Sobras de um amor … parte II

25

 

Ficaram ali se beijando, namorando, até que Márcio disse que precisava comer, sugerindo algo leve, como as omeletes. Pediram meia dúzia, sendo que duas de ricota, duas de bacon e duas de brócolis. Enquanto a comida não chegava, o casal se deixou ficar no sofá ouvindo músicas. Uma Angélica escolhia e a outra ele. “ – Amor, amanhã precisamos começar a voltar a nossa vida. Você vai ao seu apartamento e eu vou iniciar a transição nas empresas do meu pai. Ficarei a parte da manhã no meu escritório de arquitetura e a tarde nas empresas. E o senhorito, resolvendo as coisas em seu apartamento. Portanto, se não nos vermos amanhã, quero-te aqui tomando café da manhã comigo no dia seguinte. Tenho certeza de que não vou conseguir passar 48 horas sem te ver”, disse a arquiteta, indo atender o interfone.

– Amor, desce lá e pegue as nossas omeletes, enquanto eu coloco uma roupa leve.

– Por mim, você poderia ficar completamente nua que eu nem ligava.

– Está bem taradinho esse meu neguinho, hein!

Márcio desceu e subiu rapidinho. Quando entrou, viu a arquiteta num baby doll sexy, não conseguindo controlar a reação. Angélica viu e caiu na risada. “- Pelo visto não é só o seu comportamento que terá que controlar, meu amor. Olha como ele reagiu ao ver vestida assim!”

Enquanto Márcio apreciava a vestimenta, a empresária lhe perguntava se havia gostado. “- Comprei numa loja no shopping. Tinha visto quando estivemos lá para almoçar. Na volta da casa de mamãe, preocupada contigo, passei rapidinho lá e peguei. Hoje fiquei pensando nas cores laranja do céu e nos tons dos meus olhos, então vi que podia combinar”.

“- E como combina, amor”, Márcio disse isso puxando-a para junto do seu corpo, a fazendo sentir a temperatura e a intensidade do seu órgão. Angélica correspondeu ao beijo, passando a mão e sentido toda a virilidade.

O casal se dirige ao quarto, enquanto lá fora a chuva voltava a castigar a cidade, enquanto o jornalista e arquiteta se fecham num mundo de cumplicidade só deles. Enquanto o Kama Sutra Ilustrado ficou em cima da mesa central da sala. Despertaram com as primeiras cores da manhã, sem o menor sinal da chuva que caiu praticamente a noite toda.

Desta vez tomaram banhos juntos, pois não se veriam mais aquele dia. Angélica ainda, segundo ela, precisaria de mais tempo para se acostumar com a virilidade dele. “-Tenho a eternidade. Não apressemos nada!”, explicou o jornalista.

“- Eu que não adianto as coisas para ver esses olhos migrando do meu corpo para outro. Te conheço neguinho”, disse a arquiteta o beijando, saindo rapidinho do banheiro. Márcio ficou mais um pouco, o que lhe valeu uma bronca de Angélica. “- Não vai se masturbar aí. Faça isso em seu apartamento quando estiver sozinho, pensando em mim e olhando para a minha calcinha. Não quero ficar constrangida por não participar desse ato de amor solitário. E vamos logo, tomaremos café na mesma padaria em que estivemos eu, você e meu irmão. Depois te deixo no seu apartamento. Lembre-se, se aparecer alguma mulher por lá, eu não me responsabilizo pelas consequências”.

Tomaram café como se fossem amigos, sem a arquiteta avançar o sinal, com Márcio sendo o metódico de sempre, mas para provocá-la dava umas gargalhadas que chegavam aos olhos, só para atiçá-la e levava um chute na canela por baixo da mesa, indicando que tinha acertado o alvo. Terminaram a refeição matinal, se dirigindo para o carro. Lá dentro a arquiteta o agarrou, falando: “- Deixa a nossa relação ser oficial e você fazer essas coisas, tirarei a calcinha toda molhada e a enfiarei na sua boca quando estiver sorrindo para me deixar pirada”.

Colocou o carro em movimento. Durante o trajeto até o apartamento do repórter, Angélica foi fazendo mil recomendações, inclusive com relação ao álcool. “- Não exagere. Ontem fiquei muito preocupada contigo quando te vi todo molhado naquele banco parecendo um mendigo. Não faça mais aquilo. O que minha mãe disse foi para tirar você desse comodismo. Ela não se meterá em nossa vida se não deixarmos”.

– Eu sei! Também tenho que me corrigir. Agora aqui no meu canto refletirei com muita profundidade. Não quero ser o que lhe traz tormenta, mas o que te oferta a paz. Tchau.

– Tchau o quê? Vou subir com você. Quero ver tudo.

– Não precisa.

– Como não!? Vamos!

Subiram os dois e dentro do elevador, a arquiteta ficou bem pertinho de Márcio lhe sentindo a respiração e os batimentos cardíacos. “- O que é isso amor?”, perguntou a arquiteta passando a mão na genitália do jornalista. “- Se isso aqui for parar em outro buraco, pode considerá-lo morto e você eunuco”.

Entraram no apartamento, estando do jeito que o dono havia deixado desde a última vez que lá esteve. Só não havia as roupas. O pessoal se preocupou em organizar tudo do jeito que Márcio que foi encontrado. Antes de viajar, Angélica verificou todos os detalhes. Márcio se sentou no sofá que costumava ser o seu consolo de bebedeiras. Lembrou da primeira vez que Angélica ali estivera.

A empresária o puxou, pedindo para lhe acompanhar até o carro. Teria um dia repleto de trabalho e reuniões, portanto queria levar o último gosto dos lábios dele. Desceram e novas recomendações. “- Está certo Rainha diaba. Se eu sair da linha, vossa senhoria me aprisiona novamente nas torres do castelo”.

Ambos não sabiam que estavam sendo vigiados a distância desde que deixaram a padaria. Márcio subiu. Observou as horas e colocou a pequena bagagem que tinha: consistia em três sacolas com as roupas que havia comprado na manhã anterior. “- Vou adquirir outras. Aí aproveito para deixar essas na lavanderia, pegando no começo da tarde, colocando dentro de uma mochila”.

Novamente na rua, pensou em chamar um transporte, mas resolveu seguir a pé, mesmo tendo um celular novo que Angélica lhe deu. Conhecendo a arquiteta, sabia que devia ter algum dispositivo eletrônico que poderia ser ativado. “Ela não fará isso. Nem ficou com uma chave do apartamento”, pensou Márcio enquanto caminhava em direção à lavanderia onde deixou as roupas, explicando como as queria lavadas, em seguida informando que as pegaria no começo da tarde.

De onde estava até a área central da cidade deveria gastar mais ou menos uma hora em passo forçado, mas não tinha pressa, então andou lentamente. Ao se aproximar da área comercial, começou a olhar as lojas de roupas, mas não achou nada interessante. Decidiu pelo estabelecimento em que Fernanda trabalhava, era mais seguro. Ela o conhecia e sabia do seu gosto. Lá chegando, beijou a amiga no rosto. Esta lhe perguntou:

-Ué! Não está no trabalho?

– Que trabalho?

– Ontem você esteve aqui com uma bacana que comprou umas roupas para você dizendo que ia assumir um cargo na diretoria da empresa.

– Eu? Executivo? Nem morto! Ela falou aquilo para troçar comigo.

– Então o que faz aqui?

– Vim comprar umas roupas.

– Caralho Márcio, você veio aqui ontem e já levou e porque não escolheu tudo ondem?

– É uma longa história. Se você tiver um tempinho podemos conversar. Te falo alguma coisa. Pode ser?

O repórter escolheu várias camisas e algumas calças, também uma mochila. Pediu para que as roupas fossem colocadas dentro da bolsa. Ele não queria desfilar pelo centro da cidade com sacolas de lojas. Detestava ficar chamando a atenção para si.

– Que horas você sai para almoçar?

– Daqui umas duas horas.

– Eu passo aqui para te pegar.

Ao sair da loja, deu um beijo na face de Fernanda, sem saber que estava sendo fotografado. Em seguida ficou zanzando pela cidade. De um lado para o outro. De repente o celular vibra. Ao ver o número nem precisou adivinhar: Angélica. “-Está descansando amor?”

– Não! Estou no centro da cidade.

– Fazendo o quê?

– Comprar umas coisas para o apartamento, depois vou almoçar e ir ao jornal. Preciso resolver as coisas por lá.

– Bem que poderia esperar que faríamos as compras juntos.

– Não! Quero deixá-lo com a minha cara e como eu conheço a senhorita, daria palpite e com certeza discutiríamos.

– Está bem amor, mas se forem coisas que eu não gosto, jogo tudo fora. Deixa eu voltar aqui. Depois nos falamos mais. Beijos. Te amo.

Quando desligou o celular, observou que estava na hora de buscar Fernanda na loja para almoçarem juntos. Ao chegar o ritual se processou e novamente tinha gente fotografando as suas ações. Saíram e foram ao restaurante que Márcio costumava frequentar nos tempos de assiduidade no jornal. Conversaram bastante até que a amiga lhe perguntou:

– Qual é a sua com aquela grã-fina?

– Nada. Não há nada.

– Como não! Aquela mulher não desgrudava a atenção de você enquanto falava comigo. Os olhos estavam verdes como uma esmeralda. Aquilo eram olhares de mulher apaixonada. Vai por mim. E que história é essa de diretoria nas empresas delas.

– Ela me ofereceu o cargo quando descobriu que eu sei falar italiano, francês e arranho o alemão.

– Ela não me é estranha. Acho que já a vi em algum lugar, mas não me recordo de onde. Mas você aceitou o convite.

– Claro que não! Não nasci para ser Executivo de porra nenhuma. Prefiro o anonimato. Sem holofotes. Quero andar nas ruas, despreocupado. Nem carro tenho. Não aprendi a dirigir.

– Márcio, você é de outro mundo. Eu disse isso a ela quando estava querendo saber muitas coisas sobre ti. Não vai me dizer mais nada? Eu sei que estais a me esconder algo. E quando nos fala, é que a coisa já aconteceu faz uns 30 anos. Te conheço neguinho.

Ao dizer isso, riram juntos e essa imagem foi parar numa fotografia. Terminaram o almoço, Márcio levou a amiga de volta à loja, se despedindo disse que ia à redação conversar com Roberto e que provavelmente sairia do jornal. “- Mas o que você vai fazer da vida homem de deus?”

– Ainda não sei ao certo, mas primeiro preciso terminar minha relação com o jornal, depois eu vejo que faço. Tchau. Vamos sair um dia desses?

– Acho difícil! Com aquela mulher que eu vi contigo ontem e com os olhares dela. Se ela pegar nos dois juntos na noite, vou apanhar até amanhecer o dia. Vai por mim. Aquela ricaça está paradona na sua. Tchau.

Márcio caminhou até a redação e lá chegando abraçou Roberto, indo direto a sala do amigo. Contou tudo o que lhe aconteceu e o amigo morrendo de rir em sua cadeira. “- Meu amigo. Essa mulher é doida. Eu estava numa cidade pequena lá no Pontal que eu nem sei o nome. Ia pegar o coletivo para uma outra cidade. Ela apareceu na rodoviária e ameaçou ficar pelada se eu não voltasse com ela. Um horror. Tive que voltar né!”

– Seu bunda mole. Você voltou porque aqueles olhos esverdeados de captaram feito teia de aranha. Sabe que não precisa me esconder nada. Olha! Eu soube que Márcia está na cidade, anda circulando perto de sua casa e está com aquele garçom lá do Bar da Net que você me falou que na verdade é segurança da ricaça. Fica ligeiro. Ela pode estar te armando alguma e com o Rodolfo. Depois que ele soube que a madame andou arrastando asas para o teu lado. Está louco para te ver na sarjeta.

Roberto convidou Márcio para lhe fazer companhia num lanche rápido, não iria para casa almoçar. As coisas entre ele e Danisa não iam bem. Precisava conversar com alguém. “- Se bem que você não tem bagagem para orientar. Está mais ferrado que eu, mas quem sabe não me dá um norte. Você tirou aquele maluco do Amadeu do mundo de alucinações em que vivia”.

– Acho que não posso ajudar, mas se precisa de um ouvido, eu lhe cedo o meu. Amigos não emprestam guarda-chuvas, vão para a chuva com os parceiros.

Ficaram boa parte da tarde conversando e Roberto abriu o jogo ao amigo. A situação econômica estava fodendo todo mundo e os anúncios caiam dia após dia. Os vendedores sempre retornavam com as mãos cada vez mais vazias e as assinaturas também despencavam. “- E para variar, Danisa reclamando que não saímos mais. Que não temos vida social. Tu querendo se esconder da agitação social e minha mulher querendo cair de cabeça nesse mundão. Já não sei mais o que fazer. Mas me diz você. O que foi fazer na redação?”

Antes de informar o que o levou ao jornal, o repórter fez questão de ressaltar o significado do nome da esposa do amigo. “-Também com um nome desses, você queria o que?  Pelo nome, a sua amada é destinada a organizar festas e eventos, mas como não pode fazer isso, enlouquece”, explicou Márcio. “A outra parte de sua resposta é simples: fui pedir demissão. Só isso!”, informou o repórter ao chefe.

– Angélica me ofereceu um cargo na estrutura administrativa das empresas dela. Um posto na diretoria. Mas estou propenso a declinar. Não nasci para ser executivo.

– Dona Judith vai gostar de saber.

– Não diga nada a minha mãe. Ainda estou decidindo se aceito ou não. Aquela gente é muito doida, Roberto.

– E a louraça doida para sentir sua rola entrando e saindo.

Márcio olhou para Roberto e este entendeu que não podia passar dali. O amigo jamais iria falar alguma coisa se estivesse rolando algo entre ele e Angélica. O cara era discreto e por ser assim que se meteu na maior enrascada de sua vida.

– Estava pensando em pedir demissão hoje, mas não vi o João Marcelo por lá. Então deixa que outro dia eu volto para falar com ele. Afinal o meu salário não está saindo do bolso dele mesmo. Sendo assim, me desligar é meramente uma questão pró-form.

Roberto fitou o relógio, lembrando Márcio de que tinha que voltar à redação. O jornalista o acompanhou até a sede da empresa jornalística e, de lá, ficou mais um tempo flanando pela cidade até decidir retornar para casa. Eram quase sete horas quando, estando defronte ao seu prédio, ouviu alguém o chamar.  Parou. Observou se tratar de Márcia que saia de baixo de uma árvore.

Assim que chegou bem perto dele, quase encostando em seu corpo, inclinou para beijá-lo, mas o repórter recuou totalmente, contudo, a foto já tinha sido feita. “- O que você quer? Já não basta a vergonha que me fez passar há mais de cinco anos?

– Quero você!

– Mas há muito que não te quero. Vai lá dar o rabo para aqueles seus cafetões. Procure aquela moça que te chupou gostoso. Não era assim que você gritava naquela noite, sua puta!

Márcia se inclina novamente para beijá-lo e ele se afasta dizendo boa noite e entra no prédio. Após ingressar no apartamento, tranca tudo. Deitou no sofá e a noite passada veio como um foguete à memória. Primeiro, chorando deitado no banco debaixo do maior aguaceiro. Depois o motivo: a mãe de Angélica soltou os cachorros nele. Em seguida, Angélica o resgatando e terminando a noite em seus braços. Não teve sexo, mas o que tiveram foi algo muito maior do que isso. Sentiu-se como se estivesse fundindo sua alma à dela.

Com esse pensamento, adormeceu e não sabe quanto tempo dormiu. Despertou com o barulho do celular. Era Angélica perguntando onde ele estava. “Te liguei várias vezes e ninguém atendeu. Achei que estivesse na rua com Roberto”, disse a arquiteta. “- Não, amor! Estava em casa. Chegue perto das sete. Tomei um banho e dormir pensando em você”.

– Já é tarde! Tentei dormir, mas não consegui. Precisava te ouvir. Eu recebi umas fotos de Rosângela em cenas comprometedoras com outra mulher. Estou que não sei onde colocar a cabeça.

– Ela está indicando que não há mais espaço para tu na vida dela. Buscando um motivo para terminarem sem que você em continuar no casamento.

– Você acha?

– Evidente.

– Amor vou dormir. Amanhã tenho outro dia complicado. Quero você comigo.  Não durmo mais uma noite sem você.

Se despediram e Márcio foi ao banheiro, tomou banho e tentou processar a aparição de Márcia e o seu desaparecimento num piscar de olhos. Recordou o que Roberto falou dela andar com Rodolfo. “Ficarei mais atento na rua. Acho que aquela filha de uma puta deve ter me perseguido o dia todo”.

Deitou na cama e ficou imaginando como Angélica estaria vestida naquele momento. Antes dormia sem nada por baixo, só com um camisetão. Mas com ele, colocou baby doll. “Estranha essa mudança. Ah! Deixa para lá. Deve ser coisa de mulher”, tendo esse pensamento, acabou dormindo.

Dormiu até passar da conta. Acordou com o telefone tocando. Era Angélica. Quando falou alô já sentiu a coisa fervendo.

– Seu filho de uma puta. Me falou que ficou ontem o dia fora comprando coisas para o seu apartamento, depois disse que foi a redação falar com Roberto, mas é tudo mentira e eu tenho as provas aqui comigo. Almoçando alegremente com a Fernanda e depois beijando a Márcia e ela só de lingerie no seu sofá com você de pé olhando. Cachorro.

– Mas do que você está falando Angélica. Eu não sei de nada.

– Estou indo aí! Se prepare! Hoje você morre! Pode falar para o Roberto avisar sua mãe para vir reconhecer seu corpo. Seu mentiroso. Mas isso não vai ficar assim não!

Ao desligar o telefone, Márcio se deixou cair no sofá. E fez toda a conexão. A Márcia armou outra vez para ele. Com certeza tinha dedo do Rodolfo nessa presepada toda. “Vou matar os dois. Se é que vou ter tempo. Se Angélica me deixar vivo”, pensou o repórter.

Eram onze e meia quando Angélica ligou o xingando, mandando ele descer. “- Venha aqui seu filho de uma égua. Vou te partir a cara. Desce aqui antes que eu suba. Se eu tiver que ir aí o mundo vai saber o cafajeste que você é. Anda. Estou te esperando. Te tirei da chuva ontem para você ficar comendo outras no seu primeiro dia no apartamento. Desça seu filho de uma puta”.

– Se você parar de me xingar, eu posso descer e a gente conversar.

– Conversar nada. Eu vim aqui para te partir a cara. Aliás a suas duas caras.

Márcio desligou e desceu rápido. Chegando no térreo, viu Angélica transtornada dentro do carro. Bateu na porta e ela saiu querendo partir para cima dele. “-Vamos entrar. Conversaremos melhor dentro de cassa. Não gosto de escândalo. Lá dentro você pode até me enforcar que eu deixo”.

Angélica passou para o lado onde ele está e já desferiu um violento tapa na cara de Márcio e em seguida, chutando-o. O repórter ficou quieto e pediu para subirem. Já dentro do elevador, a arquiteta queria esmurrá-lo. Ele conseguiu contê-la. No interior do apartamento, o jornalista lhe disse: “- Agora desembucha patroa. O que está acontecendo?”

Angélica jogou o envelope no rosto dele, caindo no chão. Ele pacientemente pegou, abriu e viu as fotos. Sentou-se no sofá para examiná-las.

– E agora, seu filho de uma puta. Negue que não comeu a Fernanda e depois a puta da sua noiva que te deixou porque o senhor não é chegado em bacanal. E você todo deitado no banco ontem tomando chuva. Tudo teatro para me fazer de trouxa.

– Você quer se sentar e se acalmar.

– Márcio, me explique o que é isso, por favor?

– Montagem. Só isso!

– Como?

– Essas fotos com Fernanda. Olhe bem. Estou dando três beijinhos nela, mas a foto foi editada para parecer que eu a beijava na boca. Aqui estamos almoçando. Fui lá comprar umas roupas a mais e ela me disse que você estava apaixonada por mim e que fizestes um monte de perguntas a meu respeito. Estávamos rindo aqui porque eu tentava negar tudo e ela me dizia: ‘eu te conheço. O jeito que ela te olhou é de gente que está morrendo de amores por você’”.

– Está falando a verdade Márcio?

– Claro que estou. Esqueceu-se que eu fiz jornalismo e estudei semiótica. Essas fotos são montagens e foram te enviadas para tentar me fritar e provavelmente te extorquirem.

Angélica, conseguiu ficar mais calma e se sentou ao lado de Márcio que mostrou as outras fotos com detalhes. “-Olha aqui. Como alguém pode me beijar inclinando o corpo, mas a sombra não vai junto. Observe como estou de pé e veja a minha sombra. Essa imagem foi feita quando eu estava sozinho e tinha me virado quando Márcia me chamou. Depois foram feitas as outras. Ela tentou me beijar duas vezes, mas me afastei, por isso que o corpo dela tá inclinado e o meu não.

O repórter continuou. “- Nessa aqui, repare que ela está aqui dentro do meu apartamento. Seu corpo tem sombra e eu em pé não tem sombra. É a mesma foto em que estou em pé. Mas foi colocada aqui para passar a ideia de que eu estava com ela. Tudo isso foi editado e às pressas.

A arquiteta olhou para Márcio e desabou no choro. “- Quem seria o maquiavélico que fez isso?”

– Amor. Lembre-se que você me disse que Márcia estava rodeando meu apartamento? Não era para me ter de volta. Eu tenho certeza de que a vi ontem com Rodolfo no shopping e também no dia anterior. Ontem Roberto me falou que ela andava com ele a tiracolo pela cidade e me pediu para tomar cuidado. Ele soube que o segurança estava possesso porque vc estaria arrastando asas para o meu lado.

Angélica ficou em silêncio e Márcio lhe disse: “- Essa é a verdade. Não existem outros fatos. Somente esses e desconfio que tem dedo do Rodolfo nisso tudo. Agora você vê o que queres fazer. Mandarei trocar a fechadura da porta e voltar ao jornal. Ainda bem que João Marcelo não estava lá hoje. Então acho que amanhã posso reassumir minhas funções”.

– Você não vai fazer porra nenhuma! Vai almoçar comigo agora. E vamos ter um segurança particular. Depois verificarei o que frei com os dois. Vai. Toma um banho para sairmos. O que tem nessa mochila?

– Roupas que eu comprei ontem.

– Porra Márcio eu te falei para não comprar mais nada sem eu estar contigo. Se eu não gostar de nenhuma, você vai passar carão, porque vou lá na loja e devolver e ainda vou dizer a Fernanda para não te vender nada sem a minha autorização. Vai tomar banho enquanto eu olho essas roupas aqui.

Enquanto Márcio estava no chuveiro, Angélica ligou e disse para Rodolfo que estava esperando ele na porta do prédio em que o repórter mora. Ele seria o segurança dela aquela tarde. Quando o jornalista saiu do banheiro, tinha roupas separadas e uma distante das outras. “-Você coloca esse aqui. Vai combinar com esse sapato. Se arruma logo que Rodolfo está chegando.

Almoçaram, enquanto Rodolfo esperava no carro. Quando chegaram, o segurança falava ao telefone. Antes que Angélica lhe perguntasse algo, disse que conversava com a esposa. “- Não lhe perguntei nada. Não lhe pago para responder aquilo que não te foi perguntado. Agora você pode ir embora. Não precisarei mais de você. Ficarei a tarde aqui com o meu amor”.

            Ao terminar de explicar isso a Rodolfo, Angélica deu um profundo beijo em Márcio e entraram no carro. “- Por que você fez isso Angélica”, perguntou o jornalista já dentro do carro. “- Para ele saber que sabemos da canalhice dele. Mas não terminou aqui. Te deixarei em casa, enquanto tomo algumas providências. Agora me dá a chave do seu apartamento. E esquece. Eu quero uma também. Mandarei trocar tudo”. 

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