Olhar Crítico

Ficção

Começo meus aforismas críticos neste domingo abordando uma questão colocada pelo semiólogo italiano Umberto Eco (1932-2016) em seu livro Seis passeios pelo bosque da ficção. Logo nas primeiras páginas, o autor diz que uma narrativa literária pode ser compreendida como uma máquina preguiçosa que não pode dizer tudo. Portanto, um enredo para estar completo precisa da experiência do leitor. Sendo assim, o autor da narrativa pretende dizer algo, mas não está completo o seu raciocínio. Primeiro porque quem escreve não pode ser o detentor da verdade, pois compreende o mundo a partir do seu ponto de vista recheado pelas suas experiências pretéritas. Tendo esse olhar como preâmbulo, digo-te meu caro leitor, que as linhas que se seguem não se dignam ser portadoras de algo absoluto, porém, uma pequena parte da minha visão de mundo em relação às paragens maria-chiquenses e alhures.

 

Coletivo

Na expectativa de que vocês, meus caros leitores completem este aforisma com as vossas respostas sobre a seguinte interpelação: o transporte coletivo parará de circular aos domingos. E daí? O problema é quem? Todos sabem que o setor em Penápolis sempre foi complexo, contudo, há pessoas que precisam desse tipo de serviço que não é gratuito. Se eu estiver equivocado, corrija-me meu caro leitor, mas creio que aos domingos, os carros circulam já em horário reduzido, forçando os usuários a se adaptarem ao sistema. Espero sinceramente que a coisa não mude e o serviço continue sendo oferecido à comunidade. É preciso ter claro que o cidadão já paga, de forma indireta, pela prestação do serviço. Portanto, manutenção já!

 

Hospital

Pelo que foi publicado nos últimos dias, a cidade não tem mais os 20 leitos de enfermagem e 10 de UTI (Unidade de Terapia Intensiva), além de outros dois dedicados ao suporte de ventilação. O país está em plena pandemia do coronavirus e ao invés de ampliação de leitos, há uma redução? Tem-se a vacina, contudo, está-se em sua fase embrionária a sua aplicação e há todo um cronograma para que seja distribuída à população. Sabe-se que o momento é periclitante, por isso, será a hora de acabar com o Hospital de Campanha era agora? Pensando com Umberto Eco, qual seria a vossa resposta. Eu começaria por uma pergunta: por que a vice-prefeita Mirela Fink foi a primeira a ser vacinada? Claro! Ela é médica, contudo, no presente é vice-prefeita, portanto, em minha singela opinião quem deveria ser a primeira pessoa a receber a dose seria quem está na linha de frente nas UTIs destinadas ao tratamento da pandemia. Será que o capítulo IV: Ideia Fixa do Memórias póstumas de Brás Cubas, pode nos dizer algo?

 

Secretariado

Como perguntar ainda não ofende e, permanecendo com o semiólogo italiano em tela, ainda não entendi porque o atual prefeito não nomeou nenhum afro-brasileiro como assessor de primeiro escalão? Será que não há nenhum profissional com capacidade para nenhum posto? Nos dois últimos governos anteriores [cada prefeito ficou oito anos no cargo] é possível registrar passagens de pretos como integrantes do alto escalão. Sendo assim, por que será que a tradição não foi mantida? Na Câmara, a presidente eleita disse que não mexeria com duas assessorias, mesmo tendo sentença contrária, porque já era hábito. Eis aqui Machado de Assis (1839-1908) novamente nos dizendo algo que pode ser completado pelo escritor pré-modernista Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922) através do seu romance Clara dos Anjos, entre outros contos e narrativas.

 

Baronato

Como podem ler, meus caros leitores, a literatura nos dizer muitas coisas, como o romance Esaú e Jacó, de Machado de Assis (1839-1908) que em linhas gerais, utilizando personagens bíblicas do Antigo e do Novo Testamento, usa a personagem que também é um eu narrado, Conselheiro Aires, para dizer que a República não substituiu a Monarquia e que, segundo interpretação deste que vos escreve, em 15 de novembro de 1889 inaugura-se no país uma República Monárquica, tendo em vista que os resquícios do velho regime foram acomodados no interior dos palácios governamentais espalhados pelo país afora. Bom! Isso foi ontem e hoje não deveria ser desta forma, contudo, em se confirmando as denúncias de que doses das vacinas foram desviadas para serem aplicadas em barões da República, bem como em seus filhos, significa então que não há um país capitalista, mas sim estamental.

 

Cadáveres insepultos

É! Meus caros leitores dominicais, muito se fala e propala em nome de um Ser Supremo, da família e isso e aquilo, mas no momento de serem verdadeiros humanos, deixam as máscaras caírem e apresentam as verdadeiras faces. De quais conhecimentos sou portador para sentenciar quem quer que seja, contudo, como dizia o pensador russo, Mikhail Aleksandrovitch Bakunin (1814-1876), quem fala em revolução, mas não faz da sua existência um ato revolucionário, tem na boca um cadáver. Por hora no Brasil há muitos sepulcros abertos a espera de cadáveres insepultos que dizem isso e aquilo, mas que na primeira oportunidade, usam e abusam daquilo que Roberto DaMatta diz estar cheio o Brasil: “você sabe com quem está falando?” Eis o Brasil e sua imensa cripta política!

 

Distinções

O que a razão diz ao ser humano? E o que a emoção informa a este mesmo sujeito social? Duas interpelações significativas, levando em conta que, no momento em apertar o sim nas urnas, depois de digitar o número do candidato-mercadoria à político de carteirinha e profissão, o indivíduo-leitor precisa ter a capacidade de distinguir as duas coisas, ou seja, saber discernir se o seu voto é uma ação ou reação. Se for a segunda opção, independentemente de quem vença o pleito, o votante sempre sairá derrotado das urnas, pois escolheu com base no ressentimento, no rancor e na vingança. Logo depois disso só lhe resta o arrependimento e olha que se tivesse a dignidade de reconhecer que se equivocou seria um bom começo, entretanto, como é próprio de sociedades ibéricas, o brasileiro tem dificuldades de admitir que não pensou adequadamente ao escolher um produto no mercado político.

 

Incongruências humanas

Seguindo as pegadas dos aforismas anteriores, fico cá com minhas interpelações, justamente nesse momento em que a pandemia parece não dar trégua. Por que a prefeitura e a Polícia Militar precisam fazer blitz no final de semana em Penápolis? A resposta é de uma obviedade, contudo, indicando incongruências. É preciso fazer isso porque, ao que tudo indica, há seres humanos que ainda não compreenderam que a situação é periclitante e não se devem aglomerar em eventos sociais. Tudo bem. O humano que se quer humano ou pretende um dia se tornar hominal [seguindo a escala mineral, vegetal, animal, hominal, angelical], precisa do processo de socialização, no entanto, o momento é para conter esses encontros, ou como diz uma das personagens do filme De volta para o futuro: “esse cerimonial ritualístico”. Posto isto, fico com a seguinte pergunta: quanto custa não se aglomerar enquanto a pandemia não arrefece ou se tenha uma vacinação em massa da população? Paro por aqui, desejoso de que os seres humanos se tornem entes de ação, reduzindo ao extremo suas reações. E-mail:   gilcriticapontual@gmail.com, d.gilberto20@yahoo.com,   www.criticapontual.com.br.

 

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