Olhar Crítico

Live

Na próxima sexta-feira, 28 de maio, participarei de uma live com a filósofa e doutora em Teoria Psicanalítica, Fabíola Menezes de Araújo. O evento acontecerá a partir das 20h no canal que a professora da Secretaria Estadual de Educação do Rio Janeiro mantém no Youtube: Canal da Cabocla [https://www.youtube.com/watch?v=8mAgx8gcJcE]. Abordarei os temas: Machado de Assis, Literatura, Sociologia da Literatura, História do Brasil e o Movimento Negro. Além desses tratarei de questões que enfoco nos meus textos publicados semanalmente aqui nas páginas do INTERIOR e no meu site www.criticapontual.com.br enfatizando questões étnico-raciais, além de evidenciar alguns personagens ficcionais que venho criando para a discussão sobre o preconceito racial, social, econômico e cultural brasileiro.

 

Tempos coloniais

De antemão, agradeço o convite feito pela professora carioca justamente num momento em que a sociedade brasileira enfrenta diversos problemas oriundos de sua natureza fundante do Brasil, isto é, dos tempos coloniais, além de vivermos numa ordem estamental personificada num capitalismo sui generis, construído a partir da não liberdade, dos não direitos fundamentais da pessoa humana: enfim, do escravismo que, mesmo abolido em 1888 ainda está por trás das relações econômicas, sociais e emocionais dos brasileiros, fazendo parte do que se designou como racismo estrutural. Entendo que o primeiro passo para se detectar a problemática diz respeito ao universo de sua negação, ou seja, o sujeito afirma não ser racista, inclusive usa a expressão que se tem até um amigo preto, contudo, apoia um chefe do Executivo Federal que afirmou que os filhos não se casariam com pretas porque foram bem-educados. Vai entender!!!

 

Ignorância

Para não me alongar em demasia nessa temática, até porque venho tratando dela nas últimas semanas, além de já ter publicado alguns artigos científicos em que analiso a questão sob diversas perspectivas, inclusive do ponto de vista da violência policial conforme o jornalista Fernando Molica retrata em seu romance Bandeira negra, amor. Também avaliei o romance O tronco do ipê, de José de Alencar (1829-1877) sob a perspectiva do elemento africano. Mas, apesar de se falar, sopesar e enfocar a temática africana e os preconceitos, o país está longe de viver de forma que um preto, por mais competente que seja, não precise sentir na pele que foi preterido por conta do seu pertencimento étnico. Sabemos que em muitos processos seletivos, o descendente de africano apenas aparece para resgatar a sua alma de preto aprisionada pela ignorância dos descendentes de escravagistas que não se livraram do hábito e do chicote que agora tem outro nome ou o famigerado “você não tem aptidão ou habilidade para a função”, mesmo sendo habilitado para o trabalho.

 

Inovação

Deixando as questões étnico-raciais por um aforisma ou dois, parabenizo a atual administração pela implantação da Agenda de Desenvolvimento Sustentável. O projeto foi destacado pela mídia nacional, evidenciando que se está no caminho quando a questão é pensar e projetar o futuro. Entendo que não se pode apenas ficar no arquitetado, é preciso o envolvimento de toda a sociedade na concretização do pensando e planejado. A cidade é conhecida no Brasil em virtude dos seus projetos e programas desenvolvidos no campo ambiental sob a supervisão do Daep (Departamento Autônomo de Água e Esgoto). Entendo que não cabe aqui ressaltar apenas essa ou aquela gestão, pois o trabalho é fruto de um pensar que surgiu desde a criação do departamento no final dos anos 70 quando Penápolis era administrada pelo advogado Ricardo Rodrigues de Castilho.

 

Tamareiros

Então, me parece que os políticos que ocuparem o principal assento governamental da cidade precisam pensar não em si e nem entrar para a história como aquele que fez, pois com certeza, estarão sendo presunçosos. O gestor deve ter em mente o plantador de Tâmaras. Ele faz a semeada, mesmo sabendo que não colherá os frutos do que está lançando ao solo. Desta forma, em minha singela opinião, sei que o plantado hoje será coletado no futuro. Hoje temos a Corpe (Cooperativa de Recicladores de Penápolis) que, quiçá os problemas operacionais, continua firme e não há um penapolense que não tenha essa consciência ecológica e o sentido que o verbo reciclar tem.

 

Educação

Neste sentido é que a educação tem o papel preponderante na geração dos homens do amanhã. Entretanto, não se pode deixar de evidenciar que o presente só existe em virtude de trabalhadores que se desdobraram para que o agora seja diferente do passado. Desta forma, retomando os aforismas que enfocam a questão racial, fica-me o olhar, segundo o qual quem realmente construiu esse país foi o dorso africano, sendo açoitado e humilhado em sua condição humana. Mas se os meus ancestrais trabalharam arduamente para transformar essa Nação colonial, porque quando do fim da escravidão optou-se pelo elemento europeu em detrimento do africano alforriado? Por que ainda hoje um preto precisa provar mil vezes mais que é bom em relação a um branco? Por que um descendente de europeu acha-se mais humano do que o filho, neto, bisneto de um escravo? Enfim, por que ainda o chicote só estrala nas costas do preto?

 

Projeto

Ainda aqui cabe mais umas considerações, mesmo que pequenas, porém, importantes para se pensar a ossificação do racismo entre nós: a educação. Costumo sempre enfatizar que enquanto não se descortinar a natureza do escravismo, sempre haverá alguém que o coisificará o outro a partir da tonalidade da pele. Será que existe alguém que nasceu com aptidão para ser escravo, para ser inferior aos seus semelhantes humanos? Parece-me que não. Portanto, não é escravo, não se coloca na condição de cativo, exceto pela força do outro, pela violência e o aviltamento. Portanto, o professor e historiador Francisco Bethencourt está correto quando afirma na introdução de seu livro Racismos: das cruzadas ao século XX, que “o racismo na forma de preconceito étnico associado a ações discriminatórias foi motivado por projetos políticos” (Cia das Letras, 2018, p. 22).

 

Democracia

Então precisamos reconstruir a democracia brasileira evidenciando a necessidade de que os mais de 54% dos autodeclarados pretos ou descendentes de, precisam ampliar suas representações nas esferas políticas. Sendo assim, devemos compreender, conforme nos aponta o professor Renato Janine Ribeiro em seu livro A boa política: ensaios sobre a democracia na era da internet (SP: Cia das Letras, 2017, p. 42) que a democracia é popular e a república está ligada ao poder. Desta forma, somente quando o poder for realmente do povo e não de grupos privados que se apropriam da coisa pública é que fará algum sentido a liberdade a sua própria natureza.  gilcriticapontual@gmail.com, d.gilberto20@yahoo.com,   www.criticapontual.com.br.

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