Caminhos

Gilberto de Assis Barbosa dos Santos

 

Nesses dias em que a solidão parece querer devorar o solitário homem que caminha em busca de sua essência, para defronte a um ponto tradicional de encontro de jovens e, como que querendo recuperar seus idos, revolve entrar e se sentou em uma pequena mesa que dava para ver o interior do estabelecimento.

Tentando descobrir o seu passado naquele presente, observou o diálogo de um casal e, pelo teor da conversa, entendeu que o jovem tentava ludibriar a sua interlocutora. O fazia a partir de seu automóvel de última geração, presumiu o ouvinte que se mantinha a distância, já que não viu o veículo. Do nada, a moça pergunta ao seu acompanhante: “- O que é mais importante: um carro ou um livro”.

Rosemiro, vou designá-lo assim para facilitar a enunciação, notou que a luz que envaidecia o moçoilo todo galanteador se apagava, já que não sabia ao certo o que responder. Entretanto, quando imaginava que ele jogaria a toalha, eis que o rapaz responde: “- O carro! Com ele você pode tudo”. A sua interlocutora, fez aceno negativo com a cabeça e sentenciou: “- Com o livro você chega ao carro e com o automóvel não se chega ao livro. Desta forma, eu e tu queremos coisas diferentes. Enquanto tu tentas me convencer que é isso e aquilo pela materialidade, eu do meu lado, penso nos objetivos não como um fim, mas como resultado de algo”.

O jovem ficou pensando e quando se preparava para a resposta, recebeu uma direta no queixo. “- Não tente me conquistar pelo que aparenta ser, mas principalmente pelo que és. Pelo curto tempo que estive aqui contigo, sua jornada é longa e eu, sinceramente, não estou a fim de esperar até que você acorde, pois quero alguém para caminharmos juntos e não para ficar me exibindo como faz com o seu carro”.

Pela sua postura, deu para Rosemiro perceber que o moçoilo estava completamente incomodado com as observações de sua companhia que acrescentou mais uma observação para finalizar aquele diálogo. “- O medo de ficar só, sempre te deixou na solidão. Portanto, quanto mais você fugia do seu ser solitário, mais só permanecias. Daí a necessidade de se apegar às coisas materiais e fazer delas a sua essência de vida. Mas comigo isso não cola. Então que tu tenhas um ser para me apresentar ou almoce, jante e tome café da manhã com o seu possante automóvel”.

Assim que colocou o ego do seu interlocutor dentro dum féretro todo glamourizado, a moça se levantou, saindo do estabelecimento, mas antes passou pelo ouvinte, que assistia a tudo silenciosamente, contudo, sem tocar os pés no chão. Rosemiro ficou ali pensando se tudo aquilo foi real ou fruto da sua imaginação que dialogava com o seu ontem tentando entender o seu amanhã. Vá lá saber ao certo se esse foi mesmo o resultado, mas o caminho foi esse e pronto.

Eu, do meu lado, estando numa mesa bem próxima fiquei imaginando coisas como o ser livre e a liberdade. Ser livre, inclusive para brincar com os verbos enquanto são transformados em versos, não está num livro, numa ideologia ou coisa parecida, mas sim na própria vida e no ato de existir. Talvez, por isso, ainda hoje encontramos pessoas acorrentadas em ideias e ideais imaginários, buscando sempre encontrar a liberdade. Mas é fácil ser livre, basta viver a própria vida de modo bem simples. Eis o desafio que propôs a jovem ao moçoilo exibicionista. Desapegar-se até de si mesmo e de toda quinquilharia acumulada durante dias que se tornaram semanas, posteriormente meses, anos, décadas. Enfim, um segundo que durou toda a eternidade.

 

Gilberto de Assis Barbosa dos Santos, licenciado, bacharel e mestre em Ciências Sociais, editor do site www.criticapontual.com.br, autor do livro O sentido da República em Esaú e Jacó, de Machado de Assis. Professor no ensino médio em Penápolis. e-mail:   gilcriticapontual@gmail.comd.gilberto20@yahoo.comwww.criticapontual.com.br.

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