Olhar Crítico

Prioridade

Entra ano e termina ano e a questão continua sempre a mesma: por que será que a educação nunca foi prioridade para o brasileiro? Se somar às vezes que abordei a temática aqui e em outros locais de conversação com um público leitor preocupado com o futuro desta nação e pais que compreendem que o setor deve ser prioritário, tendo em vista que o amanhã depende do investimento feito no presente no setor, construirei um texto maior que a Muralha da Chica, cujo tamanho e magnitude podem ser vistos da lua. Entretanto, ainda há sempre espaço para dizer algumas coisas sobre as temáticas pedagógicas e educativas, principalmente num país que deseja estar entre as nações do chamado Primeiro Mundo, contudo, produz anedotário para o mundo globalizado.

 

Educação

Parece-me que a polêmica da vez diz respeito ao transporte dos estudantes que é fornecido pela prefeitura de Penápolis aos alunos da rede municipal de ensino e também das escolas estaduais e, por decisão do prefeito, o benefício não será estendido aos discentes das unidades particulares de ensino. De acordo com reportagem veiculada por este jornal, o Ministério Público local teria observado a não obrigatoriedade da administração municipal estender o auxílio a esses alunos. Não adentrarei no mérito da peleja que promete se estender, entretanto, creio que vale aqui uma perguntinha bem singela: e se o aluno for bolsista na escola privada? Como é que a situação se arranjaria? A interpelação reside no fato de que se o vestibulando for oriundo das instituições particulares de ensino por intermédio do sistema de bolsa integral, poderia ter os mesmos benefícios de um discente das instituições de ensino público.

 

Maquiavel

Não tenho ferramentas e nem mecanismos, bem como não uso toga, portanto, sem chances de sentenciar ou emitir algum juízo a respeito dessa peleja, entretanto, seria interessante buscar num pretérito não muito distante, mais especificamente durante a campanha eleitoral qual era o posicionamento do atual prefeito sobre essa matéria. Em seguida ler o capítulo 18: “Como os príncipes devem guardar a fé da palavra dada”, que consta no clássico da Ciência Política, “O príncipe” [SP: Abril Cultural, 1999, p. 109-112). Interessante notar que nessa pequena seção, o leitor encontrará subsídios para entender por que o candidato diz uma coisa e o eleito faz completamente outra coisa, deixando o eleitor “a ver navios”. Sendo assim, creio que é preciso cidadania e conhecimento da Política e não informação de políticos para se escolher um representante.

 

Participação

Parece-me que aqui é significativo reiterar o tipo de democracia que ainda vigora no país: a delegativa e não a participativa. Por exemplo, há diversos Conselhos Comunitários na cidade e aberto à participação de todos, mas uma minoria de abnegados participa desses órgãos consultivos e deliberativos. Cito aqui o de Educação, pois a questão norteadora desses olhares dominicais, é dessa área. Quantos penapolenses estiveram presentes numa dessas reuniões em que a temática transporte de estudantes custeados pela prefeitura foi debatida? Creio que é preciso mudar a prática democrática brasileira: de delegativa para participativa e todos compreenderem que os tributos são oriundos dos cidadãos e aí fica a pergunta que fiz nos aforismas anteriores: e os alunos bolsistas? Não serão transportados pelos veículos que prestam serviços à prefeitura?

 

Pandemia

Nas últimas semanas aqueles que se arriscavam flanar pelas ruas da cidade, observava que parecia que a pandemia, provocada pelo Covid-19 [H1N1] havia terminado, contudo, os dados mostram completamente outra realidade: o crescimento no número de óbitos no Brasil. Em Penápolis, até o momento em que essas linhas, usando uma agulha sociológica, eram traçadas sob o tecido textual, os dados diziam que a cidade havia registrado 245 mortes. Se não forem levados em conta o sentido dos versos medievais “para quem os sinos dobram”, os dados serão apenas números e talvez por isso as pessoas caminhavam como se estivesse tudo bem, entretanto, essas ações indicam que “há algo de podre no reino da Dinamarca”, como diz no adágio popular.

 

Ecologia

A semana que encerrou ontem foi marcada pelo fim do Inverno e início da Primavera, tendo sido comemorado o dia da Árvore. Entendo que seja o momento alvissareiro, não que os anteriores e os futuros não sejam significativos, para que todos pensem sobre qual amanhã querem legar para as gerações que pulularão à terra. Compreendo que tudo deve ser pensado no agora, mas não tudo para o agora, isto é, plantado no momento para que, ao germinar e edificar suas raízes, possam ter bons troncos e ótimos frutos. Portanto, creio que a preservação ambiental passa necessariamente pelo campo pedagógico e educacional. Recordo aqui a frase que foi me dita há algum tempo por um amigo, que se eu estiver correto, pode estar lendo essas linhas neste domingo: “não podemos trabalhar contra a natureza, portanto, as ações devem sempre levar em conta os anseios dela. Se agir no sentido contrário, nos responderá na mesma moeda”. Acrescento que a resposta já está sendo fornecida para todos, mesmo que uns não queiram enxergar.

 

Amarelo

Esse mês primaveril é marcado pela cor amarela objetivando a prevenção ao suicídio e as escolas da cidade tem atuado nesse sentido, realizando diversas atividades buscando a conscientização para o problema. Aqui penso no verso que utilizei num desses aforismas de hoje sobre os sinos e suas badaladas serem destinadas a quem. Afeto não custa nada, abraço também não, carinho e amizade idem, entretanto, parece que essas práticas se tornaram artigos de luxo, pois as pessoas só agem no sentido material, como me disse certa vez um transeunte sobre um rol de indivíduos que se relacionam somente por conta do que cada um pode aferir do outro no campo material. Não esperemos o pedido de um abraço, quando podemos ofertá-los às pessoas, principalmente agora em tempos pandêmicos. Sejamos mais solidários e menos egoístas.

 

Literatura

“Eu não fui uma mãe ruim, você precisa saber disso, mas posso te feito alguma coisa dolorosa pra minha única filha porque tinha que proteger a menina. Tinha. Tudo por causa de privilégios da cor de pele. No começo, eu não conseguia em enxergar dentro de todo aquele negrume e saber quem ela era e simplesmente dar amor. Mas eu amo. Amo mesmo. Acho que ela entende isso agora. Eu acho. […]. Me ensinou uma lição que eu devia ter sabido desde sempre. O que se faz com os filhos é importante. E eles podem não esquecer nunca. Ela conseguiu um empregão na Califórnia, mas não telefona nem vem visitar mais. Me manda dinheiro e coisas de vez em quando, mas nem sei quanto tempo faz que a gente não se vê” [Toni Morrison. Mel. In. Toni Morrison. Deus ajude essa criança. Trad. José Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 2018, p.46]. gilcriticapontual@gmail.com, d.gilberto20@yahoo.com,   www.criticapontual.com.br.

 

 

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