Olhar Crítico

Neutralidade

Um dos posicionamentos mais cobrados e odiados de um cientista social, por parte daqueles que desconhecem profundamente o ofício de cientista social, é a “neutralidade axiológica”, principalmente no campo metodológico. Se atingi-la é tão complicado assim para determinados sociólogos, antropólogos e cientistas políticos adeptos duma visão de mundo elaborada a partir da concepção dialética construída por Karl Marx por intermédio do materialismo capitalista, imagina agora para um político que diz uma coisa no palanque pensando em ganhos futuros, mesmo que estes venham depois de encerrado o seu mandato? Mas o desafio deve ser enfrentado e os políticos precisam evitar serem seduzidos pelo canto da sereia, pois este pode aprisionar o governante no fundo do oceano administrativo com grandes repercussões negativas para a paroquia que este gerencia por vontade da maioria dos eleitos, conforme prevê os preceitos constitucionais e a democracia.

 

Sereia

Para quem não sabe, essa acepção “canto da sereia” surge a partir da narrativa homérica presente no romance grego Odisseia. A enunciação versa sobre as peripécias do herói grego Ulisses durante a guerra do Peloponeso em busca de sua amada. Entre uma localidade e outra, o traslado era feito através do oceano e por meio de embarcações. As más línguas daquela época diziam que havia uma sereia nos sete mares com um canto belíssimo [lembrou-me a história da índia Vanuire aqui da região] que arrastava os marujos e as embarcações para as profundezas das águas e os aprisionava por toda a eternidade. Odisseu diz que passaria por aquela região e não seria tragado por sereia nenhuma. Quando o traslado se aproxima da região, Ulisses determinou que todos os marujos tapassem seus ouvidos e o atasse ao mastro do navio sem proteção auricular, de modo que nenhum dos marinheiros escutasse o brado da mística do oceano, exceto ele, comandante, mas estava amarrado sem poder sair. Ouvia os cantos, mas não se locomovia.

Alegorias

Essa é uma das mais belas alegorias que os clássicos gregos legaram à contemporaneidade e é usada justamente para tentar analisar quando uma pessoa se deixa levar pelo calor da hora e o encanto do poder, do momento, da presunção e cai, naquilo que entrou para o senso comum como sendo o canto da sereia. Aqui em Penápolis sempre são registradas ocorrências policiais sobre indivíduos que caem na narrativa do bilhete falso e quando se caem em si percebem que foram traídos pela ganância, pelo ganho maior sem esforço algum. Quando entendem já é tarde, restando-lhes apenas contar os prejuízos financeiros, sem contar a vergonha de terem caído num dos contos mais velhos por pura ganância. Mas por que estou recuperando essa alegoria grega? Talvez para entender a última decisão do governo estadual em suspender a instalação do AME (Ambulatório Médico de Especialidades). Todos querem crer que a medida foi adotada pelo governo paulista para, primeiro, ajustar as contas que o peessedebista recebeu do seu antecessor, o ex-governador Márcio França (PSB).

 

Repercussões

Claro que a questão vai ser explorada politicamente até que a peleja seja resolvida. Existem aqueles que estão vendo na decisão, mesmo que seja paliativa, uma forma de o atual governante João Dória (PSDB) demarcar território com o prefeito penapolense que, no calor da inauguração duma faculdade de medicina em Penápolis, se apressou em apoiar o governador na época e posteriormente virou adversário do tucano. Não bastasse esse saia-justa por conta de verborragias provocadas pelo canto da sereia homérica, o pároco político penapolense foi expulso do PSDB, anos depois de implodir a legenda local para se fazer candidato do partido. Provocou um desmanche entre o tucanato penapolense para depois ser expulso através da cúpula paulistana. Isso não é interpretação deste colunista, mas sim os fatos nus e crus, como se diz no jargão popular. E agora José, como é que fica? Além de 2019, há 2020 para terminar o mandato do atual chefe do Executivo e como ficará a cidade, caso o marco definido por João Dória seja profundo, aumentando o fosso entre Penápolis e o governo paulista? Durmam com um barulho desses, meus caros leitores.

Reestruturação

E tem mais! Se Penápolis quiser melhorar a imagem junto ao governo paulista, o diretório municipal do PSDB – presidido pelo diretor do Daep, Edson Bilche Giroto, o Batata – terá que ser reestruturado, se afastando de vez do atual prefeito. Mas, ao que tudo indica as ranhuras são grandes, mesmo que um grupo de políticos, que gostam e querem ver Penápolis no caminho do progresso, terem feitos ingerências junto ao diretório paulista do PSDB e entre os mais importantes caciques tucanos do estado, me parece que o caldo entornou de vez. Quem irá socorrer os penapolenses? Os vereadores, cabos eleitorais de deputados estaduais eleitos no último pleito, terão que usar seus cacifes para tentar viabilizar diálogos com o governo de João Dória. E olha que 48 meses, para quem está no sufoco, costuma demorar uma eternidade. Então uma comitiva precisa fazer a boa e velha política paroquiana, mas será que o chefe do Executivo quererá encabeçar essa trupe que tentará conversar com o governo paulista?

 

Sucessão em 2020

Por mais que digam que não, dentro dessa comitiva haverá nomes interessados em disputar a sucessão do atual mandatário em 2020. Será que o vice dele tem esse cacife? Neste momento seria interessante termos lá na Assembleia Legislativa um deputado estadual, mas as brigas internas no campo da política afastaram essa possibilidade e até o vereador que postulava uma vaga na Câmara Federal está rompido com o prefeito. O presidente da Câmara, Ivan Sammarco (PSB) não teve sua condução ao cargo máximo do legislativo local ungida pelo chefe da paróquia política local. Resta saber qual político, partido irá abraçar a causa, já que ela será explorada avidamente no palanque de 2020? Se alguém conseguir fazer com que o governo paulista, volte atrás no caso do AME, sairá na frente; mas caso a coisa emperre, a negativa irá resvalar no candidato do Paço Municipal. De quebra ainda tem a peleja com o Cisa que promete esquentar os bastidores da política local. Por hoje é só pessoal, quem sabe na próxima semana meus olhares críticos estejam mais voltados para outras questões da vida ativa da polis penapolense, como por exemplo, as pelejas no campo educacional, e menos político como neste primeiro domingo de janeiro de 2019. E-mail: gildassociais@bol.com.br; gilcriticapontual@gmail.com. www.criticapontual.com.br.

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