Sobras de um amor … parte II

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         Acordaram por volta das 10h com o som do celular de Angélica chamando. “Alô! Oi mãe!  Está aqui comigo. Me deu um ultimato. Vou fazer sim. Não posso viver sem ele. Não consigo pensar em acordar amanhã sem tê-lo ao meu lado. Será sim. Hoje às 19h. Se não acontecer, eu mesmo termino tudo e amanhã me interno num hospital psiquiátrico”.

“- Agradeça ao amigo dele, o Roberto. Ele disse a Judith que Danisa estava indisposta por conta da gravidez e não podiam nos receber ontem”, explicou a matriarca.

– Assim que estiver tudo resolvido, busco a senhora e Judith. Tchau amo vocês.

Márcio acordou com a conversa da empresária com a mãe dela. “- Amor! Vamos tomar banho. Temos muita coisa para resolver hoje. É o nosso noivado”, disse empolgada. O jornalista olhou para ela, desconfiado, mas como havia dado a ambos uma última chance, optou por não dizer nada. Entrou no chuveiro e a arquiteta foi logo em seguida. Não enrolaram muito porque o périplo dos dois era grande e só haveria noivado se ela cumprisse tudo o acordado.

Angélica o beijou, lhe dizendo que não estava se sentindo humilhada por fazer o que iriam realizar, mas, pelo contrário, aprendendo a ser adulta. “-Somente assim eu poderei me levar a sério e dar o meu melhor para ti, como sei que está fazendo isso por nós dois”.

Ao chegaram a confeitaria, a balconista perdeu a cor, começou a ficar desesperada. A proprietária pediu a atendente para ficar ali no lugar da amiga. “-Preciso ter uma conversa com em particular com ela. Venha até o escritório”.

– O gerente me disse que ligaram da central e que hoje seria meu último dia por ter-lhe faltado com o respeito ontem. Peço desculpas a senhora, mas não posso ficar desempregada.

– Calma, vamos lá conversar.

Ao entrarem, Angélica pediu ao gerente para deixá-las a sós. Quando todos estavam acomodados. A proprietária começou. “-Maria Rita, sou eu quem lhe devo pedir desculpas. Não perderá o seu emprego. Eu exagerei. Você já amou alguém”, pergunta a arquiteta.

– Já tive uns casos aqui e ali e sempre terminaram por conta do ciúme. Uma hora eu exagero, outro é a pessoa que está comigo.

– Pois é! Esse homem aqui já era para ser meu noivo desde ontem. A coisa que eu mais quero é que sejamos esposos, mas tem uma coisa complicando aqui dentro: o ciúme e quando ele me pega, fico cega. Aceite meu pedido de perdão. Eu sei que vocês mulheres olham, porque eu também dou uma espiadinha, mas só eu sei o medo de perder esse ser faz comigo. Volte ao trabalho e se tranquilize. Chame o gerente aqui, por favor.

Quando Pedro entrou, Angélica e Márcio já estavam de pé. “- Quando for fazer o pagamento para Maria Rita, por favor, lhe dobre os vencimentos esse mês e também da atendente.

Ao deixarem o estabelecimento, o casal se dirigiu à casa de Fernanda. Quando ela viu a empresária, partiu para cima. “- Sua filha de uma puta! Por tua causa e desse monte de merda de homem, porque só pode ser um merda para continuar contigo, estou desempregada e não sei o que fazer. Queria tanto voltar a estudar, mas por amar o meu amigo, tomei no cu. Deve estar satisfeita agora né?”.

“- Fernanda! Acalme-se, por favor. Queremos apenas conversar contigo”, Márcio tenta explicar, mas ela está irascível. “- Agora eu entendo porque a Márcia fez o que fez contigo. Tu és um bunda-mole mesmo! Entendo porque não vejo nenhum atrativo em ti. É um capacho de madame”, exaspera a comerciária.

– Fernanda. Não é Márcio quem merece essas ofensas e sim, eu. Tenho consciência de tudo que fiz até agora. Tornei a vida dele um inferno, não dei tempo para ele me amar. Não dei tempo para me amar. Eu sei que está falando tudo isso da boca para fora, pois dela para dentro sei o quanto adora esse homem metódico. Eu é que sou ciumenta, porque desconhecia o amor e suas diversas formas. Eu nunca senti isso que você, ele e o Roberto nutrem um pelo outro. Sempre precisei comprar as pessoas para ser popular, mas escondia o meu eu e apresentava o meu dinheiro.

“- Ela está falando sério, Marzinho”, lhe pergunta Fernanda. “- Está sim Fê. Tenho acompanhado o martírio dela. Eu te falei aqui no sábado que não iria deixá-la. Tentei evitar que bagunçasse a vida de vocês como fez na minha. Não consegui. Peço-te perdão, querida!

Angélica observou o quanto Fernanda gostava dele. Ela o abraçou com ternura, como tirando dela muitos pesadelos.

– Fernanda. Vou direto ao ponto. Me permita reparar os meus equívocos contigo, principalmente no que diz respeito ao seu trabalho. Não tem clima ti voltar para lá. Na próxima segunda-feira, procure o Roberto na sede das empresas. Ele vai encontrar um espaço para você lá. O Márcio me falou que está guardando dinheiro para voltar a estudar. O Roberto também te auxiliará nisso. Acho que pode te encaixar justamente na área que está fazendo o curso. Reabra o curso, parcele o débito antigo e deixe os boletos com Márcio. Gostaria de fazer muito mais do que o dinheiro pode realizar, mas se me aceitar como amiga, já me darei por satisfeita.

Fernanda ficou efusiva. “- Eu não acredito, Márcio. Agora só falta um homem. Você não serve, depois que encontrou essa aí, se tornou eunuco para todas nós”.

– Fê! O nosso noivado será hoje à noite, te queremos lá. Vai ser madrinha do filho de Danisa e Roberto. Não pode faltar a essa cerimônia.

Toda feliz, Fernanda agradece e diz, de forma bem moleca: “- Angélica, desculpe-me pelos tabefes que te dei, mas acho que foram importantes. Acordaram você para ver que homem tem do seu lado. Para mim não serve, mas se o ama, faça-o feliz”.

– Eu que lhe peço desculpas por conta de minhas infantilidades e agradeço por me permitir reparar um pouco o dano que causei em sua vida. Ah e não fale nada com Roberto do emprego dele. É um dos presentes que vamos dar a ele. Depois que eles saírem do apartamento do Márcio, você pode se mudar para lá. Vamos escolher um outro ponto para a editora Jardim da Leitura.

– O quê? Morar no apartamento do Marzinho? Você deixa eu fazer isso?

Márcio rindo, confirmou que sim. “-Vou morar na Torre da Rainha diaba. Então ele ficará vazio e não é justo você ficar pagando aluguel aqui e ele lá sem ninguém. Só nos dê um tempo para arrumarmos tudo e quem sabe até lá tu não encontras o seu homem? Querida. Precisamos ir. Temos que organizar o jantar de noivado hoje.

Dentro do carro, Angélica perguntou ao noivo se poderia chamar uma pessoa. “- Claro! Mas quem é”, lhe pergunta. A arquiteta responde: “- Minha secretaria. Não quero nenhuma das minhas sócias misturadas às minhas intimidades, mas a Débora tem trabalhado comigo, aturado meus péssimos humores. Vamos lá e conversamos rapidamente com ela”, informou a arquiteta.

Ao chegarem no prédio, Márcio fez menção de não ir junto, mas foi informado que não. Ela o queria lá fazendo o convite.  Entraram e a secretária foi pega de surpresa pela empresária. “- Dona Angélica não sabia que a senhora viria trabalhar agora. Já vou colocar em sua mesa, o seu material para hoje”, explica Débora.

– Débora! Hoje eu não vim trabalhar. Só estou aqui para te fazer um convite. Lembre-se do projeto que estava fazendo para esse senhor aqui?

A secretária faz que sim com a cabeça, e a patroa diz que ela está convidada, mais o namorado para um jantar especial a noite. “- Jantar com a senhora? Eu não acredito! Nem roupa eu tenho. Me desculpe, mas qual é o motivo deste jantar”, pergunta Débora.

Angélica toda feliz apresenta. “- Esse é o motivo! O cliente que você cantou. Na ocasião estávamos começando meio trôpego, mas agora é oficial: Márcio que é dono da editora, além de cliente do nosso escritório, se tornará a partir deste jantar, meu noivo. Por favor, não fale com ninguém. Qualquer coisa, trabalharemos no projeto para a sede da Jardim da Leitura.

– Dona Angélica! Eu não tenho roupa para esses eventos de bacana. Vou passar vergonha.

Márcio explica de forma bem direta: “- É um simples jantar, portanto, se vista a altura de minha exigência. Só não pode ir sem roupa. A tua patroa aqui te demite por justa causa. Uma dica: jeans, camiseta e tênis. Pode ser? Ah! Leve o eu namorado, ficante, esposo, noivo. Aqui está o endereço. Tudo começará às 19h”.

– Obrigado dona Angélica pelo convite e ao senhor também. Me desculpe por aquela brincadeira.

“- A Angélica já te desculpou”, disse Márcio.

– Não precisa vir trabalhar depois do almoço. Tira a tarde para você.

“- Não vá gastar dinheiro com roupa e nem se endividar por conta desse jantar”, orienta o jornalista.

Quando deixaram o prédio, o relógio se aproximava das 13h. “- Agora, a minha paixão, fará a parte mais complicada do nosso trato. Falar com Roberto e Danisa”, afirma Márcio. “- Depois buscaremos as alianças e comprar as coisas para o nosso jantar que será preparado pelos homens: Eu e Roberto”.

Quando chegaram ao apartamento Danisa fechou a cara e Roberto lhe apertou a mão para que mudasse de postura.

– Danisa eu te entendo. Acho que se estivesse em seu lugar, agiria da mesma forma. Baguncei a vida de Márcio e de quebra a de vocês. O Roberto eu conheço um pouco mais, mas você não. Então, se não quiser me perdoar entenderei, pois tem lá suas razões. Nos últimos três dias só trouxe transtornos a vocês por conta da minha infantilidade, ciumeira desmedida. Agredi a Fernanda duas vezes, fiz ela perder o trabalho, e da mesma forma contribui para que o homem que amo ir parar na UTI, por não saber direito o fogaréu que estava dentro do meu coração.

Depois do que Angélica disse, Danisa abandonou a postura defensiva. “- Do fundo de minha alma, gostaria que me compreendessem, pois nunca soube o que é o amor. Sempre comprava pessoas, agindo como se estivesse acima de todos. Fui ensinada assim e deveria seguir à risca o aprendizado. Só que os meus professores não contavam que fosse posta à prova por um homem simples e pelo amor que ele tem pelos amigos.

Roberto e Danisa ficaram em silêncio, enquanto a empresária continuava. “- Observei que você Roberto, Danisa e Fernanda dariam a vida pelo Marzinho e ele a cada um de vocês. Como nunca tinha visto isso, já que no meio em que vivia, sempre tinha alguém arrastando asas para o meu lado, me enxergando como um caixa-eletrônica. Aquilo me satisfazia por um tempo, depois eu mudava de pessoa, sem saber que a fútil estava sendo eu. Mas, o meu caminho cruza com o de Márcio de uma forma inesperada e acabei levando um choque de 220v. Só quero que não me julguem. Tenho 33 anos e agora estou amando de verdade e ontem entrei em parafuso até Roberto achar Márcio escondido num quarto de hotel num estabelecimento de qualidade duvidosa. Para um homem se esconder de uma mulher naquele antro, só pode ter algo de muito doido na relação dos dois”, explicou Angélica.

– Quero muito ser feliz com esse homem, mas sei que se não me amar, não poderei amá-lo. Roberto sou grata por encobrir tudo com a mãe dele e contar a verdade para a minha. Se não puderem me perdoar, que pelo menos me compreendam. Se eu perder o Márcio, não sei como ficarei. Então hoje à noite faremos aqui o jantar de noivado, se me permitirem. Uma coisa simples, do jeito que Márcio sempre quis. De fora do círculo de vocês, só a minha secretária Débora virá.

Danisa percebeu que tudo que Angélica dizia vinha lá do ser que habitava aquele corpo acostumado com bajulações, que sofreu violações na adolescência, mas nada de amor. Ela se levantou e a abraçou ternamente. “- Querida. A Fernanda é doida, mas não tirará nossos maridos. Os dois é como se fossem irmãos mais velhos dela. Só lhe delimitar o espaço, de forma serena e entenderá. Só não a afaste dos dois. De certa forma, cuidou deles para nós”.

– Só estou percebendo isso agora Danisa. Mas até compreender, quase joguei tudo fora.

Danisa tirou Angélica da sala e a levando para o quarto onde poderiam conversar tranquilamente. “- Roberto me explicou tudo. Você era casada com outra mulher e parece que tinha tudo sobre controle. O Márcio é um espetáculo de homem, gentil, educado, metódico e sobretudo devagar. O Roberto é mais ou menos assim: para dar um passo, tem que chegar a brasa na bunda, mas é a natureza dele. Não vai mudar e nem quero. Já imaginou dois esquentados? Fico feliz em ceder a minha casa para a festa de noivado de vocês dois”.

Na sala Roberto conversava com Márcio que explicava. “- Não posso deixar sozinha a mulher que eu amo. Creio que a partir de amanhã com aquelas alianças em nossos dedos e com tudo isso que aconteceu, ela se tranquilizará”.

– Querido! Ela é completamente maluca. Se eu não estivesse lá com ela, teria derrubado o prédio. Mas te ama loucamente e tem um coração bom. Só a cabeça que é meio desarrumada.

Angélica ia saindo do quarto com Danisa, enquanto Márcio dizia ao amigo que iam buscar as alianças e depois queria a companhia dele para comprar os ingredientes para o jantar.

– Por que não contrata um buffet.

– Está louco? Custa uma fortuna e prefiro guardar o dinheiro para comprar presentes para o meu afilhado que está vindo ai!

Deixaram o prédio e foram buscar as alianças. Quando entraram na joalheria, a atendente prontamente chamou o proprietário. “- Dona Angélica, Janaina tem duas coisas para falar com a senhora e seu noivo”.

– Eu peço desculpas pela forma como tratei o senhor no sábado. Para eu não perder o emprego, pois não estou aqui para julgar as pessoas pela tonalidade de suas peles ou condição financeira, me ofereço para prestar serviço voluntário na sua fundação aos sábados à tarde. Claro se a senhora aceitar, caso contrário, sei que perderei meu trabalho.

– Parabéns minha cara. Você será bem-vinda, contudo encare a oportunidade não como uma punição, mas como uma maneira de entender como vivem outras pessoas que estão abaixo da linha da pobreza. Quem vai conduzir o empreendimento será o Márcio. É com ele que terá que se entender.

O jornalista perguntou se ela estudava. “- Não senhor! Parei na metade do primeiro colegial”.

“- E parou por quê”, interpela o jornalista.

– Por vários fatores. O primeiro pela escola ser chata e não tinha nada a ver comigo. Entediante, professores falando coisas que não tinha nenhuma serventia na minha vida.

– O primeiro passo! Volte a estudar imediatamente. Vamos saber todo o seu comportamento na sua instituição educacional. Disciplina, frequência e notas. Algo abaixo de sete, se considere fora do projeto e desempregada. A vida é difícil, mas fica muito mais complicada se desistimos de enfrentar as dificuldades e nos associarmos a coisas negativas. O que você fez sábado comigo é fruto de ignorância, de pessoas que se acham acima dos demais. Eu poderia não aceitar as suas desculpas e exigir a sua demissão, mas se fizesse isso, com certeza seria pior do que a sua atitude. Em breve, voltaremos a nos falar. A partir da próxima segunda-feira, veremos em que parte da fundação nos ajudará com seu trabalho.

Janaina agradeceu e voltou para o seu posto. O casal conversou mais um pouco com o joalheiro que gostou da atitude de Márcio. Não abrir mão da punição, mas que ela possa corrigir, ajudando o infrator a reparar o seu erro e mudar a rota da vida.

Depois que pegaram as alianças, Márcio e Angélica falaram com suas respectivas mães. A arquiteta passaria na mansão perto das 19 horas. Retornaram ao apartamento e arrastaram Roberto às compras. Nada de extravagancias, mas coisas que seriam fáceis de fazer, que não tomariam tempo dos dois. Deixaram tudo no apartamento. Encheram a geladeira de bebidas, cervejas e mais refrigerantes dentro de uma pequena caixa térmica que o jornalista comprou no hipermercado.

Assim que o casal saiu, Roberto disse a Danisa. “- Não quero Márcio na cozinha. É o noivado dele. Pedirei a Fernanda que venha mais cedo e me ajude na cozinha e você recepcionará os convidados até que eu termine tudo. Pode ser amor?”

Danisa concordou e por volta das 17h, Fernanda estava lá toda empolgada. Todos queriam saber o motivo, mas ela disse que sentia que naquela noite conheceria o homem de sua vida.

No apartamento, Angélica a todo momento olhava para as alianças e Márcio dava risadas, depois a abraça por trás, perguntando se estava feliz e o que acho da ação do dia. “- Cresci como pessoa, meu amor. Entendi o amor que une você, Roberto e aquela maluca da Fernanda. Eu e Danisa chegamos depois e não perguntamos nada para ela e, sem a conhecê-la, queríamos ela fora da vida de vocês. Muito egoísmo de nossa parte”.

– Venha vamos tomar um banho. Preciso chegar cedo no apartamento para ajudar o Roberto com a comida.

– Acho que não será necessário. Ele arrumou uma ajudante. Acho que já está lá fazendo a festa. Então você irá comigo para a mansão e de lá para o apartamento, seu último trajeto como solteiro.

Angélica preparou a banheira e ambos ficaram até serem acionados pelo despertador do celular: 18 horas!  Saíram e Angélica expulsou Márcio do quarto, dizendo que a roupa dele estava no quarto de hóspedes. O futuro noivo se arrumou rapidinho. Não gostava de muito rococó. Então vestiu o básico, mudando a combinação, permanecendo na sala aguardando a amada terminar.

Sentou-se no sofá com a caixinha contendo as alianças, recordando a primeira vez que esteve ali para o café da manhã e ela, para provocá-lo e também Rosângela, saiu do quarto vestida só de camisão, deixando que o sol e a transparência da roupa fizessem o restante da apresentação. Lembrou-se dos porres, das constantes brigas. De olho fechado disse baixinho para si mesmo como querendo ter certeza do que iria ouvir: “- Realmente não posso passar um dia sem ter essa maluquinha na minha vida”.

É devolvido à terra quando escuta a voz de Angélica lhe perguntando o que ele achava de sua vestimenta. O noivo abre o olho e vê a arquiteta num vestido em tons alaranjados e detalhes esverdeados. A roupa não estava justa, mas acentuava muito bem o corpo de Angélica. O comprimento da saia ia até metade das coxas e a blusa um leve decote acentuava os seios da noiva.  “- O restante é uma surpresa para o meu futuro marido. Só vai saber depois que essas alianças estiverem em nossos dedos”, informa a empresária.

Colocou uns brincos discretos e uma pulseira combinando com eles, além de uma pequena bolsa no mesmo tom dos brincos. Calçou o sapato que usava naquele domingo que o conheceu. Esse detalhe não passou despercebido do jornalista. “- Mas está divina minha Rainha Branca. Vamos. As nossas mães devem estar impacientes na mansão”, disse Márcio pegando Angélica pela mão, indo em direção ao elevador.

Sem precisar acelerar muito, o casal chegou na casa de Eleanora, faltando uns vinte minutos para as 19 horas. As duas já estavam prontas. Mãe e sogra acharam a filha lindamente vestida. “- Você filho está lindo, mas a sua noiva está divina”.

Angélica cochicha no ouvido da futura sogra: “- Escolhi o laranja com verde porque essa foi a primeira pergunta que ele me fez: como seria possível combinar o verde esmeralda dos meus olhos com os tons de laranja do céu no final de tarde. A senhora acha que ele percebeu a combinação”, pergunta a arquiteta.

“- Ele vai te dar resposta à noite e na cama”, responde Judith.

As duas deram risadas. As duas senhoras estavam elegantemente vestidas sem exagero algum. Trajavam conjunto de saia e blusa como se fossem num evento sem chamar muito a atenção dos participantes. “- Os olhares são todos para os nossos filhos”, afirmou Judith.

Chegaram ao apartamento pontualmente às 19 horas e conforme combinaram, de estranhos haviam somente Débora e um jovem que todos imaginavam ser o namorado dela, mas não saia do lado de Fernanda. Assim que entraram, foram logo cumprimentados por todos e secretária da futura noiva apresentou Ricardo. “- Dona Angélica, eu não tenho namorado, mas trouxe meu irmão. Se a senhora e o doutor Márcio não se incomodar”.

Márcio olhou para ela e deu risada. “- Não sou doutor coisa nenhuma. Sou gente como vocês. Ricardo é um prazer em te conhecer. Fique à vontade”.

Depois de meia-hora que estavam ali, Judith cobrou o noivado. Angélica chamou Márcio e explicou a importância daquele momento. Contou resumidamente desde o dia em que o conheceu até o episódio do dia anterior, para surpresa de Judith.

– O momento mais complicado foi quando o Marzinho foi parar na UTI. Ele só não morreu, porque o amigo dele o encontrou aqui desfalecido. O resto todo mundo já sabe. Mas eu e ele preparamos duas surpresas para o homem que não o deixou morrer. Mas é ele quem vai falar.

– Roberto, dentro deste envelope aqui está a escritura da casa que você e Danisa moravam. Vocês saíram para que uma reforma planejada pelo escritório de Angélica fosse feita, inclusive com o quarto para o filho de vocês. É o nosso presente para essa criança que está vindo ao mundo e já é mimada.

Roberto correu para o amigo e chorando o abraçou. “- Não tenho palavras para agradecer”. Márcio olhou para Roberto rindo disse: “-Venha a ser meu braço direito na editora, caso sua nova patroa deixar”.

– Como é que é?

– Danisa faz quase um mês que Roberto está desempregado. Eu tinha um débito de gratidão para com ele, então resolvi pagar assim. Ele não te contou nada porque pedi. Quando se casaram não pude lhe dar um presente à altura de nossa amizade, mas agora com a ajuda de minha futura esposa, poderei. A não ser que ele não aceite, mas há um cargo que era para ser meu nas Organizações Oliveira, mas eu recusei, mas o preservei para ti.

Desta foi Angélica quem completou. “- Sua missão, meu amigo será encontrar uma colocação para aquela mocinha ali na empresa. Ela está voltando à universidade e encontre um posto que tenha a ver com o curso e o nível que ela está, inclusive com plano de carreira.

“- E as alianças? Onde estão”, cobrou Judith.

– Estão aqui mãe.

Judith pegou as duas da mão do filho e olhando viu que a que havia o nome dele e a que estava escrita o nome dela. Passou a com nome de Angélica para Eleanora e ficou com a de Márcio. Ela se dirigiu até a arquiteta, a colocando no dedo da mão direita da futura nora e Eleanora fez o mesmo com Márcio.

Fernanda vendo aquilo, não acreditou no que presenciava. “- Nunca vi um troço desses. É a primeira vez”. Judith olha para ela afirmando: “- Quem disse que precisa ser sempre do mesmo jeito. O mais importante é que a partir de agora, minha futura nora vai reduzir essa carga de ciúme sobre o meu Marzinho e ele vai controlar a dele. Não pode sair por aí esmurrando médicos só porque olham diferente para a mulher dele”.

Todos caíram na gargalhada porque se lembraram de quando Márcio esmurrou o médico que, ao examiná-lo cantava Angélica. Como os convidados eram poucos, pois se resumiam a Débora e seu irmão Ricardo, Roberto e Danisa, Fernanda, Judith e Eleanora. Todos conversaram com todos e logo Ricardo estava nos cantos de cochichos com Fernanda, o que não passou despercebido por Marcio e Roberto que só se falavam pelos olhares. Para não deixar Débora deslocada, Angélica chamou a secretária para conversar, elogiando o jeito dela se vestir.

– A senhora está de gozação comigo! Tem roupas caras, sapatos que custam metade do meu salário e agora vem dizer que estou bem vestida. Isso só poder zoeira vindo da senhora.

– Você está vendo aquele homem ali com quem vou me casar em breve? Pois bem. Ele não me enxerga vestida com aquelas roupas caríssimas. Então qualquer dia lá na agência sairemos eu e você para comprar umas coisas mais simples do gosto dele.

– E suas roupas caras?

– Vou usá-las em eventos que exigem, por exemplo, no lançamento da editora dele, na inauguração de uma fundação que vamos criar para assistir crianças carentes. Mas nada de acender as luzes com os vestidos e sapatos caríssimos. Ele acha mais aproveitado se usarmos o que temos sobrando para ajudar o próximo.

– Posso dizer uma coisa a senhora, mas que fique aqui.

– Pode!

– Lá na agência, as meninas acham ele um homem lindíssimo. Discreto, que sabe olhar uma mulher sem vulgarizá-la. Todas desconfiavam que ele e a senhora tinha alguma coisa, além do projeto. Ele a observa com devoção, como se a senhora fosse a última mulher da Terra. Dona Maria Helena disse que se ele a fitasse para ela como diviniza a senhora pelo olhar, ela iria até o fim do universo com ele.

– De fato Débora. Márcio é assim mesmo, mas eu quase o perdi por não saber ler isso que acaba de me dizer. É algo apaixonante. Vibrante, mas até chegar aqui, vou te falar: deu trabalho, mais por minha culpa.

– É verdade! Quando encontrar o meu amor, espero que seja desta forma.

– Acho que o seu irmão já encontrou o dele. Veja como ele conversa com Fernanda?

– Eu vi. Ela bateu o olho nele quando chegamos aqui e deu um jeitinho de ficar perto dele. Estava ajudando o seu Roberto a preparar o jantar e trazia para ele experimentar. Acho que vou para casa sozinha.

– Por que está falando isso?

– Porque o carro é dele e já ouvi um zum-zum dos dois continuarem a conversa na casa dela.

– Eu e o Márcio te levamos. Amanhã pode ir trabalhar depois do almoço. Aproveite a festa.

Depois desse diálogo com Angélica, Débora se soltou mais, falou com a mãe de Márcio sobre ter uma nora loira. “- Minha cara. Não se preocupe com a tonalidade de sua pele e nem fique arrebentando o cabelo para se parecer com o que não é. Alimente sua alma de coisas boas que o verdadeiro homem aparecerá na sua vida e quando isso acontecer, não solte, faça de tudo para conquista-lo. Essa minha nora é maluca de tudo, mas se não casar com o meu negão, endoidece de vez”.

– Obrigado dona Judith, mas…

– Filha! O racista é sobretudo um ignorante e se tiver dinheiro é um ignorante com recursos só isso. Você trabalha com Angélica. Quantas vezes ele fez referência à sua cor de pele?

– Nunca!

– Isso é o mais importante. Estude, fortaleça o seu caráter, seus valores éticos e morais. Homens ou mulheres que querem só o seu corpo não te merecem, foge deles. Não tenha pressa em se casar e, se isso acontecer e perceber que cometeu um equívoco, mude, separe. Não tente mudar o parceiro. Você pode passar a vida toda tentando fazer isso e ele ou ela nem vai notar seus esforços.

– Menina queremos você no casamento de minha filha lá na mansão. Se teu irmão sobreviver à Fernanda, leve-o também, mas do pouco que conheço meu genro, a Fê estará presente. Se o Ricardo quiser alguma coisa com ela, terá que passar por aqueles dois ali oh!

Débora olhou Márcio e Roberto, flagrando os dois observando Fernanda, fazendo comentários. Do nada, o anfitrião foi lá e chamou a Fê para ajudá-lo a pegar mais bebidas.

– Não te falei. Veja lá a dupla de zagueiros. Se eles fizeram isso é porque perceberam valores em seu irmão.

A secretária de Angélica aproveitou a deixa e arrastou Ricardo para perto dela. Márcio passou e o chamou para uma conversa. Virou o rapaz do avesso e só escutou o noivo de Angélica dizer: “- Vai devagar, não coma fruta verde, tu podes ter dor de barriga. Você gosta de flores? Sem elas não verás a calcinha dela nunca”.

Ricardo ficou assustado e chegou perto da irmã e disse: “- Não sabia que esses dois eram guardiães da moça”. Débora respondeu: “- Achou que ia fazer com ela o que faz com as outras. Enroscou o bigode moleque. Se gostou dela, terá que conquistá-la”.

Na cozinha, Roberto dava uma dura em Fernanda. “- Hoje você não leva esse homem para a sua casa. Se valorize. O Márcio já o enquadrou. Se ele quiser mais do que uma trepada contigo, que te conquiste. Agora se quiser só sexo, que se masturbe”.

– Vai ser assim agora?

– Será! Chega de bater cabeça como carrinho de tromba-tromba de parque.

– Olha só! Vou ouvir vocês dois pela primeira vez, mas se der errado vou capá-los, arrancando suas línguas e suas mulheres passaram vontade.

Os dois deram risadas e Márcio entrou na cozinha. “- Seu cuzão. Foi lá encostar o cara na parede. Por que hein?

– Achamos que ele tem pinta de galã da novela das oito e vai te fazer a Fernanda mais feliz do mundo.

A reuniãozinha estava quase chegando ao final quando Eleanora e Judith pediram para Angélica levá-las embora. “- Deixe o Márcio aí e leve Débora contigo e ela te fará companhia na volta. Amanhã Judith tem que falar com o pai do Márcio. O casamento já será no domingo”, disse Eleanora.

– Está bem mãe! Vou pegar a minha bolsa. Você vem comigo Débora?

– Sim senhora!

– Senhora só na agência. Aqui pode ser você.

Márcio se despediu da mãe que o parabenizou pelo noivado. “-Estou feliz por você filhão. Agora ela ficará mais calma”.

– Espero! Boa noite mãe. Nos falamos amanhã. Eu ligo para a senhora.

Quando voltaram, Fernanda está agarrada novamente a Ricardo. Débora aproveitou a deixa e o chamou para ir embora. Ele aceitou o convite da irmã e se despediu de todos e Márcio só lhe disse: “- As flores nascem todos os dias. Não se esqueça de regá-las meu caro Ricardo”.

Assim que o casal de irmãos foi embora, Márcio chamou Angélica e Fernanda para irem embora. “- Vamos seu chato. Estragou minha foda da noite”, exasperou a amiga. “- Guarde-a para um pau que vale a pena. Se o Ricardo for assim, te procurará, se não for, desocupará a moita e você encontrará o homem que te fará subir no ventilador”.

Ao chegar na casa de Fernanda ela desceu e disse: “- Vocês vão dormir no bem bom e eu sozinha”. Márcio olhou para a amiga e disse: “- Enquanto um pinto de responsa não chega, use o dedo. Beijos. Te amo doida”.

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