Olhar Crítico

Conscientização

Recordo-me que na história religiosa do ocidente, principalmente no campo do credo católico, há um santo conhecido pela sua descrença quando ainda andava com um certo galileu revolucionário pelas terras humanas do Oriente Médio. Chamava-se Tomé, e ficou conhecido como São Tomé aquele que precisa ver para crer. Daí surgiu o adágio “como São Tomé, só vendo para crer!” Pois é, em tempos de pandemia e isolamento social, creio que existem aqueles que, por não terem necessidade perambulam à toa pelas ruas da cidade, tentando passar um recadinho, segundo o qual, não acreditam no que está acontecendo – “só morrendo para acreditar!”. Talvez se comportem assim porque o vírus ainda não atingiu algum de seus entes queridos. Pois bem, pelo que tenho observado há muitas pessoas com essa mesma visão, o que é lamentável, pois o país é o epicentro da problemática de saúde pública, sem que os brasileiros aceitem os fatos, contra os quais não se tem argumentos.

 

Ladainha

Não adentrarei aqui na velha ladainha do econômico, da liberdade e de questões constitucionais, justamente por entender que o brasileiro não é dado a medidas preventivas, daí o nosso universo ser muito mais o da remediação do que realmente da antecipação às epidemias com adoção de medidas necessárias. Por exemplo, embora Penápolis seja modelo no campo do tratamento do esgoto e demais saneamentos, ainda é possível flagrar pessoas jogando lixo orgânico em terrenos baldios e olha que são pessoas ditas conscientes. Se isso é fato, o que dizer então daqueles que não receberam as devidas instruções? Pois bem! Sabe-se que medidas simples podem ser uteis em diversos momentos do existir. Por exemplo, por que ainda não se extinguiu a dengue dos limites territoriais brasileiros? Por que não é comum encontrarmos com os batráquios aqui e ali? Interessantes interpelações.

 

História

É sempre bom relembrar que em meados dos fins do século XIX, quando o Brasil aventava a possibilidade de eliminar o trabalho escravo, defensores do sistema vociferavam que se tal medida fosse adotada, a economia brasileira iria quebrar, justamente porque era escudada no não pagamento do trabalho alheio. Isso são fatos, contra os quais não se tem argumento, entretanto, uma interrogação que não quer se calar precisa ser registrada aqui: quanto daquele pensamento pretérito encontra-se no presente, nesses tempos pandêmicos? Perguntado de outra forma: por que o brasileiro não valoriza o trabalho alheio? Por que acha que tudo tem que ser pago com valores irrisórios? Questões só para que o cidadão pense com acuidade neste domingo outonal de maio.

 

Pandemia

Outro dia fui interpelado pelas redes sociais o que acho sobre a situação pandêmica em Penápolis. Afirmei que tem dois pontos a serem ressaltados e aí cada um entende da forma como lhe aprouver, respaldando suas ideias através do que acha melhor, entretanto, trata-se de vidas humanas, mas o que são elas numa sociedade escudada no trabalho escravo? Universo em que o racismo campeia e não estou dizendo que as pessoas não deveriam ser o que são, mas pelo menos que não fossem hipócritas. Mas o que é não ser hipócrita, quando não se enxerga a vida do semelhante diante de si? Como construir um mundo no qual as regras de solidariedade, mesmo que desenvolvida racionalmente visando um fim, fosse construída pelos integrantes deste universo que se pretende harmônico?

 

Individualismos

“Meu pirão primeiro”, diria o jargão popular e o mais interessante é que expressões desse tipo são entoadas por pessoas que se arrogam o direito de serem cristãs. Mas aí já não é comigo! Entretanto, creio que para se pensar em fim da violência, antes precisa-se tratar com muita acuidade os casos gritantes de desigualdade social e a cidadania existir de fatos para todos e não apenas na letra fria da lei. Mas a desigualdade, o racismo existe no mundo alheio à própria casa, que não é a grande, onde os sujeitos se comportam como se fossem escravagistas. Alguns dos que me leem podem até dizer que se trata de mera reclamação, contudo, se cada um abrir os vidros de seu automóvel e olhar com mais acuidade o mundo ao seu redor, saberá o quanto contribui para as mazelas. Mas tudo bem, como se diz no jargão popular, “é tempo de murici, cada um cuida de si!”

 

Punições

Pergunto-me por que não vejo passeata pedindo abertura disso e daquilo? Será que são somente os homens endinheirados que estão pré-ocupados com seus negócios? E o trabalhador que pode ser duplamente punido: pelo vírus Covid-19 e pelo desemprego. Sim, porque o patrão alegar, no final do mês, depois de o seu empregado trabalhar os 30 dias, queda nas vendas, demiti-lo. Esse funcionário terá sorte se perder apenas o emprego e não for atingido pelo vírus. A minha admoestação reside no fato de que há exemplos em diversos pontos do país, – culminando com agressões físicas – indivíduos se recusando a usar corretamente a máscara. E quanto aos espaços definidos dentro dos estabelecimentos. O sujeito social não observa o distanciamento determinado pelas autoridades sanitárias.

 

Política

Por que será que as pessoas têm tanto medo de se manifestar politicamente sobre os vários aspectos da vida ativa na cidade? Será que o motivo é o medo de se indispor com alguém ou desconhecimento na matéria em tela numa discussão? Pode se pensá-la a partir da perspectiva individual, ou seja, aquela em que o Estado lhe representa e deve satisfazer todos os seus interesses na condição de pagador de impostos, ou naquela que objetiva o bem comum, e aí, não se pode permitir que o “meu pirão primeiro” deve prevalecer em tempos de pandemia. Entretanto, nem pensar em renda mínima. Os tributos que este paga não devem ser usados para minimizar o frio daqueles que não tem cobertor, mas no domingo deve-se ir à igreja, pois é o dia do Senhor.

 

Interpelações

Será que é tão difícil partilhar o que se tem com quem não tem nada em tempos pandêmicos? Por que o Estado não faz a parte que lhe cabe? Por que será que os representantes de uma coletividade que se recusa a discutir política sempre tem recursos para acudir o sistema financeiro, mas não para aplacar o vácuo estomacal de quem passa fome? Recordando um pouco a História do Brasil: também foi assim quando do fim do escravismo. Não havia projeto social e econômico para integrar o ex-cativo no mundo do trabalho assalariado, mas existiam recursos para bancar a vinda de imigrantes europeus. Isso é fato ou estou equivocado? Por que o dinheiro, que está nos bancos para financiar folha de pagamento dos servidores privados, ainda não chegou a quem de direito: o pequeno empresariado? –E-mail: gilcriticapontual@gmail.com. www,criticapontual.com.br.

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