Olhar Crítico

Insatisfações

Começo meus olhares quase que críticos neste último domingo de novembro compartilhando com meus leitores, caso eu ainda os tenha, fragmentos de um livro com o qual venho compartilhando com o seu autor algumas significativas, portanto, provocativas enunciações que nos deixam inquietos, diante de sua magnitude. A obra O mal ronda a terra: um tratado sobre as insatisfações do presente [Rio de Janeiro: Objetiva, 2011, p. 30], do pensador estadunidense Tony Judt diz ao seu narratário que “quanto maior a distância entre os poucos ricos e os numerosos pobres, piores os problemas sociais: o conceito se aplica tanto aos países ricos quanto aos pobres. Não importa o quanto uma nação seja afluente, mas sim seu grau de desigualdade”.

 

Exemplos

“A Suécia ou a Finlândia, dois dos países mais ricos do mundo em renda per capita e PIB, apresentam uma distância pequena entre os cidadãos mais ricos e os mais pobres – e portanto lideram de forma consistente os índices mundiais de bem-estar mensurável. Os Estados Unidos, por sua vez, apesar da imensa riqueza acumulada, apresentam sempre valores baixos para esses critérios. Gastamos grandes somas em saúde, mas a expectativa de vida nos EUA continua sendo inferior à Bósnia e ligeiramente superior à da Albânia” [Rio de Janeiro: Objetiva, 2011, p. 30]

 

Corrosões

“A desigualdade é corrosiva. Faz com que as sociedades apodreçam por dentro. O impacto das diferenças materiais exige algum tempo para se manifestar, mas aos poucos a competição por status e bens aumenta; as pessoas desenvolvem uma sensação de superioridades (ou inferioridade) baseada em seu patrimônio; cresce o preconceito contra os que ocupam os patamares inferiores da pirâmide social; o crime se agrava e as patologias ligadas à desigualdade social se destacam ainda mais. O legado da acumulação desregulada da riqueza sem dúvida é amargo” [Tony Rio de Janeiro: Objetiva, 2011, p. 30].

 

Futuro

Antes de adentrar propriamente em minhas pequenas reflexões, entendo que seja interessante acrescentar aqui outro olhar, desta vez presente no livro do cientista social Sérgio Abranches: A era do imprevisto [SP: Cia das Letras, 2017, p. 38]. Segundo ele, “o futuro não será uma continuação linear expandida do presente, muito menos se parecerá com o passado. Os cenários ficcionais, qualitativos para esses fins têm se mostrado muito mais interessantes. Exatamente porque não presumem prover o futuro, mas pensar cenários alternativos futuros que se concretizarão ou não”. Alvissareira essa abordagem, pois o presente apresenta apenas dúvidas e uma miríades de perguntas levando em conta que a sustentação que o pretérito poderia dar não existe mais. Como costumo dizer que o prego enfincado na parede está lá, mas a parede que o sustentava não há mais e ele pode se sentir deslocado no novo local.

 

Respeito

Dentro dessa perspectiva é que achei louvável à adolescente, que pela admiração que tem pela Polícia Militar do Estado de São Paulo, recebeu a visita de duas policiais por conta de seu aniversário. Em tempos de descartes, ter informações como essas é de significativa voltagem para os servidores que, em virtude dos baixos salários que recebem, se sentem desprestigiados pela sociedade que prioriza ganhos significativos para aqueles que não lidam com educação e nem com segurança: dois setores importantíssimos tão descuidados por parte dos cidadãos que escolhem seus governantes e demais representantes nos legislativos e executivos espalhados pelos mais de 5 mil municípios brasileiros.

 

Corrupção

No caso dos excertos que retirei do livro O mal ronda a terra, me parece de bom alvitre ressaltar que muitas das desigualdades sociais que reinam num mundo do capitalismo e outros ismos, têm origem na corrupção e não é aquela que aparece apenas no noticiário ou estampam nas páginas dos jornais de circulação nacional, mas sobretudo no nível de conivência que os brasileiros têm em relação aos delitos cometido por uma categoria social designada como sendo de plutocratas que leva consigo uma burocracia pouco vocacionada a partir dos valores éticos e morais, observando aquilo que Immanuel Kant (1724-1804) diz a partir de seus imperativos categóricos, isto é, que a conduta do sujeito social seja universalizada. Muitos reclamam de forma bem emblemática contra os corruptos, mas acaba cometendo pequenos deslizes, inclusive aceitando um grau sangrento de corrupção como temos assistido hoje.

 

Prevenção

A Europa começa a recrudescer suas medidas para evitar que a nova onda do Covid-19 se espalhe de forma mais letal do que as anteriores e o Brasil parece que ainda não compreendeu direito a problemática. Mas vamos lá: é preciso comparar os índices vacinais. Aqui, mesmo aqueles que creem que o atual grupo que está no governo central – mesmo fazendo campanha contra o combate à pandemia – devem permanecer com suas atrocidades governamentais, se vacinaram e aguardam para tomar uma terceira dose. Todavia, pelo que foi veiculado nos últimos dias, no Estado de São Paulo a partir do dia 11 de dezembro, não haverá mais a obrigação de andar com máscaras de proteção pelas ruas da cidade. E aí? O que o chamado cidadão de bem fará? É interessante notar que muitas cidades do interior do Estado cancelaram os festejos dedicados à Momo e no que, em meu singelo olhar, os prefeitos estão mais do que certo. O vendaval ainda não passou e não é hora de posar de imponente jequitibá. É preciso ter a sapiência da taboa e aguardar.

 

Consumo

Novamente aqui, creio que há uma ausência de empatia e afetividade pelo semelhante e isso pode acontecer porque o outro só existe a partir do predicativo que lhe apetece. É importante ressaltar que o mesmo que é olhado, observado pelas suas posses materiais, também faz o mesmo movimento em relação ao seu semelhante que o tocaia para analisar seus comportamentos de um mundo que apenas consome objetos, coisificando o homem, como dizia György Lukács [1885-1971] em vários de suas análises. Desta forma, se o ser humano se tornou um objeto, uma mercadoria que deve ser consumida pelo valor de troca e de uso, para onde foi a humanidade presente no corpo que se molda ao consumo conspícuo? E-mail: gilcriticapontual@gmail.com, d.gilberto20@yahoo.com,   www.criticapontual.com.br

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