Sobras de um amor … parte III …

5.

 

O casal acordou com um chamado externo. O som do celular da arquiteta tocava insistentemente. “- Alô! Mãe! O que aconteceu”, perguntou Angélica à Eleanora.

– Ah filha! Você ainda não viu que horas são? Já passam das dez horas e queria muito conversar contigo, antes do pessoal todo chegar.

– Mas do que quer falar comigo?

– Estou com medo de ter descoberto o amor depois dos 50 anos!

– Isso é maravilhoso mãe! Eu achava que estava apenas impressionada com o Alexandre por conta do jeito todo formal, respeitoso e diga-la, militaresco dele para contigo.

– Quando você vem? Será que pode estar aqui daqui a meia-hora?

– Não sei, minha adorável amiga. Preciso acordar o Marzinho e ele tem todo um cerimonial para despertar. O homem parece que precisa levar um tranco para acordar. Mãe! Ele leva pelo menos uma meia-hora para se tocar que está do lado de cá.

– Era justamente esse tipo de parceiro que tu e seu coração precisavam. Te tirar da tomada. Mas deixe-me cuidar dos preparativos para o almoço enquanto aguardo vocês.

– Tudo bem, mãe. Daqui a pouco estaremos aí e vamos falar desse amor repentino depois dos 50!

Assim que desligou o telefone, Angélica percebeu que o marido estava acordado e já foi perguntando que história era aquela de que ele era um expresso tartaruga. Ao usar essa expressão, a esposa cai na gargalhada porque mentalmente fez a comparação. Ela, dinamite dos olhos esverdeados, e o esposo um expresso tartaruga. “- Realmente amor, com essa sua colocação, entendi porque você é lindo e especial. Consegue parar o seu mundo de marcha-lenta para fazer eu ter espaço nele. O Amadeu vivia alucinado, correndo, querendo encontrar a Tarsila dentro de um copo de uísque e tu aparece e desacelera tudo, colocando a amada entre os braços dele”.

– Anda! Não me enrola e me explique.

– O nosso amor vai se explicando durante o nosso casamento. Agora ande, vamos para a mansão, minha mãe quer conversar comigo. Acha que encontrou o amor com Alexandre. Pode isso?

– Claro que pode, principalmente se percebermos que o sentimento não brota do físico, mas sim a partir das relações estabelecidas por duas almas. E o espírito, como tu sabes, não tem idade, não tem sexo, não tem tonalidade de pele e não existe e pensa em dinheiro, mas apenas anseia em ser feliz quando se encontra com a sua outra metade, como dizia Platão no Banquete. Por isso é perfeitamente coerente, Eleanora, depois de baixar a poeira, o alvoroço e o desejo de ser aceita pelas pessoas que só a enxergavam como um caixa-eletrônico, encontrar esse sentimento em uma pessoa que não tem pressa para viver, como acho que deva ser o Alexandre.

Enquanto Márcio se arrumava para acompanhar a esposa naquele último almoço antes da tão sonhada lua de mel, Angélica se ocupava em separar certas transparências para a semana de férias com o marido. Ele a surpreende nessa ação, mas prefere não dizer nada, deixando ela pensar que não tinha visto nada. Como desde o casamento, os dois sabiam dessa desligada do mundo que seria o tempo que passaria na fazenda, já foram separando e arrumando algumas coisas que levariam.

“- Amor! Levamos tudo para o carro ou voltaremos aqui em casa para pegar nossas malas e roupas”, perguntou a empresária. O marido olha com todo o carinho para ela dizendo que poderiam retornar depois e apanhar a bagagem. “- Só não quero pegar a estrada no começo da noite. Se conseguirmos sair daqui perto das quatro horas, chegaremos lá antes do anoitecer e no momento em que o Sol estiver indo embora”, explicou Márcio.

Angélica chegou perto do esposo, o abraçando, dizendo toda sorridente. “- Nossa quanta poesia só para me dizer que é para voltarmos aqui e pegarmos a bagagem para a nossa lua de mel”.

– Se não quiser, eu não digo mais nada. Responderei de forma bem direta. Então peço desculpas por ser longevo.

– Você que pensa em mudar esse seu jeito de ser comigo e com o mundo. Não desejo dormir com um robô, com um homem que só pensa em sexo, dinheiro e poder. Quero estar sempre contigo, um ser poético, maravilhoso, que tem coisas dentro do coração para compartilhar com as outras pessoas e por tudo isso que és um homem mágico. Eu me sinto inteiramente feliz por receber o amor que emana de sua alma.

Depois de dar um beijo de pura felicidade no amado, Angélica o puxa pela mão. Deveriam estar a caminho da mansão. “- Teremos uma semana para dividir as nossas poéticas e os sentimentos que carregamos em nossas almas, minha paixão. Agora vamos atender a sua sogra que, ao que parece, virou adolescente e está apaixonada, contudo, acho que está com medo”, explicou a arquiteta fitando o marido com os olhos em tons esmeraldinos.

Dentro do elevador, Márcio sentiu toda a pulsão da esposa e o calor que estava passando pela sua mão. Pensou em dizer algo, mas optou apenas por ficar com o sentir, transmitindo à esposa a mesma energia. Ela notou e deu um sorriso maroto para o editor, ficando com o rosto afogueado de paixão. O esposo se aproximou do seu ouvido, sussurrando: “- Te amo de montão, minha paixão. Obrigado por tornar meus dias mais coloridos, com cores que não se encontram na vida material. Te amo hoje, amanhã e enquanto a eternidade durar e, se ela acabar, eu invento outra só para te amar novamente”.

A empresária encostou a cabeça no ombro do esposo e, como quem dizendo para si mesma: “- Obrigado Marzinho por me amar como sou”. Enquanto ela sussurrava isso, o elevador chegou ao térreo e o casal entra no carro, enquanto Márcio pede para a mulher não desistir do amor que sentem um pelo outro.

Deixaram o prédio e pouco mais de meia-hora estavam dentro da mansão. Enquanto todos ainda dormiam, Eleanora chamou a filha para a conversa. A arquiteta sentiu a mãe um pouco ansiosa e com os batimentos alterados. “- Nossa mãe! O que foi? A senhora me parece irrequieta. Tudo isso é pela paixão que está sentindo pelo Alexandre?”.

Antes de responder à filha, pede para Márcio a aguardá-la na sala e não falar com ninguém. “- Tudo bem Eleanora. Ficarei esperando”.

Já no escritório, antes usado por Jovelino, a matriarca abre o seu coração com a filha, explicando que tudo ia bem até Alexandre cismar que não daria certo entre eles por vários fatores, entre o fato dela ser branca e ele preto e o o dinheiro que ela tem. “- Eu lhe disse que a tonalidade da pele não me interessa. Faz 90 dias que alguém me fez enxergar que o valor de uma pessoa não está no fato dela ser negra, preta, indígena, homossexual, mas sim no caráter”.

– Ótimo mãe. Fico feliz pela senhora e sei que esses tempos aqui com Judith, pode ver e vivenciar isso. Mas por que o Lê cismou com isso?

– Ele fala que uma coisa é aceitar os filhos estarem casados com pretos, outra é namorar com um, ainda mais sabendo que os dois já passaram dos 50. Eu senti que ele traz coisas ali dentro do coração complicada de equacionar e eu sinceramente não sei o que fazer. Quero-o muito comigo. É disciplinado, coerente, mas parece que não quer atravessar o rio para me abraçar. Eu já fiz a minha parte, mas se ele não vier, ou eu recuo ou me afogo no rio.

– Mãe! A senhora me falou que ele é militar aposentado.

– Sim! É general de brigada. Foi promovido e logo em seguida indo para a reserva, como eles dizem. Pelo menos foi o que me falou e nem precisei consultar nada. Alexandre mostrou-me as fotos, inclusive toda a sua vida no Exército. Mas não é isso que me interessa, pois não são os galardões dele que me tranquiliza, mas a pessoa dele.

– Onde ele está agora mãe?

– Chegou cedinho e veio só para encerrar o que nem bem começamos. Mas não o deixei ir embora. Pedi um tempo. Queria conversar contigo, pois sei que ele está com o pé atrás por conta das tonalidades de nossas peles.

– Ele é solteiro, viúvo, separado com filhos?

– Solteiro filho. Entrou no Exército e se fechou para o mundo. Teve várias namoradas, mas por conta da farda não fixou com nenhuma. Dizia para si mesmo que não era a mulher com quem queria passar o resto da vida e, quando era possível, pedia transferência de unidade ou ia fazer cursos como de Guerra na Selva, ou coisa parecida.

– Mas ele foi embora ou está aqui na mansão?

– Aceitou esperar você chegar e depois me disse que vai embora.

– E se o Márcio conversar com ele? De repente ele se sente mais à vontade, se abrindo com o meu marido. Afinal, ele também levou umas porradas da senhora minha mãe.

– Não sei não filha. Não sei seu marido aceitaria e o que diria para ele?

Angélica informou à mãe que isso só seria possível se o editor soubesse a da história e aí sim, conversaria com Alexandre. Diante da anuência de Eleanora, Márcio entrou no escritório da matriarca e se predispôs a ajudá-la, mas não poderia garantir nada. “- Esse pessoal do verde-oliva costuma ser sistemático, porém, darei uma palavrinha com ele. Onde está”, perguntou o genro à sogra.

– Está na piscina. Não desejava ficar dentro da casa, porque tenho visita e ele não queria incomodar.

O editor se deslocou até onde o general estava. “- Oi Alexandre. Tudo bem? Que bom que estar por aqui”.

– Oi Márcio! Eu vim para resolver umas coisas pessoais com a sua sogra, mas deixa para lá. É um lance meu e dela e acho que ninguém deve se meter.

– Concordo contigo. Também não gosto de ninguém bisbilhotando a minha vida sem a minha autorização. Sou meio sistemático. Se quisesse que alguém soubesse do meu viver, publicaria um livro, faria um vídeo, sei lá, há tantas formas, mas sempre optei por ficar no meu singular universo.

Assim que Alexandre anuiu com a cabeça, Márcio perguntou a ele o que achava do casamento dele com a filha de Eleanora, a sua anfitriã. “- Não posso dizer nada, pois não o conheço o suficiente e nem a ela, portanto, entendo que o melhor a fazer é ficar no meu mundo”.

– Naquela noite em seu restaurante, minha esposa fez uma homenagem a você. Não sei se está sabendo, mas eu fiquei encantando.

– É! E que homenagem foi essa?

– General! O senhor viu que entrou no seu restaurante um casal de amigos que está grávido.

– Não precisa me chamar de general. Não estou mais no Exército. Agora sou civil, portanto, nada de senhor, o simples você já me deixa à vontade contigo.

– Eu e Fernanda, aquela amiga que ficou noiva do Ricardo, seremos os padrinhos da criança e coube a Angélica escolher o nome. Pois bem, ela olhou para a minha sogra e viu nos olhos dela um brilho especial que foi provocado por um certo militar da reserva.

– Você está de sacanagem comigo, moleque.

– Não! E por que eu faria isso? O que eu ganharia te sacaneando?

– Sei lá. Eu vejo o teu pessoal em torno de ti. Um paparico só. Até parece filho único ou quem sabe o filho de Eleanora. Mas prossiga, me desculpando.

– O filho de Roberto e Danisa, quando chegar a esse mundo, se chamará Alexandre. E sabe o porquê disso?

– Não faço a menor ideia, exceto o fato de ter o mesmo nome que o meu.

– Por que a minha sogra encontrou alguém com quem deseja passar o resto da vida dela. E olha que ela é osso duro de roer, andou me dando umas pauladas para eu não fugir do amor que eu sinto pela filha dela. Angélica é turrona, mas um coração belo. Tão belo que foi capaz de ler nos olhos da mãe o que ela vinha sentindo por um certo general.

– Meu jovem! Eu não acredito em você. Sei muito bem que tu és bom de retórica.

– Você tem toda a razão. Não necessidade de acreditar em minha pessoa ou em minhas palavras, mas não precisa ter medo do que está indo aí em seu coração. Eu amo de montão a minha esposa, mas às vezes, te confesso que tenho uns cagaços, mas quando estou com ela, nada mais importa.

– Sabe o que é? Tem uns muros que preciso derrubar e sei que foram construídos durante os mais de 30 anos nas Forças Armadas. Ela é branca, riquíssima e eu apenas um aposentado do Exército e preto.

– Bom. Como podes ver, eu também sou preto e sei que isso não vai mudar nunca. Nascemos preto e vamos morrer assim, bem como não conseguiremos sozinhos acabar com o preconceito racial existente nesse país, construído desde a Colônia. Não vem me dizer que não sofreu racismo durante esse tempo de verde-oliva, pois sempre há um sujeito que se acha melhor do que nós por conta da cor da pele e se estiver no comando, com certeza nos delegará as piores tarefas.

– Isso é verdade.

– Dona Eleanora fez alusão à cor de sua pele alguma vez nesse tempo que vocês se conhecem?

– Não! Eu quem fui falar e ela já sentenciou: minha filha é casada e muito bem com um preto. Meu filho morre de amores por uma preta e, aliás, quase perdeu os sentidos por conta dessa paixão que vem sendo realizada agora porque meu genro conseguiu o que muitos não imaginavam.

Márcio ficou em silêncio, enquanto Alexandre relatava a conversa. “- Ela me disse que podemos até não ficar juntos, mas com certeza a cor da minha pele não seria o motivo. Falou também que teve comportamento racista por um problema pessoal que, seu eu a deixasse entrar no meu coração, um dia me falaria. Você sabe qual foi a questão”, perguntou o general.

O editor observou bem Alexandre, sentenciando: “- Deixa ela te falar. Permita-lhe que o apresente a alma. Não se ocupe com os olhares ao redor, mas apenas com o que dona Eleanora sente por ti. Não tenha receio de amar e ser amado por uma branca. Há racismos em todas as partes, contudo, as pessoas escolhem ser assim ou diferente e sei que minha sogra não engrossa as fileiras dos racistas deste país, mesmo tendo muito dinheiro, mas não é isso que importa para ela e sim se tu a faz feliz.

Assim que Márcio terminou de falar, Angélica estava próximo dos dois, chamando-os para tomar café. “- Você também Alexandre. Estamos te esperando não só para o café como para o almoço. Depois eu e meu esposo sairemos em lua de mel e quero ter certeza de que minha mãe ficará em ótima companhia: do meu irmão, de minha cunhada e dum certo general que está com medo de amar uma civil”, provocou Angélica.

Ao ouvir isso, Alexandre entendeu porque a esposa de Márcio era chamada de dinamite dos olhos esverdeados. Percebeu como estava inseguro com relação ao mundo novo que via surgindo diante de si, desde que aposentou a farda. Deu um sorriso para a filha de Eleanora, seguindo o casal.

Ao chegar no interior da mansão, se deparou com a anfitriã meio aflita. Para acalmá-la, lhe transmitiu uma piscadinha, a deixando toda derretida. A filha percebeu e abraçou a mãe. “- Obrigada filha! Estava com um enorme cagaço de que esse general fosse um cagão e fugisse”, disse dando risadas.

Todos se sentaram na sala, aguardando o resto do pessoal acordar para que o café fosse servido. Lê do lado de Eleanora e Márcio e Angélica em outra poltrona. Foi Márcio quem puxou o assunto do restaurante do general, dizendo que gostou da comida. “- Estou pensando em criar, através de minha editora, um guia gastronômico da cidade e de outros municípios da região. Então, espero que os restaurantes de vocês dois sejam contemplados”.

– Meu caro Márcio. Estou apenas começando. Ainda não pensei em torna-lo um local para pratos específicos.

Angélica disse que sentia faltava de uma cozinha especializada em frutos do mar e outros pratos marinhos. “- Achei a ideia interessante, minha cara Angélica, mas acho que para ocorrer isso, o proprietário deveria entender bem e no meu caso, não sei nada sobre esse tipo de alimentação”.

Assim que Alexandre terminou de falar, a sala começa a receber a presença dos primeiros hóspedes de Eleanora que estavam prontos para a primeira refeição do dia. A última a aparecer foi Mariana quando todos estavam chegando à mesa. Durante a comensalidade, a maioria dos participantes conversou sobre tudo e o tema principal foi a lua de mel de Marzinho com Angélica e a relação de Esdras com Débora que havia acabado de chegar na mansão com os pais e Ricardo.

Terminado a refeição todos foram cuidar de ajustar as bagagens para partirem logo depois do almoço e Eleanora chamou Alexandre para conversar. “- Então! O que você decidiu? Fica comigo e vamos nos conhecendo e observando se podemos caminhar juntos de mãos dadas ou na condição de amigos”, perguntou a anfitriã.

O general movimentou a cabeça como dizendo sim e quando ia indagar algo, a matriarca já foi dizendo. “- Fique tranquilo. Não pedirei para morarmos juntos. Quero vivenciar plenamente a chegada do meu primeiro neto e desejo compartilhar esses momentos contigo e não precisamos dividir a mesma cama. E não me venha com essa conversa de racismo e isso e aquilo. Quem não gostar de você porque tu és preto, mande-os tomar no cu. Para ti o mais importante deve ser o que eu penso e sinto, bem como meus dois filhos, nora, genro e amigos. No casamento de minha filha, uma racista foi expulsa da festa que promovemos e isso já diz como as coisas funcionam por aqui.

– Nora, eu peço desculpas por ter lhe deixado com dúvidas e eu estava propenso a desistir de seguir em frente contigo, mas gostei da conversa que tive com o seu genro que, lá do jeito dele, me pediu para dar uma chance ao meu coração. E você sabe por que ele fez isso?

– Esse meu genro é tinhoso. Turrão e conheceu minha Angélica justamente num momento complicado da vida dos dois, mas ela achou que poderia atropelá-lo e eu também. Mas ele não baixou a guarda, porém, não reagiu a nenhuma das ofensas, pelo contrário, agiu. Esfregou em nossas caras que não estava nem aí para o que éramos ou tínhamos, pois ele não deixaria de ser o que é para se dobrar aos nossos mandonismos.

Alexandre continuou ouvindo. “- Ele chamou minha filha de egoísta, arrogante e que ela podia pegar aquele comportamento e enfiar no rabo e mandou ela as favas. Para que foi fazer isso? Angélica ficou furiosa e quanto mais corria atrás dele, mais Márcio fugia. Quando descobriu que estava apaixonado por ela, foi se esconder numa cidadezinha lá no Pontal. Minha filha foi atrás dele, mas precisou confessar que o amava, se não ele não voltaria, mesmo caindo de amores por Angélica. Faz uma semana que estão casados e hoje é que sairão em lua de mel. O resto você saberá convivendo conosco.

Pela primeira vez Alexandre abraça Eleanora com a leveza da alma e lhe dá um beijo apaixonado, sendo correspondido, mas o que o casal não sabia é que tinha um vate escondido observando tudo e, feito moleque, tirou o sarro. “- E o general venceu mais uma guerra. Acaba de conquistar o coração de minha amada mãe Eleanora”, disse Amadeu gargalhando, enquanto a matriarca ameaçou correr atrás dele, mas foi contida, entre risos por Alexandre.

O casal deixa o escritório abraçado, enquanto Angélica vem conversar com a mãe e o general caminha em direção ao local em que os homens estavam. Foi como se buscasse proteção junto aos seus. Foi Márcio quem, sorrindo lhe disse: “- Meu general, te desejo mil felicidades com a minha sogra. Agora tome cuidado com aquele vate ali. Ele costuma pregar peças em nós. Uma vez ele conseguiu me convencer que tinha uma mulher no fundo do copo. E eu, trouxa, fui ver e, é claro, que não havia ninguém, mas depois me apresentou àquela que seria minha futura esposa”.

Todos encaminharam para a piscina, momento em que os pais de Débora desejavam conversar a sós com o irmão de Márcio. A conversa foi direta. “- Meu jovem. Sei que está namorando ou coisa parecida com a minha filha. Não faço objeção alguma”, disse Romualdo. “- Entretanto, não quero ver o futuro dela interrompido por uma gravidez precoce. Dona Angélica deu-lhe sociedade no escritório. Eu sei que a questão não é dinheiro, mas de responsabilidade. Então quero que tu saibas que achei a sua atitude de querer ter uma noite de amores com Débora, sem ter uma vida para lhe oferecer, de uma tremenda molecagem. Se tentar fazer isso novamente, a conversa será comigo e tu aprenderás a falar como homem. Sei que irá embora hoje. Minha filha o tem em grande conta. Não estrague isso pensando mais com a cabeça de baixo. Use primeiro a de cima e o coração e, depois, seja digno de minha filha, para usar a debaixo”.

Esdras que não esperava aquela cobrança ficou com os olhos arregalados e sem ação, sem voz, sendo socorrido pelo irmão e pelo pai que perguntaram o que estava acontecendo.

– Seu Romualdo aqui me disse para eu não estragar o futuro da filha dele. Que devo usar a cabeça de cima, o coração e ser digno de Débora para depois pensar com a debaixo. Que o convite que fiz a ela para passar uma noite comigo no apartamento de Mazinho foi coisa de moleque e que seu tentar fazer isso novamente, a conversa será entre eu e ele.

Esdras falou tudo no automático, pois foi surpreendido pelo pai da namorada. Márcio sabia que aquilo aconteceria, inclusive estava de acordo com a postura de Romualdo. “- Senhor Romualdo, eu lhe peço minhas sinceras desculpas, mas quero mesmo estar com a sua filha em todos os momentos do futuro dela e sei que preciso ter um rumo a seguir para que ela possa estar do meu lado”, explicou meio tropegamente o filho de Judith.

Depois dessa conversa tensa, todos caminhavam para a piscina, mas Rogério reteve o pai de Débora. “- Obrigado! Agora ele entendeu como a coisa funciona. Tenho certeza de que se ele realmente tem apreço pela sua menina, como Márcio tem por Angélica e Léo por Mariana, fará a sua filha feliz”, disse o pai de Esdras.

– Viemos aqui ontem achando que íamos lidar com pais relapsos ou que queriam apenas proteger o filho, mas eu e minha esposa encontramos outra situação. Duas famílias que primam pelo que entendem o que é correto e não o que o mundo diz que tem que ser. Sabemos que essa juventude tem cabeça diferente das nossas, contudo, se os valores que passamos forem bem delineados, colherão bons frutos e não estou falando de heterossexualidade. Nossa filha, quando foi trabalhar com dona Angélica nos falou que ela era casada com outra mulher e agora se separou dela e está casado com o seu filho.

– Meu caro Romualdo. Na condição de pai, a única coisa que desejo para os meus filhos é que sejam felizes. Tenho três meninos e caso um deles se interessasse por outro menino, hoje teria meu apoio. Lógico que nem sempre foi assim, pois achava que tinha que apresentar para as outras pessoas coisas que elas achavam que eram certas para os meus filhos, mas estava enganado. Cobrei o Esdras porque se eu tivesse uma filha não gostaria que homem nenhum a usasse como mercadoria e a dispensasse.

– Tenho certeza de que nossos filhos absorveram bem o que entendemos ser o correto.

Os dois pais caminharam em direção à piscina onde estavam os outros homens que conversavam descontraidamente e Léo tentando arrancar informações do irmão sobre a esposa. “- Diga ai Marzinho, como você fisgou a ricaça”, perguntou o irmão mais velho. “- Dá mesma forma como achou a sua Mariana. Vem cá! Que dia eu te fiz esse tipo de pergunta? Parece-me que se eu não fiz é porque a sua vida com a sua esposa não me interessa, até que tu, meu caro Léo, me diga. Então, esquece. Minha vida não precisa estar exposta em jornal nenhum e nem servirá de motivos para tu ficar se gabando entre os seus amigos. Deixa que da minha vida íntima, quando for o caso, eu mesmo digo”.

Rogério ouviu o comentário e foi incisivo com o filho mais velho. “- Léo, acho que a partir de agora tu deverias se ocupar mais de sua existência, ainda mais que daqui há sete meses será pai e eu serei um padrinho brioso. Se tu deixar faltar alguma coisa para o moleque, vai se ver comigo e com a tua mãe.

– Está certo pai, mas custava meu irmão aqui abrir algumas coisas para nós da família?

– Mas ele já abriu. Na semana passada viemos aqui e fomos bem recepcionados pela família da esposa dele e este final de semana novamente. E o que você quer mais?

Márcio aproveitou a deixa do pai e foi até onde a comida estava, se servindo de carnes vermelhas. Sabia que ficaria uma semana sem ingerir a iguaria. Sua amada faria marcação cerrada e a recomendação para o pessoal que administrava a fazenda era para não deixar nada que continha proteína bovina na casa. Ao terminar de fazer o prato, o editor viu quando Alexandre chegou.

– Meu jovem quero te agradecer pela nossa conversa pela manhã. Estava com medo e olha só: um general com medo de ser feliz.

– Alexandre! Amanhã tudo isso voltará ao normal. Eu e Angélica estaremos na fazenda, meus pais no canto deles e Eleanora paparicando o filho, a nora e o futuro neto. Então vocês dois terão tempo para se curtirem, mas só uma dica: construa uma vida a parte com ela. Não tente ficar entre ela e os filhos. Com certeza tu sairás perdendo. Eu amo a filha dela, mas o meu amor nem se compara ao que uma sente pela outra e, eu seria o primeiro a não querer ser o elemento divisor entre as duas.

– Eu entendi Márcio. Hoje, sem aquele medo terrível, estou analisando a situação e sei que podemos viver coisas importantes juntos desde que eu não queira substituir ninguém na vida dela. Afinal, estou chegando agora. Então o que conta é daqui para adiante.

– Significativa reflexão, meu caro general.

Assim que Márcio terminou de falar, Angélica chegou já dando ordens. “- Escuta aqui, o mocinho não acha que está comendo muita carne vermelha! Eu que te veja com outra pratada dessas”, cobrou a empresária.

– Amor! Eu sei que ficarei sete dias sem ingerir carne bovina, então deixe-me esbaldar hoje. O Alexandre estava me falando que servirá só peixe quando eu for no restaurante dele.

– Meu caro general. Não vai no barulho deste ex-jornalista. Quando eu e ele formos lá, eu escolherei o nosso jantar.

Ao dizer isso, Angélica o beijou saindo em direção ao interior da casa. “- Rapaz! Essa mulherada é chegada num mandonismo”, disse Alexandre, às gargalhadas. Márcio o acompanhou no riso acrescentando: “- Está vendo aquela lá grudada no meu pai. Pois é! É minha mãe. Em termos de ordens e mandonismo, ela coloca Angélica no bolso. Vai por mim, meu caro amigo. Do resto tenho certeza de que será feliz aqui com a nossa turma”.

Os dois deram ótimas risadas e Márcio observou que o general se soltava como quem deixa a farda de lado para viver completamente a vida civil, sem as peias dos coturnos e das estrelas nas ombreiras conquistadas com muito ralo, exercícios, pensamentos, provas e enfrentamento com inimigos imaginários, porém devendo sempre seguir o lema de Rui Barbosa, segundo o qual o “exército pode passar cem anos sem ser utilizado, mas não pode passar um dia sem estar preparado”.

A dupla seguiu conversando, sendo observados por Eleanora e Angélica que perguntou à mãe: “- O que a senhora viu naquele general sem farda, mamãe”. A matriarca olhou bem para a filha, lembrando-se do que o genro havia dito para Judith para explicar o amor que tinha pela até então namorada. “- Se você me responder o que viu no Marzinho, eu te respondo”.

Angélica entendeu a interpelação da mãe e apontou os dois conversando como se o mundo não existisse. O diálogo parecia ser o de um comandante passando serenamente as instruções ao seu subordinado. Restava saber ali quem tinha a patente maior quando o assunto era o amor e de como ele deveria ser vivenciado em sua plenitude. “- Meu caro general, tu não usas mais a farda e está encantado por aquela senhora que é minha sogra.  Aqui para nós: ela é uma verdadeira general, mas se gosta de ti, creio que estais no céu”.

– Depois de tudo o que vive e passei para chegar até aqui, meu caro Márcio, eu não me iludo mais. Está tudo muito no começo e podemos estar apenas empolgados um com o outro. Então, penso que é melhor ir devagar, e se precisar, darei uma paradinha para que o carro não capote na próxima curva ou dificuldades.

– Te entendo meu caro Alexandre. Quando fui embora me esconder daqueles olhos esmeraldinos, meu objetivo era tentar entender o que estava a acontecendo, mas não deu nem tempo deu me assentar naquelas paragens, logo fui surpreendido por Angélica dentro do meu quarto de hotel dizendo que voltaria com ela para cá naquele mesmo dia.

O general não acreditava no que estava ouvindo e caiu na gargalhada. “-Não ri não Alexandre. Essa mulher me arrastou lá do Pontal até aqui e enquanto não nos casamos, não se tranquilizou. Se é que vai se acalmar algum dia. Tem um ciúme maior do que a muralha da China.

– Vem me dizer que tu também não tens?

– Acho que até mais do que ela. Só que eu me seguro.

Mãe e filha acompanhou os dois até que se sentaram nas cadeiras espreguiçadeiras e continuaram ali, como se estivessem no paraíso. “- Entendeu agora o que encontrei naquele homem, Angélica? Quando estou com ele, é como se o mundo parasse de girar e só nós dois existíamos”. A filha se limitou a concordar com a cabeça, para fazer uma pergunta incisiva: “- E o que a senhora sentia pelo meu pai? É algo semelhante”.

– Não dá para comparar, porque eu passei quase 40 anos com Jô e com Alexandre ainda são poucas semanas. Eu o conheci quando vocês estavam na Alemanha e eu e Judith sabendo que tu e Márcio se acertariam, começamos a preparar a festa de casamento. Então, penso que é impossível fazer tais observâncias. Eles são duas pessoas diferentes. Alexandre literalmente ralou para conseguir aquelas duas estrelas, além de enfrentar o racismo que essa sociedade nega existir.

– A senhora e ele já falaram sobre isso em algum momento?

– Desenhamos uma conversa, mas eu senti que ele ficava meio sem jeito. Talvez achou que não seria bem recebido entre nós, e, penso que talvez tenha se escondido atrás da farda para se proteger do mundo como o seu Marzinho fazia. E agora que não tem mais a patente e a caserna para chamar de seu, o vejo meio perdido aqui fora.

– Dona Eleanora, então se for assim como está me dizendo, se prepare, pois terá um trabalhão com o seu general, a exemplo do que tive com o meu marido lá no Pontal.

– Acho que não terei, pois sempre pensarei no que passastes e tentarei contornar. Se bem que se não fosse o Marzinho conversar com ele pela manhã, não estaria aqui agora. Ele até me disse que eu tenho um genro de ouro, mas que tu deves ficar esperta: se ele falar não e aparecer outra mulher, você não o pegará mais.

– Deus me livre mãe! Se eu ficar sem o Marzinho, a senhora pode me internar ou ficarei como Amadeu estava nos últimos cinco anos, sem saber que dia está vivendo.

Ao terminar de dizer isso para Eleanora, Angélica olhou para o relógio e viu que os ponteiros já se aproximavam das três horas. “- Mãe! Pede para os empregados colocarem no porta-malas do meu carro aquelas coisas que a senhora e Judith providenciaram para a nossa lua de mel. O Marzinho não quer sair daqui depois das quatro horas. Ainda temos que passar em casa e tomarmos banhos antes de irmos para a fazenda. Está tudo certo lá, né”, perguntou a arquiteta.

– Está sim filha. De hoje para amanhã o pessoal ainda dormirá na fazenda, mas na segunda-feira somente os seguranças ficarão de prontidão, conforme combinamos. Não poderíamos deixar os dois sozinhos lá, mas não incomodarão vocês. Não fale nada para o Marzinho, se não já sabe.

“- O que não é para falar ao meu filho”, perguntou Judith que estava de mãos dadas com Rogério.

“- Aquilo que combinamos, minha amiga. Não podemos deixar esses dois lá sozinhos, ainda mais que a propriedade fica há quase 100 quilômetros daqui”, explicou Eleanora, mesmo tendo ciência de que foi tudo feito de acordo com Rogério e a mãe do esposo e a pedido de Angélica.

“- Minha filha! Não se preocupe. Não precisa dizer nada para o Marzinho, mas se achas justo informar-lhe, faça e deixe o resto comigo. Tua mãe está coberta de razões e, eu no lugar dela, faria a mesma coisa”, informou o pai do livreiro que vinha chegando ao perceber que havia algo de estranho já que seus pais estavam conversando com a anfitriã e sua esposa.

– Posso saber o que está acontecendo ou não é de minha conta?

“- Minha mãe determinou que os seguranças fiquem na fazenda durante a nossa lua de mel”, informou Angélica.

Quando Márcio, já de cara fechada ia dizer alguma coisa, Rogério já deu logo a sentença. “- Se não aceitar assim, não sairão aqui da cidade. Não é seguro deixar os dois lá sozinhos, distante quase 100 quilômetros daqui”, afirmou o pai.

– Dona Eleanora, a senhora não confia em mim.

– Em você eu confio cegamente, meu filho. Eu não acredito é nas outras pessoas e antes que tenhamos que lamentar algo que pode ser evitado, aceite os seguranças. Eles não incomodarão vocês. Eu, sua mãe e seu pai conversamos com o pessoal que nos apresentou o plano para não atrapalhar em nada tu e minha filha.

Mesmo contrariado, não restou outra saída ao editor senão a de aceitar o que já havia sido acordado como se ele e a esposa fossem dois adolescentes que iriam acampar nas montanhas e os pais mandaram tirar de lá todos os bichos, insetos e repteis.

O editor tentou argumentar, mas foi contido pela mãe que sentenciou: “- Está tudo certo e não tem que questionar nada. Agora você, se quiser e Angélica aceitar podem ficar aqui na cidade mesmo. Ninguém vai incomodar o casal”, disse Judith que tinha certeza de que os dois não teriam sossego algum se não fossem para a fazenda. Estavam precisando daqueles dias só para eles.

– Está bem! Se não tem outra alternativa, mas não quero nenhum deles cheirando a minha bunda. Sendo assim, acho que podemos começar a arrumar as malas e sairmos logo. Não quero chegar a noite na fazenda.

O que Márcio não sabia é que a articulação já havia sido aceita, inclusive sugerida por Angélica. O temor não era nada relacionado ao marido, mas se alguém soubesse que estavam lá sozinhos, poderia aparecer para aterrorizá-los. A questão dos seguranças já tinha sido equacionada no sábado.

Uma hora depois daquela conversa, Márcio e a esposa se despediam de todo mundo. O livreiro deu abraço nos pais, agradecendo novamente a presença de Rogério ali naquele momento importante da vida dele. “- Pai! Eu e minha dinamite dos olhos esverdeados apareceremos lá um final de semana. Pode colocar mais água no feijão”.

Ao chegar perto de Esdras, este se limitou a dizer que seguiria todas as diretrizes traçada pelos pais e quando voltasse da lua de mel já teria informações sobre os rumos da vida dele e o relacionamento com Débora. Um por um, todos foram se despedindo do casal que, há 90 dias, ninguém diria que os dois se tornariam esposos.

Quando o automóvel de Angélica deixa a mansão, dois carros que os seguiam a distância. Em cada um deles haviam quatro seguranças que se revezariam no cuidado com o casal. O acertado é para que não se aproximassem de Márcio e Angélica, a não ser que percebessem algo estranho. Durante a conversa com a equipe, Eleanora e Judith que fez questão de pagar metade do trabalho, explicaram que o casal costumava brigar bastante, mas acreditavam que, estando os dois sozinhos, os motivos das discussões não existiriam.

Ao entrarem na Torre de Angélica, Márcio explodiu em sua ira. “- Caralho! Quando é que vão nos deixar em paz? Para que essa porra toda de segurança. Será que não confiam em mim? Estou passado e ainda por saber que minha mãe concordou com isso tudo. Sinceramente eu não compreendo”, exasperou o esposo.

– Fui eu quem pedi amor!

Ao ouvir isso da boca da esposa, Márcio ficou alucinado e quando ia falar, percebeu que a gagueira estava perto de lhe acometer. Sem conseguir dizer alguma coisa, o editor foi ao bar pegou a garrafa de uísque e encheu o copo e virou na goela. A esposa tentou dizer algo, mas ficou em pânico quando ele começou a tremer e tentava falar, mas atropelava as palavras e não conseguia se expressar.

“- Amor o que você tem? Fala comigo”, disse esposa, apresentando um certo pânico.

“- Não te… n…ho… nad….a … me … dei…. xa … p… or… fa… vor”, conseguiu finalmente dizer o esposo se sentando no sofá completamente travado, a exemplo do que tinha acontecido durante a abordagem policial.

Angélica não sabia se ficava ali com ele, se ia para o quarto, se ligava para a mãe. Estava com medo de que ele tomasse outra dose e estragasse todo a lua de mel que tanto esperavam.

Ela entrou no quarto e ligou para Judith. “- Acho que fiz merda. Acabei contando para o Marzinho que a ideia dos seguranças foi minha e ele está todo irritado e já começou a beber e a gagueira o pegou. Então é sinal de que atravessei gravemente o samba”.

– Minha filha. Tome seu banho e se arrume para a lua de mel. Deixe aquele moleque com o pai. Não fale nada com ele. Daqui a pouco Márcio ficará pianinho.

– Obrigado sogra. Só liguei porque não sabia como resolver uma situação que eu mesma provoquei.

“- Não tem problema algum, minha filha. Você fez o que certo. Não esconder nada do marido”, disse Judith, tranquilizando a nora.

Não demorou cinco minutos, o celular de Márcio tocou. “- A… lô… p… ai! O q…ue f…oi”, perguntou o editor.

– Por que a gagueira te atacou? O que está acontecendo?

– Não é n…a…da…. não!

– Só te digo uma coisa! Se tu não fores para essa fazenda por conta de seus chiliques e me fizer passar vergonha com a família de tua esposa, é melhor tu correr sem olhar para trás, porque se eu te pegar, já sabe. Agora deixa de ser cagão e sua esposa só quis deixar vocês tranquilos. Quando é que vais crescer rapaz? Está parecendo maricona. Tudo tem que ser do seu jeito. Nem sempre o rio corre do jeito que queremos, então, é melhor pegar o barco e remar ou saia e fique na margem e à margem da vida só reclamando.

– Está b… e…m pai!

– Ninguém vai atrapalhar vocês dois. Ela optou por não te falar nada, pois sabia que tu irias entortar o bico e estava certa ela. Olha aí tu querendo cagar na alça do penico.

Ao desligar o telefone, Márcio sabia que tinha dedo da esposa e da mãe na bronca que acabara de levar do pai. “Onde já se viu. Tenho 35 anos e sou obrigado a levar sermão do Rogério. Estou bem arranjado com essas duas”. Enquanto terminava o raciocínio, o editor que tinha colocado mais uma dose de uísque no copo percebeu a presença da esposa que lhe chamou para tomar banho e terminar de se arrumar. “- E pare de beber. Não é se afundando no uísque que vai deixar de ser esse homem turrão que quer as coisas só do seu jeito. Eu pedi os seguranças para poder ficar mais tranquila contigo, seu bobo”.

Sem dizer nada, apenas olhando para a esposa, Márcio se levantou do sofá se dirigindo ao banheiro e fechando a porta por dentro. O que valeu uma gargalhada da esposa que ligou novamente para a sogra e agradeceu o apoio. “- E como ele está”, perguntou Judith.

– Está com uma tromba do tamanho da muralha da China. Entrou parar tomar banho e se trancou lá dentro, feito uma criança mimada.

– Bom! Tu sabes como colocá-lo no devido lugar dele. A noite se começar muito com muito coisinha, mostra para ele quem manda na relação. Minha filha, com homem você não dar muita brecha não. Puxa o cabresto e pronto.

As duas deram risadas, enquanto Angélica desligando foi cuidar do restante da arrumação para que pudesse passar os próximos sete dias na fazenda, desligada do mundo. Márcio demorou no chuveiro mais do que o costumeiro e quando saiu, a esposa estava praticamente pronta para a viagem de lua de mel. Ele a olha e apenas lhe pede desculpas. “- Só pensei do meu jeito. Não observei que a sua preocupação não era apenas contigo, mas conosco. Agora mais do que nunca precisamos desses dias juntos para apararmos essas e outras arestas. Só me dê um segundinho, enquanto me aprumo e fico pronto para nós e o nosso amor”.

A esposa lhe observa, dando um lindo sorriso e o abraçando. “- Seu tonto. No meu mundo e espero que no seu universo também, não existe mais o ‘eu’, mas sim o ‘nós’: eu e tu formamos uma só pessoa e para que se isso se concretize, sempre haverá esses pequenos desajustes, justamente por que somos diferentes nos ajustando um ao outro. Também errei, pois deveria ter conversado contigo antes. Se somos uno não tem porque esconder coisas simples, como essas, do outro”, desabafou a arquiteta, dando um tapa de leve na bunda do marido que se apressou para ficar pronto para o começo da lua de mel.

Já dentro do carro, Márcio observou a esposa, que estava ao volante, se sentindo mais leve, pois havia entendido que teria que compartilhar tudo com o esposo e as decisões precisavam ser tomadas em comum acordo entre o casal. Do contrário, uma pequena garoa poderia se tornar uma enorme tempestade. “Preciso entender que meu Marzinho não quer comandar nada, apenas dividir comigo o amor que me tem”, pensou a arquiteta enquanto apertava firme a mão do esposo.

O trajeto entre o apartamento do casal e a fazenda foi feito em pouco mais de uma hora e meia. Assim que entraram na propriedade, o casal deixou as bagagens dentro da casa e a empresária foi conversar com os seguranças sobre a necessidade dela e do marido terem privacidade total.

– Tudo bem dona Angélica, faremos do jeito que acertamos com a senhora, sua mãe e seus sogros. Minha equipe estará aqui durante 24 horas e ninguém se aproximará da casa e nem nos limites da propriedade. Montamos o nosso monitoramento via satélite como era feito enquanto seu pai ainda vivia.

– Está certo, senhor Renan. Se precisar fale com a minha mãe. Eu e meu marido desligaremos os nossos celulares e o telefone da casa. Confio no trabalho de vocês. Boa noite.

Assim que entrou no imóvel, Angélica surpreendeu Márcio sentado no mesmo lugar do sofá em que tinha ficado durante aquele final de semana. “Meu deus do céu! Esse homem não muda. Está sentado no mesmo lugar. O que faço para ele agir diferente”, se perguntou mentalmente a empresária se dirigindo para o marido esperando que ele se levantasse para abraçá-la.

Assim que o fez, a esposa lhe perguntou porque era tão metódico. “- Do que está falando amor”, interpelou o marido. “- Você estava sentado no mesmo lugar em que ficou quando estivemos aqui naquele final de semana antes de embarcarmos para a Alemanha”, respondeu Angélica.

– Sério! Eu nem percebi.

A empresária caiu na gargalhada, pois tinha certeza de que o esposo era completamente desligado e durante o tempo em que passariam na fazenda sem ninguém, o conheceria bem melhor. Se é que havia algo a mais para compreendê-lo. Era todo metódico, amoroso, fazia tudo igual, antes de o tê-lo como esposo, usava sempre as mesmas roupas, sapatos que pediam graxa. “Mas foi graças a esse jeitão simples de ser que foi fácil localizá-lo no Pontal”, pensou a empresária.

“- Amor, vamos desfazer as malas, guardar tudo nos devidos lugares, inclusive acantonar as comidas que minha mãe e a sua fizeram para nós”, sugeriu a esposa.

– Mas eu pensei que tu ias cozinhar aqui para nós ou que faríamos um rodízio: um dia eu preparava as nossas refeições e no dia seguinte, você faria isso.

Para evitar discussão nos primeiros minutos que estavam sozinhos na lua de mel, a esposa apenas disse: “- E quem disse que não faremos isso? Ou acha que essa comida durará sete dias? Se for assim, vamos nos alimentar de coisas estragadas. Agora vamos ao trabalho e depois tomaremos um banho e antes de dormir, quero uma passagem completa, feita pelo meu marido massagista”.

Eram oito horas quando terminaram de ajustar tudo e conferir se os empregados haviam deixado o imóvel do jeito que ela havia solicitado. Márcio saiu da casa para ver as estrelas e foi surpreendido por nuvens carregadas e raios que riscavam o céu. Aquele visual todo o encantou, pois apesar de nublado, o espetáculo era lindíssimo.

Viajando entre um raio e outro, o editor sentiu ser abraçado pela esposa que cochichou em seu ouvido: “-Até aqui terei que disputar a atenção do meu marido com as estrelas, o céu, mesmo nublado quer me tirar do seu coração. O que existe de tão interessante naquelas alturas que te deixa vislumbrado”, perguntou a esposa.

– Amor! As estrelas são corpos celestes que explodiram há bilhões de anos, cuja luz viajou no espaço até ser vislumbrada pelos meus olhos. Então, o que observamos são vidas que se transformaram em formas diferentes de energia, o que me encanta, por isso entendo que não existem mortes, mas mudanças de estados de consciência a partir da manifestação desse éter, dessa potência na matéria que é animada por uma existência incorpórea, mas que nos movimenta enquanto seres corpóreos. É isso!

“- Continue”, pediu Angélica. “- Eu sei que tem muita coisa guardada aí dentro do seu coração, do seu ser e de sua alma e quero que compartilhe comigo. Eu sei que não me apaixonei somente pela matéria Márcio, mas sobretudo pelo ser que anima esse ser que tanto me deixa sem chão, principalmente quando penso que posso ficar sem ele”, disse a esposa.

– Mesmo com o céu noturno nublado e os raios nos fornecendo um belíssimo espetáculo, ainda assim é possível ver a beleza da natureza externada através das nuvens carregadas de vida. Eu estava aqui ainda agora olhando a energia que bailava no céu em forma de raios e voltei ao meu apartamento quando uma senhorita, acostumada a mandar e desmandar em todos e em tudo, foi me importunar. Então, toda vez que chove, me recordarei daquela manhã e dos dias que se seguiram.

– Nunca fui tão afrontada como naquela manhã. Meu deus do céu, como fiquei possessa. Queria pisar em cima de você, mas não sabia de que forma fazer isso. Passei a tarde toda pensando e vasculhando a sua vida e, hoje, sei que fui tão infantil, descobrindo um segredo que tu desejavas manter a sete chaves. Por mais que eu queira o seu perdão, a suas desculpas e, mesmo que me diga que tudo bem, ainda assim, quando eu recordo daqueles dias, entendo como meu Marzinho se agigantava e eu me apequenava, tentando te aniquilar. E hoje, passados 90 dias, estou perdidamente apaixonada pelo ser que se encanta olhando para os raios que circulam no céu durante as tempestades.

– Acho que se você tivesse se comportado de modo diferente, talvez essa amiga aqui não tivesse parado no meu dedo da mão esquerda. O mais doido amor é que tinhas me chamado a atenção desde a primeira vez que te vi e não foi naquela manhã dominical. Foi num domingo à tarde quando você entrou no bar e conversou com aquele segurança que se fazia passar por garçom.

– Estou me recordando sim. Tinha um homem sentado no mesmo lugar que meu irmão costumava usar, mas eu não coloquei reparo. Não queria olhar para aquele ponto. Estava com medo de ser reconhecida por alguém, principalmente se Amadeu soubesse que eu sempre o estava vigiando. Então era você?

– Tentei saber mais coisas sobre ti. Até fiz um retrato falado seu e foi justamente aí que o meu amigo da polícia falou que tu tinhas ido lá fazer uma ocorrência sobre uma pessoa desaparecida, mas não podia me revelar nada. Apelei para o João Marcelo, porém ele se recusou a usar a influência jornalística para eu saber quem era você.

Angélica ouvia a narrativa do marido, descobrindo que ele já havia reparado nela e tentado de alguma forma entrar em contato. “- Passei aquela semana com a cabeça nas nuvens e nas narrativas do seu irmão que vivia me dizendo que havia uma mulher dentro do copo me esperando e eu, me afundando na bebedeira”, explicou Márcio.

– Quer dizer então que o meu neguinho pode ter se apaixonado bem antes do eu pensei? E quando brigou comigo naquela manhã de domingo queria mesmo era me expulsar do coração, da alma, enfim, dos seus sonhos que viravam pesadelos na medida em que não me encontrava.

– Podemos dizer que o resumo da opera pode ser esse, mas eu fugi porque achava que todo mundo sabia, não só da minha história com a Márcia, mas que eu de certa forma tinha sido tocado por sua alma. Quando entrei naquele ônibus, fechei os olhos e pedia aos céus para que no final daquele trajeto você não existisse mais em minha vida. Não desejava mais ficar implorando por afeto de ninguém.

Quando terminou de dizer isso, Márcio foi abraçado e beijado avidamente pela esposa que o chamou para se sentarem nas poltronas existentes naquela área enquanto conversavam e olhavam para o céu nublado, carregado e iluminado pelos raios que pareciam querer iluminar a terra toda.

– Naquela noite no quarto do hotel, quando eu deixei o banheiro e escutei a sua voz, tive duas vontades: a primeira foi correr para os seus braços e te cobrir de beijos e a outra era fugir. O coração pedia uma coisa e a razão cobrava outra ação e entre uma e outra fiquei catatônico, tentando entender como me descobriu ali, pois ninguém sabia, nem mesmo o Roberto.

– Você está vendo aquele raio que acabou de cair ali. Pois bem! Ele iluminou meu caminho, mas teve ajuda do Roberto.

– Do Roberto? Eu sabia que aquele bandido roeria a corda e me entregar de bandeja para a Rainha Diaba que queria me aprisionar em sua teia de aranha. Mas como ele fez isso?

– Estando diante de mim, ele ligou para o celular que estava contigo e o número ficou registrado. Assim que desligou, tomei o aparelho das mãos dele e anoite o número. Basicamente foi isso e o resto, eu usei os meus recursos, mas teve uma coisa que ele disse que me motivou a ir em frente, juntamente com o que Eleanora me falou. “- Dona Angélica, se não for para fazê-lo feliz, deixe-o lá. A vida dele é toda confusa e eu o trouxe para cá para ele se arrumar”.

O casal ficou se olhando ternamente quando os primeiros pingos de chuva se precipitaram sobre a fazenda. “- Meu amor! Ali eu entendi o quanto te queria e o desejo de te fazer feliz. Fiquei pensando em como concretizar isso, mas estava com medo de ser rechaçada novamente por ti. Minha mãe me disse que você tinha fugido de um sentimento especial que nutrias por mim. E quando o Roberto me falou aquilo, entendi que não havia mais volta. Estava completamente apaixonada por ti, só que usava o meu irmão para esconder isso”, disse Angélica em tom de confissão.

A chuva aumentou e o casal entrou, se acomodando no sofá em que Márcio esteve momentos antes. “- Marzinho! Descobrir que te amava, foi tão difícil quanto confessar que precisava de ti e do seu amor. Eu não desejava me declarar a você, esperando que avançasse o sinal, mas ao mesmo tempo, sabia que não faria isso e essa sua postura me enlouquecia, fazendo eu meter os pés pelas mãos. Até que deixou o carro naquela rodovia, sem saber ao certo onde estava, mas me querendo longe de ti”.

– Eu me comportei daquela forma porque o meu amor, minha paixão, meu desejo por ti, me queimavam por dentro e só tinha um jeito deu resolver, aplacar aquele fogaréu todo: longe de ti. Você me provocava, sabia que eu te devorava com os meus olhares. Só fui perceber que não havia mais retorno ao estágio anterior quando ameaçou ficar nua naquele terminal rodoviário.

Angélica olha para Márcio toda dengosa. “- Estava tão doida de paixão, de tesão que eu derrubaria um satélite se você não retornasse comigo. E como sabia do seu amor e do seu conservadorismo, não deixaria que eu me expusesse naquele momento. Foi ali que entendi que não conseguiria dar mais um passo sem que meu Marzinho estivesse do meu lado”.

O editor olhou para o relógio, observando que já passavam das nove horas. “- Amor vamos preparar alguma coisa para comermos e depois nos higienizaremos para dormirmos”, sugeriu o marido.

– Sim! Mas não quero ter pressa para fazer nada. E é lógico que desejo aquela massagem especial.

Enquanto o esposo arrumava a mesa, Angélica preparava algo para os dois comerem e, com certeza, nada que tivesse produto de origem bovina e álcool. O marido não deveria ingerir nada etílico, mesmo porque já tinha consumido duas doses de uísque a tarde. Como tudo que transportaram da casa de Eleanora para comer estava congelado, a empresária apenas descongelou no micro-ondas a quantidade que os dois consumiriam naquela noite. Duas porções de robalo ensopado, torradas integral. Ela foi de vinho branco e o esposo, cerveja sem álcool.

“- É sério que não vamos comer nada de carne vermelha durante esses dias”, perguntou Márcio enquanto degustavam o peixe. A esposa olhou ternamente para ele, informando que sim, principalmente porque ele havia se empanturrado de churrasco no sábado e no almoço daquele dia. “- Pode ficar tranquilo, meu nego. Faremos uma dieta balanceada, sem exageros. Eu sei que tu gostas de um uísque, mas a quantidade que bebeu hoje à tarde foi o suficiente para essa semana”.

“- Estou fornicado”, externou Márcio.

– Fodida estou eu, se te perder. Então nem pensar em mudar o cardápio. Tudo o que trouxemos foi pensando pela sua santa mãezinha, minha adorável sogra e por Eleanora e é claro eu supervisionei tudo.

– Meu deus do céu. Terei que pedir para o meu pai e pelo menos o Esdras estarem comigo. Três contra um é covardia.

– Acho que Esdras não vai te ajudar, pois sabe que se precisar de ti para equilibrar a balança com Débora, tu ficarás sempre do lado dela. Então neguinho, acho melhor guardares as armas. Teu pai, basta Judith falar mais firme com ele que abandona a arena.

Ao dizer isso, Angélica deixa o seu assento e vai direto para o colo do marido. “- Como tu podes ver, meu amor, só restou a sua esposa e não adianta pensar em chamar o general. Ele não tem mais as estrelas e a única que ele quer brilhando em sua farda humana é a senhora sua sogra, a dona Eleanora”.

– É! Só resta me render aos seus tentadores olhos verdes e um coração lindo e maravilhoso que abriga uma sublime alma que virou a minha vida de cabeça para baixo.

– Será que foi só a sua meu Marzinho, marzão, paixão, tesão, meu violão encantando? Lembre-se que quase fiquei pelada num terminal rodoviário para não perder esse homem que me deixa sem ar e com muito medo de que ele possa olhar para outra mulher, como me observou aquela manhã em seu apartamento.

– Sinceramente, não sei que olhar é esse que você tanto fala!

– Não sabe mesmo? Então pergunte para Judith e Débora. E não se esqueça de Tarsila que já te viu me observando de um jeito para lá de especial. Ela me disse na Alemanha que se tu olhar outra mulher como me fitava, eu podia dar adeus a ti. Essa outra cairia matando e eu ficaria chupando o dedo. Pensa que eu durmo com os seus olhos, neguinho. Pensa que eu esqueci que naquela chamada de vídeo, o teu pai lhe falou que o dia que tua mãe o flagrou olhando diferente para uma mulher, ele teve uma noite de cão.

Márcio tentou desconversar, mas a esposa o segurou pelo colarinho em forma de carinho e sentenciou: “- Você que experimente para ver se amanhece respirando no dia seguinte. Tua mãe deixou seu pai vivo para ele orientar os filhos sobre o que não se deve fazer quando estiverem casados com mulheres de sangue nos olhos, como tua mãe é”.

Ao beijá-lo profundamente, a esposa dá uma rebolada no colo do marido dizendo em seguida. “- Vamos ao banho e depois as massagens. Estou com saudades de tudo o que pode me fazer com essas mãos e esse delicioso instrumento que tens no meio dessas belas pernas, meu marido delicioso”.

Ambos se levantaram e Angélica pode ver pelo volume da calça como reação dos movimentos que havia feito momentos antes. O esposo fez menção de querer lavar a louça e arrumar a cozinha, mas foi contido pela esposa. “- Faremos isso amanhã! Agora quero você todinho, literalmente, inteirinho só para o meu e o nosso prazer, meu neguinho gostoso”.

Dizendo isso, a empresária já se dirigiu ao quarto, puxando o editor pela mão. “- Eu vou me banhar primeiro, enquanto o senhorito me espera e vai se preparando mentalmente para deixar esse corpo aqui completamente relaxado. Quero uma massagem completa, meu nego”, ordenou Angélica.

Dentro do quarto, o marido se deixou ficar ali, olhando pela janela a chuva que caia, batendo na vidraça. Desligou-se completamente da fazenda, voltando o pensamento para o quarto de hotel numa tarde chuvosa como daquela noite. Recordou que tentava ler um romance inglês, mas não obtinha sucesso, pois sua mente era constantemente povoada pela imagem da arquiteta só de camisão transparente. Ele só conseguiu se aliviar depois de se masturbar. Enquanto ejaculava, gritava o nome da amada como querendo exorcizá-la de sua alma.

Ao sair do banheiro, a esposa o chama e Márcio se volta para ela e o volume dentro da calça parecia estar bem maior, fazendo com que a esposa exaltasse. “- Meu deus do céu! Quanta potência e toda minha. Tudo isso é vontade de desfrutar desse corpo aqui provocando calafrios até em minha alma, meu Marzinho”, perguntou a empresária.

– Se eu te contar o que provocou isso, com certeza tu cairás na gargalhada. Então vou guardar a informação só para o meu cérebro.

– Você quem sabe. Eu fico sem saber e tu sem esse delicioso instrumento que me leva às alturas.

– Caralho Angélica! Será que não pode parar de me ameaçar com castração?

Os dois caíram na gargalha e o marido informou o motivo, contando tudo o que acontecia com ele desde aquela manhã em que ela apareceu só de camisão transparente para ele. A esposa ficou mais doida ainda ao saber que o marido, antes mesmo de se acertar, mais ou menos com ela, já a desejava loucamente só se aliviando com a masturbação. Ele poderia procurar outras mulheres, mas sabia que não conseguiria.

Enquanto Márcio tomava banho, a esposa se preparava para as múltiplas massagens que receberia, inclusive com o gel. Tinha também intenção de devolver o tratamento recebido pelas mãos do marido. Quando o esposo chega, ela só olha de soslaio, suspirando ao ver como o pênis dele pulsava de desejo por ela. Angélica se manteve de costas, passando o gel para o marido-massagista-marido.

Durante a massagem nas costas que durou aproximadamente uma hora, a empresária sentiu várias vezes o falo fazer pressão em suas nádegas, bem como os dedos do esposo acariciando os lábios vaginais, deixando-a em brasa, suspirando baixinho, além de dar gritinhos conforme os carinhos atingiam seu clitóris. Quando Márcio pede para ela se virar e o processo fosse realizado na parte da frente, Angélica, com os olhos esverdeados ao extremo, informou: “-Depois. Agora quero uma massagem especial onde o sino está batendo e quer chegar ao ventilador”, dizendo isso a empresária o puxa para si com as pernas e pronta para senti-lo todinho dentro dela.

Para aumentar o prazer da esposa, o editor começou a fazer massagem nos lábios vaginais usando o seu membro entumecido, levando-a ao delírio, e entre lágrimas e prazer, ela o puxa para si, o mordiscando, beijando, dizendo em seu ouvido que o amava. Bastou Márcio introduzir o pênis na vagina da esposa para que ela gozasse abundantemente. Assim que o seu orgasmo terminou, Angélica faz um movimento em que o marido ficou por baixo e ela comandou todos os movimentos, gozando mais duas vezes, enquanto o esposo se segurava para que ela pudesse ter o maior número de orgasmos que suportasse.

Ao sentir que o marido estava em seu limite, Angélica começa a lhe massagear o escrotal, fazendo com que Márcio urrasse de prazer até que não conseguiu mais se segurar, ejaculando avidamente, sendo acompanhado pela esposa que gritava palavras desconexas, entre elas, que era doida por aquele pau e também pelo dono dele.

Fizeram amor com a mesma intensidade outras três vezes aquela noite, sendo que quando o casal dormiu um nos braços do outro, as horas já iam alta com os ponteiros querendo chegar às quatro horas. Márcio todo metódico, estava em via de rasgar o céu e tirar de lá uma estrela e presentear a sua esposa que, feliz, flutuava entre as nuvens para agradecer ao Senhor da Vida por ter vivenciado tanta emoção e se sentir segura nos braços de uma pessoa que, apesar de confusa, meio esquisitona, a deixava imensamente segura.

Como das outras vezes no hotel nos confins do Pontal, no apartamento, ou na Alemanha, Angélica desperta procurando o corpo do marido na cama, mas como outrora, não o encontrou e, por não estar totalmente segura com o amor que recebia até então, já pensou que Márcio foi embora. “-Mas por que ele faz isso”, se perguntou, deixando a voz escapar baixinho.

“- Faz o quê, minha senhora”, interrogou Márcio sentado numa poltrona que existia no quarto e estava instalada próxima a cama do casal.

Angélica não pensa duas vezes, deixa o leito se atirando no colo do esposo que registra a presença física da esposa. “- Meu deus do céu que homem mais tarado eu consegui para ser meu marido até que a eternidade termine”, sussurrou a empresária no ouvido de Márcio já procurando seu pênis que ficou entumecido com os toques da arquiteta que o levou novamente para passear entre as nuvens. Após o prazer que os fundiu num único ser incorpóreo, o casal volta a mergulhar no silêncio do quarto, escutando suas pulsações e batimentos cardíacos.

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