Olhar Crítico

Desafio

Começo meus aforismas dominicais recuperando um curso que fiz no IFCH (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas) da UNICAMP. A disciplina foi ministrada pelo sociólogo e professor Octavio Ianni (1926-2004) e versava sobre a globalização e os problemas sociais advindos dessa prática capitalista. No primeiro dia de aula, o docente desafiou todos os alunos a apresentarem uma saída para as consequências da internacionalização da vida ativa na polis. Os discentes tinham que enveredar pelos campos metodológicos apresentados por Karl Marx (1818-1883); Max Weber (1864-1920) e Emile Durkheim (1858-1917) entre outros estudiosos dos fenômenos sociais. Foram seis meses de intensos trabalhos, leituras e análises das diversas realidades sociais em vários pontos do orbe.

 

Aulas

Durante os encontros semanais, o professor desafiava cada um dos pós-graduandos a apresentar suas observações e olhares sobre o mundo que estavam estudando. Em alguns momentos, Ianni dispensava os futuros cientistas sociais de assistir as aulas na semana seguinte, entretanto, as reuniões continuam cheias, pois o desafio era instigante e as respostas tinham que estar relacionadas ao projeto de pesquisa de cada um. O meu trabalho objetivava entender a influência do pensamento positivista no Exército Brasileiro que derrubou a monarquia na madrugada de 15 de novembro de 1889, instalando em seu lugar a república cheia de falhas como a que temos hoje em pleno século XXI. As lacunas apresentadas no final do Brasil Oitocentista ainda não foram preenchidas por leis que dessem conta de minimizar, por exemplo, as desigualdades sociais oriundas de um país colonial.

 

Solidariedade

E foi justamente nesse ponto que encontrei uma saída para as mazelas sociais provocadas pelo capitalismo, em sua escala global, que me permitia entender os limites e fiascos que uma proclamação da República feita pelo alto provocou em nossa sociedade. Se a República foi fruto de diversos problemas, entre eles, a questão servil, posteriormente à sua instalação o novo regime não foi capaz de equacionar as querelas e os resquícios de mais de 300 anos de escravismo. Sendo assim, creio que para se equacionar coisas que ainda se arrastam depois de mais de um século da publicação da Lei Áurea, faz-se necessário o advento de uma ética racional de solidariedade a partir da ideia defendida por Immanuel Kant (1724-1804), segundo a qual o ser humano deve agir de maneira que sua ação seja universalizada. Desta forma, penso que o indivíduo aprende isso através das relações sociais em seus processos de socialização primária e secundária.

 

Educação

No que diz respeito à esfera secundária, isto é, da educação oferecida pelas instituições de ensino, sejam elas na esfera privada ou pública, entendo que as coisas estão acontecendo e neste sentido é que parabenizo a direção do Colégio Futuro em Penápolis. As felicitações se estendem à equipe gestora, aos colaboradores no âmbito técnico-administrativo e pedagógico em virtude da organização de um evento realizado pelos estudantes daquela unidade. O escopo foi estimular no corpo discente o espírito de solidariedade, auxiliando às famílias que se encontram em situações de vulnerabilidade em nossa cidade. O projeto arrecadou mais de 1200 litros de leite, bolachas e macarrão entregues ao Fundo Social de Solidariedade de Penápolis. Quem nunca sentiu o vácuo estomacal lhe visitando enquanto não há alimento para ser preparado, talvez não saiba o significado desse programa da escola.

 

Ética …

Não é papel somente da escola desenvolver nos estudantes um espírito ético e solidário para com os demais seres humanos, mas sim de todos. É muito comum ouvirmos as pessoas dizerem que sempre foi assim, portanto, não há o que fazer. Entendo que se o homem continuar pensando desta forma e agindo segundo essa abordagem, então, todos estaremos na lona, antes mesmo de entrar no ringue da vida, objetivando a melhoria da qualidade de vida de todos. Sempre me recordo de uma música do compositor penapolense, Cido Malta, em que ele enfoca a vida de São Francisco de Assis e Clara de Assis [Chiara d’Offreducci]. Penápolis é uma cidade extremamente franciscana e quem conhece a vida do “Pequeno Cisco” que abriu mão de tudo para ajudar seus semelhantes desafortunados na Assis, longínqua cidade italiana da Idade Média, entende muito bem o que significa desenvolver em nossos alunos atitudes objetivando ações solidárias em que todos são contemplados: quem doa e quem recebe.

 

Racional …

Como apontei no meu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) na em meados dos anos 90 na Unicamp, creio que estamos no caminho para o desenvolvimento pleno de uma ética racional de solidariedade em que as pessoas compreendam que, se podem, dentro de suas possibilidades, ajudar o ser que tem frio, é preciso que concretizem isso, pois devemos sempre fazer ao outro aquilo que desejamos que façam conosco. Portanto, nunca ofertarmos espinhos, se podemos doar rosas, sonhos, estrelas e sermos mais solidários com as pessoas que se encontram em infortúnios. Há um olhar que considero significativo: “se educarmos as crianças, não precisaremos, no amanhã, punir o homem”. Então a educação e os demais processos pedagógicos têm essa objetividade: preparar o cidadão do Futuro com cidadania plena.

 

Temperatura

E ao que tudo indica, conforme os entendidos em climatologia, o frio nos visitará em breve, coisa de um dia e é preciso entender que o corpo elimina calor para se manter aquecido. Neste sentido, então quando dormimos, os cobertores têm essa função: conservar o calor disponibilizado pelo organismo humano. Parece-me que em virtude disso, uma alimentação balanceada e riquíssima em nutrientes ajuda nesse processo metabólico – me corrijam se eu estiver errado -, inclusive a ingestão de caldos e outros pratos, como por exemplo, a feijoada – cuja origem é lusitana e foi modificada pelos escravos africanos – que caiu no paladar dos brasileiros a ponto de todos os sábados encontrarmos na cidade vários estabelecimentos que ofertam a iguaria.

 

Feijoada

Objetivando atender esse gosto popular é que os diretores da Igreja do Nazareno de Penápolis promoverão no próximo sábado, 24, a tradicional feijoada. É a segunda vez em dois meses que a instituição realiza o evento, justamente porque a primeira obteve sucesso, deixando todos com aquele gostinho de quero mais. O objetivo é angariar recursos para a construção da sede da organização religiosa. A entrega da iguaria luso-africana acontecerá na avenida Marginal Maria Chica, 1695, das 12h às 14h. São os meus olhares para este domingo. Na próxima semana abordarei questões alusivas à manutenção de pessoas em sistema análogo à escravidão que a polícia civil de Penápolis descobriu no transcorrer da semana que terminou ontem. gilcriticapontual@gmail.com, d.gilberto20@yahoo.com,   www.criticapontual.com.br.

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