Miscigenação

Nessa terra jaz a liberdade
Ecoa assim meu canto de saudade .
O suor é meu sangue. E precípuo lema : meu grito
Sou rei, Obaluaê, filho da noite, sou mito.

Minha cor faz do branco o adversário
E da senzala, fétido e desonrado calvário.
A desigualdade e marca do castigo
Fundem-se à minh’ alma , estão comigo.

Nessa jornada negra, cruenta de chibatadas
À junção de correntes acoimadas
Arqueja o corpo, mas nunca o duelo
Estou preso aos meus irmãos no mesmo elo.

O chicote serpenteia minha carne preta
Rasga-me o peito; a baioneta
E choro sem lágrima a dor lacerante
Não sou escravo nem errante.

Sou homem negro, cru, de alma aguerrida
Sou filho da cor , da terra despida
Do preconceito, da segregação, da discriminação
E apesar desse tempo de esquivança
Nasce ainda menina minha esperança.

Para abrir caminhos ,perpetuar a estrada
Enaltecer meu povo ,minha jornada
Contar da luta contra a escravidão
Ligar minha mão à sua mão:miscigenação.

(Luciana Nadai)

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