Olhar Crítico

Solidariedade

Começo meus olhares críticos deste domingo, momento em que o filho do Caos, o doutor Tânatos está espalhando seu gás mortífero pelos recônditos brasileiros e as categorias políticas estão mais interessadas nos pleitos de novembro, nem que para isso os tribunais eleitorais tenham que instalar urnas eletrônicas em diversos cemitérios do país, objetivando uma discussão não pautada pelos preâmbulos filosóficos. Lógico que os aforismas que seguem não têm caráter irônico algum, mas apenas contribuir para uma reflexão saudável sobre a atualidade humana, em que o econômico tende a prevalecer em detrimento da vida e o desenvolvimento de uma ética racional de solidariedade perde para o dito popular: “meu pirão primeiro”.

 

Filosofia

Posto isto, vou de carona no livro A República de Platão, do filósofo francês Alain Badiou. Para não agastar meus leitores dominicais – claro se eu ainda os possuir – compartilharei apenas um pequeno fragmento que compõe a apresentação à edição brasileira da obra, de autoria do professor de filosofia da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro, Danilo Marcondes: No livro A República, “Platão parte de uma discussão sobre o que seria uma cidade justa, para a discussão sobre a justiça, daí para a necessidade do conhecimento sobre o que é a justiça, e finalmente para uma análise do próprio processo de conhecimento, central para a filosofia na visão platônica” [MARCONDES, Danilo. In. BADIOU, Alain. A República de Platão. RJ: Zahar, 2014, p. 7].

 

Justa justiça

Por que optei por usar no aforisma anterior um pequeno trecho dum livro que se propõe a debater uma questão central do pensamento platônico? Pelo momento em que a sociedade vem atravessando e a ideia do que é justo! Conforme consta no fragmento que eu destaquei, como é possível construir uma cidade justa em pleno processo pandêmico e tendo uma eleição para prefeitos e vereadores logo ali em novembro? Há quem duvide dos dados que estão sendo apresentados pelas autoridades de saúde dos mais de cinco mil municípios brasileiros. Isso porque o ser humano, conforme Karl Marx (1818-1883) apresenta ao leitor atento a sua interpretação sobre o mundo capitalista, portanto, esse que aí está consumindo vidas em virtude duma pandemia, semelhante a Peste Negra e a Gripe Espanhola, para ficar somente nessas duas pestilências globais – a primeira nem tanto, mas a segunda, ceifou milhares de vida. Segundo pensador alemão – satanizado por uns [principalmente por aqueles que nunca o leram e o citam por terem ouvido dizer -, tudo no orbe que está sob a égide do capital, virou mercadoria, até mesmo o humano que se quer demasiadamente humano. Desta forma, a interpelação é: o que é justo e o que é justiça em tempos pandêmicos?

 

Socialização

Aproveitando que hoje comemora-se o Dia dos Pais – o meu já partiu faz muito tempo, eu tinha pouco mais de 1 ano de existência quando nos deixou abruptamente – pergunto-te meu caro leitor: o senso de justiça é apercebido e apreendido em casa junto aos seus familiares ou na rua? E a violência que o sujeito sempre atribui ao outro e a ti apenas a ação de defender-se, surge onde? A agressão às mulheres, o racismo, o preconceito também é uma condição inata do sujeito ou ele aprende no interior de seus lares? É! Parece-me que a ideia de justo e justiça não está nos tribunais que devem aplicar os preceitos contidos nos dispositivos e códigos de leis e na Constituição Federal, mas sim em quem as aplica. Portanto, se o homem, desde criança não aprender a ser justo e fazer uso da empatia, quando se torna adulto será um arrogante, prepotente, para não dizer desumano! Sendo assim, quem diz ser justo, mas usa dois pesos e duas medidas para a mesma questão, tem na boca um cadáver, como dizia o anarquista russo Mikhail Bakunin [1814-1876].

 

Ensinando

Então pai, aproveite que o hoje é o seu dia e de um excelente presente para o seu filho. Mostre-lhe que o mais importante no orbe não é ter coisas materiais – estão são importantes -, mas ser um indivíduo mais solidário e que tenha sempre em mente que um mundo melhor começa pela própria prática, dentro daquilo que o pensador alemão Immanuel Kant (1724-1804) dizia: a ação do sujeito deve ser tal qual possa ser universalizada, ou seja, o que o indivíduo individualizado faz deve refletir no restante da sociedade. Desta forma, a qualidade da categoria política brasileira passa diretamente pela qualificação de quem vota e não de quem é votado. Dito de outra forma: não é o eleitor que precisa se ajustar ao eleito e sim o contrário, o escolhido ser a cara do seu outorgador. Simplesmente assim! Então, se o sujeito reclama das injustiças, será que não é o momento para que ele pratique mais a justiça e rechaçando esses postulantes a reeleição ou os seus pupilos que só pensam no econômico em detrimento do humano contido no ser?

 

Sarau

Deixando o campo econômico e político para outro momento, atentar-me-ei agora para o universo educacional. A escola estadual Joana Helena de Castilho Marques realiza na próxima 6.ª-feira o seu sarau virtual. O evento será disponibilizado a partir das 8h na página que a instituição mantém no Facebook. Haverá participação artísticas de alunos e demais convidados da equipe escolar, entre eles, o poeta Marcelo Bretas e outros bambas da literatura brasileira. Entre os estudantes há o jovem Samuel Mazaia que se dedica à arte poética e a plástica, pintando significativas telas, inclusive já recebeu moção de congratulação da Câmara Municipal da cidade. Também a discente Melissa Rubin Pinto costuma transformar verbos em versos num jogo poético de significativa relevância. Sendo assim, o evento da próxima sexta-feira será uma ótima oportunidade para os internautas conhecerem os artistas amigos da escola.

 

Filosófico

Compartilho com vocês, meus caros leitores, uns versos da aluna do 3.º colegial da escola Joana Helena, Melissa, que apesar de não ter um título, me parece bem filosóficos. “Caminhos distintos/Qual o correto/Realmente existe um certo?/Pelo sim ou pelo não/A que ponto a verdade é real/Como ser/Como estar/Desde sempre foi assim/e assim será até o fim/Pelo não ou pelo sim/A resposta não virá de mim”. Há ainda dela um conto brevíssimo intitulado “Observador”: “O diferente aos olhos deles não é certo, é anormal? Esse jogo de certo e errado que ninguém sabe./Os sonhos que eles têm é realmente deles ou é o da maioria? É o sonho do ‘correto’ é o sonho, é apenas o seguimento dos passos”. Pelas linhas que a aluna confecciona, é possível que seus versos possam seguir os passes de alguns poemas da polonesa Wislawa Szymborska (1923-2012), principalmente os publicados na coletânea Poemas [SP: Cia das Letras, 2020]. Para este domingo é isto, meus caros leitores. Para os próximos olhares trarei minhas impressões ao livro do meu amigo e professor Geraldo Soares Malta. E-mail: gilcriticapontual@gmail.com. www.criticapontual.com.br.

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