Sobras de um amor … parte III

25.

 

         O churrasco transcorreu normalmente naquela tarde de sábado com Pedro e Roberto se alternando na churrasqueira e Angélica e Ricardo de olhos bem atentos para Márcio e Fernanda. Os dois eram amigos. Ele casado com a empresária e ela noiva do tecnólogo e futuro funcionário da Jardim da Leitura. Todos que estavam no evento sabiam que o editor e a gerente de finanças das Organizações Oliveira eram muito amigos e por mais que ambos dissessem que nunca tiveram nada, havia aquela suspeita tácita de que um vacilo e os dois poderiam acabar na cama.

Essa situação sempre deixava a esposa de Márcio desconfiada e com devidos temores e depois que Amadeu disse que Fernanda decifrou o bilhete rapidinho, a coisa ficou mais tensa dentro dela que tentava não desgrudar do marido, até que o esposo perguntou se havia algo de errado. A pergunta foi a deixa para que a esposa explodisse: “- Que a Fê sabe tanto de ti que eu não sei? Você me deixa um texto dizendo adeus e sua amiga é que consegue saber exatamente o que tu fazias. Estavas pensando em fugir com ela ou tudo não passou de estratégia”, perguntou entre os dentes e bem pertinho do ouvido do editor que começou a gargalhar.

Olhando para os lados onde a amiga estava com o noivo, o esposo de Angélica chamou Fernanda e Ricardo. “- Fê! Explica para esses dois aqui que nos conhecemos há mais de cinco anos, tempo suficiente para eu te conhecer e tu à minha pessoa a ponto de ti saber que sou loucamente apaixonado pela sua patroa. Ah! Ricardo, fique ciente que eu e sua noiva nunca tivemos nada, absolutamente nada e nem teremos e sabe por quê? Porque ela achou o homem que sempre desejou e vivia me dizendo que ser seria o seu esposo. Daí eu e o Roberto te encostar na parede e, no primeiro jantar que ela fez para ti estava toda nervosa, achando que tu desaparecerias com medo de nós dois”.

Diante do exposto, Ricardo e Angélica ficaram desarmados enquanto Fernanda repetia a mesma conversa de sempre. “Patroa, que homem toma um porre porque a mulher amada a deixou e vai parar na UTI por conta disso e quando está recuperado, ao invés de fugir dela, volta para casa com ela, dizendo que só estava fazendo aquilo se fosse para se casar com a amada”, perguntou a gerente de finanças das empresas presidida pela arquiteta.

Diante do silêncio de Angélica, Fernanda pegou o noivo pelo braço o arrastando dizendo que tinha coisas mais interessantes para tratar com ele do que ficar ouvindo os chiliques ciumentos da patroa. “- Essa ciumeira toda nunca passará, assim como o amor que esse homem tem por ti amiga. Obrigado por fazê-lo feliz”, disse a gerente, se afastando de mãos dadas com o noivo.

Márcio ameaçou sair, deixando a esposa sozinha para pensar, mas ela o puxou pela camisa, o agarrando perguntando onde o neguinho gostoso dela estava pensando em ir. “- Achei que ficaria confortável entre os meus braços, mas se quiser partir pode ir. Agora eu deixo, pois sei que tenho comigo um batalhão de amigos que sabe tudo sobre seus passos. Quanto mais tu tenta fugir, mais é atraído para a minha cama que está sentindo saudades do seu corpo”, disse Angélica o beijando e rindo ao mesmo tempo.

“- Não te disse, amor, que aqueles dois não tem jeito”, disse em tom de troça Eleanora ao general que caiu na gargalhada. “- Agora entendi porque Amadeu usou a história do suicídio”, disse Alexandre.

– Amadeu conhece bem o amigo mosquito que tem. Por isso foi capaz de ser ajudado por ele. Márcio conseguiu aquilo que todos nós tentamos durante cinco anos: trazer o meu filho de volta, mas ele estava irredutível. E olha como está hoje: homem, responsável que será pai em breve e logo, logo será o presidente das empresas.

– Ué! Mas não é Angélica a presidente?

– E você acha que ela vai longe nesse cargo? Deixe a editora de Marzinha deslanchar e começar a chover mulher na área. Tarsila não dará conta de atender todas e aí novamente as brigas e as ciumeiras retornarão. Aquele chamego todo ali dura até aparecer uma outra mulher que poderá ameaçar o reinado de Angélica.

E o evento daquele sábado que seria apenas para organizar os móveis e livros na sede da Editora Jardim da Leitura acabou se transformando num encontro entre os amigos e familiares de Márcio e sua esposa Angélica que no final da tarde estava ansiosa para ficar a sós com o marido. Ela o olhava sempre com um misto de desejo, admiração, paixão e muito amor. O editor por sua vez fingia não ver os soslaios da empresária para ele.

Por conta de tudo o que aconteceu, o general não abriu o restaurante dando folga para o cozinheiro que avisou todos os garçons que não teria trabalho naquela noite de sábado, mas que receberiam pelos dois dias, isto é, pelo sábado e pelo domingo.

Por volta das seis horas, todos os participantes da comensalidade organizaram o ambiente e Alexandre foi levar Pedro, a esposa e os filhos em casa, avisando que já podiam começar a organizar os móveis para a mudança que seria realizada no sábado seguinte, mesmo que a inauguração da editora ocorresse na semana seguinte.

Ao retornar, o militar foi enfático com todos: “só voltei para pegar algo importante em minha vida. Será que Angélica e Amadeu me permitem ficar a sós com a mãe de vocês? Acho que desde a madrugada a dividi com todos. Daqui para diante seremos só eu e ela. E vê se cuida bem dessa sua esposa ciumenta, meu amigo. Não é por nada não, mas se tua mãe tiver metade do ciúme que tu tens, estou ferrado”, disse o general.

– Ele que experimenta olhar diferente para outro rabo-de-saia que conhecerá a minha potência para proteger o que é meu.

O casal de namorados, como se fossem adolescentes, entrou no carro e saiu para uma noite só deles. “- Desligue esse celular. Não quero nada nos atrapalhando nesta noite de sábado”, sentenciou o militar para delírio de Eleanora.

Tarsila e Amadeu também se preparavam para ir embora quando o vice-presidente chamou o amigo para uma conversa a sós. “- Márcio! Te adoro, mas por mais que seja complicado os lances com a minha irmã, não a deixe em hipótese alguma. Ela é uma pessoa difícil e por tudo o que passou a coisa fica mais complicada, mas realmente, ela surta só de saber que você pode vir a deixa-la”.

– Amadeu! Sei que preciso amadurecer, mas às vezes não é fácil. Tento encontrar saídas para não incomodá-los, mas quanto mais tento, mais todos ficam enrolados com as nossas histórias e a ciumeira dela.

– Falarei por mim e pela minha Tarsilinha. Jamais estará nos incomodando quando a barra estiver pesando com Angélica. Nos grite e iremos em seu socorro. Não tenha vergonha de pedir ajuda aos amigos: não tenho nenhum guarda-chuva para te emprestar, mas ficarei o tempo todo contigo na chuva.

Assim que o vice-presidente terminou, Tarsila se aproximou dizendo ao amigo que no próximo final de semana o jantar seria na nova casa deles. “-Mudaremos essa semana e no sábado faremos várias pizzas no forno a lenha. Estou ficando enjoada de tanto churrasco. E aproveitaremos para definirmos tudo sobre a inauguração da editora”.

– Obrigado Tarsila por segurar a minha onda e de minha esposa.

– Vocês formam a minha família que ganhará mais um integrante logo, logo. Então continue a fazer o que lhe disse: cuide dela e assim como Amadeu lhe disse estaremos sempre juntos, pois sei que se eu o meu marido precisarmos, você estará conosco.

“- O que farão hoje à noite”, perguntou Márcio que obteve a mesma resposta de sempre: “- Tu não achas que está muito curioso? Aqui não é o jornalista e sim meu grande amigo, mas não vou te dizer o que a noite reserva para eu e minha Tarsilinha”, informou Amadeu.

O editor caiu na gargalha porque tinha feito a pergunta em tom provocativo. Enquanto o casal de amigos começava a se afastar, a esposa de Márcio chegou perto dizendo que estava com saudades do marido. Tarsila olhou para ela com expressão de troça e obteve como resposta: “- O que posso fazer se sou apaixonadíssima por esse homem”.

Tarsila se aproximou deu um beijo no rosto da cunhada, dizendo no ouvido dela: “- Cuide bem dele, pois todos sabemos que existem um caminhão de mulheres esperando ele ficar sozinho para o disputarem no palitinho”.

– Quem são? Me diga que vou pegar uma por uma.

A cunhada e o irmão caíram na gargalha se despedindo dos dois. Márcio pegou a esposa pela mão e ingressaram no prédio, onde encontraram Débora abraçada com Esdras que havia acabado de chegar, Fernanda e Ricardo. Os quatro já estavam para deixar o espaço quando os dois entraram e, sem dizer muita coisa, despediram do editor e sua esposa. “- Ricardo, te espero aqui na terça-feira às nove horas. Temos muito trabalho pela frente. Depois combinaremos o pagamento”. “- Está certo Márcio”, disse o interlocutor já na porta do automóvel que tinha deixado no estacionamento da editora.

Novamente sozinhos, Márcio e Angélica se entreolharam, pois não tinham definido nada para aquela noite, contudo o marido foi surpreendido pela esposa que se agarrou ao seu pescoço pedindo novamente desculpas pela infantilidade dela na noite anterior.

“- Meu amor, quando é que esse medo que tu tens que eu vá te deixar, te abandonará”, perguntou o editor.

– Marzinho, sinceramente eu não posso te afirmar, mas o que dá para te dizer que quando estou contigo, nada no mundo é mais importante do que te amar e ser amado pelo seu coração. Já lhe falei isso um milhão de vezes e tornarei a repetir outros milhões: você é a primeira pessoa que eu não preciso mostrar meu talão de cheque, meus cartões de crédito e meu status para tê-lo comigo. Isso é um enorme alívio, mas também me deixa num gigantesco cagaço, pois pode ser que você encontre alguém sem traumas nenhum e possa te fazer mais feliz do que eu estou lhe fazendo.

Márcio puxou a esposa e se sentaram no sofá com ela no colo dele. “- Vou te contar uma pequena história e quero que preste bastante atenção nos detalhes. Era uma vez um homem que vivia de bar em bar, feito uma mosca de boteco e numa bela noite de segunda-feira ele apenas queria encher a cara como fazia nas vezes anteriores, mas encontrou um doido que estava disposto a ficar lhe zoado o tempo todo”.

Assim que Márcio terminou de falar, Angélica lhe beijou e Márcio pediu para continuar a narrativa. “- Esse homem que pensava ser um jornalista de fato, desejava apenas publicar umas matérias para ganhar uma sobrevida até decidir o que queria da vida, mas ele foi atropelado pela primeira dose de uísque que bebeu com uma fonte de sua matéria”.

– Amor! Eu sei disso tudo!

– Mas parece que não, pois se comporta como uma doidivanas. Ofende, agride e depois pede desculpas. Mas para tudo tem um limite e ontem a noite eu cheguei no meu, justamente porque você agiu como uma menina mimada que não foi com a cara da empregada, exigindo que ela fosse demitida e como o seu objetivo não foi alcançado, começou a sabotar o trabalho dela.

Angélica se levantou rapidamente do colo do marido, como se ele estivesse com milhares de pregos na perna a lhe furar a bunda. “- Quer ir embora, pode ir. Eu sabia que era só aparecer uma mulher mais interessante do que eu que ficaria com essa conversa mole de sempre”.

– Está vendo! Eu te digo uma coisa e tu distorce o que lhe disse para tentar se proteger e se colocar como vítima e, sinceramente, não é essa a minha intenção. Eu quero ficar contigo até o fim da minha vida. Quando o motorista do ônibus disse que eu não podia seguir viagem porque minha esposa tinha cometido suicídio, foi como se o Sol tivesse esfriado.

“- Meu deus amor. Me ajude por favor. Eu sinto que estou tentando acertar, mas sempre cometo erros. Me diga onde preciso me ajustar para viver serenamente esse amor”, pediu Angélica.

“- Busque com todas as suas forças, abandonar esse seu complexo de inferioridade. Essa ideia de sempre ser vítima das coisas e das situações. Embora diz que me ama, quanto mais eu penso nesse sentimento, mais eu sinto que ele te queima a alma. Sabe, parece que está sempre tensa, com receio de alguma coisa. Quando tu estavas com a Rosângela isso acontecia”, inquiriu o editor.

“- Márcio por que tudo tem que parecer uma batalha? Por que simplesmente não podemos apenas nos amarmos e curtirmos esses momentos”, perguntou a empresária.

– Por uma razão muito simples: porque você acha que eu sou um brinquedo. Algo que é seu e tem medo de que alguém lhe tire. Parece ser uma criança crescida e eu sei por que isso acontece. E por saber é que tentei te deixar ontem, pois enquanto não admitir que isso é o problema e não as mulheres lá de fora, continuaremos nesse empasse.

Sem pensar, Angélica sai da editora e apenas diz tchau para o marido que pergunta onde ela está indo. “- Embora e não quero você comigo. O que acabou de me dizer, indica que está comigo me fazendo um favor. Não quero coração, pinto estando do meu lado por favor. Então me deixe e siga seu caminho e eu seguirei o meu”.

“- Tudo bem se você quer assim. Tchau”, se despediu Márcio.

Assim que a esposa saiu em prantos, o editor ficou ali de pé na sala, estático sem saber o que fazer. Repassou sua vida nas últimas 24 horas e pode observar o quão confuso foi aquele dia. Primeiro deixou um bilhete terminando tudo com a esposa, pois havia atingido o seu limite, depois é avisado que ela tinha cometido suicídio. Volta desesperadamente para um velório que nunca houve e agora ela o deixa. “Paciência”, pensou o editor repensando o espaço para saber como iria dormir aquela noite.

Fechou tudo com muita calma e tomou banho, mas precisou se enxugar com duas toalhas de rosto que havia no local. Pelo fato de o prédio, antes de virar a sede da editora, ter sido uma residência, o chuveiro foi deixado no cômodo que foi usado como suíte.

Olhou para o relógio e percebeu que os ponteiros se aproximavam das nove horas. O corpo começava a apresentar sinais de cansaço. Dos livros que havia colocado na estante para serem comercializados pela livraria da editora, Márcio pegou um aleatório e percebeu que era de poemas e abriu justamente na página em que o autor desejava combinar inverno sem inferno, porém, com paixão e tesão. Automaticamente seu pensamento se voltou para a sua esposa.

Recolocou o livro na estante e a mente ficou vagando, passeando pelos mesmos caminhos e cenas que viviam pululando em sua memória. E de vivência em vivência, acabou dormindo e no sonho tentava sair de um labirinto. Sempre achava que conhecia o caminho para chegar à porta, mas novamente, dava numa parede intransponível. Foi transportado para o mundo material por sons que imaginou ser trovões e relâmpagos, mas ao olhar para a porta da rua que era de vidro, ainda tendo os olhos embaçados, viu um vulto que parecia ser de mulher.

Esfregando os olhos, conseguiu enxergar que se parecia com Angélica. Ao abri-la se deparou com a esposa em prantos e quando entrou já foi perguntando onde ele havia escondido a amante. “- Eu sabia que você só estava esperando eu sair para deixar ela entrar. Por que demorou para atender a porta. Vamos lá, me diga onde está aquela vagabunda”.

Aos berros, Márcio gritou com ela. “- Porra Angélica. Quer parar com essa paranoia. Não tem mulher nenhuma aqui. Caralho! Você não gosta de ouvir as verdades que te digo e sai batendo o pé como um adolescente mimada e agora vem aqui me encher o saco com a merda do seu ciúme. Reviste a casa inteira e depois suma da minha vida. Não aguento mais. Estou tentando segurar a onda contigo, mas não sei mais o que fazer”, disse Márcio em prantos, sentado no sofá.

Angélica ajoelhou e começou a chorar também, pois percebeu que o marido estava sem forças para seguir em frente com ela naquele estado de neurose e ciúme. “- Vamos para casa amor. Lá poderemos conversar melhor. Você acha que precisamos de uma segunda lua de mel”, perguntou Angélica.

– Não precisamos de nada, mas apenas que você controle sua insegurança. Também tenho ciúmes de ti, mas procuro me segurar, do contrário, nosso casamento se transformará numa briga de foice no escuro. Por favor, vamos dar paz para o nosso amor, do contrário, ele acabará saindo porta afora.

Ao dizer isso, o editor deixou claro que não havia mais tempo para os dois postergar a felicidade. Ou ela começava a se policiar a partir daquele momento ou a próxima discussão poderia selar o fim do casamento deles. Angélica já de pé e enxugando as lágrimas com uma das mãos, oferece a outra para o marido se levantar e lutar junto com ela para fornecer paz ao coração dos dois.

Quando o casal deixou a sede da editora, os ponteiros marcavam quase onze horas e o esposo apenas respirou fundo, dando um aperto na mão da empresária. Por mais que tentasse, não conseguia deixar de amá-la. Ela parecia, ao mesmo tempo uma rocha firme, mas por dentro um cristal prestes a se partir em mil pedaços. “ – Onde você estava”, perguntou Márcio à Angélica que respondeu dizendo que ficou andando sem rumo pela cidade, olhando as luzes, as vezes observando os casais de namorados felizes e ela tinha tudo para viver assim, mas havia um medo a lhe corroer de dentro pra fora.

Pararam na vaga destinada ao apartamento da empresária e deixaram o veículo de mãos dadas, sem dizer uma palavra mais. Entraram no elevador, basicamente sem tocarem uma outra parte do corpo que não fosse as mãos. Dentro do apartamento, Angélica se dirigiu ao quarto e o marido foi pegar uma dose de uísque para tentar arrumar a casa mental, sentimental e depois o mundo do casamento com a empresária.

Ela sabia que não podia pedir nada, mas deixar o diálogo aberto e se ele quisesse conversar, mas sabia que sempre eram aquelas palestras filosóficas que já estavam cansando, pois não resolviam absolutamente nada. Márcio dizia, dizia, mas no dia seguinte lá estava ela com a cabeça toda desarrumada e o coração em chamas.

O esposo ficou de pé olhando as estrelas, repetindo as mesmas ações quando discutiam e ele buscava nos corpos celestes respostas para o que estava vivenciando. Amava em demasia aquela mulher, não só pela beleza externa, mas sobretudo pela alma que, quando não surtava, era a mais bela que já tivera contato. “- Mas por que a feiura do mundo, a violência das pessoas sempre danifica o mais profundo do ser de indivíduos que tinham tudo para encantar esse mundo”, pensou o editor.

Virou o conteúdo do copo todo na boca e o encheu novamente com outra dose dupla do uísque que aprendera apreciar com o cunhado. Ao recordar do amigo, lembrou das conversas e de como a cabeça dela era uma verdadeira bagunça e só não ficou mais desarranjada por Tarsila segura a onda. Voltou à memória aquela conversa com o vate naquele churrasco na mansão em que o cunhado disse que a irmã não tinha ninguém, exceto ele, Márcio.

Fez o mesmo movimento, ingerindo tudo de uma vez só o líquido que havia no copo e o enchendo novamente e quando foi bebericar, ouviu a voz da esposa lhe perguntando se estava tentando achar alguém no fundo daquele copo, pois era a terceira vez que o via esvaziar. Márcio se virou, observando a esposa que emanava desespero pelos olhos, colocou o copo sobre a mesa da sala e estendeu os braços a ela.

“- Venha aqui meu amor”, chamou o esposo no que foi prontamente atendido. Abraçou Angélica com todo carinho do mundo, como querendo protegê-la das maldades do mundo e das sevicias sofridas do pai. “- Me ajude Márcio, sei que estou caindo, mas não tem nenhum lugar para eu me apegar e assisto meu corpo se esfacelando no chão”.

– Segure em meu coração e em minhas mãos e eu te garanto que a sensação de queda cessará. A outra coisa é confiar no amor que eu lhe tenho e no sentimento mais nobre que me tens.

– Amor é o que eu mais tento, mas não sei o que me acontece que estrago tudo como ontem e hoje. Dois dias que era para estarmos felizes, pois vice está dando os passos para a realização de um sonho e eu com minhas criancices quase estrago tudo.

“- O que é melhor? Pensar ou viver”, perguntou o editor à esposa.

– Viver é claro e mais ainda o presente.

– Então vivamos o presente. Você está aqui comigo e eu contigo e não existe nada entre nós dois, exceto nossas inseguranças. Tu com medo de não conseguir me fazer feliz e eu do mesmo jeito, com cagaço de não te deixar com esses olhos eternamente brilhantes.

“- Posso colocar uma música para nós e por favor não beba mais. Não sei se o seu fígado aguenta. Acabe essa dose e pegue uma cerveja sem álcool na geladeira que eu te acompanho”, pediu a empresária.

– Está bem paixão.

Enquanto Angélica foi até a cozinha pegar as duas cervejas, Márcio ingeriu o conteúdo de copo de uísque e ficou novamente encarando as estrelas. “Estrela, estrela amiga, me diga como faço para deixar a mulher da minha vida mais feliz da vida ainda”, disse baixinho para si mesmo enquanto sentia um sopro no ouvido. Era a voz de Angélica que tentava responder: “As estrelas mandaram dizer que a sua resposta está indisponível, mas que sua esposa fará tudo o que for possível para ser digna desse amor”.

Ao terminar de dar a resposta a Marzinho, Angélica se sentou no sofá, abrindo as duas cervejas e enchendo o copo de ambos, enquanto a sala do apartamento era preenchida pela música que a esposa havia escolhido. Márcio se sentou do lado dela e brindou desejando dias melhores. Ao terminar tomar o primeiro gole, o editor ficou com marca da espuma na boca levando a esposa a gargalhada.

Beberam em silêncio, enquanto a música embalava a dança das almas que tentavam ajudar os corpos materiais a ficarem bem. Colocando os pés em cima do sofá, Angélica foi se ajustando ao corpo do marido como quem procura abrigo e proteção. Assim que um estava ajustado ao outro, o mundo lá fora desapareceu e o casal dormiu, sendo que o marido sonhou novamente com o labirinto e sua busca alucinadamente pela saída daquele local. Enquanto tentava encontrar uma forma de escapar do espaço, percebia que era acossado por um monstro difícil de ser definido.

Eram duas e meia quando os dois acordaram assustados com forte barulho e um clarão dentro da sala. Ao abrir os olhos Márcio resmungou: “- Não acredito que vai chover novamente”. A esposa perguntou da mesma forma se ele não gostava de chuva. “- Gosto, mas nas últimas semanas tem mais chovido do que feito sol nessa cidade”.

– Vamos para cama amor. Amanhã quero folga de todo mundo; de minha mãe, do general dela, de Amadeu e Tarsila, enfim quero o domingo só para nós dois. Desejo paz entre eu e o meu Sol.

Quando se levantou Márcio recordou que ambos precisavam tomar banho, mas ao falar sobre isso com Angélica, ela pediu para deixar para quando acordassem no domingo. Queria ficar abraçada com ele até as estrelas chegarem para entoar uma canção de ninar. Assim que os dois corpos desabaram na cama, foram tomados pelo sono e o que parecia chegar apenas no domingo precipitou ali mesmo e o casal dormiu com o som da chuva executando uma sinfonia na janela.

Eleanora foi ao cinema com Alexandre e se encontrou com Roberto e Danisa que estavam lá para assistir o mesmo filme e na mesma sessão. Os quatro se sentaram próximos e em seguida foram a um barzinho e o assunto não poderia ser outro: o casamento de Angélica e Márcio. “- Ontem eu senti que o Marzinho ia deixar a sua filha. Pelo bilhete, deu a entender que estava no limite”, disse o diretor das Organizações Oliveira.

“- Por que o Márcio é assim, Roberto? Vocês são amigos há muito tempo e deve saber como funciona a mente dele”, inquiriu à sogra ao amigo do genro.

Antes mesmo que o diretor dissesse alguma coisa, surpreendentemente foi Danisa quem falou. “- Adoro o Marzinho, mas ele é meio Caxias. Não quer que nada saia do prumo. Parece que sonhou com o casamento perfeito, contudo, no fundo não existe perfeição, mas apenas duas pessoas que querem juntar suas qualidades e tratar de suas imperfeições. Seu genro ainda não percebeu que enquanto não admitir que tem defeitos, sempre quererá fugir quando a porca torcer o rabo para os lados dele”.

“- O que você acha, Roberto”, perguntou o general.

“- Marzinho padece do mesmo problema que Angélica: é mimado e muito protegido e nisso todos nós somos responsáveis. Sempre estamos tentando livrá-los do sofrimento. Mas uma coisa eu garanto a vocês: ele é tão doido pela esposa quanto ela é por ele”, respondeu Roberto.

“- E o que podemos fazer para melhorar isso”, inquiriu Eleanora.

“- Deixá-los quebrar a cabeça um pouco”, sentenciou Danisa.

“- Parece menina que você não gosta do Márcio e nem de minha filha”, sentenciou Eleanora de maneira que parecesse com uma pergunta.

– Imagina! É que estou um pouco cansada dos dois se meterem em nossas vidas por conta das atrapalhadas da Angélica e infantilidade do Márcio. Parecem dois adolescentes que não querem ficar mais com o outro, contudo não conseguem ficar longe.

“- Nisso tens razão Danisa”, disse Elanora.

– Eu já avisei o Roberto. Se esses dois estragarem mais um programa nosso, ele terá que escolher: ou fica comigo ou dormirá na cama com o Marzinho. Por que é um grude desgraçado com o amigo. Tudo bem que se conhecem desde os primeiros dias de universidade, mas é preciso dar um tempo para as nossas cabeças.

O general olhava para a esposa de Roberto curtindo a franqueza dela, pois se todos fizessem assim, Angélica e Márcio tomariam jeito. “- E começa amanhã. Se o Márcio ou Angélica nos ligar e o Beto foi atendê-los, pode levar as malas, pois na minha cama e na minha casa eu não o quero mais”.

Eleanora olhou para o casal e caiu na gargalhada, virando o resto do chope na goela. “- Também não é assim, né Danisa”. Antes mesmo de o marido terminar de falar, a esposa sentenciou: “- Experimenta para ver o que lhe acontece”.

– Vamos combinar assim: todos nós desligamos os telefones e caso eles tentem falar conosco, não conseguirão. Falarei com a Fê logo cedo. Se bem que estará toda envolvida no processo de mudança para o apartamento do Márcio que nem vai ter tempo de atender qualquer ligação”, explicou Roberto.

A conversa caminhou para outros campos, mas de uma coisa todos estavam convictos: precisavam deixar que Angélica e Márcio resolvessem seus problemas. “- Eu conversei com Judith e ela me disse que não posso prejudicar o meu casamento por conta daqueles dois desmiolados. Segundo ela, eles vivem aprontando porque sabem que sempre tem alguém dando um jeito para arrumar tudo”, relatou Roberto.

Quando os dois casais deram por conta da hora os ponteiros se aproximavam das duas horas e Danisa não apresentava nenhum sinal de cansaço ou enfado, pois finalmente conseguiu dizer tudo o que desejava, não para Angélica que com certeza não escutaria nenhuma palavra, mas para a mãe dela que, de algum modo, tinha culpa naquele comportamento desastrado da filha no que diz respeito ao marido.

Somente quando deixaram o barzinho é que os casais perceberam que uma forte chuva caia sobre a cidade. Fernanda dormia tranquilamente no quarto com Débora em mais um novo teste para o noivo que, sem saber, teria que esperar até o casamento, que aconteceria dali uma semana e na segunda-feira a noiva falaria com Roberto para dobrar o Marzinho para contratar Ricardo em definitivo.

Depois de um dia que começou tenso, terminou com as peças do tabuleiro do amor em suas devidas casas, isto é, Angélica e Márcio um nos braços do outro, Danisa e Roberto curtindo a chegada do primeiro filho e assim foi também com Tarsila e Amadeu, Eleanora cercando o general por todos os lados e dormindo pela segunda noite consecutiva na cama dele, Fernanda e Ricardo iniciando os planos para o casamento e Esdras entendendo que não podia dar bola fora com Débora.

Do jeito que dormiram, os nubentes acordaram, contudo, o que o casal que vivia em pé de guerra não sabia é que os amigos desligaram seus telefones naquele domingo para ver se os dois finalmente encontrariam paz no casamento. Angélica e Márcio despertaram por volta das nove horas com o único propósito de tomarem banho e retornarem para a cama. Mas a questão era como retornariam para o colchão.

O editor despertou com o barulho do celular que havia sido previamente programado para aquela hora. Quando já estava debaixo do chuveiro e de costa para a porta do box, percebeu a entrada da esposa que já foi lhe beijando a nuca e querendo saber por que não a chamou. “- Achei que quisesse dormir mais um pouco”, disse o marido já sentindo as mãos dela sobre o membro. “- E perder tudo isso aqui nesta manhã de domingo? Nunca”.

“- Amor acho que a cidade ficará hoje em baixo d’água”, disse Márcio.

“- Desde que o seu pau esteja todinho dentro de mim, eu não me importo”, cochichou Angélica no ouvido do esposo.

Diante da investidaa da esposa, bem que o editor tentou, pois não queria fazer amor com ela como uma forma de perdoá-la, entretanto, Angélica não deu nem tempo dele pensar o que almejava fazer, pois a empresário se agachou dentro boxe tomando o membro do marido na boca, o sugando de tal maneira que ele não segurou muito tempo as estocas e carícias que ela fazia com a língua, enquanto lhe massageia o escroto e alisando bunda. Em questão de minutos, o editor ejaculou entre urros de prazer, enquanto Angélica se levanta lhe dizendo que agora estava tudo pronto para um dia de pleno amor e muito gozo.

Depois do banho com direito a orgasmo sonoro de Márcio, o casal volta para a cama e mergulha no silêncio do apartamento, apenas quebrando pelas águas da chuva que sacudiam a cidade, deixando vários pontos alagadiços. Na casa de Fernanda, Ricardo havia se deslocado para o imóvel para ajudar a noiva a organizar seus pertences para iniciar a mudança para o apartamento emprestado por Márcio. A ideia era ir transportando as pequenas coisas no transcorrer da semana e no dia que a loja entregasse os móveis que comprariam na segunda-feira, já tinha acertado uma folga para deixar a nova residência impecável.

Depois de muito dos pertences estarem ajustados e no final do dia seriam colocados no automóvel de Ricardo e transportado para o novo prédio, Fernanda convidou o noivo para almoçar, mas como ele estava todo molhado de suor, precisava de um banho. Ficou meio sem jeito porque não tinha levado roupa para se trocar, mas tudo foi resolvido pela gerente das Organizações Oliveira.

Assim que Ricardo entrou para o banho, a noiva, silenciosamente o seguiu, percebendo o quanto era desligado. “Meu deus do céu: o cara odeia o Marzinho, mas é desligado como ele”, pensou Fernanda enquanto aguardava calmamente ele estar completamente debaixo do chuveiro. Sem fazer alarde, tirou a roupa e o abraçou pela cintura, colocando uma das mãos diretas no membro de Ricardo que correspondeu ao toque, deixando a noiva encantadíssima.

“- Por que será que eu sabia que essa potência seria totalmente minha, hein meu amor”, perguntou Fernanda enquanto Ricardo se virava encostando o falo nos montes púbicos da gerente das Organizações Oliveira. Ela o fitou bem dentro dos olhos, dizendo que já era hora daquele belo instrumento encontrar a sua casa do amor e do prazer.

Ao ouvir esse comentário, Ricardo, com uma das mãos, segurou Fernanda pelas costas e, com a outra, acariciava a vulva dela com o seu membro, a levando a loucura, fazendo com que a noiva erguesse uma das pernas, justamente no momento em que Ricardo fez um movimento para levantá-la no colo, introduzido, ao mesmo tempo, seu pênis totalmente na vagina da futura esposa que urrava de prazer, mordiscava a orelha dele, dizendo: “- Me come inteirinha meu macho delicioso. Sacie minha fome com esse pau delicioso”.

Quanto mais fazia o movimento de vai e vem no colo do noivo, mais ela tinha a sensação de que o membro ficava maior preenchendo totalmente a vulva dela que o recebia com uma volúpia nunca sentida antes por Ricardo com as mulheres com as quais já tinha saído. No momento em que Fernanda foi sacudida por espasmos orgásticos imensos, o noivo ouvindo os sons que vinha d’alma da noiva, ejaculou muito dentro da noiva que, ao sentir o esperma quente em suas entranhas, gozou novamente.

Assim que retomaram o fôlego, Fernanda disse ao noivo: “- Agora estou pronta para outra refeição que vou preparar enquanto meu nego fica belo e lindo para uma tarde só nossa. Eis o nosso segredo: só tua rola conhece a minha casa do prazer. Te amo”.

Fernanda entra num roupão e se dirige à cozinha enquanto Ricardo, sem acreditar no que tinha acabado de ocorrer, tomava banho pensando no quando desejou aquele corpo, mas nunca atravessou, avançou o sinal, deixando que a noiva tomasse as rédeas. “Eis o nosso segredo. Só tua rola conhece a minha casa do amor”, pensou o tecnólogo.

Enquanto se enxugava, entendeu que nunca Marzinho teve Fernanda nos braços enquanto mulher, da maneira como ele a teve debaixo do chuveiro. Percebeu que não tinha roupa limpa, portanto, seria complicado ficar a tarde toda com ela. “- Dê-me sua roupa, lavarei e depois colocarei na máquina para secar, de modo que no final da noite quando fores embora, ela estará seca”, explicou Fernanda entrando no banheiro, lhe dando um calção dela para que ele não ficasse pelado.

“- Mas é uma roupa de mulher”, exclamou o futuro esposo.

– E daí? Qual é o problema? Você acabou de me comer deliciosamente e agora fica todo cheio de frescuras porque colocará uma bermuda minha. Não vem com essa putaria de machismo comigo não. Se não quiser, pode colocar essas suas roupas sujas e ir-se embora daqui.

– Caralho Fê! Não posso dizer nada que tu já queres me despachar.

– É! Para você entender como a coisa funciona comigo. Não tem essa de machismo e isso e aquilo. A nossa trepada é dividida, ou seja, não existe essa coisa de só um ter prazer. Deve entender que nós mulheres detestamos homens apressados que querem trepar e correr contar para os amigos brochas e punheteiros de pinto murcho.

“- Já entendi. Não precisa começar com a ladainha”, disse Ricardo de forma exasperada.

– É bom mesmo! Porque posso iniciar uma missa enorme.

Ao dizer isso, Fernanda deixa o noivo no banheiro, indo colocar a roupa na máquina de lavar. Assim que Ricardo chegou na cozinha, fez menção de abrir a geladeira para pegar uma cerveja e Fernanda perguntou com autorização de quem ele desejava abrir aquele eletrodoméstico.

Antes mesmo dele dizer alguma coisa, já levou uma esfrega da noiva. “- Aqui é a minha casa, portanto, minhas regras. Quando eu abri a geladeira de sua casa? Adoro sua família e a tenho como se fosse a minha, mas lá as regras são definidas pelo seu pai e sua mãe. E aqui eu é quem faço”.

Sem saber o que fazer, Ricardo deixou a noiva na cozinha e se dirigiu à sala e só escutou ela dizendo que não era para ficar procurando canais com jogo de futebol. Ele podia escolher uma música para os dois e só isso. Ao ouvir isso, o noivo brochou e ficou sentado na poltrona pensando se teria realmente pique para continuar o relacionamento com Fernanda. “- Bastou eu comê-la para virar outra mulher. Que diabo é isso”, se perguntou mentalmente, levando o pensamento para Márcio. “É por isso que não dão certo: os dois são iguaizinhos. O cara é um tremendo pé no saco e Fê é cheia disso e daquilo. Se os dois morassem juntos, fariam concursos diários para ver quem seria o mais chato”.

Como estava de olho fechado, Ricardo não viu que todos os seus movimentos feitos com a cabeça, inclusive com os olhos em constante movimento, estavam sendo observados por Fernanda. Ela o amava, mas não ia ser presa fácil para aquele pau gostoso. O noivo precisava saber que jamais iria retirar dela a autonomia em qualquer lugar que fossem.

Duas coisas a irritaram profundamente: a primeira foi ele ter se recusado a usar a bermuda que ela havia lhe emprestado. “Marzinho usaria sem problema algum. Acho que até uma calcinha minha se fosse preciso”, pensou Fernanda que odiou ele chegar na cozinha, ir abrindo a geladeira para pegar cerveja depois de terem se amado embaixo do chuveiro. Na verdade, a noiva esperava que ele a procurasse novamente com promessas de mais trepadas à tarde.

Ao abrir os olhos, Ricardo viu que era observado. “- Faz tempo que estava aí amor”, perguntou o noivo.  “- O tempo suficiente para perceber que procurava algumas coisas com os olhos, mesmo eles estando encoberto pelas suas pálpebras. Resta saber se estava procurando uma saída de dentro do meu coração. Se for, eu lhe dou a chave com prazer”, disse Fernanda, abrindo a porta da sala indicando ao noivo que poderia ir embora se assim desejasse.

– Porra amor! Você não me dá um tempo para processar tudo isso.

– Acho que já te dei mais do que devia para receber as consequências do prazer que tivemos. Terminarei o almoço e depois pode voltar para a sua casa e ir lá contar rapidinho para seus amiguinhos brochas que finalmente você me comeu. Mas se algum desses filhos da puta falar algo a meu respeito, se considere eunuco. Eu te capo e enfio seu pau e as bolas na boca daqueles degenerados.

Ricardo ficou sem saber o que fazer. Tentava mentalmente saber onde havia pisado na bola para ter deixado Fernando completamente irritada. Repassando tudo o que aconteceu logo depois da trepada no banheiro, entendeu onde havia feito merda. Os velhos hábitos ainda não haviam o abandonado de vez. Teria que agir de modo bem diferente, sem indicar que havia compreendido o equívoco e o repararia sem pedir desculpas e prometer que não faria mais isso.

Em silêncio, se encaminhou para a cozinha e ficou observando a noiva. Enquanto a paquerava, prestava atenção em cada detalhe do corpo dela dentro aquela roupa transparente e ao chegar perto de Fernanda a abraçou por traz e ela lhe perguntou o que estava fazendo, ao mesmo tempo que sentia o falo roçando suas nádegas. “- Não deixando o coração de minha galega esfriar. Quero ele sempre encandecido e apaixonadíssimo pelo meu”, disse o noivo dando uma mordiscada na orelha da noiva que se arrepiou inteirinha.

– Pensou mesmo que iria embora e te deixar aqui sozinha num dia chuvoso como esse em que podemos ficar só nós dois juntinhos, sem ninguém para nos incomodar”, perguntou Ricardo já correndo as mãos pela bunda dela que correspondeu ao carinho, mas conteve o ímpeto do noivo. “- Teremos a tarde toda para nos esbaldarmos: eu me desmanchar em cima desse pau delicioso e você deixar que minha buceta te devore ternamente”, disse Fernanda se desvencilhando dos braços do futuro marido, lhe acariciando o pênis.

– Prepare a mesa e vamos almoçar. Resolvi fazer aquele prato que fiz quando você veio jantar a primeira vez aqui em casa e chovia para caralho como hoje. Naquele dia eu descobri o quanto eu desejava tê-lo como meu tudo.

Pedindo orientações à noiva, Ricardo foi deixando tudo ajustado do jeito que ela pedia. Enquanto cumpria com o determinado, olhava a pia e o volume de louças que se acumulava. Pensou em deixar tudo limpo para ela depois do almoço, enquanto ela, com certeza se arrumaria para ficar a tarde com ele.

Assim que terminaram o almoço, o noivo agradeceu a alimentação, recordando que naquela noite quase não conseguiu ficar à vontade. Ela afobada e os amigos de marcação com ele. Fernanda encostou a cabeça no ombro dele e assim ficaram por uns dez minutos, quando Ricardo lhe sugeriu que fosse colocar uma música, enquanto ele organizava a cozinha.

Fernanda não pensou duas vezes e se deslocou para a sala. O noivo deixava tudo bem organizado. Só não ajustou os pratos, talheres e panelas porque não sabia como ela gostaria que a coisa fosse feita. Quando Fernanda percebeu que Ricardo estava indo à sala, se arrumou de um jeito que iria surpreendê-lo e de fato o fez.

“- Já que não gostou de usar a minha bermuda, então o melhor a fazer é tirá-la”, explicou a gerente já abrindo o calção e colocando o membro do noivo para fora que, entre surpresa e a reação, o deixou do tamanho que ela desejava. Ao coloca o falo entre os lábios, Ricardo urrou de prazer e justamente no momento em que gemia algo, um trovão seguido de raio se fez anunciar dentro do imóvel. Quando estava quase para gozar, o noivo pegou Fernanda novamente no colo, introduzindo totalmente o seu pênis na vulva dela, fazendo com que a noiva arfasse de prazer.

Como se Fernanda não pesasse quase nada, Ricardo a levou para o quarto e com a movimentação do seu caminhar, a noiva enlouquecia nos braços dele, pois não parava de gozar. Um orgasmo atrás do outro, justamente porque ele a surpreendeu. Já na cama, depois de umas quinze estocadas e outros vários orgasmos de Fernanda, Ricardo gozou, entre berros e lágrimas dizia amar loucamente a noiva.

Depois de passado os espasmos orgásticos dos dois, Fernanda notou as lágrimas no rosto de Ricardo e lhe perguntou o que estava acontecendo. “- Pela primeira vez estou me sentindo feliz e sei que estou seguro contigo. Sei que preciso melhorar e muito, mas quero tê-la do meu lado todos os dias, meu amor”, disse Ricardo enquanto Fernanda se ajustava em seu peitoril, puxando um pequeno cobertor para cobrir os corpos nus.

No apartamento de Angélica, Márcio já havia se levantando e olhava pela janela da sala, a chuva torrencial que desabava sobre a cidade. Não passaram dez minutos e a esposa estava do seu lado querendo saber o que tanto o encantava. “- São estrelas, é o Sol, agora é a chuva. Meu deus do céu, meu amor, porque a natureza de encanta tanto”, perguntou a empresária.

– Ela é tudo para nós. Nos fornece alimento, nos encanta com suas belezas singulares, nos permite conversar com as estrelas, seja em formato de prosa, poesia, verbo rasgado, berro, estrondo, raios e trovões. Enfim, minha eterna amada, enquanto tudo isso estiver acontecendo, é sinal de que o Senhor da Vida que está presente na natureza, ainda confia piamente na humanidade.

“- Gostaria muito de entender essa sua devoção pela vida, pois você me parece outro homem, totalmente diferente daquele jornalista ensebado e alcóolatra que conheci num domingo chuvoso como esse de hoje”, disse Angélica.

– O que posso dizer é que talvez esse ser de hoje já estava contido naquele repórter derrotado de outrora. Creio que ele estava esperando ser despertado por uma estrela. Só esse corpo celeste chegou na vida dele como um raio que risca no céu estrelado anunciando que mais tarde virá uma tempestade.

Dependurada nas costas do marido, Angélica olhava a chuva e ao mesmo tempo pensava nas últimas palavras do agora proprietário da Jardim da Leitura. Percebendo que a esposa ficou em silêncio, Márcio a seguiu abrindo um pouco a janela para deixar o barulho da chuva invadir o apartamento.

Ficaram nessa contemplação por cerca de vinte minutos, até que a empresária se distraiu e o esposo deu um jeito de fugir dela, pois queria apreciá-la sozinha, conversando com o ser dela que habita a alma. Quando pensou em dizer alguma coisa a Marzinho, Angélica percebeu que estava sozinha. “-Ué! Onde se meteu esse homem”, se perguntou a empresária que saiu a sua procura pelo apartamento o encontrando na cozinha.

– O que fazes aqui amor?

– Dar uma olhada para ver o que podemos fazer para o almoço de logo mais.

– Com certeza nada que contenha carne vermelha ou de outro animal qualquer. Ingeriu muita coisa ontem, portanto, é preciso esperar seu organismo se livrar de tanta toxina. Estou pensando em fazer um nhoque de batata-doce com carne de soja.

“- Está bem amor”, afirmou o editor.

– Mas não é agora não. Estou com fome de outra coisa. A não ser que meu adorável marido não queira alegrar sua esposa esfomeada.

– Depende do que ela tem em mente. Posso saciá-la com leitura, cultura e boa filosofia.

A esposa não lhe disse nada, saindo contrariada, voltando para a sala, contudo, foi pega no colo pelo marido que a transportou até o sofá, a beijando avidamente e correndo uma das mãos por toda a extensão do corpo dela, pelo menos até onde o abraço alcançava. Com os carinhos, Márcio deixou Angélica em ponto de brasa. Parava e iniciava todo o movimento, indicando não ter pressa de ver a esposa atingindo o clímax. Ela gostou do jogo sexual e fez o mesmo com o esposo que, assim como ela, parecia desejar subir pelas paredes.

Enquanto Márcio e Angélica se deliciavam um com o outro no sofá e depois no quarto, com o marido caminhando até a alcova tendo a esposa no colo enquanto seu membro a penetrava profundamente, na residência de Pedro e Fabrícia, a conversa do casal junto com os filhos era uma só: a mudança de vida, ou pelo menos de casa e em breve poderiam residir na tão sonhada casa própria, graças à ajuda do general.

– Amor! Aquela mulher do Márcio acho que não bate bem da cabeça. Ela é completamente desparafusada. Veio com uma conversa de ciúmes do esposo. Como a mãe dela já tinha me antecipado, fiquei na minha, mas que é doido é e ele parece ser o capacho dela, pois faz tudo o que ela quer.

– Tudo não! Até onde sei, ela não queria que ele te empregasse com medo de tu dar em cima dele ou vice-versa. Mas o cara só tem olhos para ela, segundo o general. Pode aparecer uma mulher cravejada em diamantes que ele ainda vai preferir aquela amalucada.

“- Como é que é”, perguntou Fabrícia.

– Ele a peitou dizendo que tu irias trabalhar na empresa dele e ela não tinha que se meter onde não era chamada. A briga foi feia e o cara saiu de casa e não é a primeira vez que faz isso. Aí ela entra em parafuso e todos têm que achar esse cara. Parece que se esconde como tatu debaixo da terra, mas ela o encontra. Antes de se casarem, o jornalista sumiu, indo parar numa cidadezinha perto da divisa com outro estado, mas a esposa conseguiu achá-lo grampeando o celular que o seu patrão tinha conseguido com um amigo que é diretor lá nas empresas.

“- Realmente o melhor é ficar longe desses dois”, refletiu Fabrícia.

– Tudo que tiver que tratar lá na editora converse com Tarsila, com a sogra dele ou até mesmo com o cunhado que também é desparafusado. Ficou cinco anos perdido nas ruas da cidade e só foi resgatado depois que o Márcio apareceu naquele boteco que eu trabalhei. Está lembrada? Eu te falei de um cliente esquisito que ia todos os dias, chegando na mesma hora e saindo do mesmo jeito, bebendo a mesma quantidade de uísque e eu tinha que fazer um cardápio específico para ele?

– Estou lembrando sim. Você achava estranho porque o cara parecia usar as mesmas roupas. Mas o que tem ele?

– Ele é o cunhado do seu patrão e casado com a sua outra patroa, aquela negra professora Tarsila. O Amadeu estava lá ontem e havia ficado cinco anos naquela loucura e só saiu daquele muno de sandices quando conheceu o jornalista que, em minha opinião, é o mais doido deles todos. Ele parece que é normal, mas tem uns parafusos a menos. Para aguentar aquela gente louca, só de for mais pirado do que eles.

– É bom saber, pois vou entrar muda e sair calada daquela editora. Eu sinceramente não confio nenhum pouquinho naquela Angélica. Pobre do Márcio.

– A namorada do general adora ele. Também pudera! Para aturar aqueles dois filhos desparafusados que ela criou. Você acredita que o Amadeu o chama de meu amigo mosquito? O cara sumiu no mundo e deixou um bilhete para ela, mas não dizia para onde tinha ido, aí uma amiga dele, que também me parece completamente desvairada, leu o texto e conseguiu saber, sem ele dizer nada, para onde tinha ida.

Fabrícia caiu na gargalhada dizendo que em sua opinião, todos são retardados mentais e o general estava indo para o mesmo caminho. “- Aquela dona Eleanora é a mais zoada de todos e se o Alexandre não tomar cuidado, daqui a pouco quem estará usando suas cuecas será aquela mulher e ele usará as calcinhas dela”.

– Amor o que vamos fazer de almoço? Com essa chuvarada não consigo pensar em nada.

A esposa olhou para o cozinheiro e pediu para ele fazer uns pratos diferentes com aquelas carnes que trouxeram da editora. “- Até para comprar as coisas, aquele pessoal é exagerado. Olha quanta carne trouxemos. Acho que não precisamos comprar nada, por pelo menos uns dois meses”.

– Está bem, amor. Farei uma maminha recheada na panela de pressão. As crianças vão adorar.

O casal conversou quando estavam tomando café da manhã e a esposa aproveitou para se sentar no colo do marido para agradecer o amor que ele lhe tinha e a certeza de que seriam felizes e a partir de agora as coisas seriam bem melhores. “- Nossos filhos estudando em colégio de ricos terão mais chances do que tivemos meu amor”.

– Fabrícia. Não podemos esquecer que a escola é de ricos, mas nós não somos, portanto, devemos indicar isso aos meninos. Precisam entender que estão lá para estudar e usufruir da melhor educação, e não para ficar competindo com aquele pessoal endinheirado.

– Faremos isso, amor. Quero que eles nunca se esqueçam seus locais de origem e jamais tentem ser aquilo que não são.

Assim que terminou de falar com a esposa, a funcionária da Jardim da Leitura foi ver como estavam os filhos. Não queria acordá-los, optando por deixá-los dormir com o barulho da chuva. Eles estavam imensamente felizes por que iam mudar de escola e conhecer gente nova.

Ao voltar do quarto, Fabrícia cogitou com Pedro que deveriam comprar um carro. Não ficaria bem os filhos chegarem a pé ou de ônibus na escola nova. “- Não farei nenhuma loucura dessas. Se pretendemos dizer às crianças a verdade, então não devemos entrar numa dívida para nos parecermos com aquilo que não somos”.

A fala do marido trouxe a esposa para o ponto em que os dois sabiam que era primordial. Não tentar passar para a sociedade uma falsa ideia do que eram. “- O general me disse que estava pensando em adquirir um veículo e o caracterizá-lo com a marca do Restaurante. Quem sabe ele não me deixa usar para levar e buscar os meninos na escola”, disse Pedro.

Na mansão, Tarsila e Amadeu organizavam seus pertences para se mudarem para a casa nova até o meio da outra semana. Já haviam levado bastante coisas, inclusive decorado o escritório em que os dois trabalhariam. O esposo decidiu que transferiria para a residência boa parte do seu trabalho nas Organizações Oliveira, indo à sede das empresas somente quando fosse necessário, pois Roberto e Fernanda poderiam dar conta do recado e ainda tinha Angélica que, se não estivesse despirocada de ciúmes de Márcio, poderia ajudar e muito.

Mas o real interesse de Amadeu era ficar mais perto possível da esposa. Já tinha visto uns olhares diferentes de muito homens sobre ela. Ao contrário da irmã, ele não era dado a escândalos, mas sempre antecipava aos fatos e não desejaria em hipótese alguma ter que surrar alguém como Márcio fez para fazer com que homens parassem de olhar para a sua Tarsilinha.

Enquanto arrumava os pertences para deixar aquela mansão que tantos pesadelos provocou em Amadeu, Tarsila se recordou quando o marido socou um homem quando estavam na fila do cinema. Ela aguardava enquanto o esposo comprava os ingressos e a pessoa se aproximou dela fazendo galanteios, dizendo que achava lindas as mulheres gravidas. O marido que se aproximava da esposa, acertou um murro no lado da face do galanteador que ao se virar levou outro entre os olhos e a seguinte observação: “- Por que não vai cantar a vagabunda de sua mãe quando estava grávida de um porco como tu, idiota”.

Quando o homem viu de quem partiu o soco tentou pedir desculpas e dizer que o conhecia. “- Se sabe quem eu sou, então deve compreender muito bem que não se deve ficar cantando mulher que não lhe pertence. Então aproveita e desaparece antes que eu mude de ideia”, disse Amadeu de forma exasperada.

O casal assistiu ao filme como se o episódio anterior nunca tivesse existido e somente em casa que a esposa perguntou ao marido o que foi aquilo. “- Não foi nada, minha Tarsilinha. Estava apenas defendendo o nosso reino”.

“- Aquilo foi puro ciúmes e agora entendo o que Marzinho passa com a sua irmã. Jesus, vocês dois têm ciúmes maiores que as Muralhas da China. É bom saber, pois não vou olhar nem de lado”, disse a sócia de Márcio, entre gargalhadas e muito tesão que foi arrefecido com uma excelente noite de sexo com os dois sendo levados ao extremo do prazer com Amadeu dizendo que a esposa era uma explosão atômica que nem o maior verso do mundo conseguira explicar a sintonia e a rima perfeita que ele mantinha com ela.

Voltando ao presente, Amadeu olhou para a esposa, percebendo que havia algo nas memórias dela que a fazia apresentar aquele sorriso maroto. Ao ser interpelada qual a razão, Tarsila respondeu que era tudo, principalmente a felicidade que ela encontrou nos braços do amado e se soubesse que seria tão feliz assim, não teria o abandonado e lutado por ele.

– Meu amor, vamos trabalhar e viver daqui para a frente. O passado só serve para indicar aquilo que não devemos fazer mais. Amanhã eu e você seremos pais e isso é o mais importante. O meu ontem só me diz que eu não devo ser pai para o meu filho como Jô foi para mim.

“- Espero estar sendo a esposa que você sempre sonhou em ter ao seu lado, meu amor”, disse Tarsila beijando carinhosamente o esposo que correspondeu ao carinho recebido da proprietária da Jardim da Leitura.

Enquanto se beijavam, Tarsila e Amadeu ouviram barulhos na casa e, ao verificar de onde vinham os sons, flagraram Eleanora e Alexandre aos beijos em cenas para lá de torrenciais. “- Mãe! Vão para o quarto e fiquem à vontade. Não queremos assistir filme pornô nesta tarde chuvosa de domingo”, disse o vice-presidente das Organizações Oliveira, caindo na gargalhada ao ver a cara de espanto do general ao ser surpreendido com o pau duro nas mãos da namorada.

Sem dizer mais nada, o filho e a nora voltaram para o cômodo de onde tinham saído concluindo a arrumação total. “- Minha mãe está mesmo enfeitiçada pelo general. Eu nunca a vi em cenas íntimas com Jô. Nem beijos eu e a Keka presenciamos. No máximo mãos dadas”.

– Deixa sua mãe ser feliz. Pelo jeito Alexandre apresentou toda a constelação para ela, coisa que seu pai foi incapaz. Não foi você mesmo quem acabou de dizer que a vida é daqui para frente e o que passou são apenas lembranças. Então, deixe-a curtir o pau do namorado.

Transcorrido meia-hora, Tarsila deixou o aposento em que estava com o esposo para preparar o almoço. Desde que se mudara para a mansão, ela não deixava ninguém cuidar das refeições para o marido. “- Farei isso até não aguentar mais com a barriga grande. Colocarei todo o meu amor em cada prato que preparar para ti, minha paixão, meu trovador das estrelas”.

Depois de um início de dia com muito amor e sexo, Angélica e Márcio caíram no sono, despertando somente duas horas depois e foi a empresária quem acordou primeiro, ficando vários minutos que pareceram a eternidade observando o esposo enquanto este dormia. “Preciso me controlar, do contrário, esse homem me deixará e não haverá ninguém para trazê-lo de volta. Acho que ninguém mais aguenta a nossa história de brigas, fugas”, disse Angélica em silêncio prometendo para si mesmo que fará de tudo para fazê-lo feliz.

Ao resgatar essa observação, recordou de uma das brigas com Fernanda e a única coisa que ela pedia era para que fizesse o amigo feliz. Ele precisava e muito dessa paz. “Ela não quer o Marzinho para ela, mas o trata também como se fosse um cristal que precisa ser cuidado e eu não estou sabendo lidar com essa preciosidade”, disse mentalmente para si mesma, caminhando em direção à cozinha para fazer o almoço para ele.

Sem pensar, colocou o camisão que tanto tesão tinha provocado em Márcio naquela manhã em que tomaram café juntos e ela pegou na mão dele, sentindo todo o vigor, potência, temperatura e o amor que percorria naquelas veias. Ela chegou a se questionar se naquele dia o homem que a ama, já não estava contido no marido de agora.

Uns vinte minutos depois de Angélica deixar a cama do casal, Márcio a procurou, mas estranhou ela não estar ali do seu lado, como sempre estivera. Por estar completamente nu, vestiu uma roupa, saindo a procura da esposa, a encontrando no fogão.  Sem emitir nenhum som, o editor ficou observando a esposa e o que via o deixava mais ainda encantado.

Embora Márcio estivesse olhando para Angélica como um jacaré que observa o ovo com um olhar paralisante, era como se a esposa não estivesse ali, mas apenas a sua alma portando um brilho magistral. Dentro do apartamento, a empresária encantava o marido que recordava o dia em que a viu pela primeira vez numa tarde de domingo ensolarado. Naquele momento quando divisava o corpo dela, por baixo de toda aquela roupa formal, estava contida a alma que o encantaria marcando profundamente todo o seu ser.

A esposa fez um movimento com o corpo que deixou o editor mais apaixonado ainda. Como uma diva colocou o dedo no molho para testar o gosto e os temperos e sentiu o calor e falou baixinho: “caralho, queimou”. Naquele momento todo o ser de Márcio sorriu de pura felicidade, buscando o silêncio para poder continuar amando a esposa naquela singular tarde de domingo chuvosa.

Outro movimento com o corpo e a luz da cozinha deixou todo o corpo dela transparente por coisa de microssegundos. O esposo ficava cada vez mais encantado com a beleza de sua diva. Na quietude do seu canto, Márcio permaneceu nesse namoro solitário por mais de dez minutos quando foi surpreendido pela esposa que se virou para pegar algo que estava sobre a mesa e o viu.

“- Oi amor! Quanto tempo está aí? Não te vi chegar”, disse a empresário ao marido.

– Tempo suficiente para te amar em silêncio e sentir todo o seu ser dentro do meu coração. Minutos, horas, dias, semanas, meses, anos, décadas, séculos, milênios, para dizer que te amo eternamente. Pude enxergar que a esposa de hoje já estava contida naquela mulher que adentrou o bar da Net naquela tarde ensolarada de domingo e estou imensamente feliz por estar casado com ela.

Enquanto dizia, Márcio se encaminhava em direção a esposa que, por segundos, esqueceu que a panela estava no fogo com o molho do nhoque de batata-doce que fazia para o marido, enquanto a carne de soja era preparada em outro bocal. Ao abraçá-lo, sentiu a potência do tesão do esposo, mas decidiu não comentar nada, apenas ficar ali com ele naqueles microssegundos que pareceram uma eternidade.

Após beijá-lo, pediu que ele se vestisse e aguardasse enquanto ela terminava o almoço. “- Sei o quanto meu marido delicioso está com fome, mas vamos por partes: primeiro satisfazer o estômago e depois se der, rodar junto com o ventilador do teto. Antes de ir, abra uma cerveja para nós. Tem várias sem álcool daquela marca alemã que você adora”, pediu Angélica.

O editor atendeu à solicitação da esposa e, assim que colocou a cerveja em dois copos, brindaram ao amor que um sentia pelo outro. Naquele momento, se a noite se fizesse, era possível encontrar o casal apenas observando o brilho que emanava dos olhos dos dois. Os esmeraldinos de Angélica e os castanhos escuro de Márcio indicavam que ali naquele exato momento, a dupla chegou à plenitude. Para um poeta pessimista, caso o Senhor da Vida quisesse colocar fim a epopeia humana na Terra, ali estariam duas pessoas que deixariam o orbe imensamente felizes.

Ao abraçar a empresária, novamente ela sentiu o falo do marido ereto. “- Meu deus do céu, esses ponteiros nunca apitam seis e meia, meu amor”, perguntou ela obtendo como resposta que o relógio dele sempre indicaria meio-dia, pois assim determinaram sua alma e o seu coração, Sendo assim, o corpo não poderia contrariar, afinal eram dois contra um. “- E não se esqueça meu amor, que está metida nesse camisão que me deixa doido de tesão”, disse o marido descolando seu corpo do dela.

Deixando a cozinha mais leve do que quando chegou, Márcio foi ao quarto e escolheu uma roupa leve e sem extravagância, mas que o deixava elegante para a esposa. Desde que ela surgiu em sua vida, gostava de se vestir com esmero para Angélica. Em seu cérebro e coração, era uma maravilha vê-la feliz.

Ao chegar na sala, retomou a leitura do livro que tentava concluir e tinha colocado outro na lista. Era um romance italiano que pretendia comprar os direitos de tradução para a Língua Portuguesa. Pensou em colocar uma música, mas optou por abrir uma pequena fresta na janela para que o barulho da chuva que caia sem cessar, enchesse a sala com o seu som.

Enquanto lia sem parar a enunciação, não percebeu que a esposa lhe olhava com a garrafa de cerveja na mão para encher novamente o copo dele. Desta vez foi Angélica quem ficou observando o homem pelo qual seria capaz de fazer a Terra girar ao contrário para tê-lo do seu lado. Quis compreender o que enxergava num homem com hábitos espartanos que se desliga de tudo quando está com a cara metida nos livros.

“- O que eu tenho que fazer para ganhar tanta atenção quanto esses seus livros”, perguntou a esposa toda dengosa.

“- Nada! Só continue sendo essa mulher que eu amo tanto. É meia maluquinha, mas se fosse diferente, não teria tanto encanto e beleza que ilumina minha existência. Te amo de paixão, minha vida”, disse Márcio.

Angélica chegou perto do esposo que pode ver que as pontas dos seios dela estavam eriçadas, indicando frio e ao mesmo tempo tesão. Beijou-o dizendo que colocaria algo mais apropriado e aquecido para que almoçassem em seguida. A empresária completou o copo do marido e virou na boca o resto da cerveja que estava na garrafa.

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