Olhar Crítico

Dedicatória

“Que felicidade poder lhe entregar este singelo trabalho, a você, um leitor tão ávido e perspicaz, dessa forma, só posso desejar que tanto a poesia de Cecília Meireles quanto a prosa de Antonio Tabucchi possam proporcionar uma belíssima viagem à Índia que reside em cada um de nós!”. Começo meus aforismas dominicais compartilhando com os meus leitores essa dedicatória que o professor-doutor e diretor da EE Professor João Teixeira Sampaio, Edison de Abreu Rodrigues estampou no meu exemplar do seu livro Epifania e Enigma: as Índias de Cecília Meireles e Antonio Tabucchi. A obra é fruto de sua dissertação de mestrado defendida na PUC (Pontifícia Universidade Católica) – unidade de São Paulo. Por que dividir com vocês algo muito da pessoalidade deste que vos escreve, meus caros? Por uma razão muito simples: o educador autor da dedicatória foi mais uma vítima do Covid-19, entretanto, vou mais além: o seu óbito é fruto do descaso das autoridades e da sociedade como um todo pela educação brasileira.

 

Orelha

“O objetivo desta pesquisa é analisar comparativamente os livros Poemas escritos na Índia, de Cecília Meireles, e Noturno Indiano, de Antonio Tabucchi, pelo viés da viagem e da alteridade, compreendendo como se dá a busca do senso de alteridade por meio do relato de viagem, ressaltando, inicialmente, tanto o modo como Cecília Meireles metafísico-poéticas in loco, construindo a sensação de alteridade por meio da contemplação dos lugares e das pessoas, quanto Antonio Tabucchi constrói a alteridade por meio da investigação de uma sombra fugidia e nômade, de um outro ausente. Entre os resultados da pesquisa, ressaltamos que, apesar de construir o senso de alteridade de modos diferentes, é a viagem que dá sustentação para a busca desse outro que está em nós, e que a criação literária de uma Índia capaz de abarcar a multiplicidade da humanidade desperta no homem o seu caráter divino e leva-o ao (re)conhecimento de si mesmo”. Esse pequeno fragmento objetiva fazer com que os meus leitores compreendam o trabalho que o professor Edison de Abreu Rodrigues desenvolveu neste livro a partir do mestrado.

 

Pandemia

Em um texto simples, por conta do falecimento do professor Edison Rodrigues, escrevi nas redes sociais que foi-se o homem, pai, profissional, esposo e educador, entretanto ficou a obra que será imortalizada por todos aqueles que acreditam na educação e sobretudo na ciência em detrimento de demagogias políticas e verborragias teologais. Poderia aqui dizer muitas coisas sobre o diretor que partiu, contudo, entendo que o seu trabalho por si só e, aqueles que conviveram com ele em nosso penoso agir educacional, podem dizer muito mais do que as linhas que formam esses aforismas dominicais. Sempre compreendo que o melhor é elogiar a pessoa enquanto ela está entre nós: dizer a ela é muito importante, bem como também falar-lhe sobre supostos deslizes que por ventura venha cometer. Nessa linha, compreendo que quem admira pode e tem gabarito para dizê-lo. Agora o invejoso, quer somente os louros, mas jamais atravessar as tormentas que um vencedor passou para chegar onde está. Desta maneira, entendo que o educador, que não conseguiu driblar esse vírus traiçoeiro, mesmo não estando mais entre nós, continuará a nos ensinar em nosso cotidiano pedagógico.

 

Descabido

Sinceramente meus caros leitores, não compreendo qual desejo mórbido um sujeito possa ter ao espalhar notícias inverídicas em tempos pandêmicos? Vou direto ao ponto: eu não sei o que é pior: gravar uma sandice dessas ou espalhá-la, sem ao menos checar as informações com os devidos responsáveis? Entendo que há canais oficiais, através dos quais as autoridades políticas, médicas e sanitárias conversarão com a população, portanto, creio que é preciso um pouquinho de consciência social, humanitária e, para não dizer, bom senso cristão para não ficar espalhando fake News. Olha onde o país foi parar por conta de boa parte da população optar por escolhas ressentidas e por ouvir dizer. Acho que seria interessante que mais pessoas lessem livros, assinassem jornais televisivos, revistas e se ocupassem mais em fazer as devidas conexões de sentido, antes de espalharem informações mentirosas que não contribuem em nada para melhor o caos sanitário em que o país está metido, com mais de duas mil mortes diárias provocadas pela pandemia do covid-19. Desta forma, recomendo a leitura atenta do livro A máquina do ódio: notas de uma repórter sobre fake news e violência digital, escrito pela jornalista Patrícia Campos Mello.

 

Interdição

E já que a temática diz respeito à pandemia, a prefeitura interditou três parques da cidade. O escopo da medida é evitar aglomerações de pessoas, buscando conter o avanço da doença em Penápolis. Até o momento em que essas linhas, quase que críticas, eram confeccionadas, a cidade já tinha registrado 96 óbitos, sendo que haviam ainda mais 3 para serem confirmados, portanto, beirando a casa da centésima vítima. Sendo assim, vos pergunto meus caros leitores: para quem os sinos dobram? Parece-me que entre a maioria dos mais de 66 mil penapolense, alguém conhece pessoas que perderam a vida pelo covid-19. E por que será que a administração municipal precisa tomar medidas arbitrarias como essas? Não precisamos ir longe, nem eu e nem você que está me acompanhando nesses aforismas, para saber que o sujeito, da mesma forma que espalha notícias inverídicas pelas redes sociais, está externando aquilo que lhe vai n’alma, pois não pensa que o problema está afetando todo mundo. Será que é tão difícil fazer isolamento social? Será tão complicado assim conviver consigo mesmo? Sócrates, o pai da maiêutica e da metafísica, afirmou certa vez que o mais importante era cada um conhecer-se a si mesmo. Um poeta galileu veio e disse num momento significativo para a humanidade: “eu voz dou a minha paz, eu vos deixo a minha paz”. Pensemos com a devida acuidade.

 

Mandela

Parece-me cabe aqui uma significativa observação do líder sul-africano Nelson Mandela (1923-2013). Segundo ele, “ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar”. Fico por aqui, desejando que todos os meus leitores tenham um excelente domingo outonal e que o penapolense Gustavo Ferreira Rossi, tenha seu nome aprovado para integrar a Academia Paulista de Letras. Recordo-me dele numa tarde sabática quando participei de um projeto Literatura no Vestibular. Na ocasião eu falei sobre o clássico e enigmático Dom Casmurro, do não menos clássico escritor carioca Machado de Assis (1839-1908). gilcriticapontual@gmail.com, d.gilberto20@yahoo.com,   www.criticapontual.com.br.

 

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