Sobras de um amor…

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Com aquela mensagem lhe martelando o cérebro, Márcio chegou ao boteco, sendo saudado pelo garçom que parecia sempre estar ali, nunca tirava folgas, férias e não tinha casa. “Vai ver não tem mesmo e mora nos fundos do bar!”, pensou o jornalista.

Os ponteiros do relógio indicavam que estava se aproximando do horário do almoço, portanto, Amadeu já deveria ter passado por ali e avisar que iria fazer sua refeição, como era de costume. Então, teria que perguntar ao garçom se o seu entrevistado já havia reservado a alimentação.

– Ele ainda não apareceu hoje! O que é estranho, pois todos os dias esse horário ou já está aqui, ou deixou recado que virá para almoçar. Ah! Logo pela manhã passou uma moça aqui e mandou lhe entregar isso. – O garçom retirou de dentro do bolso do avental um envelope fechado endereçado ao jornalista, com os dizeres: “Ao sr. Márcio. Confidencial!”

Márcio achou estranho, todavia, sua curiosidade de repórter foi mais rápida do que a prudência e abriu apressadamente o envelope. Um texto breve escrito a lápis sem nenhum referencial apenas dizia:

“Você apareceu e com teus olhos encantou meu coração. Desde aquele momento, não há um só momento em que não te ame com admiração e devoção. Compreenda: o amor passa pelo teu sorriso, teu cheiro, tua boca, por nossos diálogos. Quando nos lembramos dos nossos pretéritos, observamos que eles são semelhantes, ainda mais quando eles são recheados pela sua presença. Entenda bem, não haverá ninguém que me entenda tanto quanto você, meu amor. Meu coração descansa na nossa cumplicidade. E eu amo, encantada, apaixonada, tudo o que habita em você, tudo o que lhe forma, tudo o que diz respeito. Eu te amo com o sossego de quem se encontrou em outra alma”. T

Ao terminar de ler, Márcio foi até o balcão, não se importando se ainda era manhã e pediu uma cerveja ao garçom que o olhava desde o momento em que começou a ler aquele papel que retirara de dentro do envelope e, pode ver como suas expressões iam mudando conforme a leitura avançava.

Enquanto saboreava o liquido amargo e espumoso, o repórter releu o texto várias vezes, buscando compreender algo que poderia ter escapado nas leituras anteriores, mas não encontrou nada, apenas uma declaração direta para um alguém, mas quem? Quem assinaria um texto daquele com T, poderia ser um homem para outro homem, de uma mulher para outra mulher, ou de homem para mulher ou do sexo feminino para o masculino.

Estava tão absorto em seus pensamentos e no texto que acabara de reler novamente que não percebeu que devorara a cerveja em questão de minutos. Ao constatar que a garrafa estava vazia pediu outra ao garçom. E continua ali tentando organizar aquele quebra-cabeças dentro do seu cérebro. Para ele, de alguma forma, o bilhete tinha relação com a história que tentava escrever, mas Amadeu estava sempre alucinado falando de forma desconexas, mas dando a entender que havia algo naquelas palavras soltas e jogadas ao vento entre uma dose de uísque e outra.

Não só o conteúdo, mas também a letra que indicava a autoria do texto intrigava o jornalista. Mas o que deveria desvendar primeiro, o destinatário ou a autoria? Sabia que uma coisa levaria a outra, contudo, porque a mensagem que lhe era direcionada foi deixada no bar e não na redação e ainda mais no boteco em que passou a ficar mais tempo do que o habitual? Isso significa que a pessoa conhecia seus hábitos, portanto que passaria por ali e sabia muito mais sobre ele do ele mesmo poderia imaginar. “O que fazer?”, pensou o repórter.

Olhando para Rodolfo, o jornalista lhe perguntou: “O senhor sabe o nome da pessoa que me deixou essa carta?”. O funcionário, sem olhar se quer para o lado em que Márcio estava parou, pensou e respondeu: – “Alguma coisa com Ta… ta… ta alguma coisa… não me recordo o resto!”.

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