Mãos

Gilberto de Assis Barbosa dos Santos  

Estava no meu assento predileto. Aquele que uso todos os dias quando pego o metrô para ir de casa para o trabalho e também no trajeto inverso. Entretanto, numa manhã, que não posso precisar exatamente o mês, mas também não importa, meu caro leitor, pois o que significa aqui, e, penso ser interessante para nós dois, foi o que se passou naquele dia em que o Sol resolveu nos visitar mais cedo, direcionando aos meus olhos uma bela canção me saudando com uma nova jornada. Fiz tudo apressado, mas com certo lirismo, pois tinha a sensação de que os raios solares me tocavam o interior, ou melhor, meu coração a partir da janela da cozinha, onde, sozinho, degustava a minha fumegante xícara de café.

Dentro do transporte coletivo, como sempre fazia, estava com a cara metida num livro, que coisa bela aquela enunciação que, ajudada pelo sacolejo da locomotiva sobre os trilhos, me transportava para as ondas do mar enquanto assistia uma bela sereia me acenando, me forçando a lembrar do ser mitológico que tentara Ulisses em seu périplo para resgatar sua amada das garras do inimigo.

Enquanto a ficção me conduzia à Grécia Antiga, no mundo concreto, enquanto ficava um globo ocular no texto, o outro olho, o da direita vislumbrou uma mão que, firmemente segurava a alça de metal que protege o banco que estava à minha frente para dar firmeza ao corpo de sua dona. Bastou aquele olhar naquela mão para saber o que se passou n’alma de Ulisses quando escutava o canto da sereia. O veículo parou na minha estação que era o posterior àquela que a dona das mãos mais bela que já vi havia entrado. Fui embora pensando naquelas mãos que, com certeza, tinha sido bem tratadas por uma manicure. Dali para diante, olharia com mais acuidade essa parte da anatomia feminina para, quem sabe, vislumbrar um quanto d’alma que a proprietária era portadora. Não sei ao certo se conseguiria, porém, os poetas desde Homero, me ensinariam.

 

Gilberto de Assis Barbosa dos Santos, licenciado, bacharel e mestre em Ciências Sociais, editor do site www.criticapontual.com.br, autor do livro O sentido da República em Esaú e Jacó, de Machado de Assis; professor no ensino médio em Penápolis; pesquisador do Grupo de Pensamento Conservador – UNESP – Araraquara e membro do Conselho Editorial e Científico da revista LEVS (Laboratório de Estudos da Violência e Segurança) – UNESP – Marília; escreve às quintas-feiras neste espaço: e-mail:   gilcriticapontual@gmail.com, d.gilberto20@yahoo.com. www.criticapontual.com.br.

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