Educando para o mundo da política

Gilberto Barbosa dos Santos

 

Embora o universo eleitoral local já tenha dado os primeiros passos em direção ao pleito de Outubro, quando o cidadão, com ou sem cidadania será convidado a decidir os rumos da locomotiva chamada Penápolis, na manhã de hoje pretendo tomar um rumo diferente com os meus escritos, pelo menos nesse dia 14 de julho, data significativa para os franceses e por que não para o mundo ocidental, tendo em vista que há exatos 227 anos, a França tentava colocar fim a um período de desmandos de monarcas despóticos legando à humanidade uma singular trindade: liberdade, igualdade e fraternidade, muito difundida, mas de pouca eficácia, principalmente em se tratando de Brasil.

Para não ser enfadonho àqueles para quem escrevo semanalmente, e olha que me parece que são muitos ou quase isso, entretanto a quantidade dos sujeitos que se aventuram pelas linhas que componho há uns 15 anos aqui no INTERIOR e agora também em meu site www.criticapontual.com.br, pode ser variável, levando-se em conta o conteúdo da reflexão e de como as regras gramaticais são respeitadas dentro daquilo que pretendo externar enquanto visão de mundo sem um forte viés ideológico, objetivo difícil de ser atingindo ainda mais em tempos politiqueiro – é bem capaz de um transeunte, a exemplo do que dizia Carlos Drummond de Andrade no célebre verso “havia uma pedra no meio do caminho/no meio do caminho havia uma pedra”, dizer ao seu interlocutor: “no meio do caminho havia um político populista/havia um político populista no meio do caminho”. Tal assertiva bem que poderia ser soprada ao ouvido daquele sujeito social que sabe muito bem que nesse momento, os engravatados e políticos deixam seus gabinetes para correr a praça apartando a mão de “Deus e todo mundo” como se diz no jargão popular em busca dos votos dos incautos e desavisados eleitores.

Mas deixando os Três Mosqueteiros e Alexandre Dumas para um momento mais significativo para o universo literário, pois em política, tudo pode acontecer ainda mais tendo um público havido por pão e circo como temos observado pela cidade nos últimos tempos com ares de endeusamento de líderes farisaicos enrolados até o pescoço com ações corruptivas, pois mesmo com provas cabais de que os cofres públicos foram usados como sendo de ordem privada, ainda tem os asseclas e bajuladores que vociferam frases indecorosas defendendo o indefensável – fazer o quê? Todos têm o direito de levantar bandeiras aqui e acolá, contudo, só não podemos institucionalizar a mordaça como se fossem os donos da verdade ou tentar passar a ideia de que tudo não passa de articulações da oposição – essa pecha é muito comum em tempos eleitorais, mesmo porque o discurso entoado em determinados microfones pode passar a ideia de rua de mão única, como dizia o filósofo alemão Walter Benjamin, ou verdade absoluta.

No entanto, esse tirocínio é conhecido de todos, ainda mais daqueles que querem entender como anda a vida na polis e compreender as fontes das gritas gerais pós-eleições com altos índices de abstenções, votos nulos e brancos, já que muitos preferem ficar em cima do muro, ou como se dizia naquela canção da década de 60/70, sentado no banco da praça para ver a banda passar. Novamente, é preciso ressaltar que os indivíduos têm o direito de se manifestar da maneira que melhor lhes aprouver, todavia, faz-se necessário que se analise as consequências de determinados comportamentos, segundo os quais, é melhor se esconder do que manifestar a opinião. Talvez essa prática exista e resista neste século XXI em virtude da pífia cultura política brasileira, na qual, o indivíduo prefere delegar para outrem aquilo que almeja obter das benesses do Estado, mesmo que para isso, deva perpetuar o eterno beija-mão instituído durante o longo reinado de D. Pedro II – mas ai a história é outra. Para o momento fiquemos atentos a tudo que rola, não somente nos bastidores, mas, e, sobretudo, nas meias verdades que são propaladas aqui e alhures, objetivando sempre passar uma coisa que não existe de fato.

Contudo, para não deixar escorregar pelas letras que seguem o escopo do texto de hoje, pois o título trata da educação, mas no âmbito político, então que se chegue ao objetivo proposto lá no alto da página, ou seja, educando para o mundo da política. Sendo assim, gosto sempre de lembrar que nas primeiras aulas que ministro, eu pergunto aos participantes dos encontros quem não gosta de política. É interessante observar que as respostas se repetem com o passar dos anos, isto é, a maioria não gosta. Mas o desprezo por esse universo ocorre por quê? Eis a pergunta que não é de difícil resposta, mas a complexidade que a mesma coloca a quem a escuta, torna-se significativa tal interpelação, mesmo porque, ao se posicionar pelo não apreço ao mundo da política, o indivíduo já está fazendo política, já que, ao se posicionar, se coloca num canto da pendenga: gosta, não gosta ou não está nem ai! Desta forma, a tarefa para se educar politicamente não é tão fácil assim, pois é comum cair-se no erro, para não dizer, senso comum de se educar a partir do ponto de vista que se professa, para não dizer, fé e o risco de se dogmatizar aquele que precisa aprender a escolher um dos lados é enorme e para evitar isso, faz-se necessário uma completa orientação no sentido contrário do de rua de mão única.

Senão vejamos: como explicar a teoria do indivíduo presente nas abordagens do filósofo John Locke, que escreveu seus tratados em meados do século XVII numa Inglaterra absolutista? Seria possível externar alguma coisa sob a perspectiva do materialismo histórico marxista que inverte o idealismo hegeliano, segundo o qual, as mudanças ocorrem a partir do mundo das ideias, contudo, Karl Marx vai dizer que as alterações ocorrem no e através do mundo material, ou seja, da produção. É significativo entender Locke por ele mesmo, Marx por ele mesmo e Hegel por ele mesmo, entretanto, querer ler o filósofo empirista inglês com as lentes de Marx do século XIX quando as forças produtivas e o capitalismo, associado ao colonialismo, estavam em franca expansão, é no mínimo estrangular as teorias do inglês ou reduzi-lo banalmente afirmando que ele não tem nada a dizer para o mundo contemporâneo.

Talvez a chave da compreensão possa vir justamente do fato de que o pensador inglês é conhecido como um teórico do liberalismo, em virtude da sua concepção do indivíduo e o papel que o Estado tem para manter essa peculiaridade do sujeito social, isto é, deste ter o direito de ser livre para explorar o próximo por meio do trabalho e da posse dos meios de produção, bem como também colocar-se na condição de explorado já que não detêm, nas diretrizes marxistas, os meios de produção, sejam máquinas, ferramentas, insumos e prédios, sendo portador apenas da força-de-trabalho que será comercializada não no valor correspondente ao valor que realiza e personifica com seu trabalho, mas sim por intermédio duma relação de trocas não equivalentes, já que precisa satisfazer as necessidades estomacais e outras que advém, conforme Marx aponta em O Capital, do espírito ou do físico. Desta forma, educar significa o quê? Instrumentalizar o sujeito para viver plenamente no mundo global de mercadorias, ou para ser, no futuro um burocrata do Estado que condena o capitalismo, mas precisa do sistema para que se arrecadem taxas, impostos e tributos para manter a sua política de ideologização e hegemonia? Eis a pergunta desta quinta-feira, pois devemos ter bem claro qual educação queremos e como ela pode ser disponibilizada aos nossos estudantes. Em virtude disso, eu recomendo a leitura da entrevista que o cientista político Simon Schwartzman concedeu ao jornal O Estado de São Paulo e publicado na última segunda-feira.

 

Gilberto Barbosa dos Santos, sociólogo, professor no ensino superior e médio em Penápolis. Pesquisador do Grupo Pensamento Conservador – UNESP e membro do Conselho Editorial e Científico da revista LEVS-UNESP. Escreve às quintas-feiras neste espaço: www.criticapontual.com.br. E-mail: gilbertobarsantos@bol.com.br, gilcriticapontual@gmail.com, e social@criticapontual.com.br.

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