Sobras de um amor … parte II

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Três dias se passaram do sepultamento de Jô. Amadeu permaneceu internando no hospital, sedado. Angélica amalucada, tentando arrumar tudo. A vida teria que recomeçar, tendo a mãe a tiracolo e sem saber notícias de Rosângela e Márcio. Não sabia quem procurar primeiro. Com a esposa, seria mais fácil. Acionou os seguranças e descobriu que fazia dias que ela não retornava ao apartamento. Numa determinada tarde, Rosângela entrou num shopping em Berlim na companhia de uma mulher e desapareceu sem deixar rastros.

Ao obter essas informações, sentiu que havia algo errado e que a sua esposa poderia estar com outra pessoa. Só precisaria confirmar a traição, mas como fazer isso? Tinha muita coisa para organizar depois da morte do pai. Estava sozinha. A mãe só chorava. O irmão sedado no hospital e Márcio desaparecido. Fazia três dias que não tinha notícias deles. “- Vou descobrir onde aquele filho da puta se meteu e vou trazê-lo para cá pela orelha”, pensou com um risinho no canto da boca.

O primeiro passo foi conversar com o gerente do banco. Com um suborno, “todo mundo tinha lá seu preço”, conseguiu saber que o último saque que Márcio fez tinha sido justamente ali na cidade, horas depois da morte do pai dela. Depois disso sumiu. “- Ah alguém sabe onde ele se meteu. O Roberto! Vai me falar, custe o que custar”.

Naquela final de tarde, ligou para a redação do jornal para saber se o editor ainda estava lá trabalhando. A informação que recebeu dizia que sim. Ficou lá na porta de prontidão, esperando. Assim que ele desceu se deparou com ela estática na frente dele. “- Eu não sei de nada!”

– Como? Eu não te perguntei nada ainda!

– Mas sei o que vai me perguntar e a resposta já foi dada. Agora será que a senhora pode me dar licença, preciso ir para casa. Minha esposa está me esperando. Já me ligou duas vezes.

– Ela que ligue a terceira, quarta, quinta e quem sabe você não diz que estava procurando emprego, porque perdeu o seu por culpa do Márcio. Ande, me diga, onde ele está?

– Por que a senhora não deixa ele em paz. O cara é todo atrapalhado. Tem um passado que quer esquecer. Eu trouxe ele para cá, para tentar recomeçar a vida, mas parece que o bicho nasceu cagado. Tudo cai na cabeça dele. Parece para-raios raios de maluco.

– Não me enrola não. Onde ele está?

– Dona Angélica eu realmente não sei onde Márcio se meteu. Até o João Marcelo quer saber dele.

– Ótimo! Vou falar com ele e já digo que você sabe, mas não quer me dizer.

– Olha só! Passe aqui amanhã cedo que vou se eu o localizo. Caso eu saiba eu lhe digo.

– Quero isso amanhã de manhã. Do contrário, a tarde tu serás mais um desempregado.

– Posso fazer uma pergunta para a senhora?

– Se não for nada pessoal,  pode?

– O que a senhora quer com ele? Se não for para dar paz ao coração dele, o deixe em paz. Meu amigo precisa assentar a vida, mas não vai conseguir se viver de tumulto em tumulto. Eu já trouxe ele para cá para tentar se livrar do vexame do quase casamento.

– Ah então você sabe onde ele está?

– Do fundo do meu coração. Eu não sei. Adoro aquele negão, mas não consigo tirá-lo daquela noite maldita. Soube que vocês compraram aquela maldita Márcia. Ela vendeu a sórdida história que ele queria manter em segredo. Soube que a puta anda rondando ele. Não tive tempo de avisá-lo. Eu a vi perto do apartamento dele no dia em que foi despejado e esteve aqui me procurando.

– Amanhã cedo quero saber onde ele está. Ou o senhor pode começar a procurar outro emprego.

Angélica saiu, entrou no carro e escutou trovões. Colocou uma música e ficou ali pensando no sorriso de Márcio e no quanto ele a deixava tranquilo. “Será que um dia vou conseguir transmitir a ele a paz que precisa?”. Ligou o automóvel e se deixou andar a esmo pelas ruas da cidade enquanto escutava várias vezes a música quem o cantor dizia “quem sabe isso quer dizer amor”. Lá fora a chuva chegava de mansinho. Foi despertada pelo som do telefone. Atendeu. Era sua mãe. Queria jantar com ela. Mas não deseja que o encontro fosse na mansão. “- Tudo bem mãe. Passo para pegá-la e depois decidimos o que faremos”.

Conforme o combinado, a arquiteta pegou a mãe. Era estranho estar com aquela senhora, após muitas brigas, desentendimentos. Precisou haver uma morte dentro da família para aproximá-las e a filha tentasse compreender as atitudes e razões de Eleanora. A jornada estava apenas começando, mas com certeza, no final a relação das duas seria fortalecida. Não que houvesse aceitação plena, mas amizade, pois esse tipo de sentimento só se robustece a partir do respeito, como ela e Márcio desenvolveram um pelo outro. Recordou a noite em que dormiu na mesma cama que ele e não sabe como acordou em seus braços, sem terem tido um contato se quer de lábios.

Mãe e filha entraram no supermercado, compraram aquilo que cozinhariam na noite. Eleanora quem escolheu os ingredientes. Cozinharia para a filha. Coisa que nunca fez porque sempre os empregados da casa é que cuidavam disso tudo. A arquiteta descobriu que a mãe gostava de uma cervejinha. Comprou dois pacotes de uma marca que ela adorava. Para a filha, o mesmo vinho branco que ela vinha bebendo em companhia de Márcio.

Quando chegaram no apartamento, a primeira coisa que Angélica fez foi reabilitar a entrada da mãe no imóvel. Amadeu voltaria para o seu apartamento assim que estivesse bom. Já o repórter, ela não sabia por onde andava, mas gostaria de tê-lo ali por perto. Mas, por outro lado, foi bom ele ter se distanciado, sendo assim, ela poderia se reaproximar da mãe e aos poucos iria eliminando aquele ranço do passado.

Enquanto a matriarca estava de pé cozinhando tendo uma lata de cerveja numa das mãos, a filha sentada com uma taça de vinho. Do nada, Angélica ficou em silêncio, deixando apenas o corpo ali ingerindo a bebida e a cabeça estava em outro lugar e o coração viajava em busca de alguém. Não entendia direito como poderia se dividir em três ao mesmo tempo.

– Mãe! Não sei ao certo! Acho que pela primeira vez estou entre a cruz e a espada. De um lado tem a Rosângela com quem estou casada há um certo tempo e, de outro, há o Márcio com que passei muito tempo nas últimas semanas. Eu achava que era só amizade, mas bastou ele sumir para eu sentir mais saudades dele do que de minha esposa. Ela está na Alemanha e desconfio que já tem outra pessoa. O que eu faço?

– Filha! Ficamos muito tempo distante e eu não achava e continua não achando normal você estar casada com uma mulher. Então não quero dar um parecer errado para a sua vida, mas creio que seja interessante você aproveitar essa distância que está dos dois e resolver dentro de ti esse imbróglio. Quero que saiba que estarei do e ao seu lado, qualquer que seja a sua escolha. Agora me fale o que você sente quando está com ele, Márcio e por que se casou com Rosângela? Talvez quando você entender a diferença, possa encontrar a resposta que procura e tomar a decisão mais acertada para o seu coração.

– Quando Amadeu sair daquele hospital, não sei o que fazer sem a ajuda de Márcio. Acho que não vou conseguir lidar com o meu irmão. Os dois são muito amigos e quando o seu filho perguntar pelo jornalista, o que vou dizer? Estou totalmente perdida. A senhora me entende?

– Entendo sim filha! Deixe-me tentar te ajudar a se organizar para o que vai vir pela frente. Não é uma tentativa de recuperar o ontem, mas sim um desejo de estar junto de ti e de seu irmão num futuro que começa agora. Só quero que me deixe estar contigo a partir de hoje. Já pedi perdão ao Márcio e sei que o rapaz é virtuoso e tem vergonha na cara. Terei que trabalhar muito para conquistar a confiança dele e de seu irmão.

– Pode contar comigo mãe. Sei que também não sou fácil, mas vamos juntas reconstruir nossa relação. Claro que isso não se dará da noite para o dia. Foram anos de estranhamentos, brigas e desrespeitos, mas só o fato de a senhora estar aqui fazendo o jantar para nós duas é um bom começo.

Enquanto conversavam, Angélica consumiu toda o vinho e sentiu vontade de tomar o uísque que tanto Amadeu e Márcio apreciavam. Não entendia a cabeça dos dois. O irmão era completamente aloprado, vivia no mundo da lua e no tabuleiro de xadrez. O repórter, metódico, fechado dentro de si querendo fugir, aliás, desaparecendo sem deixar vestígios. A arquiteta ouviu d’alma para o coração uma das canções que escutou com ele em que a interprete dizia que acharia o seu amor nem que precisa acender uma fogueira em alto mar. “Eu vou encontrar esse filho da puta e ai ele vai se ver comigo!”, Angélica falou baixinho para si mesma, mas a mãe deu aquela olhada como quem escutou, mas preferiu ficar em silêncio.

– Filha! Diga aqui para a sua mãe! O que está indo nessa alma? Aquilo que você nos disse no almoço nos impactou muito, principalmente seu pai. Ele não está mais aqui entre nós e tinha lá seus motivos para ser como era. Eu sinto muito por esconder isso de vocês. Talvez se soubessem que Jô segredava dentro do peito um grande amor, assassinado tragicamente pela violência racial do pai dele, talvez pudéssemos tê-lo ajudado. Como te disse, não posso e nem tenho desejo de alterar o ontem, mas quero tentar arrumar o futuro, principalmente o seu e do seu irmão.

– Mãe! Como lhe disse: estou confusa. Não sei o que pensar, como agir. Não quero reagir. Preciso fazer totalmente o contrário, mas não sei por onde começar. Estou como uma mosca presa numa teia e vendo a aranha se aproximar para devorá-la. Eu sinto que há uma saída, mas eu não consigo ver.

Ao terminar de dizer isso, Angélica virou o conteúdo de uísque que havia dentro do copo, fazendo careta, como quem pretendia expulsar o que ia no coração e começava a perturbar a cabeça, tirando o seu foco, sua concentração, sua razão. Era preciso voltar para a vida, mas como?

Eleanora olhou para a filha e já sentindo a quantidade de cerveja lhe soltando a língua, portanto, ficando menos insegura diante da arquiteta, lhe disse. “Keka, não tem muito o que fazer. Lá no fundo, você sabe a estrada que tem que pegar. Então é só seguir em frente e colherá os frutos das sementes que seu coração plantará ao longo desta jornada. O que você nos falou no almoço, nos pediu, exigiu deixa claro e o que vi no hospital, não me deixa dúvidas, mas não sou eu quem posso percorrer esse caminho, mas somente você. Nunca podemos arrumar o quarto se não reconhecermos as bagunças que fizemos e os motivos que levaram a ficar daquele jeito. Olhe para você e me diga o que quer fazer”, expôs Eleanora.

– Eu não sei mãe. A única coisa que posso te dizer é que gostaria de ter o Márcio aqui por perto. Eu não sei onde ele está. Ele abandonou tudo, até o celular para que eu não o rastreasse.

– Angélica. Você já pensou nos motivos que levaram ele a sumir no mapa?  Será que foi mesmo por conta daquele passado horrível ou por não querer ter amanhã outro passado para esquecer? Fugir de um já é difícil, agora de dois. Acho que ninguém suportaria. Tente ser ele e saberá o motivo do desaparecimento, ou talvez não. Mas precisa tentar.

– Eu sei que baguncei a vida dele. Fui agressiva, o humilhei porque só pensei em minha família, como vocês sempre me ensinaram. Também compreendo que fui mandona, não deixei ele pensar, não deixei ele fugir para se encontrar. Também o provoquei em sua intimidade e depois fazia questão de enfatizar que sou casada. Ele sabe que eu e Rosângela não atravessávamos um momento coerente, e ainda assim, optou por ficar no seu ambiente. Chamei-o de ultrapassado, picotei roupas dele. Eu entendo porque ele sumiu só com a roupa do corpo. É melhor eu deixá-lo no mundo dele mesmo.

– Filha. O seu caso não é semelhante ao meu e do seu pai. Esse repórter, te olhava diferente e você sabe disso. Se não fosse assim não o teria defendido da maneira como fez naquele almoço. E se ele for tudo aquilo mesmo que você disse que é. Então, ele não voltará! Sendo assim, presumo que vá atrás dele e esclareça tudo. Não deixe que fiquem dúvidas. Outra coisa, se está mexendo tanto contigo, isso significa que o seu casamento tem outro sentido. Encontre-o para poder seguir em frente. Eu não pude fazer nada com o meu. Fiquei iludida no luxo e nas apresentações e presentes que teu pai me fazia, mas dentro daquela mansão eu convivia com o fantasma de outra mulher. Não deixe que isso aconteça contigo.

– Então você acha que eu devo tentar achá-lo?

– Sim, mas sem essa de que sente algo por ele. Seja política. Tens um trunfo na mão que pode usar e com certeza conseguirá alcançar o objetivo. Depois, resolva tudo com a Rosângela. Se preciso for, vá a Alemanha. Leve o Amadeu. Não é lá que a tal de Tarsila está escondida? Então. Quero saber mais desta mulher. Tudo o que sei é pelo que Jô me dizia. Preciso pedir desculpas, perdão, ou sei lá o que for, mas tem que ser pessoalmente.

– Terei que jogar sujo com uma pessoa. Tenho certeza de que ele sabe como achar o Márcio. Mãe. Se ligarem do hospital, digam que é para deixar Amadeu mais uns dias lá. Pelo menos ele não está bebendo e pode fazer todos os exames necessários para sabermos o seu estado clínico. Vou em busca de algo importante para nós.

– Faça isso filha. Ficarei feliz em te ver em busca de sua felicidade. Você pode me levar para casa?

– De jeito nenhum. Agora que está aqui não deixo mais a senhora ir embora. Fique comigo até eu resolver tudo isso. Estamos precisando uma da outra, não como mãe e filha, mas como amigas que nunca conseguimos ser.

Definido que a mãe ficarei ali o tempo que desejasse, as duas terminaram de beber suas bebidas e ficaram um pouco passadas e rindo de tudo e de todos e Angélica falando de Márcio. Mudava de assunto e voltava a falar nele. De como ele cortou a mão quando deu um soco na mesa e acertou o copo. “– Filha! Esse homem virou a sua cabeça. Você não volta mais ao normal sem ter ele do seu lado!”, disse Eleanora a filha e caindo as duas na gargalhada.

Dormiram abraçadas como duas amigas. No dia seguinte, Angélica acordou cedo. Com um pouco de ressaca, mas que resolveria com um remédio e passagem numa farmácia. Deixou um bilhete para a mãe, dizendo que voltaria antes do almoço e com certeza sabendo como encontrar Márcio.

Depois que deixou a farmácia, estacionou o carro na frente do jornal. Foi entrando e dizendo que precisava falar com Roberto. Nem esperou que Joana à atendesse. Quando já estava quase chegando à sala da redação, Angélica encontrou João Marcelo, explicando o que estava fazendo ali.

– Mas dona Angélica, a senhora já me roubou um repórter. Agora quer levar outro também? Daqui a pouco terei que fechar a minha empresa por falta de jornalistas.

– Meu amigo, não estou aqui para tirar o Roberto do seu jornal. Eu vim por outro motivo. Ele está ou não? Se não estiver, esperar. Só saio depois que falar com seu editor.

– O que ele fez desta vez? Pode me dizer que já o demito agora e você já conversa com um desempregado.

– Não é nada disso. Vou tratar de um assunto pessoal com ele. Só isso.

Assim que ouviu a voz de Angélica, Roberto saiu de sua sala e olhou direto para o proprietário que, de cara fechada, informou que a arquiteta queria falar com ele.

– Entre aqui em minha sala, dona Angélica.

Assim que se sentou diante do editor, a arquiteta já foi falando sem deixar que Roberto pensasse ou respirasse.

– Quero informações sobre Márcio agora! Do contrário, pode arrumar as suas coisas e ir se despedindo desse emprego.

– Eu faço o que a senhora quer. Fico no trabalho e dou adeus ao meu amigo. Negativo. Nada disso. A senhora pode se retirar. Eu mesmo vou até o proprietário e lhe informo sobre o que está acontecendo, inclusive que a senhora está apaixonada pelo nosso repórter que resolveu sumir no mundo para ter sossego. E ainda escrevo uma matéria com a seguinte manchete: “Ricaça procura repórter que está sumido. Apresente-se jornalista desaparecido”.

– Faça isso depois. Agora me diz onde ele está. Ai se eu não achá-lo a matéria e a chamada serão uteis. Só quero uma dica. Não vou dizer que foi você quem me passou. Eu já sei que ele não movimentou a conta bancária depois que saiu da cidade. Comprou a passagem com dinheiro. Então não é possível saber para onde foi.

Roberto ficou pensando. A arquiteta não negou e em afirmou que estaria interessada em Márcio. Talvez pudesse fazer aquele fujão parar de ficar se escondendo da vida, só porque o seu sonho de casamento foi para o ralo por conta de uma mulher vulgar e sem escrúpulos.

– Dona Angélica. Eu não sei mesmo onde ele está. Esteve aqui, dizendo que desapareceria. Informou que deixou o celular com a senhora para que não fosse rastreado e que por conta disso, precisava de outro aparelho. Pediu para eu falar com a mãe dele. Também me falou que só conversaria comigo usando orelhão. Eu o conheço bem e para fazer isso deve ter acontecido algo bem grave. O que a senhora fez para ele?

– Eu não fiz nada! Aliás ainda não. Mas deixe eu encontrar aquele fujão.

– Ele roubou a senhora ou algo assim?

– Roberto! Você acha que Márcio faria isso? Ele é seu amigo, então deve conhecê-lo melhor do que todo mundo nessa cidade. Ande, me responda: você deu o aparelho para ele? Passe-me o número. E deixa o resto comigo.

– Dona Angélica! Se ele descobrir que eu tenho alguma coisa a ver com isso, não me perdoará jamais. Já chega o que a Márcia lhe fez. Perdeu tudo. Nem os irmãos falam com ele, exceto a mãe.

– Ande! Quero o número.

– Farei melhor. Vou ligar para ele e saber se quer falar com a senhora.

O editor ligou e logo Márcio atendeu. “- Alô, Roberto! Por que está me ligando. Minha mãe morreu? Só se for isso. Do contrário eu te ligaria. Tchau”. Angélica ouviu a conversa e quando tomou o telefone da mão do editor, o repórter já tinha desligado. Sem pensar duas vezes, a arquiteta registrou o número. Não ligaria para não indicar que estava atrás dele.

– Obrigado Roberto. Terá notícias nossas. Sei que posso contar com o seu silêncio. E será preciso. Você quer ou não a felicidade do seu amigo?

– Quero! Mas a senhora e sua família bagunçaram a vida e a cabeça dele.

– Então deixe eu colocar tudo no lugar novamente.

Saiu apressadamente da redação do jornal e ligou para a mãe. Estava toda feliz e avisou Eleanora que estava voltando para casa. Perguntou se ela queria almoçar em algum lugar. A mãe explicou que não estava se sentindo bem. “- Acho que exagerei ontem. Coisas da felicidade!”

– Espere! Assim que eu chegar damos um jeito nessa ressaca. Depois almoçaremos juntas. Quem sabe eu não tenha novidades.

Ao terminar de falar com a mãe, a arquiteta recebeu uma mensagem de texto. Achou que era de Márcio, mas não. Havia sido enviado por alguém que não conhecia. O número indicava ter sido enviada de outro país. Antes de acessar, achou que o repórter tinha saído do país. Ficou com o coração em descompasso até que leu o conteúdo. “Precisamos conversar. Venha até a Alemanha. Me avise quando estiver com o voo marcado. Rosângela”.

Finalmente a esposa tinha dado sinal de vida. Mas a informação era estranha. Fria, sem emoção e o carinho que costuma nortear a comunicação entre as duas. Mas como Eleanora lhe dissera. Uma coisa de cada vez. Tinha que encontrar Márcio, tirar Amadeu do hospital e somente depois iria à Alemanha. Pensou em responder à mensagem, mas optou pelo silêncio, porém, evidenciando que havia acessado o conteúdo do texto.

Desligou o celular e o carro. Ficou pensando. O coração em frangalhos. Compreendera que a esposa poderia estar com outra pessoa. Ligou para os seguranças e foi informada que não tinham mais contato com Rosângela e que ela não voltava ao apartamento fazia dias. “Certeza! Está me traindo e agora deseja colocar um fim em tudo, mas não quer ser a algoz do relacionamento. Quererá depositar o nosso fracasso nas minhas costas”, pensou a arquiteta com os olhos marejados e esverdeados.

Deixou-se ficar ali por um tempo, pensando, chorando, se perguntando os motivos que levaram Rosângela a fazer aquilo, quando dizia que a amava e que desejaria passar o resto da vida com ela. Bastou mudar de país para que tudo se dissolvesse como sorvete em tardes de verão.

Pegou o celular e conversou com uma pessoa da sua equipe de segurança. Passou o número de Márcio dizendo que queria a localização exata daquele número e por onde o aparelho circulou desde a morte do pai dela. Colocou o carro em movimento e em poucos minutos recebeu as informações. Indicando inclusive onde estaria o equipamento naquele momento. Junto com as informações, recebeu um mapa contendo um cursor toda a movimentação do telefone e a cidade.

Sem que Márcio soubesse foi colocado um dispositivo no equipamento que estaria conectado ao celular de Angélica que poderia monitorá-lo em silêncio. “- Te peguei seu fujão. Estou chegando lindinho”. Ao entrar em casa, a arquiteta contou para a mãe as novidades, informando que viajaria de carro na manhã seguinte e só voltaria com Márcio. Mas não ia com seu veículo. Chamaria atenção na pequena cidade em que o repórter se escondia.

A mãe ficou toda feliz em ver a filha toda eufórica. A arquiteta também falou da mensagem de Rosângela. “Keka! Uma coisa de cada vez. Depois que você conversar com o Márcio, comece a resolver o seu casamento com a antropóloga. Não vou dizer o que deve fazer, mas faça tudo com calma. Nada pode ser realizado com atropelos. Olha só o que eu e seu pai fizemos com vocês dois: os transformamos em dois infelizes”, disse Eleanora.

– Melhor. Vou de avião até uma cidade maior e lá alugo um carro. Assim chego à cidade sem fazer alarde, surpreendo Márcio. O que a senhora acha?

– Faça isso se te deixa feliz. Vou tomar um banho para diminuir a ressaca depois almoçaremos, mas antes quero passar numa farmácia para tomar um remédio e aliviar esses sintomas. Estava desacostumada a beber tanto assim.

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