devem colocar os filhos em primeiro lugar, como a minha mãe Geny Pereira dos Santos fez. Na condição de pai, sempre tive em mente que o Miguel é a minha prioridade e assim será, pois não existe ex-filho, como não há ex-irmão e ex-pai e ex-mãe. Agora, no campo pedagógico e educacional, procuro explicar que Educação não é custo e sim investimento, cujo retorno não vai parar no bolso dos pais, mas no dos filhos, pois o futuro serão deles e estes precisam se tornar adultos conscientes do papel social que desenvolverão em sociedade, sempre primando pelo universo da ética e da moral.

 

Etapa

Miguel Francisco termina uma etapa importantíssima em sua existência material e está começando outra, a exemplo de quando deixei Penápolis para cursar Ciências Sociais na UNESP-Araraquara em 1990, depois de passar um ano estudando entre os livros que a Biblioteca Pública Municipal disponibilizava para seus usuários e outros que ganhei de amigos que haviam frequentando uma escola particular de Penápolis. A todos eles, sempre fui grato, mas hoje minha gratidão vai para aos professores do Colégio Futuro onde meu filho estudou desde o 6.º ano do ciclo 1 do ensino fundamental. Também aos professores que ele teve nos ciclos iniciais em duas escolas municipais e também, mesmo que por um curto período, em outra escola privada da cidade.

 

Educação

Enfim, entendo que a educação é o caminho para que as crianças e jovens de hoje possam sonhar com dias melhores, contudo, não somente permanecerem no campo onírico, mas também em suas realizações. E como nós, professores, já começamos a nos preparar para o retorno às salas de aulas, entendo que os pais deveriam também instrumentalizar seus filhos a partir de valores éticos e morais para retornarem às aulas que se iniciarão nos próximos dias. É interessante observar que em 2019, por conta de idiossincrasias de determinados segmentos – uns com vertentes totalitárias e outras com cacofonias teocráticas -, os docentes enfrentaram uma série de acusações e aleivosias compradas por e espalhadas por pessoas que desconhecem o universo pedagógico e o ofício docente, contudo, aqueles que atuam no setor, muitas vezes, mais por sacerdócio, driblaram essas fantasmagorias e começarão mais um ano letivo em suas esferas profissionais.

 

Canto das sereias

Mas por que será que as pessoas se deixam levar pelo canto da sereia quando a temática são as áreas da saúde, educação e segurança? Talvez porque sejam setores mais sensíveis da vida social e dizem respeito ao universo da construção futura do indivíduo enquanto ser que pretende passar para a esfera do ter: ter saúde; ter educação e ter segurança. Entretanto, em que campo do viver, essa trindade tem início? É no Estado – essa entidade abstrata que congrega suas instituições – ou dentro dos lares – unidades micro-familiares em que o homem recebe suas primeiras noções de ética e moral? Não ficarei nessa peleja, pois muitos acreditam, como Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) que o homem nasce bom e a sociedade o corrompe. Resta saber qual é essa sociedade que inicia o trabalho de desvirtuamento da índole humana. Portanto, pensemos com profunda acuidade.

 

História

Ainda no campo da educação e os objetivos alcançados pelos estudantes secundaristas de Penápolis nos principais vestibulares do país, ressalto aqui a conquista da aluna Maria Eduarda Nogueira de Souza que também, a partir de março, será caloura na USP (Universidade de São Paulo). Ao contrário do que muitos pensam, o curso que a secundarista escolheu é de vital importância em qualquer sociedade que pensa construir um futuro a partir das ações de seus pares. Estudar a História não tem nada a ver com sucessão de fatos e datas e sim, compreender a partir das ações humanas pretéritas como o presente vem sendo erigido em tentar pensar em qual mundo estaremos existindo. Não tem nada a ver com prestidigitação ou sibilagem. Apenas o agir profissional que possibilita ao homem buscar reescrever o seu futuro a partir do ontem.

 

Redação

Qual foi mesmo o tema da redação da FUVEST? A temática foi alusiva ao papel da ciência no mundo contemporâneo. Sendo assim, a História é uma ciência, uma investigação sobre o passado, sobretudo vasculhando documentos e verdades que os homens do presente querem acobertar. Por exemplo, o que a ciência histórica poderá dizer sobre o medievalismo que reina no presente? Será que é possível compreender por que o hoje se comporta como num passado que muitos querem esquecer? Outra perguntar pertinente: por que, um assessor para assuntos culturais do governo central brasileiro, envia uma mensagem à população reproduzindo imagens cujas consequências levaram o mundo a um banho de sangue na primeira metade do século passado? Talvez nós cientistas sociais possamos, analisando vários aspectos comportamentais dos seres humanos em sociedade, entender porque o retrocesso ao medievalismo e tentar indicar caminhos que evitem a reprodução das caças as bruxas que ocorreram no medievo. Será que o livro do filósofo francês François-Marie Arouet – Voltaire – [1694-1778] Tratado sobre a tolerância pode esclarecer alguma coisa sobre a terrível noite de São Bartolomeu? E a obra O massacre dos gatos? Será que fornece alguma luz sobre os antecedentes da Peste Negra? Creio que as respostas só podem ser dadas a partir duma investigação criteriosa que somente o universo científico é capaz de realizar.

 

Racionalidade

Enfim, como meus leitores podem se inteirar, o mundo da ciência é magnânimo e tem muito a dizer e a melhorar a vida do homem na Terra e, com certeza, não é atacando a área como vem acontecendo no Brasil que a sociedade brasileira resolverá seus problemas profundos de desigualdade social, econômica e educacional. Não é com decretos governamentais, atrozes perseguições a quem pensa diferente, que o governo central do país colocará a Nação onde ela deveria estar há décadas. Parece-me que o trabalho é de todos nós, contudo, cada um precisa fazer a sua parte e parar de ficar satanizando um e outro ou, quando a coisa aperta, culpa-se os defuntos dos governos passados. E-mail: gildassociais@bol.com.br, gilcriticapontual@gmail.com. www.criticapontual.com.br.

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