Sobras de um amor … parte III

31.

 

Quando Márcio e Angélica chegaram na sala do apartamento, não deu nem tempo de cumprimentar os país do editor, pois Judith já partiu para cima do filho, querendo saber que história era aquela de tentar cometer suicídio só porque a destrambelhada da esposa o tinha colocado para fora de casa. “- E que marcas são estas no rosto e no nariz? Moleque você andou trocando socos com alguém por conta dessa sua dinamite de olhos esverdeados”, quis saber a sogra de Angélica.

Antes mesmo de o filho esboçar alguma resposta, foi a empresária quem a chamou para uma conversa particular e, se Eleanora quisesse, poderia participar. “- Está bem filha! Se Judith não se incomodar, conversaremos sim”, informou a mãe da empresária.

As duas senhoras, acompanhadas pela arquiteta, foram até a cozinha, deixando Márcio, Alexandre e Rogério na sala onde o trio esboçava um início de conversa. O general sabia que a temática era complicada, por isso desviou o assunto para a fundação que futuramente presidiria e ainda contaria com a ajuda do amigo dos tempos de academia militar que tinha acabado de ser promovido a general, ingressando no quadro de oficiais da reserva do Exército Brasileiro.

Na cozinha, enquanto Eleanora preparava algo para levar até a sala, Angélica foi direta ao ponto: “- Judith! Não sei por onde começar, mas só posso lhe afiançar que tudo o que aconteceu nessa semana com o seu filho, sou a responsável. Eu e meu ciúme sempre atrapalha a harmonia do nosso casamento e Márcio é sensível e um pouco imaturo, assim como eu. Então, já viu: qualquer ponto fora da curva dado por ele ou eu, descarrilamos e aí para voltar aos eixos novamente, a coisa fica complicada”.

– Não adianta disfarçar ou tentar esconder, Angélica. O Roberto me disse tudo o que aconteceu essa semana, inclusive que o seu marido saiu no braço com o noivo daquela desmiolada da Fernanda. Eu não vou me meter na vida de vocês dois, pois já estão bem grandinhos para resolver suas divergências, contudo, só digo que você sabia muito bem do jeito que meu Marzinho era e é e o leprego que ele tem com aquela maluca da Fê. Não adianta nem você e nem o amalucado do noivo dela querer separar os dois. Danisa soube contornar a situação e não fica entre Roberto e Fernanda. Se bem que os dois parecem ser mais centrados do que tu e o meu filho.

Angélica escutou tudo em silêncio, sem emitir nenhum sinal de contrariedade, mas disse apenas que, caso o filho de Judith saísse da vida dela, não sabia como andar com as próprias pernas. “- Então por que o expulsou daqui, fazendo com que ele fosse dormir num quarto de hotel e bebesse até que criasse coragem para colocar fim à própria vida, mesmo sabendo das recomendações médicas”, lhe perguntou a sogra.

Antes mesmo de ouvir a resposta da nora, Judith que não se assemelhava em nada com uma mulher de 1.60, parecia ter dois metros de altura voltou à carga. “- Que raio de amor é esse que sentes pelo meu filho que quase o leva a morte por duas vezes”, perguntou a mãe de Marzinho. A empresária esboçou uma resposta, mas o som foi sufocado pela fala imperativa da sogra. “- Eu amo muito o pai dele. É a melhor pessoa do mundo. Tem lá seus defeitos, mas as qualidades são bem maiores do que aquilo que parece não ser ajustável ao meu coração, mas ainda assim, nunca o coloquei para fora de minha casa e de minha vida”.

– Judith eu sei disso tudo!

– Sabe, mas vive fazendo meu filho de gato e sapato, o envergonhando em todos os cantos e se indispondo com os amigos dele. Fernanda pode ser totalmente desmiolada, mas tenho certeza de que jamais faria com Marzinho o que você vem fazendo.

Ao citar Fernanda, Judith sabia que atingiria um ponto nevrálgico da nora que, não conseguiu se segurar e sentenciou: “- Eu sabia que a senhora preferia ela a mim, como havia lhe dito naquele dia aqui no apartamento. Agora a verdade veio à tona. Sendo assim, não tenho mais o que lhe dizer: pegue o seu filho de vidro e o ofereça a Fernanda que a partir de amanhã poderá voltar a ser a funcionária da loja onde eu a encontrei vendendo camisas antigas para o seu filho”.

O clima esquentou entre as duas e foi contemporizado por Eleanora que, sabia do temperamento da filha e de Judith e as duas poderiam estragar tudo por conta de estarem com os sentimentos à flor da pele. “- As duas querem se acalmar! Ninguém vai fazer nada e Fernanda continuará sendo a gerente das minhas empresas e você, Angélica se controle. Claro que a fala de mãe de Márcio tem seu sentido de existir e de ser. Afinal o filho dela quase morre duas vezes e quando se compara com o tempo de amizade dele com a Fê, claro que as coisas ficam nesse pé”.

“- Porra mãe! A senhora fica sempre contra mim”, disse de forma exasperada Angélica.

– Se eu ficasse contra ti, seria a primeira a ter desaconselhado a atravessar o estado para achar o seu marido. Além do mais, fui a primeira a perceber o quanto você ama esse homem. Estou apenas tentando trazer as duas à serenidade.

Quando Judith fez menção para se levantar e ir embora e, com certeza, recomendando que o filho voltasse com ela, Angélica a segurou pelo braço pedindo desculpas. “- Amo o seu filho de toda a minha alma e se não fosse isso, com certeza não teria terminado meu casamento de cinco anos com Rosângela”.

“- É preciso lembrá-la minha filha, essa sua queda por mulheres. Não tenho nada contra, mas fico sempre preocupada com o meu filho. Fico receosa de que do nada você o deixe e encontre paixão nos braços de outra mulher e ai como Marzinho ficará”, perguntou Judith.

“- Você não acha que isso cabe a ele decidir? Afinal já tem 35 anos e é senhor da própria vida. Excesso de zelo pode tê-lo tornado esse cristal que parece se quebrar no primeiro não que escuta”, falou Eleanora, tentando ajustar as coisas para que aquela conversa não descambasse para desavenças irreparáveis.

– E é justamente por isso que decidi não me meter mais na vida dele e de você. Preciso assistir o Esdras que me ligou reclamando que o Márcio se quer passou um dia lá no supermercado para tomar um café da manhã com o irmão.

Eleanora que havia terminado de preparar os petiscos para os homens que haviam ficado na sala conversando, deixou a cozinha, mesmo receosa de que a filha pudesse perder a compostura com a sogra. “- Judith por favor quero que me entenda. Não estou pedindo complacência de sua parte, pois se tivesse um filho, provavelmente eu agiria como você está se comportando agora, mas amo Marzinho e não há a menor chance deu deixá-lo por conta de outra pessoa. Não consigo viver e ver o meu futuro sem ele”.

– Tome bastante cuidado que esse tipo de amor costuma cegar a ponto de acabar matando o ser que se ama. Falei de Fernanda porque sei que aqueles hematomas no rosto dele foram por conta de uma discussão com o noivo dela. O cara é tão ciumento quanto tu e tem por hábito ouvir o que bocas alheias costumam falam em detrimento do que a noiva diz.

Angélica ficou pasma ao perceber que tudo o que se passava entre os dois, Judith sabia através dos relatos de Ricardo. Quando ia dizer algo, Judith sentenciou: “- Ricardo me diz tudo porque é amigo do meu filho e não quer vê-lo sofrendo. Só ele sabe o que Marzinho passou por conta daquela puta com que foi noivo. Embora ele seja amicíssimo do Márcio, sempre me disse que não pode mudar a cabeça e o coração do amigo que é apaixonado por ti, mesmo que Fernanda tenha se declarado a ele.

“- Como é que é? Fernanda disse o que para o meu marido”, perguntou Angélica já ficando com os nervos aflorados.

– Ela achava que estava apaixonada por Márcio, mas este lhe disse que tudo não passava de temor por conta do casamento que se avizinha. Ela sempre teve em meu filho o amigo, o confidente e aí você apareceu e, de repente, tudo mudou.

“- E por que Márcio não me falou isso”, quis saber a empresária.

– Pergunte-se a si mesma mocinha! Você arrebentou o nariz dele porque ele levava a amiga de volta ao apartamento, já que Fernanda havia bebido além da conta por saber o quanto Márcio te ama, te venera e o que destes em troco? Já quebrou a perna dele. Já fez ele entrar em coma alcóolico e por fim o fez pensar em suicídio. E agora quase arrebenta o nariz dele. Você não acha que essa sua forma de amar meu filho é muito violenta?

– Está bem Judith! Por mais que eu diga, que eu faça, ficou claro que você sempre preferirá a Fernanda à minha pessoa. Então pegue o seu filho e o leve embora e o dê de presente para a Fê. O que percebo é que minhas desconfianças sempre tiveram um fundo de verdade. Eu apenas não conseguia ver direito por conta da cegueira provocada pelo amor que tenho pelo seu filho.

– Realmente você não entendeu nada! Fernanda nunca esteve apaixonada pelo meu filho e a prova disso foi essa bebedeira que tomou hoje. Ela, assim como você, só está assustada diante da felicidade que está por vir e só depende dela. E é lógico que diante de um amanhã incerto e um passado certo, ela quer ficar com o conhecido e achava que isso só seria possível tendo Márcio do lado dela.

Angélica completamente transtornada, se levantou para deixar o cômodo, quando se deparou com Márcio e Eleanora em pé. O marido lhe perguntou o que estava acontecendo. “- Sua mãe veio para te levar embora e te dar de presente para a débil metal da Fernanda. Pode ir, mas esqueça o dia que nos conhecemos. Nunca vi um homem tão frouxo assim: deixar que a mãe comande suas funções sentimentais”.

Ao término de sua fala, Angélica saiu apressada da cozinha, se trancando no quarto. Judith olhou para o filho e não disse nada, apenas se despediu dizendo que tinha um jantar com os pais de Débora para oficializar o noivado dos dois. “- Veja se faz uma visita ao seu irmão. Ele vive reclamando que não tem ninguém aqui, exceto a família da namorada, pois você fica só correndo atrás dessa doida de sua esposa”.

Márcio tentou esboçar uma resposta, mas foi contida pela mãe. “-E não venha me dizer que é muito trabalho que não é! Quem correu atrás de tudo essa semana para que sua editora seja inaugurada na segunda-feira, foi tua sócia. Não deixe teu pai ter motivos para zangar-se contigo novamente. Afinal a família sempre segurará o nosso caixão, seja ele repleto de dinheiro ou miséria”, disse Judith, saindo da cozinha, indo em direção à sala para deixar o apartamento. Tinha um encontro na casa de Romualdo e Adélia.

– E vê se vira homem! E pare com essa história de que qualquer briga com a sua galega, a morte lhe cairá melhor. Se a ama, como diz, então trabalhe para que esse amor, de fato, seja pleno entre vocês dois. Do contrário, case-se com Fernanda. Ela pelo menos entende essa sua cabeça oca, mesmo que o coração esteja pleno de amor.

“- A senhora vai ao almoço que vamos realizar amanhã na editora”, perguntou Márcio à sua mãe.

– Se for na empresa do filho que criei, sim. Agora se for na de um bunda-mole que vestiu a calcinha da esposa e a deixa cagar-lhe na boca, esquece. Eu e teu pai temos mais coisas para fazer aqui nessa cidade. Teu irmão precisa do nosso apoio para o noivado com a sócia de tua mulher. Seu pai vai comprar um apartamento para ele. Está saindo muito caro o aluguel do apart-hotel e o seu imóvel está com a Fê que deveria ser a sua esposa e não essa doida varrida da Angélica.

“- Tudo bem mãe. Espero-a amanhã juntamente com o meu pai”, disse Márcio, mais para colocar fim àquele assunto espinhoso.

Já na porta do elevador, tanto Judith quanto Rogério se despediram do filho e Eleanora aproveitou a deixa e também se despediu do genro, levando consigo seu namorado. Ninguém quis assumir as responsabilidades por todo aquele transtorno provocado na vida do editor, justamente porque teriam que revelar o segredo da família e Márcio acabou levando a culpa de tudo, inclusive ouvindo da boca da mãe que deveria ser mais firme e não ficar procurando a morte quando a esposa entrasse em parafuso.

Assim que a porta do elevador se fechou, o editor também se fechou para o mundo e sua esposa havia se trancado no quarto depois das discussões com a sogra. Márcio colocou uma dose de uísque num copo, fez uma seleção de músicas e se deixou ficar olhando para o céu que ainda trazia algumas pigmentações do final da tarde. Sentiu n’alma o conteúdo do que Judith havia lhe dito e Eleanora tinha ficado em silêncio, até porque foi a principal responsável por tudo de complicado que aconteceu naquela semana que se completou com os desatinos de Fernanda e a ciumeira de Ricardo.

Ali, olhando para as estrelas que piscavam para o seu coração, Marzinho entendeu que precisava de um tempo para si. Tinha existido para todo mundo, menos para ele. Desde aquela noite, em que presenciara Márcia participando dum bacanal na cama que deveria servir de leito na noite de núpcias, havia entrado numa espiral de destruição, contudo, sem perceber que o fazia.

Não sabe ao certo o tempo que ficou ali dialogando com os astros que brilhavam a partir de uma distância de milhões de anos-luz da Terra. Queria respostas que as estrelas e nem o firmamento podiam lhe dar. Sabia que tudo dependia de uma conversa franca consigo mesmo. As falas da esposa dizendo que ele transformava tudo num colóquio filosófico vieram à tona numa velocidade que pareceu ser maior do que a da luz.

Recordou da primeira vez que sentiu a temperatura se elevar quando Angélica lhe pegou na mão pela primeira vez para ajudá-lo com o corte que havia feito por conta de um acesso de raiva dela. Reviu aquela noite em que a esposa, lindíssima, conversava com o irmão e ele, Márcio, embriagado não conseguiu associar as duas coisas.

Lembrou-se do vestido que a empresária usava quando do casamento. A tonalidade e os detalhes do tecido eram uma homenagem a uma pergunta que ele lhe fizera ali mesmo naquele espaço e depois a tentativa que Angélica fez para lhe responder durante um encontro a noite.

“Será que ela realmente me tem amor ou tudo não passa de um capricho de grã-fina que viu em mim um brinquedo novo que, na medida em que recusa a participar da brincadeira, a fez me desejar tanto assim”, se perguntava Márcio quando percebeu que havia colocado a última dose de uísque no copo, tendo esvaziado a garrafa toda.

Embora tivesse ingerido um litro de uísque, Márcio não sentia a menor incidência do álcool sobre o seu organismo. Sabia que estava abusando da bebida, mas o teor do uísque o ajudava afastar os fantasmas que lhe rondavam, bem como seu casamento que foi realizado às pressas, tudo para satisfazer à vontade de Angélica. Essas dúvidas foram dissipadas quando recordou aquela noite que, ao sair do banheiro do quarto do hotel naquela cidade no Vale do Paranapanema, se deparou com a empresária sentada na poltrona, na penumbra que a luz da rua construída dentro do imóvel.

Sentiu vontade de rir e pode entender o quanto a amava e o coração bateu acelerado ao relembrar o momento quando a esposa lhe passou o pacote contendo a sua calcinha como prova da paixão que lhe devotava. Naquele momento, entendeu tudo o que Judith havia lhe dito. Se realmente amasse Angélica tinha que fazer o casamento e aquele amor prosperar e não dependia de ninguém, de dinheiro, condição social, material, mas apenas deles dois. Também entendeu o silêncio da sogra: ela iria dizer o quê? Nada! Pois não mudaria o passado.

Caminhou até o interruptor e apagou a luz para ver com mais nitidez o brilho das estrelas quando observou um raio cruzando os céus. Imaginou que seria mais uma noite de chuva. Adorava quando isso acontecia. Em sua concepção, era a prova de que a natureza ainda acreditava no homem, e ele, Márcio, precisava crer que seria possível viver feliz com a esposa.

Na penumbra do apartamento, a mente foi tomada de assalto pela imagem de Angélica só de camisão transparente naquela manhã em que foi tomar café com ela, quando foi afrontado por Rosângela que desejava o desqualificar diante da empresária. Provavelmente a companheira de Angélica havia captado algum movimento d’alma dos dois. Novamente um sorriso lhe visitou o espírito e o coração que ficou em festa ao sentir o quanto amava aquela dinamite dos olhos esverdeados.

Sentou-se e, ao encostar as costas no encosto do sofá, fechou por um determinado tempo os olhos, enxergando Angélica com todo o seu esplendor, encanto, paixão, amor, e a vida dos dois passou diante de sua mente em frações de segundos. A cada flash desses, Márcio tinha mais certeza ainda do que sentia por Angélica e entendia com clareza a conversa que teve com a mãe. Era hora de crescer e parar de agir como criança mimada.

“- O que está fazendo aqui e com esse copo cheio de bebida”, perguntou Angélica, tirando o esposo de seu mundo onírico.

“- Por que a pergunta”, quis saber Márcio.

“- Achei que tua mamãezinha tinha te levado para os braços de Fernanda. Afinal, ela deixou bem claro que a Fê é a preferida para lhe ser nora, ou melhor, a nora”, respondeu a esposa de forma irônica.

– Se é ou não, eu não sei, porque ela nunca me disse, mas duma coisa eu tenho certeza: você é a mulher com quem desejo passar o resto da minha vida e isso é o mais importante. Agora se não for esse o seu desejo, é só me dizer.

Márcio conversava com a esposa ainda sentado no sofá e ela de pé. Mesmo na penumbra da sala, ele podia sentir a força do olhar dela para ele. O esposo ficou de pé e sem dizer nada, deu um profundo beijo na empresária no que foi correspondido. Angélica o abraçou de maneira intensa e vertendo lágrimas em abundância disse que temia ele ter ido embora com Judith. “- Tenha mais amor e menos medo, querida”, pediu o esposo.

Quando Angélica fez menção de dizer algo, o editor lhe perguntou: “- Quantas vezes, desde que estamos juntos, eu te perguntei de Rosângela? Ou quis saber de seus amores pretéritos”.

– Nenhuma!

“- Justamente porque o que me importa é o que começamos naquela manhã de domingo. No dia em que senti o calor de sua mão pela primeira vez na minha. Quando se vestiu para o nosso casamento. O que minha mãe acha e o que o mundo pensa sobre nós dois, não me interessa nenhum pouco. O que tem importância em meu viver é o que você sente em relação à minha pessoa e se deseja fazer de tudo para que o nosso amor dê certo”, disse o editor.

– Mas eu sou tão…

– Eu sei quem tu és! E o que sei, basta para seguir em frente contigo. Disse na primeira vez que jantei com sua mãe: se você não me quiser mais como esposo, com certeza sairei do seu caminho e te reafirmo aqui e agora, continuarei vivendo, te amando em silêncio, tendo dentro da memória um belíssimo passado que tive contigo.

O editor olhou para o relógio, observando que os ponteiros já passavam das dez horas e seu estômago dava os primeiros sinais de que deseja comer algo que o alimentasse pela noite toda.

Márcio fitou a esposa, pedindo que ela fosse tomar um banho e se arrumasse. Jantariam fora naquela noite. “- Onde vamos a uma hora dessas”, perguntou Angélica. “- Se apronte que eu farei a mesma coisa e depois decidiremos. Só não quero ficar na cidade e nem fechado nesse apartamento contigo”.

Enquanto a empresária usava o banheiro da suíte do casal, o esposo se banhava no lavabo do quarto de hóspedes.  Enquanto sentia a água lhe cair sobre o corpo, Marzinho ficou pensando na conversa tensa que teve com Fernanda na hora do almoço e depois aquela confusão toda e ainda por fim, receber uma bronca da mãe que lhe jogou na cara a sua incapacidade de ser e fazer Angélica ou qualquer mulher, feliz.

Como se tivessem combinado, o editor e a empresária terminaram os respectivos banhos ao mesmo tempo e Márcio se dirigiu ao quarto para escolher uma roupa para ter uma noite de sexta significativa com a esposa. Quando ingressou no quarto, a esposa estava nua, mas ele resolveu se manter em silêncio enquanto Angélica escolhia, entretida, as peças que usaria naquela noite.

Ao ver que a empresária estava completamente desligada do mundo externo, Márcio se sentou na cama e ficou a observando, bem como toda a sua anatomia que o encantava desde a primeira vez que a tinha visto. Era bela, mas não de uma beleza carnal, material, porém daquelas sutilezas sublimares que faz com que o homem que realmente a enxergasse ficasse a contemplá-la por horas, dias, semanas e até meses sem mover se quer um músculo da face, temendo que qualquer movimento a fizesse desaparecer.

Ele ficou atento quando Angélica vestiu a calcinha que se ajustava perfeitamente ao corpo, sem evidenciar a bonita bunda que tinha. Era poético assistir toda aquela cena de colocar uma perna e depois outra, ajustar tudo para que não ficasse nada sobressalente. Ao se virar para apanhar o sutiã que estava sobre a cama, a empresária viu que era observada pelo esposo. “- Não sabia que estava aí amor. Sabia que é feio observar uma mulher enquanto ela se arruma para o seu homem”, afirmou Angélica, em tom interrogativo.

– Não sabia! Mas estava tão poético te ver se vestindo, colocando a calcinha e ajustando na bunda como pedindo uma rima perfeita que meu coração não conseguiu encontrar.

“- É poético amor, mas agora sai daqui. Quero me arrumar para ti e tentar te surpreender. Se isso for possível”, afirmou a empresária.

“- Está certo querida”, disse o editor, deixando o quarto, indo para a sala aguardar até que a esposa terminasse de se arrumar para ele. Quando Angélica deixou o cômodo para chamá-lo, estava trajando um macacão preto com detalhes em verdes, cujas tonalidades eram semelhantes aos seus olhos e um tênis preto com o solado e detalhes em branco.

Márcio a observou rapidamente e, em questões de segundos, foi como se a tivesse visto por inteira, sem que esse olhar pudesse ter passado despercebido pela mulher que viu algo semelhante ao que aconteceu naquele domingo no apartamento dele. Márcio se arrumou tão rápido quanto fitou a esposa momentos antes. Ao deixar os aposentos foi ele a sentir os olhares desejosos de Angélica que internamente agradeceu por amá-lo tanto e ele a ela.

Dentro do elevador, o editor pega suavemente na mão da esposa dizendo baixinho em seu ouvido o quanto ela estava encantadora. “- Obrigado por me deixar te amar assim, Angélica”. Aquela observação fez com que a empresária sentisse um arrepio lhe percorrer o corpo todo, fazendo com que se encostasse no marido, agradecendo silenciosamente todo aquele carinho para com ela. Não houve palavras, apenas olhares e apertos de mão que diziam muito mais do que qualquer som que ambos poderiam emitir naquele momento.

Já dentro do carro, Angélica aguardava informações que indicassem para onde iriam. Foi o marido quem sugeriu um restaurante numa cidade vizinha, existente no sentido oposto ao outro em que estiveram por duas vezes. “- Tem lá um lugar chamado Cantina do Norte com comidas típicas do Nordeste. Faz tempo que penso em voltar lá”

“- Voltar lá? Por quê? Já estive nesse lugar com outra mulher”, disparou Angélica sua saraivada de perguntas recheadas de ciúmes.

“- É que levei outras mulheres lá e não consegui passar de uma noite com elas. Quem sabe contigo a coisa seja diferente”, disse Márcio caindo na gargalhada para desmentir o dito logo em seguida. “- Estive lá sim, mas foi uma vez com a Fernanda porque estava interessada num cara que trabalhava lá e outras duas vezes com Ricardo e Danisa”, explicou o marido.

“- E com a Fernanda tudo terminou num motel”, quis saber Angélica.

Sem responder à pergunta da esposa, o editor pediu para ela colocar o carro em movimento. Ambos ficaram em silêncio enquanto o automóvel ganhava velocidade. Do nada, Márcio disse a esposa: “- Se você quer realmente abandonar o passado, construa um futuro para ti e eu estou aqui também para isso, erguer um amanhã em que possa viver em companhia do seu amor”, disse o editor olhando todo carinhoso para a esposa que não se contentava de tanta paixão pelo esposo, mesmo estando irritada porque ele ainda não havia lhe respondido sobre o que aconteceu na noite em que esteve naquela cantina com Fernanda.

Como das outras vezes, a resposta foi a mesma, sendo acrescida da seguinte observação: “- Se eu quisesse comer ou estar com Fernanda, não estaria dentro desse carro contigo; não teria socado aquele médico que te paquerava enquanto me examinava. Não teria fugido de um amor que me tirava o fôlego. Não teria quase morrido porque você me deixou e depois nem teria passado pela minha cabeça a hipótese de tirar a minha própria vida”, explicou o editor.

Aproveitando a fala do esposo, Angélica lhe fez a seguinte inquirição: “- Antes deu surgir em sua vida, o que você pensava ser a felicidade”.

– Sempre imaginava que a felicidade fosse semelhante a uma noite chuvosa, em que eu estivesse do lado da pessoa mais encantadora do mundo. Aquela com quem se correria na chuva, na praia, observaria as gaivotas ou o simples pousar de uma borboleta numa rosa.

“- Então felicidade para ti não é uma constante, uma condição, mas algo que existe apenas naquele momento”, perguntou Angélica enquanto prestava atenção no trânsito, pois entrariam numa rodovia vicinal que os levaria até a cidade vizinha.

“- Mais ou menos isso”, disse Márcio de maneira imperativa. “- A primeira vez que senti sua mão na minha, foi como se o coração se iluminasse por completo, com os raios que os seus olhos emitiam em direção aos meus. Podem ter sido por microssegundos, mas o suficiente para me fazer feliz. Além do mais, quem disse que a eternidade é observada pelo tempo material do relógio físico? O etéreo não se mensura, é apenas sentido e é isso que acontece sempre comigo em relação a ti”, completou Márcio, alisando a perna direita da esposa, provocando novo espasmos no coração dela.

– Não tenho muitas certezas na vida e sobre o mundo, mas não tenho dúvidas de que estarei em todos os lugares contigo: no sol, no frio, na chuva, enfim, no inverno. Para mim, você não é só bonita, um rosto lindo, mas é sobretudo a vida que continuarei a viver sempre por saber que, de alguma forma, você está nela. Então eu resumiria a felicidade a apenas um nome: Angélica.

A esposa olhou para o marido, compreendendo que não havia outra mulher na vida dele, conforme todos já haviam lhe dito antes e que o ciúmes que sentia lhe fugia do controle por falta de maturidade sua, principalmente por saber que Márcio a queria do jeito que ela era e não por conta do dinheiro, da beleza externa ou coisa parecida. Se fosse isso, já teria lhe dito antes, além de não ter fugido ou desejá-la apenas para uma transa para dizer aos amigos que tinha comido a bacana da cidade.

Conduzidos pelo GPS, o casal chegou ao restaurante que encantou Angélica pela simplicidade no seu externo e aconchego em seu interior com as luzes de mercúrio em tonalidade capaz de deixar o clima romântico mais intenso ainda. Se sentaram e a garçonete lhes trouxe o cardápio e ficou surpresa ao ver que a mulher era a patroa que a tinha enviado para o apartamento de Márcio.

– Dona Angélica! Que surpresa!

“- Dalva que o faz aqui”, perguntou a empresária.

– Garantindo o almoço de amanhã para os meus filhos. O que ganho na sua empresa não dá para colocar comida na boca dos meus quatro filhos.

“- Mas e seu marido? Onde ele está”, quis saber a empresária

– Se meteu em coisas erradas, achando que era dono do mundo e acabou se envolvendo num assassinato, sendo condenado a quase 30 anos de cadeia. Eu sempre avisei para se afastar daquele pessoal, mas a senhora sabe como são os homens: creem-se superiores e que com eles nunca acontecerá nada.

“- Bom Dalva, me procure na segunda-feira na empresa, vamos ver o que dá para fazer por ti e seus filhos, desde que fique longe do mundo do crime em que seu marido estava”, orientou Angélica.

Assim que a atendente se afastou, a empresária abraçou o marido lhe dando um terno beijo, agradecendo silenciosamente por ser ele o homem que cuidaria dela até o fim da vida. Em seguida, pediu licença para o editor. Desejava retocar a maquiagem.

Enquanto a esposa se dirigia ao banheiro, Márcio ficou olhando para ela, até que entrou no espaço reservado às mulheres. Ao voltar a atenção para a bebida que a garçonete havia deixado sobre a mesa, o editor foi surpreendido por um violento comentário. “- Você é mesmo um cara de pau. Conseguiu enganar a Angélica. Não sei como ela foi se interessar por um preto nojento como você”.

O editor fixou o olhar na mulher, tentando lembrar de onde a conhecia. “- Talvez sua memória envelhecida não se lembre, mas eu fui colocada para fora na festa do seu casamento com aquela retardada da sócia de minha amiga e depois daquele dia, minha vida entrou num processo de destruição completa. Não sei de quem foi a arte, mas não tive mais condições de trabalhar naquela cidade e tudo por conta do seu casamento com ela”.

“- A senhora me desculpe, mas eu não estou me recordando desse episódio”, disse Márcio tentando se explicar.

“- Talvez uma certa briga que terminou com a demissão de um diretor das Organizações Oliveira possa refrescar essa sua cabeça de macaco”, disse entre os dentes a interlocutora do editor.

Assim que Lúcia proferia essas ofensas, Angélica chegou e escutou a mulher ofendendo seu marido de maneira histérica. “- Lúcia! O problema não é meu marido, mas sim você e seu esposo, dois racistas que acham que são melhores por conta da tonalidade da pele. Te mandei embora da minha festa porque não compactuo com essas ideias de gente ignorante e seu marido foi demitido por achar que era intocável em minhas empresas”, explicou calmamente Angélica.

“- Como é dar para um macaco”, perguntou Lúcia.

Quando Angélica ameaçou partir para cima da mulher, foi contida pelo marido que lhe disse: “- O mais importante é o que você acha a meu respeito e eu a de ti. Não é preciso responder a perguntas formuladas por pessoas amargas e sem nenhum senso de amor próprio”.

Ao ouvir isso da boca de Márcio, Lúcia pegou o copo que havia sido deixado ali pela garçonete e jogou no rosto do editor que, serenamente olhando para a agressora, lhe disse: “- Nenhuma de suas agressões vai modificar o que eu sinto por Angélica e ela por mim. O que nos une não é o dinheiro, mas algo que a senhoria desconhece e é por isso que permanece casada com aquele mentecapto que tentou desrespeitar a minha esposa. Acho que seu marido, ao invés de enrabá-la do jeito certo, ficava fazendo aposta com a vida alheia. Vai procurar um pau para comê-la, o meu já tem dona e que dona. A mulher que me faz ser a pessoa mais feliz do mundo”.

Assim que terminou de falar, Márcio chamou Dalva e quando ela chegou, pediu um novo drinque, pois o anterior tinha ido parar em seu rosto por conta daquela mulher e olhando para Lúcia pediu para que ela voltasse ao seu lugar e se contentasse com o que tinha e, se quisesse algo melhor, que mudasse a postura diante das pessoas.

Tanto a garçonete quanto Lúcia se afastaram, sendo que a última estava profundamente irritada porque foi tratada daquela forma por um preto desqualificado. A atendente chegou até o balcão pediu outra bebida para o editor e cochichou com o proprietário que estava do lado do barman. Assim que o drinque ficou pronto, ele mesmo foi levar à mesa de Angélica e Márcio que conversavam animadamente, falando sobre o sábado e a inauguração da editora na segunda-feira.

“- O senhor me desculpe pela deselegância de Lúcia”, solicitou Ednaldo, proprietário do estabelecimento.

“- Só a mantenha longe de nós, por favor”, pediu o editor

– Tudo bem! Aqui está o seu uísque e é por conta da casa. Falarei com o marido dela que é meu gerente do meu estabelecimento e nunca a vi se comportar desta forma.

Naldo se explicou e, se afastando, fez anotações num bloco, indicando que resolveria a situação depois, já que o gerente não estava ali e havia deixado a esposa fazendo suas vezes de funcionária. Era um teste, pois pretendia abrir uma filial da Cantina do Norte na cidade vizinha e quem sabe poderia deixar os dois tomando conta daquela loja, enquanto ele gerenciava a nova filial.

Dalva surgiu novamente para anotar o pedido do casal que solicitou uma porção de carne seca na pedra e duas cervejas sem álcool. Enquanto escrevia no bloco, quis saber qual foi o motivo por Lúcia ter lhe jogado uísque na cara, todavia, Márcio desconversou e não quis alongar o assunto. “- Ah! Traga também um pouco de molho tártaro”, disse o editor para encerrar o assunto e sepultar de vez a curiosidade da garçonete.

Enquanto Márcio e Angélica desconsideravam mais um entrevero com pessoas que estavam num passado que ambos desejavam não reaver mais, os pais do editor conversavam com Esdras, Débora no café existente dentro do supermercado. Eles aguardavam a chegada dos país da noiva do filho “- Eu não acredito que seu irmão ainda não colocou os pés aqui dentro, Esdras”, disse Judith indignada.

“- E nem eu quero que venha. Marzinho é um tremendo empata-foda e vive correndo atrás daquela doida da mulher dele. E o que faria aqui, mãe”, perguntou o irmão mais novo do editor.

Foi Débora quem tentou amenizar a situação, dizendo que o futuro cunhado era meio esquisitão e que só podia formar par com a patroa dela e futura sócia. “- Judith! Aquela mulher dominou completamente a cabeça e o coração do seu filho. Se ela cagar uma tonelada de merda e dar a ele no jantar, Márcio engole tudo e ainda pede mais”.

“- Também não é assim”, disse Rogério para total indignação de Esdras que respondeu de forma ríspida. “– Então deixe essa porra de supermercado para ele tomar conta. Ele sempre foi o cristalzinho da mamãe, o gayzinho tentando se passar por homem viril”.

“- O que você tem nessa cabeça de merda, moleque”, perguntou o pai ao filho. Mas foi a futura nora quem respondeu gargalhando: “- Ciúmes! Esse meu namorado tem um ciúme terrível do irmão, assim como o meu mano tem do Marzinho por conta da Fê. Acho que todos eles gostariam de ser o Márcio ou ter uma cabeça legal como a dele”.

“- Marzinho cabeça legal? Aquele cara é uma porta de tão reacionário que é”, disse Esdras.

“- Mas não viemos aqui para falar do Marzinho. Deixe ele lá com a galega dele. Se não se matarem um dia, penso que morrerão grudados um no outro”, disse Judith, desviando o foco da conversa para o relacionamento do outro filho com a futura arquiteta.

Antes mesmo de Judith completar o raciocínio Esdras sentenciou: “- Mãe! Queremos aproveitar que vocês dois estão aqui na cidade para a inauguração da editora do Marzinho e anunciar nosso noivado. Eu e Débora decidimos que já é hora de trocarmos as primeiras alianças visando um casamento depois de nós nos formamos”, disse Esdras de forma acelerada.

“- Antes de mais nada, é preciso conversar com os pais dela também. Isso não se define com a opinião apenas de um lado. Portanto, falarei com Romualdo e Adélia”, disse de forma imperativa Rogério.

“- Está explicado de onde Márcio tirou o reacionarismo dele”, disse Esdras, de forma exasperada.

“- Se não for assim, esquece. E o senhorito volta conosco na segunda-feira à noite”, sentenciou Judith.

“- Esquece o Márcio. A questão aqui não é ele e sim o compromisso que queres formular com sua namorada. E será desta forma: amanhã durante o almoço na editora quero teu pai e sua mãe lá, Débora”, afirmou Rogério que havia sido informado no caminho entre o apartamento de Angélica e o supermercado que os futuros sogros do filho não estariam presentes naquela noite.

Assim que o patriarca terminou de falar, apareceu Ricardo com Fernanda. Embora os dois estivessem de mãos dadas, Débora sentiu que o clima não era dos melhores entre eles. A futura cunhada se sentou ao lado da secretária de Angélica. “- Menina, preciso te falar umas coisas. Seu irmão está um porre”, desabafou Fernanda.

Débora esperou uns cinco minutos e a chamou para conversarem no banheiro do supermercado. “- O que aconteceu Fernanda”, inquiriu a futura cunhada. “- Não estava tudo certo para se casarem no domingo”, perguntou a secretária de Angélica.

– Estava, mas aconteceram algumas coisas que …

– Já sei! Antes de assumir alguma coisa com meu irmão, você tentou uma última cartada com o Márcio.

“- Como é que sabe disso”, questionou Fernanda.

“- Fernanda! Quem observa em demasia, sabe muito e conheço meu irmão e o medo dele sempre foi te perder para o Marzinho. Ele pirou e começou a fazer terapia por achar que deveria ser como aquele bunda-mole do Márcio”, respondeu Débora de maneira imperativa.

– É que …

“- Querida! Coloque uma coisa na sua cabeça e no seu coração. Aquele cara é um excelente homem, mas a Angélica manda nele. Inclusive já tentou se matar, já fugiu, já apanhou dela, quase ficou inválido sexualmente por conta dum pontapé dela, e ainda assim, continua com ela. Ele não a deixará, nem que a Miss Universo aparecesse pelada na frente dele”, explicou Débora.

Assim que a secretária de Angélica terminou de falar, Judith entra no banheiro e já vai logo dizendo. “- Fernanda, teu noivo é uma excelente pessoa. Não jogue fora a felicidade com a qual ele lhe acena. Sempre soube que tu tinhas uma queda pelo meu filho, mas também sempre soube que ele esperava uma mulher como aquela desmiolada da esposa que tem”, orientou a mãe de Marzinho.

– Na verdade, fiquei com medo de assumir uma coisa mais séria com Ricardo e descobrir que sou apaixonada pelo Márcio. Então precisava conversar sobre isso com ele e acabei de me descontrolando. Ricardo ficou sabendo de tudo, porém não do jeito certo, mas pela boca dos amigos que me viram saindo do restaurante com Márcio. Inclusive Angélica quer me demitir por conta disso.

“- Esquece a demissão. Aquela desmiolada da minha nora não fará nada disso, principalmente porque Márcio não vai deixar ela te demitir. Creio que você precisa é se entender com o seu noivo e dar sequência à sua vida, compreendendo que daqui para frente, Marzinho não pode ficar entre vocês dois e nem você entre ele e aquela doida da mulher dele”, disse Judith.

Diante do que Judith falou, Fernanda ficou mais calma e antes de dizer alguma coisa, foi a mãe de Márcio quem sentenciou. “- Falarei com Ricardo daqui a pouco e colocaremos fim a essa conversa toda. Você amará Márcio sempre como uma pessoa especial em sua vida, afinal ele cuidou de ti, não deixando que se enfiasse em confusões. Só isso! O resto de sua existência será do lado de Ricardo.

Ao dizer isso, Judith quis colocar um fim àquela confusão toda e as três deixaram o banheiro abraçadas e pela primeira vez, Fernanda sentiu todo o afeto da mãe de Márcio por ela. Ao se sentar do lado do noivo, apenas lhe pegou a mão, lhe dando um forte aperto que foi sentido por ele como um “sim” da noiva.

Do nada, como querendo mudar o foco da conversa, Débora perguntou se Leônidas estaria presente no almoço de sábado. “- Não! Disse que o lance é do Márcio e da Angélica, mas que estará aqui no domingo no almoço na casa dos seus pais. Ele sabe o quanto Esdras te ama e tem certeza de que depois de amanhã oficializaremos o noivado de vocês”, explicou Judith.

Fernanda ameaçou dizer algo, mas foi contida pelo olhar da futura cunhada que achou melhor não antecipar nada. Ela aproveitou para chamar Fê para buscarem mais bebida para todos. “- Calma, cunhada! No domingo, durante o meu noivado você anuncia que está se casando com meu irmão. Amanhã falarei com ele no almoço na editora”, explicou a futura arquiteta.

A gerente de finanças das Organizações Oliveira achava que seria escorraçada pela família de Ricardo, mas acabou observando o contrário. Todos ali, inclusive os próprios pais de Márcio estavam com ela e a ajudaria atravessar aquele momento até o próximo domingo, quando se tornaria oficialmente a esposa de Ricardo.

No restaurante de Alexandre, Eleanora conversava com o general, tentando dissipar as nuvens de dúvidas que ainda persistiam em ficar entre os dois. “- Amor! Se tranquilize. Não vamos deixar que Angélica e Márcio fiquem entre nós. Os dois já são bem grandinhos e eu sei da minha parcela de culpa pelos transtornos que minha filha é portadora e o marido dela sabe disso e ficará com ela até o fim da vida”, expôs a namorada.

– Sei lá Eleanora! Tenho medo de que Márcio venha um dia me jogar na cara que a mulher surtou porque eu quis atravessar o samba e entrar num assunto que não me diz respeito.

– Olha só amor! Fui a primeira a perceber o quanto minha filha ama aquele negão e também saber o quanto ele é doido por ela. Márcio deu uns murros no médico que o examinava porque ele estava paquerando a Angélica.

“- Por que está me contando essa história novamente”, perguntou Alexandre.

– Para que você e o mundo entenda que Angélica é a tampa do balaio chamado Márcio. Ela vivia um relacionamento homoafetivo com uma professora da Universidade que é irmã de Tarsila. Angélica foi casada com Rosângela por cinco anos e bastou conhecer Márcio para que os cinco anos virassem pó.

“- Ele sabe que a esposa é bissexual”, perguntou o general.

– Sabe! A mãe dele, toda conservadora, também e no começo quis fazer objeção, mas ele foi firme dizendo que ficaria com Angélica até o dia em que minha filha não quisesse mais e, caso ela desejasse voltar com Rosângela, sairia da vida dela, mas seguiria a amando em silêncio.

“- Você está me dizendo que seu genro sabe que ela pode deixá-lo por conta de outra mulher e ainda assim aceitou ficar com ela”, quis saber Alexandre.

– Ele foi com ela até a Alemanha para que Angélica colocasse fim ao relacionamento com a professora. Minha filha saiu nos tapas com a melhor amiga dele, a Fernanda que é a única que pode ameaçar o casamento dos dois, mas acho que não conseguirá isso.

Alexandre ficou em silêncio enquanto sorvia mais um gole do seu uísque e, enquanto isso, a esposa de Pedro se aproximou do casal para combinarem sobre o almoço de sábado na editora do Márcio.

“- Você falou com ele ou com Tarsila”, perguntou Eleanora.

– Conversar como? Sua nora e seu genro são dois doidos. Adoro todos eles, mas parecem desparafusados e ainda tem aquela Fernanda. Deu um baile dos infernos hoje. Era para eu ficar com ela no apartamento, mas de que jeito? Ela saiu desesperada e quando chegou na editora vomitou no chão. Um horror!

Eleanora e Alexandre caíram na gargalhada pelo jeito que a funcionária da editora contou a história toda. “- Pode deixar Fabrícia. Depois converso com o Pedro e amanhã cedinho providenciaremos tudo”, informou o general sabendo que teria que agilizar o almoço.

Enquanto Fabrícia voltava para dentro do restaurante para ajudar o esposo, Eleanora se sentou mais perto do namorado e lhe dando um beijo no rosto, perguntou se ele não a deixaria por conta daquela história toda. “ – Te contei com um puta cagaço. Estava com medo de que fosse me deixar e quase coloquei a vida da minha filha e do meu genro na berlinda”.

– Querida! Nesse episódio todo aprendi duas coisas: a primeira é que não devo me meter na relação entre você e seus filhos, genro e nora. A segunda é que não podemos morar juntos. Não quero isso, justamente para não me envolver além desse limite com a vida que tens com os seus. Se você respeitar essa minha decisão, poderemos seguir juntos até o fim.

Eleanora pensou, sorveu de uma única vez o resto do uísque que o general havia deixado no copo e, em seguida, colocou outra dose dupla e sorveu tudo de uma vez. “- Eu não tenho escolha. Ou isso ou não te ter e, sabendo que você é a melhor coisa que aconteceu em minha vida depois dos meus filhos, prefiro tê-lo assim esperando que um dia mudes de opinião, mas não vou forçá-lo a pensar diferente, justamente porque te amo e quem ama não impõe condições, apenas ama e pronto”, disse Eleanora virando mais uma dose de uísque.

Diante da resposta da namorada, Alexandre quis saber mais sobre Roberto e o pessoal que circulava em torno de Márcio e Angélica, todavia, Eleanora foi enfática. “- Acho melhor perguntar para cada um deles. Todos estarão amanhã no almoço. A única coisa que posso te dizer que é que Roberto e Márcio são amigos desde os tempos da Universidade e são unha-e-carne e se protegem assim como Fernanda. O trio é de ferro e ninguém os dissolve”, falou Eleanora já sentiu o leve efeito dos uísques que ingeriu.

“- Roberto e Fernanda são executivos de suas empresas e você não sabe nada deles”, perguntou o militar.

– O suficiente para estarem nos cargos que ocupam e, além do mais, se fossem pessoas de índole duvidosa, tenho certeza de que não seriam amigos do meu genro que já deu provas mais do que suficientes de ser uma pessoa íntegra, porém, não perfeita e também se fosse, seria um tremendo pé no saco, mais do que já é.

Depois dessa resposta, Alexandre entendeu que assim como colocou limites no relacionamento, tipo assim, não se intrometer na relação dela com os filhos, também não deveria ficar perguntando nada a respeito dessas temáticas e, caso Eleanora quisesse, poderia falar com ele.

A sogra de Márcio se levantou para ir ao banheiro e assim que se ausentou, a esposa de Rafael, morto de forma estranha na prisão após ameaçar matar o general, se aproximou da mesa em que o militar estava.

– Seu Alexandre, posso falar com o senhor?

– Pois não! O que a senhorita deseja.

Antes mesmo que ela dissesse alguma coisa, o general a reconheceu. “ – Procurei o senhor logo depois que meu marido cometeu suicídio na prisão enquanto aguardava o desenrolar do processo que respondia por ter tentado matá-lo”.

– Sim, eu me recordo. Mas o que posso fazer pela senhora.

– Acho que tudo ou mesmo nada.

Assim que ela terminou de falar, Eleanora voltou e achou estranho aquela mulher sentada à mesa e conversando com o seu namorado. Resolveu aguardar para não fazer cena de ciúmes como sua filha costumava aprontar.

– É o que senhor me disse que se eu precisasse de alguma coisa, poderia procurá-lo. Então estou aqui para lhe dizer que estou na pior, precisando de ajuda. Estou para ser despejada da casa em que moro por não conseguir pagar o aluguel, além de estar desempregada.

O general chamou Fabrícia pediu a ela que preparasse uma refeição para a mulher de Rafael. Assim que ela retornou com a alimentação, o militar perguntou se Fabrícia sabia como estava a situação da casa em que havia morado com Pedro. Diante da resposta de que estava vaga desde que deixaram o local, Alexandre disse à esposa de Rafael.

“- Amanhã e domingo entregaremos comida para a senhora e na segunda-feira venha falar comigo durante o dia. Verificarei se consigo colocá-la num imóvel de um amigo e arrumar colocação para a senhora. Está bem assim”, perguntou o general.

A viúva de Rafael agradeceu, fez a alimentação e quando ia saindo, o militar aposentado a levou até o caixa do restaurante, lhe dando R$ 500. “- Para a senhora segurar a situação até que eu consiga lhe arrumar um trabalho e cuide bem do seu filho. Não desejamos que ele se torne um Rafael piorado quando se tornar adulto”.

– Está certo, senhor Alexandre. Vou observar essas suas palavras. Penso que não se erra duas vezes. Eu me equivoquei uma vez e não pretendo ser reincidente na condução da vida de meu filho. Nisso o senhor pode ter certeza.

Assim que a mulher deixou o espaço e o general voltou a se sentar com Eleanora, a confusão estava formada. “- Você deu dinheiro àquela puta! Minha buceta só não basta! É por isso que não quer morar na mesma casa que eu, seu cachorro, filho de uma puta. Vou quebrar a sua cara e é agora”.

O militar ficou imóvel para desespero de Eleanora que lhe desferiu um tapa no rosto. “- Esse tabefe resolveu o seu problema de ciúmes exagerados”, perguntou Alexandre que, calmamente e olhando fixo para a namorada lhe disse: “- Não cheguei ao posto máximo do Exército à toa e não penso com a cabeça de baixo. Agora se a senhorita raciocinasse, antes de agir, teria me perguntado antes quem é essa mulher e o que ela fazia aqui. Mas não! Tu preferes agir como se eu fosse uma propriedade sua. Agora eu entendo porque o cérebro de seus filhos estão todos danificados”.

“- Não se atreva a julgar meus filhos ou a educação que eu lhes dei”, disse Eleanora, se levantando e saindo em direção à porta do restaurante. Fez uma ligação e em cinco minutos, seus seguranças a pegavam na frente do estabelecimento. O general assistiu a tudo do mesmo local em que estava. Não correria atrás dela e nem tentaria reatar nada.

Enquanto via tudo como se fosse um filme em câmera-lenta, o general foi despertado por Fabrícia que lhe perguntou o que havia ocorrido. “- Minha amiga. Só quem foi pobre um dia sabe o que significa passar fome. Quem teve tudo aos seus pés e acostumada a fazerem seus gostos, não entende. Eleanora tenta ser simples, mas terá que mudar muito e os filhos tentam não seguir o caminho dela”.

Já em seu apartamento, a namorada ou ex do general, em desespero, tenta falar com o militar que não atendia suas ligações. Desesperada ligou para a filha. Não queria ficar sozinha aquela noite, mas também não obteve sucesso. Angélica estava toda envolvida com o marido na cidade vizinha ouvindo samba e tentando fazê-lo dar uns passinhos.

Quando voltaram à mesa, o casal observou que haviam chamadas em seus respectivos celulares. Angélica retornou à mãe, pois percebeu que tinham diversas chamadas. “- Alô! Mãe! O que houve”, perguntou a empresária.

– Briguei com Alexandre e sei que fui infantil. Deu um tabefe no rosto dele e depois deixei-o falando sozinho.

“- Mas por qual motivo”, quis saber a filha.

“- O mesmo que faz você perder a cabeça em relação ao seu marido”, respondeu a mãe.

– Se fosse eu, o que a senhora diria para eu fazer?

– Falar com ele!

– Então é o que a senhora deve fazer.

“- Mas ele não atende o telefone. Desconfio que está com outra no restaurante, ainda mais que tem uma cama lá. Ele me disse que não existe mais, mas sabe como é. Na dúvida, eu fico com o que vi”, disse Eleanora em completo desespero.

– Só tem um jeito de a senhora saber. Indo até lá ou esperá-lo na porta do prédio dele.

“- Mas e se ele me rejeitar? O que eu faço”, perguntou a mãe que tentava esconder a agonia que sentia.

– Peça perdão de joelhos ou monte acampamento defronte à casa dele, invada o restaurante, mas faça alguma coisa. Chorar e reclamar não vai adiantar nada. Não era isso que me dizia sempre em relação ao Márcio.

Enquanto Angélica falava com a mãe, seu marido dialogava com Judith que o colocava a par da situação, inclusive o noivado de Esdras e também sobre Fernanda. “- Mãe! Adoro a Fê, mas se teve algum momento em que poderíamos nos entender como homem e mulher, ele passou e ficou lá em nosso ontem. Eu sei que ambos deixamos a coisa passar por temores, tanto de minha parte quanto da dela. Hoje tenho alguém que pode não ser perfeita, mas é a pessoa que amo e faz as estrelas de minha vida brilharem eternamente e Fernanda tem o Ricardo que pode não ser uma joia rara, mas é uma pessoa que vai cuidar dela como ela merece e precisa.

– Está me dizendo que não há a menor chance de você vir a atrapalhar o casamento dela com Ricardo. Tipo assim, ter uma recaída, pois ela é uma mulher interessante.

“- Por que a senhora está me falando isso agora? Uns tempos atrás vivia me dizendo que ela era amalucada. Está querendo que eu deixe Angélica para ficar com Fernanda”, inquiriu o editor à sua mãe.

“- Está me achando com cara de criança ou alcoviteira, meu filho”, perguntou Judith de forma irritada.

– Não estou dizendo isso mãe, mas apenas tentando entender essa conversa sem pé e nem cabeça que estamos tendo. A senhora sabe o que sinto por Angélica e não há nada nesse mundo que me dissuada disso. Ela pode até me deixar para ficar com outra pessoa, mas eu continuarei amando-a em silêncio, se preciso for.

“- Está bem meu filho. Não foi isso que eu quis dizer, mas entendo a devoção que tu tens por essa doida da sua mulher. Nos falaremos amanhã no almoço de sua editora. E a propósito, você irá no noivado do teu irmão no domingo”, quis saber a matriarca.

– Não sei mãe. Preciso conversar com Angélica! Se ela quiser vamos sim.

“- Não quero nem saber. Se você não estiver presente nesse momento importante da vida de teu irmão, nos deixará magoadíssimos”, disse Judith, de forma inimidatória.

– Está certo mãe. Tudo vai depender do que Angélica me dirá e amanhã provavelmente já teremos uma resposta.

Assim que desligou o telefone, Márcio percebeu que havia outra ligação e desta vez era de Roberto. Retornou e conversou rapidamente com o amigo e o assunto era a inauguração da editora na segunda-feira e o almoço de confraternização que seria realizado no dia seguinte.

Ao voltar para a mesa, observou a esposa um tanto quando apreensiva. “- O que foi amor”, perguntou à Angélica.

– Minha mãe brigou com o general.

“- E qual foi o motivo”, quis saber Márcio.

– E você ainda pergunta! Até parece que não me conhece. O mesmo que faria eu te partir a cara: outra mulher!

Márcio caiu na gargalhada, como a muito não fazia, deixando a esposa irritada e ao mesmo tempo toda excitada por conta daquele sorriso que a deixava fora do ar. “- Preciso ter uma conversa com o meu amigo general”, disse o editor rindo mais abertamente.

“- Agora eu sei de onde você tirou essa ciumeira toda. Quando tua mãe estava com Jô ela nunca teve ciúmes dele”, perguntou Márcio.

– Que eu me lembre não!

“- Talvez porque sabia que ele não a amava e que sempre a cobria com coisas materiais”, emendou Márcio.

– Credo amor! Você faz o pior juízo de minha mãe.

“- Não querida! Apenas constatação. Talvez agora ela realmente esteja se sentido amada e o medo de perder a fonte desse amor a deixe assim, como você. Mesmo sabendo o quanto eu te amo, ainda assim teme me perder, quando eu é quem deveria ter esse medo, pois ambos sabemos do apreço que você tem por mulheres”, disse Márcio entre as gargalhadas.

– Eu sei disso, mas estou contigo e isso é o que importa, mas sei que vocês homens podem estar com a mulher que amam, mas de olho na xereca vizinha ou pensas que eu me esqueci desse seu olhar que parece enxergar nada, mas vê até a alma da mulher. Estou de olho em você neguinho. Aqui mesmo já te vi passando um rabo-de-olho em duas ou três. É que me segurei, se não teria rodado a baiana.

Novamente Márcio caiu na gargalhada e, para provocar, disse a esposa que se ele olhasse, ela nem notaria. “- Experimente para ver se não fica sem esses olhos de desnudar-me e a qualquer outra mulher”.

Antes mesmo de a esposa terminar de dizer o que estava falando, Márcio a agarrou lhe dando um beijo cinematográfico, tirando o fôlego da esposa que correspondeu de forma tão intensa quanto era beijada pelo marido. Passando da boca para o ouvido de Angélica, Márcio disse que iria devorá-la com calcinha e tudo. Esse cochicho deixou a empresária em brasa que respondeu dizendo que então precisariam ir embora, se não ela tiraria a calcinha e o obrigaria a comê-la em plena pista de dança e sob o som de um atabaque.

Depois que terminaram o beijo, Márcio pediu a conta, pois a exemplo da esposa, estava em brasa e com uma enorme ereção que foi sentida pela empresária quando esta, de forma provocativa, percorreu as coxas dele com uma das mãos.

Se Angélica e Márcio se preparavam para mais uma noite de amor, Fernanda e Ricardo conversavam abertamente sobre os últimos acontecimentos e a noiva lhe foi franca. “- Estou com medo de embarcar numa viagem contigo. E por isso recorri ao caminho conhecido, ou seja, à proteção de Márcio. Sei que fiz besteira falando de coisas que já tinham sido superadas por nós dois. De modo que entenderei se não desejar continuar comigo porque, se eu estivesse aí em sua condição, talvez estivesse aqui te ofendendo”, disse a gerente das Organizações Oliveira.

– Fernanda. Todos temos medo em relação ao futuro, onde tudo é muito incerto. Tenho cá meus temores que nunca tive coragem de enfrentar, por isso mantinha amizades com pessoas que, de certa forma, não me obrigavam a mudar meus pensamentos e posicionamentos, entretanto, quando te conheci sabia que algo aqui dentro havia sido modificado.

“- Obrigado por me entender Ricardo”, disse Fernanda se sentindo mais aliviada.

– Quero que saiba que a compreensão não é porque te amo como nunca imaginei que pudesse amar alguém, mas porque nunca passei o que você passou e isso muda tudo. Quem me abriu os olhos foi Roberto, inclusive sobre esse suposto recuo e o desejo de continuar do mesmo jeito que vinha vivendo em relação ao Márcio.

Diante da revelação que Ricardo fez, Fernanda ficou em silêncio esperando que o noivo terminasse. “- Ele me falou que a chegada de Angélica bagunçou toda a sua cabeça e o coração e que provavelmente estaria confundindo tudo, mesmo que negasse. E que sua negativa em admitir que estava toda atrapalhada prejudicaria a sua compreensão. De certa forma, Márcio te protegia do mundo e você não queria perder isso, já que praticamente cresceu sozinha”.

– Então quer dizer que não está zangado comigo?

– Não é bem zangado, nem decepcionado, mas pronto, caso me deixe cuidar de ti. Não como um pai, mas amigo, marido e amante. Também descobri que não preciso ser um Márcio dois para te fazer feliz. Tenho que ser eu o tempo todo e caso não goste do que sou, seguirei em frente, mesmo sabendo que continuarei a te amar.

“- Querido! Sou grata pela sua compreensão e te digo aqui de todo o meu coração: quero construir esse amor contigo, pois te amo muito, mesmo tendo proposto algo estapafúrdio ao Marzinho que se apresentou novamente como um cavalheiro, o que faz Angélica ser uma mulher de muita sorte e eu também por tê-lo aqui comigo, estando disposto a seguir em frente construindo o nosso amor”, desabafou Fernanda se sentindo mais aliviada.

Fernanda se ajeitou mais do lado do noivo e cada um terminou a sua bebida e ela propôs que fossem para casa, pois no dia seguinte tinham o almoço de confraternização na editora e no domingo o noivado de Débora com Esdras. Ricardo concordou dizendo que desejava vê-la se distanciando de Márcio. “- Não estou te impondo nada, mas penso que agora eu te tenho e você à minha pessoa. Ele continuará a ser seu amigo, mas eu serei em breve seu marido”.

O casal se levantou depois de deixar o valor da conta dentro da comanda com uma boa gorjeta para o garçom e se dirigiram até o automóvel de Ricardo que já pensava em trocar de carro, contudo, a noiva foi contra. “- Esse aqui está de bom tamanho para o que precisamos. Não vou morar contigo dentro de um carro e sim dentro duma casa. Não quero luxo, mas algo confortável para nós, seus pais e nossos amigos”, sentenciou Fernanda, enquanto o noivo colocava o carro em movimento.

Chegando ao apartamento, Fernanda beijou intensamente o noivo no que foi correspondida. Mal ela sabia que no domingo, ele pretendia pedi-la em casamento, ou melhor, dizer aos pais que a partir daquele momento se mudaria para o apartamento da noiva até que a casa ficasse pronta. Chorando, Fernanda repetia que o amava e estava grata por ele amá-la do jeito que ela era. “- Obrigado meu preto por me querer dojeito que sou, meio amalucada sem entender direito o que quero da vida, mas tenho certeza que a partir de agora, tudo ficará bem definido nesta jornada que começo contigo”.

– Tenho tantas coisas para lhe dizer Fernanda que acho melhor não falar nada, mas apenas vivenciar essas querenças cotidianamente contigo, meu amor.

“- Então vamos viver tudo isso começando aqui e agora meu preto gostoso”, disse Fernanda acariciando o pênis do noivo que estava explodindo de tesão dentro da calça.

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