Olhar Crítico

Debate

Começo os olhares deste domingo usando um pequeno fragmento do livro “Quem tem medo do feminismo negro?”, da filósofa e ativista da causa afro-brasileira Djamila Ribeiro. “Não querer discutir temas tão importantes é sintomático de uma sociedade imatura demais para o debate sério. Há uma frase que circula nas redes sociais que explica bem: ‘Se você está cansado de ouvir falar sobre racismo, imagine quem vive isso todos os dias’” (2018, p. 77). Embora a autora esteja fazendo uma abordagem no campo étnico e racial, me parece que a observação pode ser estendida para as outras áreas.

 

Persistência

Já publiquei aqui nestas páginas uma quantidade infindável de linhas sobre a temática, entretanto a prática continua persistindo em nossa sociedade, portanto, deve ser discutida como outros tantas que deixam a esfera privado do sujeito social e ganham as ruas, praças, avenidas e outras arenas e púlpitos públicos. Se isso é fato, por que ainda o cidadão se depara com atos ultrajantes, aviltantes para quem sofre o desdém por parte daquele que se pensa mais humano do que o seu semelhante? Por que aquele tem mais melanina e o racista, que tem pouco, se acha superior? Talvez as respostas possam ser encontradas a partir do momento que os brasileiros se pré-dispuserem a falar abertamente sobre o assunto, ao invés de vociferarem nos bastidores das ganâncias capitalistas.

 

Religiosidade

Bom! Se a discussão sobre o racismo é emblemática, o que dizer então do universo circunspecto ao mundo da religião. Muitos dizem que esse setor da vida privada dos cidadãos não se discute. Mas por que será? Uns afirmarão que é em virtude de a religião ser assunto individual e de fórum íntimo. Acho assaz importante essa observação, contudo, se isso é circunspecto ao mundo privado de cada um, por que querem transformá-la em matéria de Estado aquilo que é do âmbito individual? Ou ainda, querer tornar a democracia brasileira uma teocracia vaticinada através das urnas? Como podes ver, meu caro leitor, dois temas que as pessoas costumam dizer que não se debatem, todavia, estão na ordem do dia na capital federal.  Se isso é fato, coloquem-se ao debate franco e aberto e não nos bastidores e subsolo do poder.

 

Tradicionalismos

Talvez a problemática reside no fato de que falta a muitos conhecimentos sobre os assuntos em tela. A discussão sobre religião passa, necessariamente pelo aspecto político, mas ainda vivemos os resquícios da Idade Média presentes em determinados temas que são propalados aqui e ali. Quais são as demandas daqueles que vivem mais intensamente a religião? Será que a fé do seu semelhante, por lhe ser diferente, o incomoda tanto? Ou o sujeito religioso, que professa determinada doutrina, não consegue conviver com a pluralidade de cultos e religiões? E a religiosidade? Ela é diferente de religião? Não me enveredarei por essa seara, por ser um terreno pantanoso e assaz escorregadio, mas, entendo que seja importante os cidadãos refletirem sobre ele, assim como no campo da política.

 

Equilíbrio

A discussão objetiva não alcançar a vitória no debate como preconizava os sofistas da era socrática, mas tão somente encontrar o equilíbrio entre os diferentes e não entre superiores e inferiores, verdadeiros ou falsos, mas obter, a partir das conversas e diálogos fecundos, uma harmonia entre os contrários. Como é possível a um cientista social observar, enquanto os sujeitos se engalfinham em guerras fratricidas, a sociedade não chega a um consenso em que todos possam viver harmoniosamente mantendo suas conexões religiosas, filosóficas. Parece-me que um cidadão pensante não é interessante para quem está no comando, no poder, de qualquer organização que congrega pessoas que buscam os mesmos objetivos, mesmo que estejam percorrendo caminhos diferentes.

 

Harmonia

Posto isto, que todos se coloquem o ofício de transformarem informações em fontes de conhecimentos, tendo como consequência uma congregação maior entre os membros da sociedade e não mais a divisão entre “eles” e “nós” ou entre quem professa sua fé desta forma e o outro da maneira como lhe aprouver. Contudo, registra-se o fato de que, muitos não querem dar-se o trabalho de avançar nas questões provocando uma “anomia”, conforme dizia Emile Durkheim (…) entre o atraso e o contemporâneo, entre o tradicional e o moderno. O que leva a sociedade para o abismo e a intolerância, é a truculência, as verborragias toscas propaladas para fisgar sujeitos sociais desavisados e desesperados diante das masmorras construídas pela ausência de um quantum significativo de visão de mundo pautada na razão e com espaço para o sentimento. Portanto, o descalabro é a falta de harmonia.

 

Coleta

Ainda não entendi direito essa matéria de terceirizar parte da coleta de lixo orgânico ou resíduos domésticos em Penápolis. Recordo-me que durante a campanha eleitoral, quando o vitorioso foi o petista João Luís dos Santos, o atual prefeito – perdedor daquele pleito – que está em seu segundo mandato, tinha aventado a ideia de transferir para a iniciativa privada o serviço de coleta de lixo do município, bem como a varrição de ruas da cidade. Como saiu derrotado naquela ocasião, a ideia havia sido engavetada, mas, pelo que vejo, voltou com força total agora na sua gestão que caminha agonizante para o final, carregada de ações na Justiça local e com algumas sentenças já definidas no âmbito da segunda instância, ou seja, na área do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

 

Explanações

Parece-me que a questão precisa ser bem definida para que a população possa se posicionar, mesmo que em tese, pois o assunto foi definido pelo Conselho do Daep (Departamento Autônomo de Água e Esgoto de Penápolis) que conta com representantes da coletividade penapolense. Uma das perguntas aventada aqui e ali é: o descarte desse lixo coletado pela empresa privada vai ser feito no aterro municipal ou a vencedora do certame terá que criar uma área visando o sepultamento desses materiais? E o lixo hospitalar que é feito em clínicas médicas, odontológicas e em residências em que os pacientes estão acamados acometidos de moléstias que produzem resíduos infectantes? Tudo bem que o departamento objetiva a economicidade com a medida, todavia, é preciso deixar bem claro essas questões para que a coisa não descambe posteriormente em ações na Justiça. A outra pergunta que se faz é: por que o próprio Daep não amplia a frota de caminhões e realiza concurso público para a contratação de novos coletores? Será que o caminho da privatização da coleta de lixo era o melhor? E-mail: gildassociais@bol.com.br; gilcriticapontual@gmail.com. www.criticapontual.com.br.

 

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