Olhar Crítico

Pandemia

Começo meus olhares deste domingo destacando o que considero uma visão obtusa da existência social, quando as pessoas observam apenas o âmbito econômico em detrimento da vida, como se a circulação de mercadorias e pessoas transformadas em objetos de valores, portanto, passáveis de troca, fossem mais importantes do que o existir na expressão corporal. Interessante notar que sem os sujeitos sociais, o universo econômico e monetário não passaria de mera abstração. Desta forma, se recuperarmos a história recente do país, por exemplo, na parte que diz respeito às pandemias e outros problemas crônicos no campo da saúde, verificar-se-á que não se valoriza e nem se potencializa a vida humana, contudo, o Brasil segue como um dos países mais desiguais do mundo. Quando se discutia o fim do escravismo, se falava que a economia não suportaria o fim do cativeiro.

 

Óbitos

Pois bem! Posto isso, objetivo aqui tecer algumas linhas, tendo como escopo enfocar uma opinião que li numa rede social, na qual o signatário indicava o reduzido número de óbitos em Penápolis para justificar a abertura do comércio, ou seja, da circulação de mercadorias e pessoas e, de quebra, o dinheiro, visto aqui como “mercadoria” principal que compra sujeitos e status social. Mas por que será que a cidade não registrou tantas mortes assim, sendo que o primeiro caso de contaminação pelo covid-19 já provocou o óbito, além de ser importado? Até o momento em que eu escrevia essas linhas, a cidade havia registrado 76 casos. Entendo que o trabalho preventivo realizado é digno de nota, inclusive o prefeito seguindo as diretrizes traçadas pelo governo paulista. Ponto para ele e pronto! Desta forma, me parece que os gazeteiros deveriam analisar friamente as questões envolvendo a problemática.

 

Vermelho

O primeiro ponto que ressalto aqui é que a cidade está na faixa vermelha como o resto da região, contudo, não é porque Penápolis tem número baixo de óbitos que as autoridades e as pessoas devem relaxar no que diz respeito à prevenção e o isolamento social. Outra questão que deve ser levada em conta são os números de casos em cidades da comarca, cujos moradores visitam Penápolis para realizar suas compras. Lembrando que até pouco tempo atrás, o registro de casos estava em 23 e rapidamente chegou à sétima dezena. Claro que é preciso se atentar para todos os lados da peleja pandêmica, entretanto, creio que a vida vale mais do que qualquer coisa. Então, o que fazer em situações como a que a sociedade brasileira vem passando, e a Terra de Maria Chica não fica de fora?

 

Espinhoso

Claro que, assim como debater política, religião e futebol requer dos contendores uma dose muito grande de razoabilidade e conhecimento, essa temática enfocando o universo da economia em tempos pandêmicos também é para lá de espinhoso, exigindo de todos nós uma “maioridade crítica”, sendo necessário inclusive que os litigantes deixem suas esferas sociais, econômicas e os locais de onde estão falando para analisar friamente o quadro.  O contexto em que país vive desde a crise de 2008 é complexo e paradoxal, pois muito se acreditou que finalmente o Brasil deixaria o campo das nações emergentes ingressando no bloco dos países do chamado Primeiro Mundo [desenvolvido]. Mas como isso seria possível com a existência do atual quadro social? Seria possível a uma sociedade chafurdada no escravismo e na não valorização do trabalho chegar a algum ponto diferente do atual momento? Parece-me que essas são interpelações significativas.

 

Debates

Outra abordagem que os debatedores deveriam se atentar é para a questão envolvendo o universo financeiro: por que os recursos liberados pelo Governo Federal tardam em chegar ao caixa das empresas que precisam quitar os salários de seus servidores? Gritou-se contra o Legislativo e o Judiciário, mas não observei as mesmas vozes se levantarem contra a situação calamitosa em que muitas empresas se encontram e o dinheiro liberado pelo governo central empacado nos encanamentos do sistema financeiro nacional. A mídia, construída por profissionais sérios sem questiúnculas ideológicas, vem apresentando farto material sobre esse assunto, todavia, o silêncio é sepulcral. Por que será?

 

Literatura

Deixando essas pelejas para outro momento, chamo atenção para o universo literário, mais especificamente para o mundo da escrita. Esse universo tão simples, porém, complexo para aqueles que não se tornaram leitores, ou se recusam a passar momentos aprazíveis em companhia de um livro, romance que ao seu término, deixem questões para aqueles que acabaram de lê-los. Por exemplo, O pensador inglês Francis Bacon, “1°. Visconde de Alban” (1561-1626), em sua obra Novum organum coloca questões fundamentais a partir do que ele chama de ídolos: a) da tribo; b) da caverna; c) da praça pública e d) do teatro.

 

Tribos

De acordo com o pensador inglês, idolos das tribuos associam-se a ideia antropomórfica da natureza. Bacon entendia como inverídica a afirmação, segundo a qual, “o homem era a medida de todas as cosias”. Para ele, cada coisa tinha sua estrutura natural que poderia ser compreendida a partir da empíria, ou seja, da experiência concreta. Desta forma, a existência corporea consistia em compreender a natureza, lhe atribuindo valorações especificas. Há outros três níveis, mas vou deixá-los para os próximos aforismas, já que o momento é para tentar entender como seria o mundo sem literatura.

 

Viagem

Para o escritor e professor de literatura compada da Universidade Harvard, Martin Pucher, se não houvesse a literatura, dificilmente o mundo seria pensado. Sem ela, diz ele, “nosso sentido de história, da ascensão e queda de impérios e nações, seria completamente diferente. A maior parte das ideias filósoficas e políticas nunca teria existido, ou teria sido esquecida, porque a literatura que deu origem a elas não teria sido escrita. Quase todas as crenças religiosas desapareceriam junto com as escrituras nas quais foram expressas. A literatura não é apenas para os amantes dos livros. Desde que surgiu, há 4 mil anos, ela moldou a vida da maioria dos seres humanos que vive no planeta Terra” [O mundo da escrita: como a literatura transformou a civlização. São Paulo: Cia das Letras, 2019, p. 9-10]. Por hoje é só. Na próxima semana, trarei, quem sabe, outras abordagens do universo da política local. Para hoje convido-vos, meus caros leitores, a embrcarem comigo numa viagem pelo mundo literário, por exemplo, na proposta de Virginia Woolf(1882-1941) atavés de seu romance Mrs. Dalloway. E-mail: gilcriticapontual@gmail.com. www.criticapontual.com.br

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