Sobras de um amor … parte II

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Terminado a refeição, Amadeu voltou para o mesmo canto do sofá em que antes estava deitado. Agora permanecia sentado olhando para a janela, em completo silêncio, como durante a refeição em que apenas Angélica falou. Dizia uma coisa e depois voltava no mesmo assunto: “- Senhor Márcio, está sentindo o gostinho do chumbinho?”, perguntava e dava imensas gargalhadas.

O repórter movimentava apenas o canto da boca como querendo rir, e por baixo da mesa dava uma cutucadas no pé da arquiteta e Amadeu em outro mundo, se limitando a se alimentar feito um autômato, sem a menor vontade, sem sentir o paladar dos alimentos ou escutar a conversa da irmã com o amigo de boteco, devaneios e de partidas abstratas de xadrez.

O repórter fez questão de ajudar a sua anfitriã a ajeitar toda a cozinha, lavando louças de um jeito que chamou a atenção de Angélica que não perdeu tempo em provoca-lo: “- É senhor Márcio, como quer fugir da minha cidade e do passado, quem sabe no seu futuro não arruma um emprego na cozinha de um hotel? Pelo menos terá quarto e comida pagos com seu trabalho de lava-louças”, lhe disse rindo.

– Olha, minha cara arquiteta, prefiro isso do que ter a sarna galega da tua mãe me aporrinhando o dia inteiro.

– Credo! Estava só brincando! Será que não pode tirar essa armadura apenas uma vez na vida? Acabamos de fazer uma excelente refeição e o senhor já vem com quinhentas pedras! Quero que saiba que também estou lesada com o que minha mãe me disse hoje de manhã, mas não é socando o primeiro que aparecer na minha frente, que a situação vai melhorar.

– Desculpe-me dona Angélica.

– É a primeira vez que o vejo pedindo desculpas de alguma coisa e vamos deixar essa fala de “dona”, “senhora” para lá. Quando estiver comigo, por favor me trate apenas por Angélica, ou melhor, “Keka” como era o meu apelido de criança e depois se perdeu com o tempo e a seriedade da vida, além das constantes preocupações com o saldo da conta bancária, status e outras porras mais que essa vida material nos impõe.

– Tudo bem! Acho difícil chama-la de Keka, mas prometo me esforçar para usar o simples, porém, singelo Angélica que me faz lembrar coisas angelicais. Aliás é uma fase que a humanidade deverá atingir quando conseguir se afastar da etapa animal, se tornando hominal e depois angelical.

“- Como é isso?”, perguntou a arquiteta.

“- Deixa para lá dona Keka”, respondeu Márcio caindo na gargalhada pela segunda vez durante aquele almoço.

Angélica aproveitou a descontração dele para lhe perguntar, como é possível ele e Amadeu se tornarem amigos. O irmão está todo aluarado e ele, Márcio, todo concentrado, sério, quiçá esteja atolado até o pescoço com um tenebroso passado que envergonhou a família. Sabe-se lá o porquê? Se foi porque revidou ou apanhou do trio: duas mulheres e a amante da futura esposa.

“- Nos damos bem, porque falamos a mesma língua que ninguém entende. Acho que é por isso que eu e seu irmão nos entendemos bem. Somos mestres em não sermos compreendidos e termos amores que não foram vivenciados por conta do racismo”, explicou o repórter.

– Como é essa coisa do racismo, Márcio? Confesso que o vejo como algo abjeto, mas sei que por mais que ache horroroso, nunca chegarei perto do que vocês sentem na pele.

– Bom. Eu posso ficar aqui até amanhã falando, falando e nunca te darei uma resposta exata, mas creio que o racismo é sobretudo uma condição, isto é, não é o ser em si que está sendo escorraçado, sentenciado por um delito que cometeu ou não, mas está sendo julgado pelo pertencimento étnico-racial herdado de seus ancestrais, ou seja, aquilo que as pessoas imaginam que ele é, mas não por ele em si, mas por conta da maneira como o passado via os pretos escravizados e seus descendentes. Por exemplo, a tua mãe é racista, mas se perguntar-lhe o motivo, com certeza, nem ela mesmo sabe, mas acabou se tornando um hábito, uma espécie de mantra. Então, penso que não é lei que muda isso, mas apenas com educação e práticas cotidianas de resistência através de pequenos atos ou grandes que passará sucessivamente de uma geração a outra. Aquilo que falei para a sua esposa naquele café da manhã, é preciso mudar muitas coisas começando pela desnecessidade de justificar que não se é racista porque tem um amigo ou amiga preta. É preciso alterar isso. As pessoas podem não gostar de minha pessoa, mas jamais a cor da minha pele deve ser usada como condição para isso. Minha utopia é que brancos, negros, amarelos ou de que etnia for possam andar de mãos dadas sem precisar ficar incomodados com os olhares ao redor. É isso! Não sou panfletário de causa nenhuma. Creio que a ação vale mais do que a reação.

– Sei bem como é isso, Márcio e entendi quando me falou do chicote na mão do algoz e do desejo deste que o açoite passe para as mãos de quem está sendo agredido. Também compreendi o que você falou sobre resgatar a alma que está refém em um lugar racista no qual as pessoas sempre negam não gostar de pessoas com a tonalidade de sua pele, ou por exemplo, por questões sexuais. Todos sabem que sou casada com uma mulher, mas ninguém fala nada e sabe por quê? Porque me veem como uma caixa-eletrônico e em virtude do meu dinheiro e de minha família. Olha o Amadeu? Só foi resgatado porque encontrou alguém que não pensou no dinheiro e não é branco de olhos esverdeados. Claro que essa pessoa só pensava em sua matéria, contudo, conquistou algo que ninguém havia conseguido antes, a confiança do meu irmão que se sente aprisionado nesse mundo material e nossos pais não souberam dialogar com ele a ponto de manter seus dons e ficar um pé bem firme na administração das empresas da família. Por isso, optou por fugir, assim como o senhor. E a coisa começou a piorar quando se apaixonou pela irmã de Rosângela. Ela, ao contrário de minha esposa, não quer dinheiro, apenas ser o que se é e o que deseja: fazer Amadeu feliz. Eu vi isso lá no bar.

– Mas por que fica casada quando sabe que a sua companheira é uma carreirista e quer chegar ao topo a qualquer preço e pode estar contigo por conta disso?

– Eu não sabia que ela era assim. Só descobri depois que você apareceu e resgatou meu irmão. Percebi que ela não estava comigo nessa luta, mas pensava somente em si. Não a condeno por conta da vida louca que levou e ainda ser preta e homossexual. Nesse mundo machista, a coisa fica mais violenta ainda. Não a sentencio porque, se eu estivesse na condição dela, não saberia se agiria de forma diferente. Você eu sei que não é desta maneira, mas é um fujão e tanto.

– E por falar em fujão, preciso ir.  Tenho que resolver as minhas questões e depois ver para onde vou e o que encontrarei pela frente. Acho que já invadi por demais a vida de seus familiares e agora preciso seguir adiante. Quem sabe eu não encontre água limpa numa nova fonte.

– E seu lhe disser que talvez já tenha encontrado essa fonte? O que me diria?

– Bom! Depende de onde estiver essa fonte. Se for cercada de armas, pedras, estilingues, preconceitos e outras alianças, penso que é melhor seguir em frente mesmo. Não quero fazer com o outro aquilo que não gostaria que fizessem comigo e aliás já fizeram, mas aí é outra história. Acho que há muitas batalhas a serem travadas e eu não gostaria de deixar essa fonte de água ficar turva.

O repórter disse isso indo em direção ao elevador. Apertou a mão de Angélica agradecendo o almoço e também a conversa. “- Foi assaz interessante conversar com a Angélica sem salto, sem brincos, sem maquiagem, sem dinheiro, sem carrões importados. Aquela arquiteta que eu vi hoje de manhã só de camisolão. Ela me permitiu ver um pouco mais da alma que anima esse corpo. Quem sabe um dia nos encontramos por aí. Adeus!”

Entrou no elevador e pediu para ela não o sacanear e abrir a porta. Lá na calçada pediria um transporte para levá-lo para casa e depois iria ao jornal pedir demissão. Esperava que ela ligasse para o proprietário, dizendo que ele não trabalhava mais para ela.

Enquanto aguardava o transporte, Márcio ficou pensando na conversa descontraída com Angélica e na tal da fonte que ela lhe falou. Achou acertada a resposta que lhe dera. Cortar o mal pela raiz. Nem em sonho poderia pensar em desposar ou ter alguma coisa com a irmã de Amadeu. Seu desejo era um só. Se afastar daquela cidade o mais rápido possível e começaria aquela tarde por colocar seu plano em ação. Passaria em seu apartamento, iniciaria a arrumação de suas coisas, pois o aluguel já estava quitado, então, não teria que pagar multa alguma. Depois iria ao jornal, deixaria tudo acertado. A noite comunicaria sua mãe, a única pessoa com quem mantinha contato com a sua cidade de origem. Não poderia dizer para onde ir, pois ainda não sabia ao certo. Somente nos próximos dias, longe daquela barulhada toda, pensaria com calma e fazer a escolha mais acertada.

Ao chegar ao prédio onde morava, cruzou com um dos moradores que lhe disse: -“- Ué! Esqueceu alguma coisa? Achei que não morasse mais aqui!”. Fez essa afirmação e seguiu o seu caminho. Quando Márcio tentou abrir a porta do seu apartamento, teve a surpresa. Não conseguia. Tentou, tentou, mas nada de atingir o objetivo. Procurou Simão, que se fazia de sindico, justamente por ser aposentado e ter disponibilidade de lidar com toda a burocracia para administrar o edifício.

– A única coisa que fui informado é que você não morava mais no apartamento e que a proprietária requisitou o espaço para fazer obras de adaptação para uma parente que chegaria da Europa. Quando perguntei de você, o pessoal que fazia a mudança e trocava a fechadura informou que deveria já estar longe da cidade e que havia sido demitido do jornal. Estava vasculhando a vida de uns bacanas e se dera mal.

– Obrigado Simão. Mas eu não mudei e nem perdi o emprego. Agora preciso saber para onde levaram as minhas coisas. Fiquei só com a roupa do corpo. Queria tomar um banho e mudas as peças. Tudo bem. Eu fiquei devendo alguma coisa?

– Tinha umas coisas pendentes, mas o pessoal chegou aqui e já pagaram até o dobro do que você devia ao restante dos condôminos. Na verdade, tudo já tinha sido pago quando o seu apartamento foi comprado há mais ou menos uns 10 dias.

– Comprado? Como assim? A imobiliária não me informou que o local estava à venda, pois eu teria começado a procurar outro lugar.

– Aí eu já não sei Márcio. Penso que tu deves então ir à imobiliária para saber o que está acontecendo.

O repórter ficou enlouquecido. Queria enforcar o filho da puta que o colocou na rua só com a roupa do corpo. Durante o caminho para a imobiliária foi pensando em quem poderia fazer isso e logo suspeitou de Angélica e da mãe dela. Recordou que Amadeu disse que a irmã só queria fazer gracinhas com Eleanora, contestando-a, mas que quando a coisa apertava, ela se escondia debaixo da cama. Então, teve certeza. Ele estava literalmente na rua da amargura por conta daquela família de atormentados. “Maldita hora em que fui me sentar à mesa com Amadeu. Minha vida virou do avesso e agora nem roupa tenho para vestir, quanto mais sair desta cidade. Preciso agir logo. O próximo passo dessa gente será me deixar sem dinheiro e quem sabe colocar nas minhas costas crimes para eu ir parar na cadeia. É! Realmente eu entendo Tarsila. Não dá mesmo para respirar com essa gente por perto”, enquanto pensava, puxava o ar para seus pulmões como se estivesse sendo asfixiado.

Pensou em ligar para Angélica, mas queria saber a história do fio ao pavio e depois chegaria derrubando tudo e todos, como se isso fosse possível. Já que ia virar um sem teto, levaria muita gente junto, nem que Amadeu precisasse pagar o pato por fazer parte duma família desajustada como a sua.

Ao chegar na imobiliária foi recebido pelo proprietário que já o aguardava. Sabia cedo ou tarde ele apareceria ali e teria que ser convincente. Afinal, a escola dos filhos estava toda quitada pelo resto do ano e pode trocar o carro da esposa e tudo porque aceitou despejar o inquilino do apartamento, mesmo sabendo que a filha da dona poderia pensar diferente, mas ninguém iria fazer um escândalo por conta dum jornalista de fundo de redação e incompetente. Ele que arcasse com as consequências de se meter com gente importante.

– Estava lhe aguardando Márcio e vou direto ao ponto porque tenho muita coisa para fazer. O seu apartamento foi adquirido há coisa de dez dias por uma arquiteta chamada Angélica. Comprou e pagou a vista, dizendo que precisava criar um novo projeto para apresentar aos seus clientes, mas me pediu para não lhe dizer nada, pois quando tudo estivesse pronto ela mesma te avisaria para desocupar o imóvel, inclusive lhe oferecendo outra moradia.

– Mas o que foi que mudou então? Fui ao meu apartamento e está tudo lacrado e soube que meus pertences, sem minha anuência expressa, foram enviados à um depósito. Quem autorizou? Você? Viu algum documento em que constava a minha assinatura permitindo essa remoção? Ou será que um amontoado de dinheiro enfiado no seu rabo ultrapassou os limites da decência e da lei? Não vou ficar aqui discutindo com quem tem preço tão baixo assim. Vou acioná-lo na Justiça. É lá que vamos nos entender, meu caro Saulo.

Ao deixar a empresa, Márcio pensou em ligar para Roberto, mas sabia que o amigo não poderia lhe ajudar naquele momento. A coisa estava uma loucura na redação. Sempre foi assim, perto do fechamento da edição, era impossível falar com alguém que não fosse da redação e tivesse ligação direta com os materiais que seriam publicados. Andou mais um quarteirão, respirando fundo e sem saber o que fazer, pois tinha claro que sairia da cidade, mas não daquele jeito, enxotado feito um cão sarnento. Novamente as recomendações de Tarsila remexendo dentro do cérebro. Ligou para Angélica.

– Alô! Márcio. Desistiu de ir embora?

– Sua filha de uma puta! Você comprou o apartamento em que eu morava e mandou lacrá-lo e jogou minhas coisas num depósito, como se fosse tralhas de um escravo. Por que você fez isso comigo, hein? Depois que eu praticamente joguei a minha vida fora para tirar o seu irmão da sarjeta. Olha só. Você e sua família me foderam completamente. Agiram como escravagistas. Vou resolver isso do meu jeito. Boa tarde.

Antes que Angélica pudesse falar alguma coisa, Márcio cortou a ligação, desligando o aparelho. Já tinha colocado o que estava na goela engasgado. Era melhor se acalmar, pois se fizesse alguma coisa além de um agir racional visando um fim coerente, poderia terminar atrás das grades. Chegou ao jornal e procurou o proprietário que, ao ver o jornalista foi direto.

– Não quero nem conversa com você. Quem te paga é aquela arquiteta maluca. Converse com ela e somente depois apareça aqui. Hoje ela e a manhã armaram o maior barraco na minha sala. Acho que deve ser por conta do teu pinto. Acham que você é um negão de pinto de mel. Não é possível. Aquele mulherão te defendendo. O que você fez para ela? Não responda. Pode sair daqui. E vá trocar de roupa. Esta com essa mesma desde ontem. Vai por mim. Mulher apaixonada e não correspondida transforma a vida do caboclo num inferno. Esse é o seu caso? Resolveu queimar a rosca ao invés de dar a ela o que mais deseja?

Quando Márcio ia dizer algo, o dono fez um movimento para ele deixar a sala. Ao sair foi procurar Roberto, mas foi informado que ele estava cobrindo uma coletiva com o prefeito. “-Parece que a família daquela bacana, com que você anda se encontrando, construiu uma ala inteirinha no hospital da cidade e prometeu recursos para ampliação dos leitos em UTI”, lhe informou a secretária.

“O que fazer agora? Não posso ficar aqui no jornal esperando ele voltar. João Marcelo me esfolaria vivo. E vai que aquele pessoal aparece. A família de Angélica é capaz de mandar os seguranças sumirem comigo. É meu caro, foi mexer com doido sem ter a correta camisa-de-força e acabou amordaçado pela família dele”, pensou Márcio que já saia do jornal.

Mas não conseguiu andar 50 metros quando viu um dos carros de Angélica parando bruscamente no meio da rua. Ela desceu e já foi falando, entre os dentes, para não chamar muito atenção.

– Entra no carro rapidinho e sem conversa fiada.

Márcio olhou para ela e viu que havia um outro carro que acabara de encostar no lado contrário da rua. Percebeu que quem estava no volante era o “amigo” Rodolfo. Fez menção de não dar ouvidos, mas percebeu os olhos dela estavam avermelhados.

– O que a senhora quer comigo?

– Entra no carro e pronto. Não estamos numa reportagem em que você faz as perguntas. Só te peço: entre no meu caro agora.

O repórter, entre assustado e querendo seguir em frente, percebeu que Rodolfo pensava em sair do carro. Melhor ir com a madame do que dar um show ali no meio da rua e de noticiador, virar o noticiado. Estava ficando cansado de ser o centro das atenções. Queria voltar a ser aquele medíocre repórter de redação.

Entrou no veículo e Angélica saiu em alta velocidade. Enquanto ela fechava todos os vidros, Márcio foi falando, mas a arquiteta foi incisiva, inclusive gritando com ele.

– Você quer calar essa porra de boca e me escutar? Caralho! Você acha mesmo que eu ia ferrar com a tua vida, depois de ter me auxiliado a recuperar o meu irmão? Tu és burro? Ou está treinando?

– Olha aqui moça. Ninguém grita comigo não. Você já me humilhou, me ofendeu, me agrediu. Não acha que é muita porrada para um cara só aguentar nesse curto espaço de tempo que nos conhecemos. E não me venha com desculpas. Seus estoques acabaram.

– De fato, eu comprei o seu apartamento sim. Mas para te dar de presente, caso trouxesse meu irmão de volta. A vida de uma pessoa para quem a ama vale muito mais do que isso. Se você me pedisse o Sol eu daria um jeito de dar-te justamente porque fez o que ninguém conseguiu, entrar na vida e na mente atormentada do meu irmão e tirá-lo de lá. Mas as coisas foram sendo atropeladas e eu confesso que fui precipitada em ter levado minha mãe lá hoje pela manhã e foi ela quem subornou o dono da imobiliária para te deixar na rua, já que não conseguiu a sua demissão.

Ao dizer isso, Angélica encostou o carro próximo a calçada e desabou sobre o volante do carro. Chorou copiosamente de soluçar e dizia que não estava aguentando mais a pressão. O mundo dela tinha virado de cabeça para baixo desde que ele, Márcio, tinha resolvido escrever uma matéria sobre as sandices do irmão. Antes ela acreditava que Amadeu voltaria ao normal, num estalar de dedos, mas ao vê-lo naquela manhã, percebeu que a coisa era mais séria do que pensava. E a única pessoa em que ele confia tinha uma ideia fixa de sair da cidade.

– O que você acha que dá para eu fazer Márcio? Minha mulher foi para a Alemanha e até agora não me mandou um recado. Ligo e o celular dela está desligado. Mando mensagens, todas voltam. Amadeu está completamente desiquilibrado, meus pais são racistas e com certeza se ficarem perto do meu irmão ele só tende a piorar. E você com essa conversa de que vai embora, vou sair dessa maldita cidade, está me dando nos nervos. Não percebeu ainda que eu preciso de sua ajuda, de sua amizade. Eu não vou dar conta sozinha.

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