Olhar Crítico

Literatura

Começo meus aforismas deste domingo destacando o universo da literatura, seja ele através prosa, da crônica ou dos versos, pois tudo diz respeito às poéticas e as enunciações como forma que o escritor encontrou para dialogar com seu público leitor. Como disse Marcel Proust (1871-1922) em sua obra Sobre a leitura, o livro tem uma importância significativa na vida do sujeito que se quer cidadão, pois ele abre portas que permaneceriam fechadas sem que o universo ficcional lhe apresentasse. Os profissionais da educação fazem um esforço enorme para transformar os alunos em leitores, contudo, a criança absorve mais por aquilo que presencia do que pelo que escuta. Desta forma, antes de muitos pais quererem que os filhos sejam leitores, eles é que devem ler e indicar para os rebentos esse importante hábito que habita as consciências.

 

Lançamento

Diante do exposto no aforisma acima, destaco aqui para os meus leitores dominicais o livro Nevoeiro: textos e poemas, da escritora penapolense Mia Koda. A sua primeira obra dela Pânico está relacionada ao universo da psicologia e da psicanálise. Neste segundo, o leitor encontrará crônicas, contos, poemas. Eu gostei de tudo o que li, mas destacarei um texto que me chamou atenção por conta da conexão que fiz com uma peça teatral que assisti no final de minha adolescência nos anos 80. A crônica tem como título “A bailarina” e é a partir daí que fiz a ligação que pode ter algum sentido com o espetáculo teatral que se chamava “A noite em que a menina de vestido azul decidiu que queria ser bailarina”. Eram três personagens que não diziam nada, mas apenas se comunicavam com o público por meio de mímica e gestos.

 

Bailarina

No centro do palco estava a atriz que trajava vestes normais e de cor azul e à sua esquerda, um ator vestido de preto e a direita um com roupas brancas e na medida que ela tentava se definir, os dois atores se apresentavam como se fosse o lado bom da profissão e o lado ruim. Enquanto o ser humano não decide qual caminho tomar para a sua vida, ficará nesse dilema: “tem isso, mas também há aquilo outro. Como fazer, de que lado me posicionar” e assim é com os adolescentes e jovens que, diante da miríade de possibilidades profissionais, ficam aflitos e os pais, muitas vezes, sem saber direito como ajudar os filhos a decidirem qual caminho seguir, induzem os rebentos a tomarem decisões que podem estar em conflitos com as próprias vocações dos adolescentes e jovens. Não vou me atentar ao conteúdo da crônica, pois acho que a leitura é sempre singular, por isso solitária, mas não é aquela solidão em que o vazio está diante do leitor, mas sim aquela que diz respeito ao relacionamento do texto com o seu público individual.

 

Iracema

É sempre interessante ao educador anotar a pergunta que o aluno lhe faz e, neste sentido, sempre me recordo de uma interpelação que recebi quando dizia aos estudantes secundaristas sobre a importância de se manter esse hábito. A inquirição na época foi por conta do romance indigenista Iracema, do escritor José Martiniano de Alencar (1829-1877). Respondi que só pelo fato de as personagens principais fazerem parte de duas, das três matrizes étnicas que formam esse país, já valeria o avançar pelas passagens deste clássico da literatura brasileira. Depois para observar as conclusões da enunciação: Iracema tenta voltar às suas origens com um filho que não é aceito pelos portugueses e nem pelos indígenas. Isso me faz reportar à África do Sul nos tempos da segregação, [apartheid em africâner]. Um filho de branco com preto era tido como um ser concebido a partir de um crime. Só por esse fator, vale a leitura, pois veladamente o racismo estrutural apresenta essas questões.

 

Vacinação

Deixando o universo educacional e literário, bem como a escolha profissional para um outro momento, adentro na questão pandêmica que tanto tem nos consumido há mais de um ano. Por algumas imagens que me chegaram do interior do ginásio de esportes central da cidade, fiquei intrigado. A vacinação é importante para conter a mutação do vírus que provoca o Covid-19 que já matou mais de 500 mil pessoas no Brasil, todavia, é preciso entender que, pela natureza dele, não se deve aglomerar e usar máscaras e álcool gel. Se isso é fato e a ciência diz que é, então está correto, ao contrário do que afirmam certos politiqueiros interessados em propalar o caos para surgir como o salvador da pátria, por que houve aglomeração de pessoas dentro das dependências do ginásio, quando há diversas unidades de saúde espalhadas pela cidade. As entidades de classe poderiam também auxiliar nesse sentido?

 

Aulas

Julho é tradicionalmente dedicado às férias escolares. Sendo assim, creio que poderia ser utilizado para que as equipes do setor educacional do município elaborassem planos mais detalhados do retorno gradativo a partir de agosto. Embora eu não seja da área de saúde e nem do campo da biologia, pelo que compreendo da natureza do vírus, ainda é muito cedo para se pensar numa aglomeração maior dentro das salas de aulas e também nos intervalos das aulas, ou seja, os recreios. Alguns podem dizer que nas escolas privadas a situação é diferente e é mesmo por conta da especificidade dessas instituições: particulares ficando seus respectivos diretores de forma una equacionar a problemática. Já para as instituições educacionais conduzidas pelo Estado a situação é outra. Entretanto, é preciso aguardar os desdobramentos, pois continua assustador o número de óbitos provocados pelo vírus H1N1 e sua variante que provoca o Covid-19.

 

Prevenção

É sempre bom recordar que, sem prevenção e educação, não haverá como reduzir os números de vítimas dessa pandemia. Sendo assim, deve-se endurecer as medidas contra aquelas pessoas que descumprem as determinações definidas pelas autoridades sanitárias da cidade. No caso aqui Penápolis. Existem as normas, mas se não forem cumpridas e os descumpridores devidamente apenados, pode trazer milhões de dose de vacinas que de nada adiantará, justamente pelo ser em si do próprio vírus que precisa baixar a sua letalidade. Mas parece que há indivíduos que pensam que são blindados ou super-heróis que se acreditam acima dos demais, crendo-se superior a tudo e de todos e, por isso, não serão contaminados nessa pandemia, todavia, se esquecem que podem ser assintomáticos, isto é, estar infectado, sem, no entanto, manifestar a doença e acabam espalhando por onde passam. E aí meus caros leitores, será que só nos restam vociferar “para quem os sinos dobram”? gilcriticapontual@gmail.com, d.gilberto20@yahoo.com,   www.criticapontual.com.br.

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