Paraíso
O paraíso, com qual início meus olhares dominicais, nada tem a ver com o universo religioso, nem com a poética composta por John Milton (1608-1674) no século XVII, Paradise Lost [Paraíso Perdido], mas sim com as enunciações contidas na obra Visão do Paraíso, de Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) e no romance Iracema, do escritor cearense José Martiniano de Alencar (1829-1877). É interessante notar que no texto alencariano, o narratário encontrará uma detalhada descrição da região geográfica em que se passará o relacionamento entre a indígena Iracema e o português Martim. Se eu não estiver equivocado, essa forma descritiva do ambiente para, em seguida introduzir as personagens, é típica do romantismo, ou seja, do período romântico no campo literário.
Despedaçado
Mas, por que essa abordagem literária num momento em que o Brasil parece se despedaçar, começando por Brasília (DF) e os três poderes, conforme expôs Barão de Montesquieu [Charles-Louis de Secondat] (1689-1755) em seu livro O Espírito das Leis? Porque milhares de brasileiros, e uma parcela significativa da comunidade globalizada, acreditam que o Brasil é um país privilegiado, como dizia o poeta, onde canta os sabias e tem muitas e belas palmeiras. Parece-me que não há o que questionar ou lamentar, pois aquele país presente na narrativa alencariana do ciclo de enunciações indigenistas ainda existe e sobrevive as mazelas e atrozes desejos de determinados capitalistas e ruralistas mais interessados no recheio de suas contas bancárias do que com a preservação duma belíssima natureza que tanto enfeitiçou e encanta muitos poetas, sejam aquelas das más traçadas linhas e desenhos alfabéticos quanto os apaixonados pelas cores que a nosso meio ambiente doa diariamente.
Regozijar e pensar
No entanto, se por um lado, todo brasileiro deve se regozijar com a beleza das matas, conforme informa a letra de nosso Hino Nacional, por outro, é preciso repensar essa nação, principalmente no que diz respeito à categoria política, de acordo com o que venho expondo aqui há determinado tempo, entretanto, o que se assiste é mais do mesmo. Saiu o velho coronelismo, da enxada e depois o voto e em seguida a botina, surgiu o fanfarrão e verborrágico político que promete o mundo e os fundos para se eleger e depois, entra dia e sai mês, o que se compreende, pelos menos aqueles que buscam se informar e tornar-se um cidadão ativo na polis, é um amontoado de palavrórios para justificar o injustificável, mas fazer o quê? O povo despolitizado acredita em tudo, desde que seja dito por um cidadão que não faz a menor cerimonia – como se diz no jargão popular – para mentir, ocultar e dizer para depois desdizer o que a população diz ter ouvido, todavia, qualquer coisa, recorra-se a Nicolau Maquiavel (1469-1527) e o seu legado filosófico no campo da política, qual seja, o de que um político está desobrigado a manter a palavra dada, pois quando a mesma foi soprada, a situação era uma e quando se apossou do principal assento no Executivo, tudo já havia se modificado, inclusive o interesse de governar em prol da coletividade.
Terceirizações
E já que a temática é a política, engatarei uma informação, ainda extraoficial e ao mesmo tempo passadista, pois ao que tudo indica, a questão foi ventilada lá atrás, todavia, vale a pena gastar alguns aforismas para se pensar no presente, buscando vislumbrar um futuro não muito distante. Parece-me que no calor do imbróglio envolvendo as cancelas e os vigias, o atual mandatário de Penápolis ventilou a hipótese de terceirizar, ou privatizar o serviço de vigilância municipal. A intenção era tanta que, segundo essa informação ainda extraoficial, foi feita uma consulta junto ao Ministério Público para certificar-se se era possível, mas o valor apresentado como gasto na terceirização dobraria o que o município já dispende anualmente com o setor. Desta forma, a ideia teria sido engavetada e não se falou mais nisso. Se se é passado, então Inês já é morta, como se diz no jargão popular, devendo o bonde ir em frente. Por um lado, pode-se optar por essa via, isto é, seguir a carruagem, mas por outro, é preciso ficar atento a essa tendência de querer terceirizar tudo no serviço público por meio das chamadas OS (Organizações Sociais) que, ao que tudo indica, foram criadas na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), conforme ele mesmo afirma em seu último livro Crise e reinvenção da política no Brasil (2018).
Escopo
Claro que as OSs foram criadas objetivando auxiliar as administrações públicas, na condição de instituições privadas portadoras de personalidades jurídicas que recebem aportes financeiros do Estado, visando realizar serviços de relevância às coletividades, como por exemplo, no campo da saúde. As Organizações Sociais no Brasil foram criadas mediante a lei federal 9.637/1998 – durante a vigência do mandato do ex-presidente FHC. Agora, deixando a esfera do direito e olhando para o setor de vigias municipais: será que haveria necessidade de se terceirizar o setor, uma vez que há tantos prédios públicos e praças que podem contar com esses profissionais? Meu caro leitor, “imagine você se alguns servidores estivessem ociosos, onerando a folha de pagamento de forma desnecessária, o que fazer com essa massa?” Claro que não tem como se pensar nessa possibilidade, pois, ao que tudo está indicando, isso não teria como acontecer, já que todos poderiam ser realocados, portanto, eu não vejo sentido nessa intenção que ficou lá no passado, entretanto, é preciso ficar atento aos trebelhares e suas terceirizações.
Errei!
Na última coluna Olhar Crítico, no tópico Partido, no qual eu informava os meus leitores sobre a organização de um novo partido político em Penápolis, o nome da legenda, por lapso deste colunista, saiu errado. O correto é Partido Novo e não como fora grafado outrora. E por falar nessa agremiação, informações dão conta de que os indivíduos que estão articulando a criação do novo agrupamento político preparam uma série de atividades que marcarão a fundação do Novo em Penápolis. Por hoje é só! Que todos tenham um excelente mês de junho. E-mail: gildassociais@bol.com.br, gilcriticapontual@gmail.com. www.criticapontual.com.br.