Olhar Crítico

Reajuste

Será que haverá uma grita por conta do reajuste de quase 5% nas contas de água oferecida pelo Daep e o mesmo percentual na coleta de esgoto que a autarquia trata? Claro que, como em tudo neste país, haverá aqueles que reclamarão, mas os sujeitos sociais que conhecem outras paragens brasileiras entenderão o aumento levando em conta a qualidade dos serviços que o Departamento de Água e Esgoto de Penápolis oferece a coletividade. Sendo assim, sigamos em frente, pois a mercadoria que é entregue todos os dias nos imóveis dos mais de 65 mil habitantes é de qualidade!

 

Mordaça

Deixando o aumento no custo do fornecimento de água aos penapolenses para outro momento, me concentrarei no que considero uma arbitrariedade – para não dizer outra coisa – dum governador nortista mandar recolher livros de literatura brasileira das bibliotecas municipais daquela unidade federativa. Tudo bem, vão dizer que o tal gestor – afinando com o que há de mais retrogrado no Brasil nessa segunda década do século XXI – retrocedeu e cancelou tal recolhimento. Em minha singela opinião, independentemente da decisão tomada posteriormente, o que importa é o que se pretendia fazer antes que o ato atroz fosse colocado em prática.

 

Medievalismo

Num momento em que os educadores estão numa árdua batalha para transformar os estudantes em leitores, aparece um gestor público estadual com comportamento medievalista e tenta jogar o conteúdo duma betoneira em cima do trabalho que muitos vem realizando há anos, simplesmente porque quer ficar bem na fotografia dum outro governante. Essa situação me reporta um fato inusitado aqui em Penápolis quando um político, no calor da inauguração duma unidade educacional de ensino superior, atabalhoadamente abraçou uma candidatura que, no final do pleito, foi a derrotada. Até aí, tudo bem, coisas da política, mas agora tentar vetar o acesso de estudantes carentes aos livros, é coisa de pensamento medievalista.

 

Eis as memórias

Só para não ser demasiadamente chato, pergunto-te meu caro leitor, o que há de ultrajante num romance do porte de Memórias póstumas de Brás Cubas, composto no final do século XIX, por um dos maiores cânones da Literatura de Língua Portuguesa e mundial, Machado de Assis (1839-908)? Deste romance eu destaco, nessas pequenas linhas, duas passagens significativas para uma correta ou, pelo menos, uma tentativa de compreensão do que o enunciador pretendia ao morrer, tornando-se escritor. Portanto, eis a primeira dúvida romanesca: são memórias dum enunciador que morre ou um defunto que, depois do óbito, se torna um contador de histórias. Mas quero destacar o capítulo IV – Ideia Fixa, que já reportei a ele aqui várias vezes, portanto, dispensa comentários.

 

Vergalho

Em outro capítulo, que leva como título a designação deste aforisma, o enredo traz a história dum africano alforriado que acaba comprando um escravo e é impiedosamente surrado pelo seu dono por qualquer falta que cometa. Evidenciando aquilo que o sociólogo Florestan Fernandes (1920-1995) apontou em várias de suas obras: alforriado o escravo, o passo seguinte era o de libertar o escravagista do próprio sistema que ajudou a manter por mais de três séculos! Observação que é tão válida hoje, quanto na época em que foi confeccionada. Desta forma, o capítulo do romance machadiano deixa claro que a estrutura social mantida por mais de trezentos anos havia corrompido até mesmo os parceiros africanos de infortúnios. Sendo assim, a interpelação que fica é: o que há nessa enunciação que possa ter acionado o gatilho reacionário daquele governador?

 

Marcel Proust

Tenho aqui outras obras de significativa importância que, ao serem lidas, levarão seus leitores a lugares nunca dantes navegados, conforme o escritor francês Marcel Proust (1871-1922) nos diz em seu livro Sobre a Leitura. Segundo ele, os livros permitem a abertura de portas que sem eles, estas não se abririam. Percorrendo as linhas daquele pequeno libelo, é possível compreender porque nos momentos em que vivemos, esses governantes imbuídos de certas truculências, atacam justamente os mecanismos que possibilitem aos seres humanos se desvencilharem das amarras que os atam ao medievalismo, reproduzindo a condenação do titã Prometeu.

 

Apocalíptico

Se o atroz ataque a Memórias póstumas de Brás Cubas foi contumaz, entendo que todos os que apreciam as belas letras brasileiras deveriam percorrer mais uma vez aquelas páginas para tentar decifrar o que tem lá que tanto apavorou autoridades num mundo pós-moderno, contudo apocalíptico. Sim! Apocalíptico, mas não na condição de revelação dos fins dos tempos, mas o próprio fim da epopeia humana na terra e qual é o motivo do desaparecimento dos sujeitos sociais do orbe terrestre? A própria ganância que os nossos chefes dos executivos, dos integrantes dos legislativos e judiciários se ocupam em perpetuar.

 

Resistência

Diante de tais atrocidades, o que resta a indivíduos como este que vos escreve, meus caros leitores? Resistir sempre e ler mais, cada vez mais, pois pode haver um dia em que o ato da leitura será tipificado como crime de lesa majestade. Mas enquanto os incautos e seus asseclas que governam as paragens mais recônditas deste país, crendo que são seus feudos particulares, eu vou ali na minha estante pegar um romance que já li, mas quero lê-lo novamente: Esaú e Jacó, de Machado de Assis e depois outro e outro, quem sabe um Retrato do artista quando jovem, de James Joyce, ou melhor, Dr. Frankenstein, de Mary Shelley. Mas são tantos que não sei por onde começar, meu caro leitor. Talvez possa ser pelo romance A sibila, de Agustina Bessa-Luís ou, quem sabe, O nome da rosa, de Umberto Eco.

 

Desafios

Para os educadores brasileiros, independentemente deste ou daquele ser adjetivado erroneamente pelos asseclas daquele que ocupa o poder central em Brasília, é uma tristeza tal proeza do governador rondoniense Marcos José Rocha dos Santos – prefiro não usar a patente militar que o outorga. E o mais complicado é que esse cidadão-governador não está lá por um ato autocrático, mas sim democrático, o que evidencia o quanto o brasileiro é despolitizado, deixando claro que ainda temos um longo caminho a percorrer em direção à Pátria que todos queremos. Bom domingo aos meus leitores. E-mail: gildassociais@bol.com.br. gilcriticapontual@gmail.com. www.criticapontual.com.br.

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