Sobras de um amor…

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“- Vem amor! Estou te aguardando. Não precisamos esperar o sono chegar para projetar castelos de amor enquanto estivermos dormindo. Vamos construir o nosso paraíso agora!”.

“- Já estou indo paixão. Estou terminando o banho aqui e já, já chego pra te levar para juntos das mais belas estrelas austrais”. Márcio terminou o banho o mais rápido que pode e sem se enxugar direito e completamente nu se atirou na cama para atender às súplicas de sua esposa que, com certeza estaria usando a lingerie azul de que tanto gostava, mas de tirá-la com os dentes, enquanto massageava o corpo inteiro da amada. Ela estava envolta nos lençóis e quando o esposo lhe descobria o corpo, um barulho estridente o despertava.

– Droga! Quem será agora que me tirou da melhor parte?

Tudo não passava de um sonho, como os outros anteriores que o jornalista vinha tendo nas últimas semanas, sem, no entanto, conseguir ver o rosto da mulher que o atormentava, o deixando com uma ereção enorme.

Ao olhar para o aparelho observou que o mesmo estava tocando com uma certa insistência e pode ver que já passavam das oito da manhã. Levou um susto, pois deveria já estar a caminho da redação. Atendeu a ligação.

– Alô! Márcio!

– Fala Roberto! O que é que manda? Fui demitido?

– Não! Ainda não! Só estou te ligando para dizer que não precisa vir trabalhar. Você foi destacado para cobrir aquela matéria em que estava tão empenhado e publicou pequenas partes nos últimos domingos.

– Como é que é? Ontem levei a maior comida de rabo, fui humilhado na frente daquela madame e, inclusive ameaçado de perder o emprego por conta daquela dondoca histérica. E agora você me vem com essa? O que está acontecendo?

– A única coisa que posso te adiantar é que, enquanto estiver apurando essa matéria e até a publicação dela, você não estará mais sob a nossa supervisão. Se ainda não recebeu as instruções, fique atento que nos próximos dias, alguém entrará em contato contigo. Só te peço para ir nos informando como andam as investigações. Por exemplo, amanhã deve nos mandar, até o final da tarde alguma coisa do que já tiver apurado.

– Mas e o meu emprego?

– Calma, meu rapaz! A vaga é sua desde que não decline deste trabalho. Estou te passando ordens que me chegou de cima, dos proprietários do jornal. Assim como você, eu apenas estou cumprindo ordens. Aceita ou não essa tarefa?

– Está certo, mas depois quero saber dessa história direitinho. Tchau! Amanhã te mando o que já tenho aqui comigo.

Assim que desligou o aparelho, Márcio observou que tinha uma mensagem que havia lhe sido enviada de madrugada. Checou a origem e viu que se tratava do número da irmã de Amadeu. O texto dizia que era para não se encontrar com a fonte antes de falar com ela. Também marcava um almoço para às 12h no restaurante instalado no andar de cima do Shopping Central. “NÃO SE ATRASE!” finalizava a mensagem em tom imperativo.

Márcio novamente olhou para o relógio e viu que podia voltar para cama, até porque a cabeça parecia que ia sair do corpo, de tanto que doía e o fígado parece que tinha sido triturado num moedor de carnes. Tomou um analgésico e marcou no celular para que o acordasse às 10h30.

Não demorou muito para pegar no sono, embarcando num sonho que na medida em que ia se desenrolando mais parecia um pesadelo. Estava caminhando por uma rua deserta, quando um homem vestindo lingerie azul começou a persegui-lo e depois correr atrás dele. Quanto mais corria, mais o indivíduo chegava perto. Olhando para trás e com medo de ser alcançado, Márcio não viu que havia um desnível na calçada que o fez entortar o tornozelo, caindo em seguida. Enquanto tentava se levantar e sentindo muitas dores, viu quando o vulto que o perseguia se aproximou, mas já não era mais o corpo de um homem e sim de uma mulher trajando vestes sumárias. Ao se aproximar dele, tirou a calcinha e enfiou na boca dele, ordenando: “não grite! Se não farei você engolir o resto de calcinhas que eu trago aqui comigo”. E foi tirando uma, depois outra, todas estavam dentro da vagina da mulher que o assombrava.

Márcio acordou gritando, pedindo socorro e se sentindo sufocado. Olhou para o próprio corpo e observou que estava banhado em suor. “ – Caralho! Outro pesadelo! Por que será que estou tendo essas monstruosidades me perseguindo durante o sono?”, perguntou-se. Olhou para o celular e viu que já passava das dez horas. Decidiu tomar um banho e antes de se encontrar com Angélica passaria na redação para tentar se inteirar do que estava acontecendo. Não queria chegar ao compromisso sem saber do que se tratava ou o que aquela doida, arrogante queria com ele.

Quando o relógio marcava onze horas, Márcio entrava no prédio onde funcionava a redação do jornal. A gráfica fica em outro lugar, numa região afastada da cidade, pois havia muito maquinário e o jornal já diagramado e paginado era enviado através da internet para um computador operado de uma sala contígua à maquinaria.

– Oi Roberto! Que história é essa?

O jornalista já foi falando antes mesmo de sentar-se diante do chefe que, de chofre foi respondendo: “ – Não sei de nada. Só estou retransmitindo ordens e sabe como é: apenas cumpra! Mas não sei se te dou os parabéns ou os meus pêsames, pois sinto que sua permanência aqui depende dos resultados deste trabalho que você começou”.

Márcio conhecia bem Roberto para saber que este não falaria mais do que já havia dito, mesmo que soubesse não diria nada. Então resolveu mudar de assunto e falar dos pesadelos que vinha tendo nas últimas semanas. O amigo lhe recomendou procurar ajuda com um psicólogo, pois podia ser alguma coisa que andava guardando só para si e no descanso da mente, vinha até o consciente totalmente deformada lhe provocando pânico.

Entre uma conversa e outra, o jornalista percebeu que o seu celular havia registrado uma mensagem. Pediu licença para Roberto e foi conferir de quem era. O texto era de Amadeu, tão imperativo quanto o a irmã. “Te espero hoje no mesmo lugar de sempre às seis horas. Tenho novidades. Abraços. Amadeu!” Márcio tentou falar no número que constava como emissor da mensagem, mas obteve como resposta que o número não existia.

O redator perguntou quem era e Márcio disse que era a fonte da matéria que estava apurando, dizendo que queria vê-lo ás seis horas. Enquanto falava com o editor, o repórter olhou para o relógio na parede e viu que já passavam das onze e meia. “ – Roberto, depois nos falamos. Tenho um compromisso agora. Amanhã, no final da tarde você receberá o primeiro relatório da matéria. Abraços!” Despediu-se do amigo, saindo rapidamente do prédio e quase que correndo se dirigiu ao local marcado por Angélica.

 

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